quinta-feira, 21 de março de 2013

Terrível

Acordei e consultei as notícias de Portugal, um hábito matutino que satisfaço enquanto tomo o pequeno-almoço. Duas delas ainda não consegui engolir:

  • Van Wolfswinkel vendido ao Norwich, a verba resultante da transferência vai entrar nos cofres leoninos ainda antes das eleições de sábado e servirá para pagar os salários em atraso a jogadores;
  • José Sócrates volta à ribalta, o ex-primeiro-ministro vai ocupar um posto de comentador televisivo na RTP – o canal público português.

Eu já tinha ficado com essa impressão há algum tempo, mas estas duas notícias vieram confirmar que em Portugal, na minha Pátria, já ninguém tem vergonha na cara. É uma miséria terrível.

sábado, 16 de março de 2013

República Católica da Polónia

Quanto mais perto da Igreja mais longe de Deus

 Lancelot Andrewes, bispo inglês


Francisco I Falar com a Kasia é sempre um prazer, rapariga inteligente e objetiva, daquelas pessoas com as quais aprendemos coisas e que por esse motivo dá gosto conversar com elas. Há muito que os nossos encontros ultrapassaram a fasquia da aula convencional de textos, gramática e exercícios. Falamos de tudo e mais alguma coisa, pisamos terrenos perigosos ao falar de temas mais sensíveis, rimos dos ridículos da Polónia e de Portugal, trocamos algumas impressões sobre temas mais pessoais, maldizemos quem temos de maldizer, louvamos quem seja digno de ser louvado, aconselhamo-nos leituras e escritores e no fim de cada um desses encontros saímos mais enriquecidos, ela com mais vocabulário e informação sobre a cultura e o pensar português e eu porque aprendi imenso sobre a história e personalidade deste povo. Contudo tanto eu como a Kasia temos um problema, uma pedra no sapato que nos impede de caminhar livremente nas ruas polacas: somos ateus.

Nos meus primórdios polacos senti na pele uma subtil mas muito presente tentativa de conversão ao catolicismo, pontuais viagens às igrejas mais próximas, uma xaropada violentíssima de duas horas (de pé) por alturas da Páscoa na cerimónia da bênção dos alimentos, um frustrado ensaio de me arrancar da cama para ir a uma missa dominical às 6:00 (aí eu ia perdendo a cabeça e quase que ofendi as pessoas) e uma (cada vez menos) discreta abordