domingo, 26 de dezembro de 2010

Algarve Polar

Acreditem que é a mais pura verdade, em Faro eu sinto que não está frio e tremo de frio e em Varsóvia eu sinto que está frio mas não tenho frio.

Neste momento estou debaixo de mantas para me manter quente, lá fora estão 12ºC. Em Varsóvia estão –6 mas aposto que estaria de boxers e t-shirt a beber um Carolan’s on the rocks. Meus ricos aquecimento central, vidros duplos e paredes com isolamento, como eu tenho saudades vossas. Brrrrrrrrrr!

sábado, 25 de dezembro de 2010

O que é que a gente tá aqui fazendo? - 9

Bacalhau com grão Ilustres! Nanja eu através desta imagem incutir em vossas excelências o ciúme, a inveja ou o desgosto. Longe de mim despertar nas vossas pessoas injúrias e impropérios, não quero tampouco criar o atrito entre o leitor e esta modesta publicação, mas dá-me último prazer partilhar convosco esta ceia de Natal, retrato fiel de muitas mesas portuguesas para que mesas estrangeiras se sintam mais próximas de Portugal.

Repito, nanja eu através desta imagem incutir em vossas excelências o ensejo de gritar…

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

De volta ao (Faro) Natal

Boas Festas Entrava-se e sentia-se o aroma do bacalhau, da cozedura das batatas e das couves, ouviam-se as mulheres e o bater dos tachos, das colheres de pau, dos cristais com Porto. Mais perto da cozinha o cheiro dos fritos, o papel vegetal lambia o resto do óleo dos brinhóis e das empanadilhas, um ou dois pratos de sopa cobertos escondiam o arroz doce mas era o pernil de porco assado do dia seguinte que me cativava. Aos poucos chegavam mais pessoas, as garrafas empoeiradas de vinho mais velho do que eu sucediam-se, as estórias, os contos do avô que já a mãe sabia e que o neto há-de contar ao seu filho. Depois o vai-vem de louça, as mulheres que não se sentavam e comiam de esguelha sem tirarem o avental porque o comer estava ao lume, o render de guardanapos e talheres, maratona de frigideiras e detergentes, tinto do melhor até o Menino Jesus arfar de ânsias.

O quimo fazia-se a custo deitado no sofá a ver pela enésima vez o clássico de todos os natais, perfeito soporífero para uma digestão complicada até que algum adulto chegasse, perguntasse o título do filme e desse duas ou três gargalhadas de circunstância e caísse num pesado ressonar que abafava o trinar das panelas e mexericos no lava-louça. Propostas de filhozes e arroz-doce, uísque para os crescidos e mais sumo para os miúdos, injusto porque o álcool abre espaço no estômago enquanto o Sumol só o enchia ainda mais.

Um último olhar para os papéis dos embrulhos espalhados no chão, a alegria e excitação era sempre tão efémera, um punhado de horasEmpanadilha depois todos os presentes estavam descodificados e entendidos, uns exigiam estudo posterior enquanto outros passavam rapidamente à ação. Os mais velhos espadeiravam mais aguardentes mas o sono já conquistava as crianças, hora de voltar para casa atulhado de presentes, de comida e de amor. No dia seguinte pernil, cabidela, frigideiras e crapô – o jogo preferido das mulheres da minha família, quantas horas passavam aquelas criaturas agarradas aos baralhos até tarde da noite! – e música no coração e na televisão.

Amanhã não vai haver filhozes nem brinhóis porque a minha avó já não as faz, não vai haver contos porque o meu avô já não os conta, não vai haver aguardentes porque o meu tio já não as compra. Mas vai haver amor e é por isso que eu vou sair de Varsóvia amanhã às 6:00 para passar o Natal a Faro.

Amigo leitor, apesar de ser ateu quero que tenha um Natal com o amor que semeou e um Ano Novo à medida do que fez neste ano. Creio que não terá porque ficar melindrado com estes votos.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Dona Polónia e os Seus Vizinhos, vol. 2 - Bielorrússia

Sempre achei curiosa a excitação com que cada polaco fala da situação da Bielorrússia, a cólera que o tema inspira, a raiva interior que vem ao de cima quando se fala do país mas uma raiva que não é direcionada contra o povo bielorrusso. Afinal o que se passa com a Bielorrússia que tanto incomoda os polacos?

BielorrússiaA Bielorrússia é um país situado a leste da fronteira de 418km que partilha com a Polónia e tem como curiosidade ser o maior país europeu sem costa marítima, é 1,5 vezes mais pequeno que a terra de João Paulo II, tem quatro vezes menos habitantes e difere também no tipo de Governo exercido – em oposição à República Parlamentarista da Polónia vigora uma República Presidencialista na qual Aleksander Lukashenko quer, manda e pode. Aqui reside a incomodidade que todos os polacos sentem ao abordar o tema Bielorrússia porque Lukashenko é uma figura abominada a ocidente de Brest devido à sua política de aproximação ao Kremlin com o fim de criar uma comunidade de cooperação política e estratégica à imagem da extinta CEI, coisa que naturalmente perturba Varsóvia, e é frequentemente acusado de perseguição e repressão permanentes contra os seus opositores e de privar o povo bielorrusso de liberdade. De facto a Bielorrússia é o último país comunista da Europa e mantém um conceito débil de democracia sobre a sua população com a mão de ferro de Lukashenko a controlar a internet (os proprietário de cibercafés têm de reportar à polícia o acesso a sítios de contestação ao regime ou antigovernamentais), a economia local e a ditar a norma pelo qual o País se orienta desde a sua independência em 1991.

Na Polónia são comuns as manifestações de apoio ao subjugado (no entendimento polaco) povo irmão bielorrusso, a Polónia interpreta o papel do irmão mais velho que se libertou do pai tirano, pulou a cerca e emigrou para a ilha do capitalismo próspero e da liberdade enquanto aAleksander Lukashenko coitada Bielorrússia ainda pena às mãos dum tio (Lukashenko) ainda pior do que o pai (Moscovo). Há concertos anuais sob o tema “Solidariedade com a Bielorrússia” que se realizam no fim do inverno nos quais participam músicos de ambos os países e onde individualidades polacas e bielorrussas discursam apelando à comunidade internacional que olhem para o problema da violação dos direitos humanos e da falta de liberdade naquele país. A Polónia lança constantes apelos à condenação do regime de Lukashenko que apelida de “ditadura” e não perde uma oportunidade para demonstrar o total repúdio pelo Governo de Minsk como prova a manifestação realizada ontem frente à embaixada da Bielorrússia em Varsóvia em protesto contra a brutal reação da força policial da capital bielorrussa que carregou violentamente sobre os opositores de Lukashenko para os dissuadir de contestarem os resultados das eleições presidenciais do último domingo, as quais ganhou com quase 80% dos votos.

Aleksander Lukashenko exibiu a sua inflexibilidade que patenteia há 16 anos, desde que assumiu o poder, com a ordem de prisão de sete dos seus nove adversários na última corrida ao Palácio Presidencial junto com quase 600 manifestantes. A Polónia pede sanções contra Minsk e todos os polacos olham com pena para os seus ex-companheiros de desgraça soviética sem nada poder fazer a não ser sensibilizar o resto do mundo para a situação em que a Bielorrússia se encontra. Os bielorrussos, entalados entre a opressão do regime e a inexistência de perspetivas melhores, tentam levar a coisa como podem fazendo alusões engraçadas aos tempos de mudança que tanto anseiam e vão dizendo como no cartaz abaixo que “é tempo de mudar o pneu careca”, subtil analogia à mudança de pneus obrigatória nos países do leste europeu por alturas do inverno e a calvície do seu “líder não querido”. Ao menos são espirituosos, os bielorrussos. É o que lhes vai valendo.

Pneus carecas

PS – Tenho um plano de um dia ir a Minsk só com o John. Se não aparecer a boiar no rio Svislach prometo contar as minhas impressões.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O Natal dos Animais

Faltam cinco dias para o Natal e começou o tradicional desfile de hipocrisias e falsas moralidades que a quadra desperta nas pessoas e que me enoja. O meu e-mail já está a ser habitado pelas habituais mensagens de paz e amor, uma paz e um amor que toda a gente distribui, toda a gente apregoa mas quase nenhuma gente pratica. Mensagens enviadas a pessoas que não se contacta há anos porque nunca houve motivos para tal, para gente que praticamente não conhecemos, que passamos meses, anos, vidas sem dizer ágiua-vai e de repente surge um e-mail com uma fotografia de uma menina afegã que perdeu uma perna na guerra e um voto de feliz Natal apenso. Aqui está a hipocrisia da coisa, dizer aos outros para fazerem sem que se preocupem em praticá-lo.

Eu não gosto de receber pps de aleijadinhos a pedir esmolas, de velhotas a carregar pesados fardos de paus, de crianças famintas com abutres na peugada, com adolescentes a escreverem as suas lições na terra do chão duma sala de aula improvisada algures no sudoeste asiático ou de cães com três patas e sem dono que dormem ao relento das ruas de Ulan Bator. Não gosto de as receber não porque ignore os problemas que tais desafortunados têm mas porque normalmente partem de pessoas que nem por um minuto dos 364 dias restantes do ano se preocuparam com tais anónimos. Pedem que nós reenviemos as mensagens, que propaguemos a palavra do amor e da amizade, dizem que se nós não as remetermos tal quer dizer que não prezamos os nossos amigos, que eles nada significam para nós, que somos uns misantropos e avarentos, que merecemos arder no Inferno como pena pela nossa má-disposição.

Que metam as mensagens no cu! Sim, muito franca e diretamente, que enfiem esses e-mails parvos no orelhudo! Pratiquem o bem todos os dias, amem ou detestem genuina e incondicionavelmente todos os dias e tenham demonstrações práticas e visíveis dessa bondade e desse amor todos os dias. Sejam autênticos! Aqueles que enviam votos funestos de boas-festas, os tartufos arautos da solidariedade que fazem “forward” dos e-mails sem tampouco refletirem por um segundo no conteúdo dos mesmos (se calhar é pedir demais às suas limitadas capacidades intelectuais), os animais que pensam expiar as suas patifarias através dum clique fortuito não merecem sequer um “reply” de feliz ano novo.

O que merecem? Dó. E menor.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Por falar em frio…

A leste, nada de novo. Seja com neve ou com chuva, ao sol ou de noite a vergonha continua.

Desta vez o alvo é Sousa Cintra, um sportinguista que construíu o melhor plantel do Sporting de que há memória. Um presidente que trouxe para o clube “activos” como Valckx, Balakov, Naybet, Marco Aurélio, Juskowiak e que os aliou aos bem portugueses Cadete, Paulo Torres, Figo, Nélson, Peixe, Oceano, Paulo Sousa, Capucho e Pacheco para formar uma equipa de futebol que empolgava os adeptos, mobilizava-os para os estádios e entretia a massa associativa. O Sporting de hoje é um clube falido financeira, desportiva e ideologicamente. O Sporting não entretem, não diverte, não dá prazer. Sentar-se em frente da televisão para assistir a um jogo do Sporting é um ato de masoquismo, de penitência, um gesto que só se faz porque se acredita que o Clube é maior do que as pessoas que o gerem. Ninguém vai a Alvalade convencido que irá assistir a um bom jogo de futebol, a uma boa prestação da sua equipa (a não ser que seja adepto da equipa visitante) ou a uma boa exibição dos jogadores sportinguistas. Já não há ninguém que acredite neste Sporting, nos seus talentos nem em nenhum dos componentes da estrutura do futebol.

Coelhinho O Sporting acabou como o conhecíamos, como eu e os meus colegas de Liceu o conheceram. Aquele Sporting vivo e vibrante faleceu, aquele Sporting que entusiasmava, que nos fazia acreditar sempre mesmo depois da derrota já não existe e reside apenas na memória dos que retêm a imagem duma equipa que nos fazia sonhar, um Sporting alegre que nos fazia poupar o dinheiro do lanche durante um mês para os bilhetes do comboio e do dérbi. Ver um jogo do Sporting presentemente, para mim, é sofrer, é como assistir a um filme de terror, como se me arrancassem as unhas e barrassem a ponta dos dedos com sal a seguir, é uma tortura, um aperto que dá no coração. Dá vontade de chorar, de mudar de canal, de passar a ferro.

Não me venham com a conversa demagógica que os verdadeiros sportinguistas estão com a equipa pois quando os verdadeiros sportinguistas se pronunciam são vexados com a ameaça de uns quaisquer “papéis”. Mais vale fazer como a Fiorentina, acabar e começar de novo, de fresco, sem vícios mas com verdadeiros sportinguistas no leme.

Tens razão, Zé. Isto é uma palhaçada!

A contar de trás para a frente

O que pode um emigrante escrever nesta altura do ano que não soe a lugar-comum? Pouco ou quase nada. Não quero escrever novamente sobre o frio e a neve porque esse é uma matéria recorrente e também porque terei muitos dias pela frente com tais condições para poder desenvolver o assunto. Também não quero ir pelo tema fácil das expetativa que o Natal transporta, o regresso a Faro, as comidas caseiras, os abraços amigos, não porque não os valorize mas porque é um tanto déja-vu nesta quadra. Tampouco vou lamentar o preço das coisas, a facada que cada prenda representa para o orçamento, prendas compradas com gosto mas com sacrifício porque os preços parece que sobem exageradamente quando se aproxima o Natal.

Um algarvo na Polónia em Dezembro só pensa em ligações aereas comportáveis para poder trincar bacalhau e filhoses na companhia dos seus. Eu não sou exceção e rejubilo com a antevisão duma mesa farta de petiscos nacionais à minha espera na Praia de Faro, antecedido duma sublime almoçarada entre um plantel de luxo reunido em casa amiga, o salto habitual à do Rogério para as minis natalinas com os compinchas de

sempre, uma furtiva e clandestina incursão a Olhão para comer um arroz de marisco à do Amador onde nós temos de desviar o marisco para encontrar um bago de arroz.

Entretanto cá andamos submersos em frio, –12º hoje para manter a firmeza, até a pele estala!

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Piątek

A sexta-feira acorda com o ruído ténue dos flocos de neve no parapeito da janela, flocos que pedem desculpa por levantarem-me tão cedo da cama numa manhã ruim para sair de casa. São 6:20 e o dia vai começar quer se queira, quer não.

Carris do elétrico A imagem que tenho da minha varanda parece alterada com o Photoshop, uma palete com três cores – azul, branco e cinzento – que desinspira e retira a pouca coragem que há para pôr o corpo debaixo do duche. A custo a coisa acontece, o café aquece, parte-se o pão e barra-se com queijo para a combustão gástrica imprescindível antes de sair de casa. Tudo feito a câmara lenta, as meias, compor a franja, dar o nó nos atilhos, calçar as luvas. À porta do prédio a preparação psicológica para a chapada de ar frio que devo apanhar, bem pior do que esperava porque está vento, a neve não cai do céu – voa do chão, o piso escorrega e procuro não me enervar porque sei que não me serve de nada. Abalo para o metropolitano enfiado num casacão e de orelhas geladas perguntando-me se não teria sido melhor abdicar do gel em prol dum gorro.

Na estação do metro devem estar 5º, até me sinto abafado em contraste com os –5º que estão na rua – uma diferença de 10 graus que é reposta logo na mudança para o elétrico. De novo as ruas aflitas de frio e as pessoas caminhando apressadamente de capuccino na mão, centenas de almas por metro quadrado e nem uma palavra se ouve no ar porque está toda a gente a pensar no regresso a casa que só vai suceder daqui a 8 / 9 horas. Sofrem por antecipação, é escusado mas não os condeno porque lá no fundo também tenho essa sensação.

Agora sento-me no quentinho do escritório e ponho-me a pensar no que tenho para fazer antes das férias natalícias, das coisas que tenho de deixar orientadas. Ainda são umas quantas porque ainda faltam 15 dias para o avião, tempo de menos para umas coisas mas tempo demais para outras. Planeio o dia e toda a concentração resvala para um único evento: Hoje vou tocar pela primeira vez na margem leste de Varsóvia, um clube em Praga com clientes necessariamente diferentes dos do Centro. Já estou a pensar no check-sound, na seleção, nas passagens, nos efeitos, ainda tenho oito horas de trabalho pela frente mas só tenho bpm na minha cabeça.

Que vou fazer? Partir aquela merda toda! Só pode.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Pé-ze(i)ro

O que é um “pé-frio”?

A definição clássica e a definição desportiva.

Lei anti-tabaco II

Proibido fumar Com a entrada em vigor da nova lei que proíbe fumar em locais públicos têm surgido reações provenientes de diferentes quadrantes da sociedade polaca, o que tem sido pano para mangas em termos de assuntos de discussão em todos os contextos. Uma escola de línguas é um terreno propício para o debate de ideias sobre este assunto, apresentação de argumentos e pontos de vista.

Duas das minhas melhores alunas defenderam a tese de que a lei é estúpida e que segrega os fumadores da população colocando-lhe o rótulo de marginais, bandidos e elementos prejudiciais à saúde social. O fumador é agora visto como um delinquente que se envenena e que quer rebocar os outros para a sua espiral de auto-destruição e rejeitam a conotação negativa que o seu prazer pessoal acarreta. Na ótica delas, fumar é um ato de socialização e não um crime de lesa-humanidade, algo que pode e deve ser feito obviamente sob as elementares regras de respeito pelo próximo mas nunca uma arma de arremesso para os fundamentalistas do vigor físico acusarem os prevaricadores.

Também salientam as vantagens que a “proibição” trouxe tornando os fumadores mais próximos, mais solidários, com um denominador comum que os acerca. O fumador é assim um ser mais sociável e que partilha a sua causa com outros iguais, conversam uns com os outros quando seAntifumo encontram nas salas de fumo. Há uma causa comum entre os fumadores, uma reciprocidade de sentimentos que só quem fuma é que compreende e assim os fumadores ficaram um povo mais coeso e unido em torno da sua ideia. Os espaços exíguos, as gaiolas em que as áreas de fumo se tornaram expõe os animais fumadores aos olhos reprovadores dos que não fumam, dos “saudaveizinhos”, para a ostracização. As crianças apontam admiradas para os chimpanzés fumegantes que se acotovelam nas suas jaulas para darem umas passas, as mães abanam a cabeça reprovamentes e dizem que “aqueles senhores estão doentes”. Antigamente via-se o Cary Grant e o John Travolta cheios de petróleo no cabelo fumando atraíndo as fêmeas como sinal de virilidade, hoje em dia é o “não fumo!” que se tornou trendy. Mae West, Marlene Dietrich e Olivia Newton-John (sim, grandes influências do Grease) provocavam ereções masculinas com as suas baforadas, hoje diz-se que “beijar uma mulher que fuma é o mesmo que lamber um cinzeiro” (cá para mim, o Macário nunca lambeu nada de jeito…). Rematam com a inatacável teoria que fumar alimenta as relações interpessoais ao facilitar o contacto verbal, membros duma minoria votada pelos ostracistas a um purgatório constante até que venha o cancro redentor que os condene às penas eternas, castigo justo pelo consumo de tabaco e pela poluição insuportável a que sujeitaram o planeta.

Antifumo2 Eu rio-me da histeria que todas as medidas despertam neste país. São as cruzes, os acidentes de avião, as leis anti-tabaco, as gripes gástricas de que só ouvi falar aqui, o resmungo constante sobre o frio como se a Polónia experimentasse ares polares pela primeira vez, o fim do mundo em cuecas quando alguém espirra. Prova disso foi a descontração ignorante com que acendi um cigarro no Wojska Polskiego antes do Legia – Arka sem que ninguém me repreendesse. Que cada um coma a sua massinha e o mundo será um lugar melhor para se viver, estão preocupados em enjaular os fumadores mas ninguém dá conta dos bêbados que dormem na rua nem da caca de cão que os porcos dos donos não apanham.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

XXXVII

O meu quarto “aniversário polaco” foi mais tranquilo que os anteriores e vários fatores contribuiram para essa acalmia, desde logo o estado civil que é diferente e sugere menos arruaça, mas também as muitas prioridades pessoais e profissionais que canalizaram para si fundos que à partida estariam destinados a uma festa de arromba. O tempo é de planificação do futuro, um futuro que parece ter contornos diferentes a partir de janeiro.

Este foi mais um período de reflexão do que de festa rija, meti um tempo para meditar no que tem sido a minha postura neste país, nos resultados que obtive até agora e tentei tirar conclusões, se estaria no bom caminho, se teria desperdiçado tempo em coisas inúteis ou se devia tê-lo melhor investido. É difícil peceber quando estamos a ir na direção errada e às vezes precisamos de sinais que nos orientem, alguns surgiram no decorrer deste ano mas penso que o meu 37º ano de vida foi bem vivido quer em termos de diversão quer no plano das responsabilidades de trabalho. Creio que me aconteceram mais coisas boas do que más e que não me poderei queixar, por isso resolvi reduzir a dimensão da festa, chamar aqueles que são a minha família em Varsóvia e fazer uma festa em tom mais íntimo, sem grande barulho nem manifestações espampanantes, tranquilo.

Foi bom porque é sempre bom quando temos os nossos amigos conosco, as pessoas que melhor queremos. Cumpri 37 anos na presença deles e espero para o ano soprar 38 na companhia dos mesmos mas, se possível, com mais três ou quatro munines da minha terra para mandar uns barranaços da mesa e gritar “camano!” Enfim, quase 120 parabéns que recebi no FaceBook também são uma forma de sentir o seu carinho e soube-me muito bem.

Obrigado, maltinha! Para o ano há mais se tudo correr bem q:)

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Inverno 2010 / 2011 – Os primeiros dias

Vista de casa Há mais de doze horas que tem caído neve, uma precipitação que cobriu toda a cidade e que não tem ar de que não vai parar nos próximos dias. A temperatura desceu para números perto dos –5º, a primeira vez que cai em valores negativos depois do verão, e veio acompanhado duma nevasca intensa prometendo mais descidas (até aos –18º na quinta-feira). Lembro-me que em 2009 nevou muito mais no outono do que neste ano e que essa neve precoce de então deu o mote para um inverno excepcionalmente longo e frio, gelado mesmo. Lembro-me também de ter passado muitos meses sem ter visto a cor do chão, sem ter calçado sapatos desportivos e de ter reforçado o stock de meias turcas. Lembro-me até de ter pensado em comprar “peúgos das raquetes” para servirem de meias de enchimento para aquecer melhor os pezinhos. Este ano a guerra já começou.

Acordei tarde como em todas as segundas-feiras, o relógio batia nas 11:00. Recuso trabalhar nas manhãs de segunda para que a entrada na semana de trabalho seja mais suave e simpática, assim posso progressivamente habituar-me ideia de ter de começar a dar ao cabedal, tenho tempo de ler os jornais e e-mails, dar um jeito à casa, fazer as compras necessárias para a semana e entrar em cena devagarinho. Começo a trabalhar às 15:00 e aí já estou bem desperto e capaz de dar o meu melhor a quem o espera mas há um coisa que sempre me incomoda seja a que horas fores – sair de casa.

 

Hoje puxei as cortinas e enquanto aquecia a água do café espreitei a manhã alta assustando-me com a brancura da rua, uma brancura tal que nem deixava ver marcas de pneus de automóveis. Imaginei o frio exterior que nem uma golfada de café com leite amainou e agradeci-me ter feito a barba ontem à noite porque não há sensação do que ir para a rua de cara recém-barbeada com este tempo, os flocos de neve que caem na pele parecem minúsculas brocas de diamante gelado que perfuram o rosto provocando dores lancinantes. Depois de concluídas as atividades descritas no parágrafo anterior tomei fôlego e saí para atacar a vida, levando logo uma estalada de ar frio quando despejei o lixo noTrês horas da tarde contentor do prédio e atolei os pés num poço de neve onde provavelmente acaba o passeio e começa o arruamento. Senti logo os vasos capilares dos dedos dos pés a queixarem-se, a contrairem-se, a reclamarem do desconforto e a levarem-me de volta para o quente edredão de penas que me consola à noite. Não pude voltar atrás e saí temerário patinhando entre buracos de neve traiçoeira e respirando pela boca para não queimar as narinas com o ar gélido que se respira. Entrei na estação do metro e retirei os dois capuzes dos casacos que tenho vestidos devido à agradável diferença de temperatura, é curioso que tenho vontade de despir os casacos apesar do temómetro da estação (e das carruagens) não subir para muito mais do que 10º ou 12º mas para quem vem de –4º até apetece pôr-se em mangas de camisa. Alguns funcionários da câmara munidos de grandes pás afastavam a neve suja das entradas para que as pessoas pudessem passar, outros lançavam sal-gema à mão para derreter o gelo, um sal-gema assassino que desgasta os sapatos e rói os pneus e o metal da parte de baixo dos automóveis, um mal necessário. O trânsito é pouco menos que impossível, a Sónia mandou-me uma mensagem dizendo que fez cem metros em uma hora numa das mais largas avenidas de Varsóvia. O meu carro está sossegadamente trancado na garagem e não o vou castigar com cruzeiros inúteis e prejudiciais pela lamaçal em que se tornaram as ruas da Cidade Capital quando consigo funcionar perfeitamente com os transportes públicos, certeiros e pontuais, sem filas nem gastos acrescidos. Via os limpa-neves a atirarem a neve para cima dos carros estacionados na berma das ruas, estalactites a pingarem das chapas de matrícula, e a jogar sal-gema para o asfalto e pensava que nem tão cedo o meu querido automóvel vai ver a luz do dia.

Voltei tarde depois de ter mastigado uma supersandes com batata frita num bar americano enquanto assistia ao clássico espanhol na companhia de amigos polacos, canecas de litro e copinhos de vodca a cada golo culé, uma quase bebedeira no último metropolitano para Ursynów. A sensação conhecida de ter acabado bem um dia que foi quase todo recheado de impressões negativas. Assim é Varsóvia, põe-te à prova durante o dia todo para no fim do mesmo dar-te um rebuçadinho que te faz querer mais dela no dia seguinte.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Deve e não haver

Renda de casa + aquecimento central: 2900pln

Pneus de inverno: 800pln

Multa por um estúpido estacionamento em local proibido e consequente reboque: 500pln

Bilhete Faro – Varsóvia – Faro: 1100pln

Renda da casa de Faro + despesas de água, gás e luz (porque ficou desocupada em Novembro): 1300pln

Total: 6600pln

Este ano vai tudo corrido a globos de neve e ímanes de frigorífico!

domingo, 28 de novembro de 2010

Lei anti-tabaco

Comentário do Juanjo, um dos poucos espanhóis que curto, à entrada duma discoteca em Varsóvia.

- Agora já não cheira a tabaco, cheira a sovaco.

E tem razão.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Eles não sabem porque o fazem

Ainda que não seja a natureza deste blogue, por vezes fazem-se incursões em campos mais profundos e académicos que resultam em análises sociológicas. Vamos à estória introdutória.

Há uma semana ia sendo envolvido numa zaragata a propósito do meu automóvel ter sido rebocado, refira-se que justamente, e por um polaco ter passado à minha frente na fila para apresentar os documentos e resgatar o carro. Estava com o John e a Ewa e quando me apercebi que o indivíduo ia aproveitar a falta de jeito da minha namorada para reivindicar a posição para antecipar-se pulei da cadeira e disse que estávamos primeiro logo secundado pelo meu brother John. Entre a apatia do segurança e o “caguei para vocês” do polaco este entrou mesmo no gabinete apesar dos nossos protestos, o que me levou a irromper esquadra adentro e reclamar que fosse atendido perante atónitos polícias polacos. A ação não teve o fim pretendido porque um dos agentes da autoridade convidou-me a sair com o argumento de que “esse não era um assunto da conta dele e que não devia ser resolvido naquele gabinete”. O polaco olhava para mim com cara triunfante e eu, azul de raiva, ainda fui a caminho dele e dando-lhe duas palmadas nas costas avisei-o de que “nós já conversamos lá fora”. Saí para esperar a minha vez e sentei-me na sala de espera notando o espanto das pessoas que também aguardavam serem atendidas e reparei que a Ewa estava muito nervosa, obviamente porque não havia previsto a minha reação, a típica reação dum latino quando se sente injustiçado. O John acalmou-me dizendo que seria melhor não fazermos fitas e eu concordei também para que a rapariga parasse de gaguejar. O engraçado foi a seguir quando o dito cujo polaco sai da gaiola e olha a medo para nós, eu já caminhando de um lado para o outro para não o ter de encarar, o John abre o dicionário de palavrões em inglês e levanta-se a caminho dele. Prenunciei uma cena de porrada à antiga porque o meu amigo estava muito irado, o segurança paralisado de surpresa, as pessoas que esperavam a sua vez chocadas e de boca aberta e o polaco teve de sair em passo apressado antes que fosse lamber asfalto. Vá lá que o meu colega disse que era melhor não fazermos estrilho… Passou.

No dia seguinte, estou na fila do supermercado para pagar as compras quando entra um homem no mesmo corredor em sentido contrário. A senhora da caixa avisa que é proibido entrar por ali mas ele abana a cabeça, murmura qualquer coisa e segue caminho ante o espanto dos presentes. Tive prestes a ir atrás dele, pegar-lhe pelo cachaço e pô-lo na rua mas, se o segurança que é pago para isso não o fez, eu também não me ia armar em defensor da moral e bons costumes, deixei-o seguir a rir-me da estupidez dele.

Hoje, em conversa com a Marta, tirei uma conclusão. Os polacos são naturalmente transgressores, é uma herança dos tempos de ocupação que viveram desde quase sempre. A Polónia esteve sempre envolvida em conflitos e ficou sem autonomia ou independência durante muito tempo, foi ocupada, partilhada, apagada do mapa, disposta a bel-prazer da Alemanha, Áustria, União Soviética entre outras potências invasoras. As leis que os polacos eram obrigados a cumprir não tinham sido redigidas por iguais mas sim pelo inimigo, ora leis nazis, ora socialistas, ora fosse de quem fosse. Neste contexto, prevaricar era um ato de heroísmo, transgredir um sinal de insurreição e infringir era um gesto de irreverência contra o regime. Impunha-se violar a lei, perverter, desvirtuar o que tinha sido infligido pelos maus da fita como prova de que o espírito e a alma da “Águia Branca” não se vergaria às sevícias. Desobedecer era uma ação de orgulho, uma causa e essa atitude foi transportada para os dias de hoje.

Explica muitas coisas mas não as tornam aceitáveis aos meus olhos, não fiquem surpreendidos se um dos próximos artigos versar sobre a minha primeira briga na Polónia. Ainda por cima agora que já se sente o inverno às portas de Varsóvia.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A verdade, acima de tudo

żurek A verdade pode ser dita de muitas maneiras e nem sempre da forma mais agradável. Há verdades que custam a ouvir e outras que custam a sentir, até há verdades que são conhecidas mas que ditas sob um ponto de vista diferente até parecem mentira. Esta introdução serve para mostrar mais uma vertente da vida na Polónia, a gastronomia polaca num prisma diferente.

Convidei os meus alunos do primeiro semestre, alunos de nível básico mas que já estudaram espanhol, a imaginarem-se como donos dum futuro restaurante polaco no Algarve e que compusessem a ementa, necessariamente com especialidades dos seus países. Que o menu contivesse gołąbki, szarlotka, żurek, golonka e outros petiscos típicos da Polónia mas que todos esses pratos fossem explicados na língua de Camões para que o cliente português compreendesse as opções e comgolonka preços eu euros mas simpáticos porque a situação em Faro está dez vezes pior do que em Varsóvia. Entregaram-se com entusiasmo à tarefa e o resultado traduziu-se em três excelentes cardápios referentes aos restaurantes “Quatro Noites”, “Pequena Polónia” e “A Águia Branca”. Em cada um constavam pelo menos três sopas, três pratos de peixe, três pratos de carne e três sobremesas. As propostas foram apresentadas com solenidade, destaco algumas:

- Sopa branca de salsicha e ovo em caldo de água e fermento;
- Caldo de frango com massa;

- Joelho de porco marinado em ervas e cozinhado em cerveja;
- Carpa cozida com batatas fritas;
- Couve azeda com carne e cogumelos;
- Arenque em gelatina.

Digamos que há várias maneiras de se dizer o que é verdade mas apresentar a gastronomia polaca desta forma aos portugueses não será a melhor maneira de conquistá-los. Se a minha opinião valer de alguma coisa aprovo todas estas sugestões menos o peixe com gelatina, esse é daqueles pratos que nunca comi mas não gosto. O resto? Delicioso!

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Tiririca à la polonaise

 

Enviaram-me este artigo desde Portugal.

Szczolek A cantora polaca Sara May, um celebridade nos jornais do país, distribuiu cartazes em que aparece de biquini provocante, espreguiçada na areia, como parte da sua campanha eleitoral para um assento na Câmara Municipal de Varsóvia nas eleições de 21 de Novembro.

Vários dos cartazes - http://www.saramay.pl/blog.html - serão vistos no bairro de Bemowo, em Varsóvia, com o slogan «linda, independente, competente».

«Os feitos contam, não as palavras, por isso não vou prometer nada. Eu vivo em Bemowo, em Varsóvia», escreveu May - cujo verdadeiro nome é Katarzyna Szczołek – no seu site em inglês, acrescentando que iria tentar tornar a cidade um lugar melhor para se viver.

Utilizadores de Internet que fizeram comentários sobre os cartazes de May em vários sites não estavam interessados nas opiniões dela sobre política, preferindo manter amplos debates sobre o quanto a fotografia dela tinha sido melhorada digitalmente.

Tenho opinião pouco formada neste tema, não posso confirmar o slogan da menina – apenas discordar com o “linda” - desconheço a obra artística da rapariga em causa e a visita que fiz ao site dela confirmou as suspeitas de que não estarei interessado em conhecer. O ar dela é o típico das mulheres polacas que tostam debaixo do solário porque alguém lhes disse que ter a pele em tons de cor-de-laranja é sinal de beleza, tem aparência de bimba pirosa sublinhado pelo uso de jóias na praia, sinal pimba inequívoco. Além disso Bemowo fica a 10km do Centro de Varsóvia, onde trabalho, e a 25 de Ursynów que é onde vivo, só vou a Bemowo para jogar futebol às quartas e aos domingos e ainda não prestei atenção aos cartazes de propaganda política.

Mas… para alguém que perdeu toda a fé nos políticos da sua própria terra, o surgimento desta catraia não deixa de ser uma espécie de lufadaJoão Bolacha de ar fresco que me leva a acreditar cada vez mais no lema “vote nas  putas porque temos votado nos filhos delas e não tem dado resultado” especialmente depois do cúmulo do ridículo e da incrível falta de pudor da minha região se ter lembrado de desenterrar o “João Bolacha” para cabeça de lista do PS nas últimas eleições legislativas. Alguns podem encarar a Kasia Szczołek e o Tiririca como uma falta de respeito para com as Instituições sendo que a política é uma coisa para se levar a sério. 

E o que é que os políticos têm feito até agora, não tem sido gozar com eleitorado?

sábado, 13 de novembro de 2010

Azia

Azia Diz-se na minha terra e não sem razão que “um homem doente é pior do que uma mulher grávida” frisando o total estado de vulnerabilidade em que um homem mergulha quando algo lhe abala a saúde. Este homem que vos escreve caiu anteontem à cama fustigado por uma colossal azia sem razão aparente, não houve copofonia na noite anterior nem excessos gastronómicos, provavelmente um bichinho que pairava no ar e que resolver contaminar o sistema. A indisposição gástrica nem causou vómitos mas gerou logo ondas de pânico e pavor, dores insuportáveis e loas à morte que se avizinhava, a reação típica dum homem doente, logo incapaz. Entra em campo a mulher, a curandeira que tem como missão recuperar o macho moribundo através dos seus conhecimentos seculares, mezinhas da bisavó, tirar as dores lancinantes que ela nem calcula, o sofrimento, a atrocidade que ela não sabe nem sonha.

No meu tempo, a minha mãe cozinhava caldos insonsos de arroz e frango cozido separadamente e alimentava-me com essa mistela até que o equilíbrio gastro-intestinal fosse reposto contribuindo desse modo para repulsa que ainda hoje sinto por canja. A associação é inevitável. se estou doente como canja, canja é a comida da doença, só como canja quando estou doente, não quero canja porque é sinal de que estou doente. Como na Polónia a canja é uma sopa comum e que até é prato principal em muitos almoços familiares de domingo preparei-me para o Rosoł que a Ewa ia preparar e avisei-a que…

- Não quero canja, isso dá-me ânsias e disso já tenho de sobra.

- Mas eu posso fazer-te uma canjinha ou outra sopinha assim.

- Não, obrigado. Eu não quero sopa.

- Então come groselhas negras, a minha mãe come-as sempre quando está mal do estômago com um copinho de vodca e…

Aqui tive de interromper.

- Escuta bem o que o Nuno te diz. O Nuno não tem organismo eslavo como vocês, o Nuno não come groselhas negras porque não há disso na terra dele, o Nuno trata os problemas de estômago com Coca-Cola e domperidona (trazida de Faro) como manda a lei. Obrigado pela preocupação mas eu tenho os meus próprios remédios (e puxei dos galões). Afinal, em 15 anos de farmácia devo ter aprendido qualquer coisinha.

E a conversa ficou-se por aqui porque ela viu que eu começava a ficar impertinente e não há nada pior que aturar um homem doente et pour cause rabugento. Pegou nela e foi visitar os pais, eu estendi-me a custo no sofá onde passei a tarde a assistir a reposições aborrecidas do House, Ossos e Family Guy. Dormitei entre gemidos, cercado pelos estúpidos pensamentos que me assaltam sempre que estou nestes fados: “Nunca mais como batatas fritas de pacote, canja não, canja não!” Três horas depois regressa ela com tachos atafulhados de comida.

- Olha, a minha mãe ficou preocupada contigo e mandou estes escalopes panados, couve-flor cozida e um franguinho assado no forno. Não sei se gostas mas pronto, espero que te faça bem.

Só consegui mordiscar um escalope perto da meia-noite, quando me senti com forças e apetite suficientes para abrir a porta do frigorífico. Os escalopes estavam uma delícia, a couve-flor dispensei-a à herbívora cá de casa e no dia seguinte estava em grande forma.

Moral da história: A integração da cultura adotiva naquela que trazemos do berço dá bons resultados, a prova está que eu nunca curei problemas de estômago com panados… mas resulta! q:)

PS – Acresce o facto da mãe da minha da namorada gostar de mim. Isso sempre sucedeu, as mães delas sempre gostaram mais de mim do que as suas filhas. Ainda estou para perceber porquê.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

O Fanfarrão e (o) Parvo

Ontem, em declarações à Rádio Renascença, um notório adepto sportinguista – e notório não quer necessariamente notável – regalava-se publicamente com o resultado do clássico do Dragão dizendo-se “desportivamente contente” por ver o clube de Carnide, apelidado de “fanfarrão”, “em aflições”. Ao ler o artigo não consegui deixar de sentir pena de todos os Leões que não se reconhecem neste tipo de declarações próprias de quem não tem sucessos próprios para festejar e que se contenta com o fracasso alheio. Eu não sou desses, vibro com o meu Sporting e não pestanejo com a derrota dos outros. Assisti ao jogo na companhia de ferrenhos encarnados e não senti particular alegria pelo resultado final tendo sempre o cuidado de frisar que a minha guerra seria na noite seguinte.

Parvo Este imbecil, que por infelicidade ou nabice diretiva ocupa destacada posição na hierarquia leonina, veio vexar mais uma vez a nação sportinguista com frases idiotas que vincularam o Sporting na medida em que por força do cargo que tem não pode distanciar a sua posição pessoal com a do Clube. Gozou com a desgraça dos adversários sem olhar para os seus, falou antes do tempo das ramelas dos outros sem lavar primeiro os seus próprios olhos, precipitou-se pela enésima vez e expôs o Sporting a mais um ridículo para o qual bastava a tristonha campanha da equipa de futebol. Já não é a primeira vez que este cretino diz patacoadas e envergonha o Sporting, realmente somos um clube especialista em criarmos os nossos próprios coveiros e de quando em vez surge um qualquer Rogério, Sérgio, Aguiar ou JEB a reclamar espaço de mediatismo com afirmações tontas que põem o país inteiro a rir deles, de nós.

Eu já tenho calos no cu como o macaco e sabia mais que bem que não íamos aproveitar o desaire de um dos competidores diretos porque o Sporting falha sempre nestes momentos, mas sempre sempre sempre! Saí do trabalho com 70m de jogo a ganhar por 2-0 e no caminho para casa o Vitória virou o jogo para 2-3, quando cheguei a casa estava o António Simões a dizer “que a expulsão do Maniche tinha sido determinante para a recuperação vimaranense”. Surpreso, eu? Nada disso, apenas o Sporting no seu melhor. Tal como esse pateta do nosso presidente da Assembléia Geral que sempre que abre a boca asneia. Mas burro velho não aprende lições e ele saberá contornar a figura triste que protagonizou com mais uma dose de excelente retórica, tivesse o Sporting futebolistas como tem oradores e até a Libertadores ganhávamos.

Entretanto, por favor metam um chinelo na boca desse gajo para ver se ele não nos enterra ainda mais!

sábado, 6 de novembro de 2010

Tu sabes que vives num país estranho…

… quando estás parado no semáforo atrás dum carro cuja marca nunca tinhas visto.

Tata

Segundo apurei, esta marca foi proibida de ser comercializada em vários países europeus por ter falhado muitos dos parâmetros de segurança.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Dos gatos por lebre e de como as mesas mais modestas às vezes consolam os mais exigentes

862largeEstavam 16º na rua, fazia sol e eu lembrava-me que no ano passado por esta altura já tinha caído um nevão sobre Varsóvia. Lembrava-se também dum jogo de apuramento para o Mundial 2010 entra a Polónia e a República Checa disputado em Chorzów num campo em que não se viam as marcações e que foi duramente vaporizado por incessante neve. Este outono ainda não nos brindou com tal desagradável situação e tem feito sol, coisa incomum, por isso fomos passear.

- Onde vamos?

- Vamos comer uma pizza na Cidade Velha.

Assim se decidiu, uma voltinha pela parte antiga da Cidade Capital para arejar o espírito e aliviar o corpo depois duma semana árdua de trabalho e dum fim de semana pleno de obrigações familiares. O restaurante escolhido foi uma extravagância, um dos mais renomados da cidade, propriedade do expoente máximo da gastronomia varsoviana – Magda Gessler. A Trattoria Gessler na praça central, um restaurante magnificamente decorado e muito acolhedor, foi o escolhido para um almoço tardio de feriado. Salada de frango para ela, gnocci de 3 queijos para ele porque a pizza já tinha sido esquecida, pedidos apontados em voz alta e desadequadamente forte para o ambiente intimista que a sala de comer pedia, pratos teoricamente simples e de fácil confeção. Escrevo teoricamente simples porque os ditos pratos demoraram 40 minutos a chegarem à nossa mesa, um tempo de espera inaceitável para uma casa que se gaba de estar mencionada nas publicações do género. Decidi esperar apenas cinco minutos mais e zarpar porta fora quando a dois minutos do fim chegaram os pratos, atirados como se fossem o pão e laranjas dos prisioneiros, uma salada bisonha e 22 grãos de fécula de batata postos no fundo dum prato e regados por um molho instantâneo da Maggi que de queijo só devia ter o aroma. Comemos a custo e porque tínhamos fome. O empregado da voz bruta passou pela mesa para recolher os pratos e quis saber se tínhamos gostado, eu respondi em tom de provocação: “Quer a resposta standard ou a resposta sincera?” Ele não percebeu e trouxe o terminal do pagamento por cartão não sem que antes tivesse acrescentado à mão 10% de gorjeta totalmente imerecida, o papel comprovativo do pagamento saiu amarrotado. A sorte foi que a Ewa prontificou-se a pagar senão eu tinha ignorado a gorjeta e pago apenas aquilo que me puseram à frente.

Seguimos em busca do contentamento que aquele almoço miserável nos tinha roubado e deu-me uma ideia luminosa, experimentar um botequim old-school na esquina duma rua ali perto, uma tasca onde jovens e velhos polacos se inclinam para dispararem tiros de vodca e picarem pequenas porções de petiscos nacionais. O menu é lacónico, tem menos de meia Gzikdúzia de pratos de comida, todos a 8pln e uma oferta de dez ou doze bebidas todas a 4pln. Ao todo não há mais que 15 possibilidades a dois preços. Pedimos gzik, batata cozida partida em quatro servida com queijo fresco rudemente temperado com cebolinho, tomate e salsa, sal e pimenta a gosto, um prato que não satisfará nenhum paladar sofisticado, confecionado numa taberna que não ganhará nenhum louvor Michelin mas que ganhou de goleada à casa da D. Magda em termos de simpatia e competência no atendimento. O Przekąski Zakąszki com o inefável sr. Roman na batuta, recria o ambiente espartano da PRL (República Popular da Polónia) com ementas curtas e é ponto de encontro de muitos polacos de diferentes gerações que ali começam a noite de copos ou que ali procuram afagar o estômago mas sempre recebidos com cordialidade e atendidos com respeito. Senti-me mais desejado naquela casa humilde do que no palacete da Senhora Dona e isso, para mim, faz toda a diferença.

É evidente que não volto a pôr os pés naquele antro de má-educação a que chamam pomposamente de Trattoria Bellini Magda Gessler porque para o que cobraram exijo o mínimo de boas maneiras e de profissionalismo no atendimento ao cliente. Já esta taberninha de canto na Rua Krakowskie Przedmieście ganhou um fã, no próximo fim de semana vou lá voltar para provar o resto das especialidades. Ainda por cima está aberto 24/7!

Prefiro a simplicidade das coisas genuínas do que a superficialidade das coisas artificiais, é o que vem da minha raiz e é assim que eu fui educado. Os meus avós tinham galinhas no centro de Faro e os meus tios, embora não faltasse dinheiro, sempre comeram da panela. Enquanto assim me mantiver só me enfiam o barrete uma vez.

sábado, 30 de outubro de 2010

Mara50na

image

Diego Armando Maradona faz hoje 50 anos.

Um tributo ao melhor jogador de futebol de sempre que um dia, graças ao meu tio, vi jogar ao vivo em Nápoles. Parabéns, Pelusa, e obrigado pela magia!

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Já dizia o Pai Herodes…

Mão amiga e ótima cozinheira fez-me chegar a publicação “Mistérios da Vida Sexual” de A. de Bizando, um livro sobre “as leis que orientavam a felicidade sexual do homem e da mulher” do Portugal dos anos 70. Sendo a edição de 1971, ou seja, dois anos antes deste vosso humilde servo ver a luz do dia pela primeira vez, talvez seja curioso ver como era o papel dele e dela na cama do “Estado Novo”.

Desnecessária a analogia fácil de que pouco mudou porque antigamente era o “bota-de-elástico” quem fod… os portugueses enquanto agora temos os boys socialistas que nos fod…, este é um blogue de bons costumes e não enveredamos por aí, mas após aturada leitura em busca de elementos que pudesse usar nas minhas aulas – e escusado será dizer que nada encontrei – saquei esta pérola cujas ilações deixo à consideração do leitor. Ora, leia então o último parágrafo.

Sexo em Portugal

Posto isto, vou fazer a barba que hoje é sexta-feira.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Retalhos da vida de um Algarvio - 14

Um punhado de coisas que eu continuo sem entender, mesmo depois de estar cá a viver há mais de mil dias:

1. Eles implicam com as nossas horas de refeições, principalmente o jantar. Quase que nos pedem para não comermos tão tarde, que faz mal à saúde e que podemos ter enfartes. No entanto jogam-se para debaixo do duche vinte minutos depois de terem lambido uma arroba de golonka;

2. Há uma faixa esquerda em todas as ruas e em todas as estradas, às vezes até há mais que uma faixa da esquerda. Parece que os instrutores de condução polacos estagiaram todos no Reino Unido e que ensinam os seus compatriotas a escolherem a faixa da esquerda se quiserem circular a menor velocidade. Ao fazer sinais de luzes a um automobilista que pastava no lado esquerdo da estrada recebi sinal para usar a faixa da direita se quisesse pois estava livre;

3. As pessoas correm para os elétricos quando o sinal está verde para os peões. Se o sinal está verde para os peões é porque está vermelho para o elétrico, logo corram ou não corram o elétrico tem de esperar por eles, está parado e não vai a lado nenhum. Dispêndio estúpido de energia;

4 . O conceito de “Outono Dourado”, que não é mais que um eufemismo para a pior estação do ano. No outono começa a fazer frio, não temos mais dias de sol, não fazemos churrascos, constipamo-nos, chove, o mercúrcio roça os 0º, é pior do que no inverno porque no inverno já nos habituamos ao briol. As folhas que caem no chão são aborrecidas, sujam a rua e não têm piada nenhuma, não me lixem com essa imagem bucólica porque o que não falta aí são depressões nesta altura do ano.

5. Porque é que não se lavam? Lavem-se, meu! Sinceramente, lavem-se. A sério, vocês não têm consciência do sacrifício que é estar confinado numa carruagem de transporte público a levar com o vosso sovacum. Qual é afinal o vosso problema? Ainda nem chegamos ao inverno e já estão atascados em roupas, estão 7º e já andam de gorro e luvas… É por estar frio que não se lavam? É porque a água é cara ou porque custa a entrar na banheira? Então e no verão, qual é a desculpa para terem uma autêntica ETAR debaixo dos braços, a escorrerem suor viscoso que mais parece suco de peixe apodrecido, nem Olhão nos tempos áureos era tão fedorento? Tomem banho, pá! Não vos incomoda a marmelada que se forma debaixo dos braços, um gajo tem de arejar a sala antes de poder começar a trabalhar? Eu sei que vou lidar com pessoas, por isso não dispenso o desodorizante depois do duche matinal antes de sair de casa, porque é que vocês não fazem o mesmo?

Há aí alguém com respostas para isto?

terça-feira, 26 de outubro de 2010

A concubina

A notícia começou pequena como a nascente de um regato mas cedo cresceu e galgou terreno como se fosse um rio em torrente inevitável para a foz. Os rumores à boca-fechada não foram levados a sério enquanto podiam ter sido comentados e tudo se precipitou até ao confronto com facto consumado, uma coisa irreversível e sem volta a dar. Afinal, era mesmo verdade. A Ewa mudou-se para casa do namorado português.

União O caso-que-não-tem-razão-de-ser-mas-que-acabou-por-tal-se-tornar abalou os caboucos da Polónia tradicionalista, os setores mais conservadores numa sociedade profundamente católica e crente nas verdades absolutas que uma instituição obtusa teima em propagandear. Era terrível aceitar que um membro da família tinha cedido à tentação demoníaca de partilhar teto – Céus, esperamos que ao menos não durmam na mesma cama! – sem ser pelos sacramentais laços do casamento, encarar os vizinhos impolutos e bentos que nunca partiram um prato e carregar o pesado fardo da vergonha causada pela filha rebelde que desonrou o nome da família. Como ir ao supermercado? Como levar o neto ao parque infantil? Como não reparar que as amigas disfarçam as conversas com risos cínicos quando se entra no cabeleireiro? Como ignorar o desconforto da manicure que se torce toda para não tocar no tema. Como lidar com o ostracismo dos parentes?

- Oh, mas onde falhamos nós! Onde fracassamos na educação e formação da nossa pequerrucha, que nos abandonou para entregar a sua inocência e pureza (Yeah, sure… Ela tem é mais jogo que a Casa da Concubinato Sorte!) às mãos de um vil latino, esse crápula sarraceno que encantou a nossa princesa com a sua culpável languidez viperina. Porque somos castigados com esta penalidade tão cruel de não termos o apelido salvaguardado por uma rodela de metal, a descendência legitimada por um par de linhas lidas por um “comedor de bifes”*, a consciência limpa por umas dezenas de notas de conto depositadas numa conta episcopal? E viver com esta carga, com o peso de ter filha a viver em… até a palavra me custa a sair… em concubinato?!

Para que conste, eu e a Ewa passamos a viver em concubinato. Há que lhe chame “viver juntos”, outros optam por designar este estado como “coabitar” mas na Polónia, terra onde a Igreja tem tanta força que nem o próprio Vaticano consegue botar faladura, o termo é acusativo, perjorativo e negativo. Ela é a minha concubina, não creio que esteja incomodada com o rótulo.

E eu, o que é que eu sou?

Eu sou um gajo feliz da vida!

* O Anticristro – Friedrich Nietzsche

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Um dia daqueles, em que as coisas familiares que me rodeiam são poucas ou nenhumas.

Enquanto como uma sandes de almôndegas empresto um carregador de telemóvel a uma cubana que agradece dizendo “Deus te pague com um filho varão”.

Ontem vi o Sporting a dar uma mão-cheia ao mesmo tempo que mamava a sopa de grão (com um pedaço de costela de porco para dar sabor) que a minha namorada fez, hoje tenho de ir a uma festa africana depois de ver na televisão a Legia a jogar em Kielce e amanhã vou ter uma festa na minha casa com algumas 30 pessoas de pelo menos cinco nacionalidades diferentes.

Entretanto chegaram-me notícias de Faro, finalmente nasceu o Tiago Alves Barão depois duma gravidez de alguns 14 meses nas minhas contas.

Estão 6º na rua e eu ando de mangas curtas.

Tenho um número de fotocópias calculadas grosso modo entre as 600 e as 714518 para selecionar, organizar e distribuir.

Falta-me um danoninho para dar o estalo no aparelho. Qualquer coisa liguem à minha mãe, há quem tenha o número.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

E se em Portugal… ?

PiS Um homem foi hoje mortalmente atingido a tiro e outro esfaqueado após um ataque à sede regional do PiS, partido da direita-conservadora, situada em Łódż na Polónia Central, informaram hoje os média. Testemunhas oculares referiram que o agressor gritou "Morte a Kaczyński!" ao entrar no edifício referindo-se ao líder do partido da oposição PiS, Jarosław Kaczyński.
O atacante disparou sobre Marek Rosiak, 62 anos, assessor do eurodeputado Janusz Wojciechowski e feriu gravemente Paweł Kowalski, 39 anos, assistente do vice-presidente do partido Jaroslaw Jagiello, informou a rádio pública polaca citando a polícia. O agressor, um homem de 62 anos de idade da cidade de Częstochowa, foi rapidamente detido pelas autoridades e enfrenta agora acusações de homicídio qualificado.
Kaczyński disse aos repórteres que o ataque foi "o resultado da grande campanha de ódio que tem sido levada a cabo contra o partido." O responsável partidário referiu ainda que "Hoje o governo é totalmente responsável pela segurança de todos os nossos gabinetes e todos os nossos trabalhadores. Se alguém diz mais uma palavra de ódio contra nós, isso equivale a um convite para matar", acrescentou Kaczyński.

Desde que perdeu as eleições presidencial no verão para o candidato do centro-direita Bronisław Komorowski, Kaczynski abandonou todas as restrições de retórica para com os seus adversários políticos e ideológicos e tem usado uma linguagem forte e agressiva para os criticar. Ele tem repetidamente culpado o Governo por não fazer o suficiente para garantir a investigação completa do acidente aéreo que matou 96 pessoas, incluindo o seu irmão gémeo, o presidente Lech Kaczyński. Os comentários de Kaczyński são classificados por Sławomir Neumann, um destacado membro do partido do Governo PO, de "aproveitamento da situação para fins políticos” e "muito perigosos, porque inflamam e incitam as pessoas” , em entrevista à TVN24 e citado pela Bloomberg.

Ouvi um psicólogo explicar que este acto se deveu à incapacidade do indivíduo poder demonstrar pessoalmente o seu descontentamento aos políticos que, no seu entender, estão a prejudicar a Polónia e a sua imagem no exterior.

Lembrei-me agora da frase que o “Bom Gigante” disse há 24 anos.

Enfarte enlatado

E se misturarmos Viagra com Guaraná, o que é que obtemos?

Viagurá

Quinze anos de farmácia e nunca me apercebi que isto vinha a caminho…

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Tugas na Polónia em Łódż (não gosto de Łódż!)

image Para que conste, não gosto de Łódż. Que fique inequivocamente esclarecido que não gosto de Łódż, pronto. É uma cidade velha, sombria, num palavra – feia. Admiro a coragem das pessoas que escolheram essa terra para viverem mas mais depressa encarava a possibilidade de regressar a Faro do que ter de me mudar para Łódż, cidade que me faz lembrar os arredores de Sosnowiec, outra terra cuja imagem deve ter inspirado Dante. As ruas acidentadas que são provação constante aos braços de suspensão dos automóveis não são, infelizmente, um exclusivo desta cidade mas uma linha de elétrico cruzar-se com a rodovia sem qualquer tipo de sinalização ou aviso luminoso é de bradar aos céus! Os carros têm de circular nas mesmas vias que os autocarros e adivinhar as intenções dos motoristas porque em caso de acidente o automobilista nunca tem razão, a faixa da esquerda é propriedade privada dos condutores mais lentos… Não gosto de Łódż.

Ontem fui lá devido a um encontro de portugueses participantes no Forum de Portugueses na Polónia do qual muito honradamente sou moderador, um encontro já falado há muito tempo mas que nunca tinha passado do papel de intenções. Devido à persistência de alguns, o encontro acabou mesmo por se realizar no centro comercial lá do sítio, o Manufaktura, à volta de mesas de cafés. Reconhecer os “Portugueses na Polónia” podia ser uma situação algo constrangedora, chegar assim do nada, pensar “será que são estes?” mas ao virar da esquina as coisas ficaram claras porque a mancha morena destacava-se no meio das louras que se sentavam diante deles. Facilmente localizados, os portugueses não enganam pois têm cortes de cabelo que só se faz em Portugal, usam blusas e calçam sapatos que só se vendem em Portugal e até se sentam como só se sentam em esplanadas de Portugal. Obviamente, namoram ou casaram-se com raparigas que… não há em Portugal :) Apresentações feitas a conversa rolou fácil entre pessoas que já se relacionavam há muito através da blogosfera, casos do Ricardo, do Daniel e do Rui, gente com muitos anos de Polónia e com experiências e dicas importantes para quem chegou há menos tempo, alguns até seguidores deste modesto pasquim cibernético. Contaram-se estórias daquelas que só quem vive neste país acredita, explicaram-se expectativas, falou-se de planos, trocaram-se pontos de vista e impressões sobre a vida dos tugas no fim da Europa.

Confirmei a boa impressão que tinha destes portugueses cujas vidas venho acompanhando há algum tempo, portugueses estabilizados e integrados numa sociedade muito peculiar de critério estreito e que seleciona severamente aqueles que nela triunfam. Torço para o sucesso desses e daqueles que há pouco chegaram à Polónia, um sucesso que não se augura fácil mas que também não é impossível pois parece-me uma questão de tempo até estes “tugas na Polónia” deixarem a sua marca indelével em Łódż e no País.

Łódż? Como diz a Ewa, é muito smutna (triste). Já mencionei que não gosto de Łódż?

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Os que vão, os que ficam e os que chegam

Stare Miasto Importa informar os menos avisados de que a vida dum português na Polónia não é propriamente um constante mar de rosas por estar rodeado de mulheres belas e simpáticas, por vezes a vida neste país transforma-se num teste de resistência às capacidades de cada um adaptar-se a um ambiente muito distinto daquele em que nasceu e cresceu. Não são raros os portugueses que abandonam este país por não se conseguirem moldar às muitas coisas incómodas que há na Polónia: A rijeza do clima, a mentalidade inflexível dos polacos, a comida (para alguns), uma série de situações que podem levar o português a sentir as dentadas do bichinho saudade com mais força, fazer as malas e regressar a Portugal. Infelizmente isso vai acontecendo por cá. A Rita cansou-se disto ao fim de uma mão-cheia de anos, a Sónia está a tratar da mudança para Cracóvia e o grupo fantástico que se criou há 3 anos leva assim um rombo razoável.

Para outros, felizmente, a coisa não é assim tão dramática e vão-se dando passos calmos mas seguros no sentido da adaptação total ao meio ambiente polaco. Eu decidi partilhar telhado com a minha comadre, oEstádio visto da Cidade Velha Mário vai dar o nó em Janeiro, o John – meu irmão varsoviano – atinou com uma linda polaca e parece felicíssimo (com aquele avião todo o português ficaria felicíssimo!), o Gonçalo chegou há semanas e parece ser um puto fixe e a coisa assim vai rolando, amparamo-nos uns aos outros nos momentos de maior aflição e somos uns para os outros como tem de ser. Há quem diga que no outono todos os portugueses se acalmam e arranjam namorada, dizem que é para se manterem aquecidos durante o rigoroso inverno continental e que a loucura regressa com o degelo (e a minissaia) primaveril.

Não escondo que o tempo tem influência indisfarçável sobre o humor e comportamento dos portugueses que aqui residem, não é fácil passar metade do ano abaixo de 0ºC (já se prevêem –3 para as 7:00 de amanhã) e compreendo, não deixando de lamentar, a decisão daqueles mais chegados que me abandonam. Desejo-lhes saúde e sorte, talvez o dobro que eu desejo a mim próprio porque mal ou bem estou satisfeito com as coisas que tenho e que estou a construir. A Stare Miasto ainda me encanta sempre que lá vou e já se nota o novo Estádio Nacional a ganhar forma por trás do rio, símbolo duma Varsóvia pujante que se está a construir a cada dia que passa.

É a tal coisa, Marinho. Varsóvia não é para meninos.

domingo, 10 de outubro de 2010

O Regresso, mais um como todos

As coisas que começam mal dificilmente acabam bem, diz o povo na sua infinita sabedoria. Pois bem, o dia de hoje, o dia do regresso a Varsóvia começou mesmo muito mal e logo de madrugada com temporal e marés altas que fizeram com que o oceano tocasse a Ria em vários pontos ao loongo da Praia de Faro. Além do impacto ambiental que o fenómeno causa, cada vez mais o mar avança sobre o areal subtraíndo dunas ao importante cordão que segura a cidade e o aeroporto de Faro da força do Atlântico, há um série de situações desagradáveis. O mar traz para a estrada todo o tipo de plantas e paus, alaga completamente o asfalto tornando a rua intransitável e incapacitando os moradores de saírem ou entrarem na praia porque a GNR não autoriza, e faz bem em não autorizar porque qualquer carro pode ser abalroado por uma vaga mais forte que transponha a duna com consequências imprevisíveis. O impedimento da circulação automóvel é particularmente sentido quando temos de apanhar um táxi às 5:00 da manhã porque temos voo às 6:15 e o táxi não consegue chegar onde estamos. Não se consegue traduzir por palavras a angústia que é ter de caminhar 800m num cenário feio de lagoas de água salgada e tábuas lançadas para a estrada, sem muito espaço seco para pôr o pé e com duas malas a reboque mais o saco do notebook, vendo o mar entrar Ria dentro a cada 100m imaginando que a qualquer momento se levava com uma onda no toutiço, olhando para o relógio que andava mais depressa que nunca. Apanhei o táxi perto da estalagem e cheguei ao aeroporto com cinco minutos para a porta de embarque encerrar.

Mas embarquei não sem que tivesse de pagar 35 pazuzas por ter-me esquecido de pagar a mala de porão e de me terem ficado com o desodorizante em stick alegando que era líquido. Engraçado que em Estocolmo eu não tive de pagar a mala porque a funcionária não prestou atenção ao caso. Depois de arfar e bufar sentei-me suado no avião e fechei os olhos para passar pelas brasas, só que as aventuras ainda não tinham acabado. A voz do capitão informa que devido a uma avaria técnica a descolagem ficaria adiada por alguns instantes até à chegada duma equipa de engenheiros especialistas. Os engenheiros chegaram e deliberaram que aquela aeronave não estava em condições de partir e que todos os passageiros teriam de abandoná-la, troca de avião. Outro Boeing que é rebocado para o lugar do primeiro e toda a gente na rua, um processo que demorou uma hora.

A escala no curto aeroporto satélite de Estocolmo acabou por ser uma boa surpresa. Enquanto eu gozava uma massinha de camarão para recolocar algumas energias eis que o Chendo, antigo companheiro de equipa hoje radicado na capital sueca por ser funcionário duma companhia aérea, aparece vindo do nada e abanca-se à minha mesa. Abraços portugueses e sorrisos sonoros porque afinal o mundo é mesmo uma aldeia e porque entre Estocolmo e Varsóvia há apenas oitenta minutos de espaço, marcou-se imediatamente um fim de semana sueco, uma festa para celebrar a portugalidade das pessoas que tiveram Faro como berço mas que se espalham por essa Europa fora com a marca de bons profissionais e pessoas de valor. Vai ser giro ver as nossas namoradas a comunicar e assitir a um elo de ligação entre Polónia e Suécia tendo Portugal como denominador comum.

Entretanto o embarque para a Polónia correu bem e agora que estou a 32.000 pés de altitude só uma tosse alérgica contraída numa vez em que saí desprevenido debaixo da cacimba algarvia me incomoda, no entanto esse incómodo não é suficiente para esfriar o ânimo que tenho por voltar a Varsóvia porque tenho muita vontade de contrariar o início deste artigo e também de descobrir o que a Cidade Capital tem reservado para mim nesta temporada 2010/11. O Futuro começa amanhã e eu sinto-me preparado, por isso… A mim, Varsóvia!

sábado, 9 de outubro de 2010

Até logo!

À noite a chuva caía impiedosa na areia da Praia, castigava os poucos carros que por lá passavam como se punisse pelo atrevimento. O mar revoltava-se e ameaçava transpor as dunas para encontrar a Ria do outro lado da praia, ondas enormes rebentavam na costa a meia dúzia de passos da estrada. No restaurante, porém, batiam-se copos de cerveja e davam-se vivas aos golos da seleção que resolveu mostrar ao mundo que realmente sabem jogar futebol e que (agora já) querem ir ao Euro2012. Mais um jantar entre amigos, a conversa saborosa cozinhada no lume duma amizade antiga, daquelas amizades que nunca se avaliam nem prestam contas.

Questões burocráticas trouxeram-me a Faro e os amigos logo se juntaram para repetidas patuscadas, coisas a que nenhum português consegue dizer “não”. Foram duas semanas de intenso trabalho e constante atenção para as tarefas principais mas também duas semanas de desgaste hepático causadas pelas sucessivas carraspanas que os amigos proporcionaram. É inevitável, quando se junta a vontade com o querer tudo acontece com naturalidade associado ao contexto das celebrações da tal amizade e companheirismo.

Agora é tempo de fazer malas e regressar a Varsóvia onde me espera outro tipo de vida, uma vida diferente mas igualmente interessante. Não vou contar com o rugir das vagas atlânticas a embalarem-me à noite nem com o aroma dos carapaus assados ao almoço mas há toda uma cidade (e um par de esplendorosos olhos verdes) da qual sinto tremenda falta e que me dá coisas imprescindíveis para que eu consiga apreciar o verdadeiro valor que tem voltar a Faro. É fundamental que eu volte a Varsóvia para gozar totalmente Faro bem como é essencial que eu venha a Faro para valorizar a experiência tremenda que é viver naquela metrópole polaca.

É tempo de voltar a casa… até que eu venha a casa de novo.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

República Portuguesa – 100 anos

O Artur telefona-me e diz: “Morreu o Afonso!”. Lamento muitíssimo o sucedido porque o Afonso, apesar de não ser das minhas relações mais próximas, era um cota porreiro, muito porreiro até. Comunista até ao osso, era crente e verdadeiro praticante sendo não raras as vezes que rebentava com a reforma em sacos de camarão que levava para o restaurante do Rogério para que este o cozesse e desse a possibilidade do Afonso reunir os seus companheiros em torno dum pires de conversa mais uns pedacinhos de queijo e presunto com minis e risos. O Afonso era pintor, morreu pobre mas deu muito aos seus amigos. Recordo que ele zangava-se comigo por não aceitar a imperial que ele me queria pagar mesmo explicando-lhe que tinha treino e que não devia beber. “Então bebe um sumo, uma cola, uma merda qualquer que eu pago”. Grande Afonso, não levava um tostão para casa porque partilhava tudo com a sua malta. Tínhamos de o obrigar a aceitar quando lhe queríamos pagar a bifana, ofendia-se e dizia que “onde peço pago!” Imediatamente a exclamação do Artur: “Coitadinho, já morreu”. Aqui eu discordei dele.

Mas porque é que temos sempre esta parva tendência para sentirmos pena dos que morreram mesmo que tenham sido grandes sacanas (o que não é o caso)? Eu não acho o Afonso coitadinho só porque tenha morrido, pelo contrário, considero que nós é que somos coitadinhos porque ficamos cá a penar e a sofrer dia após dia, cada vez com mais privações e manifestações incríveis de injustiça a que assistimos impotentes. Coitadinho do Afonso? Então nós que cá andamos temos que levar com palhaços que ganham mais de 700 contos por mês dizerem que precisam de uma cantina aberta à noite para que não passem fome, somos o quê? Ouvirmos este pulha que aufere 7,5 ordenados mínimos a reclamar que ganha pouco e que tem de ir à Sopa dos Pobres dos Deputados faz de nós o quê? Nós, que gramamos com um Governo de Pinóquios que se contradiz diariamente, que engana o povo, que carrega nos impostos, que é forte com os fracos e fraco com os fortes, somos o quê? O povo que teoricamente escolheu os seus representantes no Parlamento, direito consagrado faz hoje exatamente 100 anos, e que vê os seus deputados, aqueles que prometeram zelar pelas suas necessidades, mandarem promessas eleitorais às malvas assim que sentam o cu na Assembleia da República é o quê?

O Afonso não é um coitado. Aliás, eu sei perfeitamente que ele foi para um sítio onde come o seu camaranito descansado, os dedos descascados dos vapores das tintas e verniz, ri-se de nós e já não tem de aturar esta cáfila que nos “governa”.

O que é que isto tem a ver com a Polónia? Apesar de nem sempre ser por ideias que eu defendo, o caso da cruz é um exemplo ilustrativo, os polacos quando se sentem prejudicados manifestam-se, saem à rua, abraçam a causa com a alma e demonstram a sua insatisfação de forma inequívoca aos seus políticos. Respeito-os muito por isso e gostava que os portugueses tivessem menos brandos costumes, que enfiassem dois ou três penaltis de vodca e que fossem gritar umas verdades aos nossos parlamentares para que eles percebessem que se a monarquia caíu há 100 anos não foi para ser substituída por uma coisa ainda pior. Para isto era preferível o D. Duarte Pio, sempre é uma figura carismática e tem uma voz divertida.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Para cá do Vascão mandam os que cá estão

Enquanto o país luta contra as intempéries, instaura estados de alerta laranjas e amarelos, barrica ruas, calafeta avenidas e desimpede sarjetas nós aqui no Algarve, no tal Algarve que só é lembrado pelo resto de Portugal quando as rameiras mediáticas resolvem infestá-lo, o tal Algarve que é constantemente sodomizado pelo Governo Central por não receber um quinhão justo da fortuna que o seu turismo produz, o tal Algarve que tem composições e linhas ferroviárias do tempo de D. Carlos e que vê a única via rodoviária transversal capaz de servir os interesses da região ameaçado de portagens… Esse tal Algarve está na Praia, a almoçar, a fazer canoagem ou a surfar.

Podemos não ter as rugas de expressão apagadas com peelings, beiços amplificados com botox, dentes lavados com lixívia para aparecer melhor na TV mas temos uma terra linda verdadeiramente encantada pela Natureza e um clima que nos afaga o espírito sete meses por ano. Isso nunca conseguirão mudar, nem que se matem a redigir leis sufocantes para a nossa região. O Algarve continuará a ser, apesar do mal que lhe têm feito, a coisa mais linda que este país tem.

Está a chover, aí? Temos pena!

Praia

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Só no Brasil

Se alguém perguntar o que significa essa expressão que acabou de pronunciar, podem afirmar sem receio que é um bairro numa localidade brasileira. Portanto, quando pedirem sugestões sobre destinos de férias…

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Niedziela

Bloki O sol penetra pela cortina e levanta-me as pestanas ainda pesadas da preguiça causada pela noite anterior, não tenho vontade de acordar mas o próprio organismo já mostra sinais de satisfação pelas horas dormidas. Num primeiro instante calculo que sejam apenas 8:30 da manhã, terei madrugado sem necessidade nenhuma, e pego no telemóvel para conferir o meu palpite. Errei, dormi dez horas e já passa do meio-dia e meia hora. Estranho a ausência de companhia ao lado esquerdo porque tenho a certeza que havia lá alguém durante a noite, Espreguiço-me e começa o dilema de levantar-me ou não, a cama está boa mas o dia já vai alto e tenho de fazer alguma coisa para comer, uma guerra sem quartel entre o malandro e o faminto, cada qual com argumentos difíceis de contrariar.

O malandro vai levando a melhor quando ouço o domofon cochichar a chegada de alguém que conhece o código de entrada, prova que as minhas desconfianças eram fundadas e estava mesmo alguém do lado esquerdo da cama à noite. É ela quem chega com sacos de supermercado, radiosa como o sol matinal que convida a cidade a sair de casa, e que anuncia o pequeno-almoço porque temos de aproveitar os ovos cuja validade está prestes a expirar. Concordo sem resistência, ovinhos, meia baguete com manteiga e sumo de pêssego-uva parece uma excelente maneira de devolver saúde ao corpo. Após um formidável desjejum sento-me ao computador para conferir as últimas sugestões em termos de música de dança, propostas avançadas por dois ou três websites de referência que sempre consulto quando preciso de malhas novas que incendeiem as noites de Varsóvia. Sem pressas, ali deixo-me ficar até meio da tarde.

Depois um passeio ao outlet de Piaseczno, localidade a 7km a sul de Varsóvia – um dormitório – para espreitar o que terá chegado à loja da Soda, a minha marca preferida. As compras, pedaço fundamental da vida duma mulher, feitas em par acabam por ser mais divertidas e eficientes, não há problemas enquanto eu demoro na loja da Adidas porque a Mango é mesmo em frente. Com um casal de notas de zloty compra-se roupa da última tendência da moda, ficamos arranjadinhos e poupamos no orçamento porque lá em casa ninguém tem ajudas de custo nem subsídios nem contas pagas, a malta trabalha e pronto. Paga e cala.

Para rematar, um bacalhau com natas em casa de amigos e com amigos, uns mais recentes que outros mas em excelente atmosfera. Tal como me fizeram há quase três anos, passo o meu capital de experiência de vida nesta terra aos recém-chegados e tento junto com os meus amigos de cá desbloquear algumas situações e necessidades que aos desconhecedores parecem bichos de sete cabeças à primeira vista mas que são resolvidas graças à pureza da amizade que se cria e se alicerça a cada momento, a ajuda é grátis porque ao fim e ao cabo temos que ser uns para os outros. Curioso, reforçou-se o plantel de algarvios residentes em Varsóvia com a chegada da Ângela e pouco falta para fazermos a “Semana do Xarém” em Varsóvia!

Peladinha em Varsóvia Voltar a casa, fazer as malas e preparar mais um regresso a Faro, desta vez não tão satisfeito como das outras vezes (são burocracias que me levam a voar, não é o melhor motivo) contudo sempre satisfeito por voltar a ver os meus, por poder ver o mar em vez de bloki socialistas e finalmente por poder voltar a jogar futebol. Já sei que a pelada de segunda-feira foi transferida para o Liceu, chego mesmo a tempo. Guardem-me um colete!

sábado, 25 de setembro de 2010

I tylko Legia, Legia Warszawa!*

Já aqui foi mencionado que o Légia de Varsóvia, ou Legia Warszawa, é o clube de futebol mais popular da capital polaca, uma equipa que reboca uma autêntica legião de adeptos fanáticos aos estádios onde se desloca, principalmente quando joga na sua casa – o Estádio Wojska Polskiego. É o clube polaco da minha simpatia pois alguns dos meus amigos nutrem um sentimento muito forte pelo emblema wojskowy e sempre que falamos de futebol é a Legia que eles louvam e é a Legia que ocupa o lugar principal no coração deles. Começaram a contagiar-me com esse sentir e acabei por ficar simpatizante das cores branca e preta até porque me recordam do meu Farense q;)

Ora, um adepto que se preze vai ao estádio apoiar a sua equipa e se na sua equipa estiverem jogadores que entretanto foram conhecidos e que até se tornaram amigos – caso do brasileiro Bruno Mezenga aqui entrevistado pelo Kuba mai-lo vosso bloguista e do português Manú – mais imperiosaMezenga se torna a presença no estádio. Se somarmos a estas parcelas o fator adicional do Wojska Polskiego estar em vias de renovação e de se ter tornado, desde já, um estádio ao nível dos mais modernos estádios europeus, mais aliciante e obrigatória de torna a presença do adepto mesmo que seja português. Pois bem, ontem foi dia de Legia – Lech Poznań, a visita do campeão em título que vinha moralizado dum empate surpreendente contra a Juventus na casa da Velha Senhora a contar para a Liga Europa, um jogo que tinha de ser encarado sob um contexto especial de que faziam parte a fraca prestação da equipa no início de temporada, consequência da dificuldade em assimilar o contingente de estrangeiros que se juntaram ao plantel este ano, jogadores oriundos de diversas nacionalidades e mentalidades futebolísticas como argentinos, croatas, portugueses, brasileiros que pela primeira vez tomam contacto com a realidade da física liga polaca. O treinador da Legia, o ex-selecionador e campeão pelo rival Wisła Maciej Skorża estava no fio da navalha e as casas de apostas davam o seu despedimento como provável nas próximas jornadas, ingredientes suficientes para uma noite de grandes emoções.

 

Wojska Polskiego Convoquei a Ewa para o jogo e abalámos meia hora antes para enfrentar o trânsito e os problemas de estacionamento que com surpresa não encontrámos. A entrada no estádio processou-se rapida e eficazmente, os portões são muitos e largos pelo que os espetadores rapidamente entram para o interior do estádio onde os stewards indicam o lugar a ocupar. Cadeiras confortáveis e uma atmosfera de arrepiar. No topo sul, oposto onde me encontrava, a Żyleta, fação de adeptos mais apaixonados, dava espetáculo cobrindo integralmente a bancada de branco com coreografias de notável aspeto visual, os tiffosi da Legia a saltarem compassadamente ou a moverem-se dum lado para o outro, agitando os cachecóis ou batendo palmas em uníssono, um bailado de fé e amor ao clube que dava a impressão que as próprias estruturas do estádio se mexiam, uma demonstração ultra que não passa cartão às melhores claques italianas. Ao lado esquerdo, numa fatia perfeitamente definida pelo azul do Lech e pelo cordão da Brigada de Intervenção, os adeptos dos visitantes em cânticos fortes e assertivos provocavam a Cidade Capital e gozavam com o facto de a Legia ser o eterno candidato adiado ao título. A mole branca respondia chamando-os de “segunda categoria” e que “a nossa Legia é a melhor da Polónia”, o habitual em jogos entre grandes rivais.

Bancadas Oito minutos depois do apito inicial cai um balde de água fria nos legionisci sob a forma do golo do Lech apontado pelo bielorrusso Sergei Krivets que aproveitou as facilidades concedidas pela defesa local para inaugurar o marcador e colocar nuvens negras a pairar no nº3 da rua Łazienkowska. Após alguma hesitação da Legia as coisas começaram a equilibrar-se e chegaram ao empate à passagem do minuto 38 por intermédio de Kucharczyk, um produto da cantera que tem estado a aproveitar bem as oportunidades dadas pela ausência de avançados conceituados no plantel. Primeira explosão de alegria no estádio rapidamente neutralizada pela expulsão idiota do extremo esquerdo Rybus que derrubou desnecessariamente um defensor azul já depois de ter visto um cartão amarelo, faltavam quatro minutos para o intervalo que instalou uma atmosfera de apreensão ao chegar.

Na segunda parte o Lech foi para cima da equipa da casa, pressionando e empurrando a Legia para o seu último reduto. Os Wojskowy aguentaram o sufoco dos 15 minutos iniciais e paulatinamente foram equilibrando e virando a tendência do jogo através de incursões venenosas de contra-ataque alicerçadas na omnipresença do recém-empossado capitão Vrodljak que jogou por três, construindo e destruindo, um almirante no meio-campo da Legia. A brutal energia que vinha constantemente das bancadas levava os jogadores da Capital a acreditar que podiam marcar mas os contragolpes do Lech punham a defesa branca em constante alerta e viveu-se este ambiente de incerteza entre “matar e morrer” até ao minuto 88 quando o estádio veio abaixo. 

Livre no flanco esquerdo, Kiełbowicz lança uma bola tensa ao segundo poste onde surge no ar o criticado Bruno Mezenga que fixa o 2-1 final cabeceando de cima para baixo como mandam os almanaques e lançandoExterior do estádio Varsóvia às suas costas. Cinco minutos até ao apito final, cinco minutos de intensa, unânime e constante cantoria, cinco minutos de um apoio massivo e impressionante, 22.400 gargantas a chutar bolas para longe da área da Legia, cinco minutos para que o Wojska Polskiego se abraçasse e celebrasse a primeira vitória oficial no “novo” estádio enquanto os jogadores davam uma volta olímpica agradecendo o apoio ininterrupto dos seus aficionados e lançando camisolas para a Żyleta onde os ultras davam largas à sua louca alegria e agradeciam a prova de ambição e vontade dos seus jogadores.

Duas horas depois do fim do jogo ainda se ouviam cânticos embriagados de apoio à Legia. Mesmo numa situação difícil na classificação os adeptos – este adepto português inclusive - continuam a acreditar na sua equipa e continuam a afirmar alto e em bom som para quem os quiser ouvir que “Nasza Legia najlepsza w Polsce jest!”, ou seja, “a nossa Legia é a melhor (equipa) da Polónia”

* E apenas Légia, Légia de Varsóvia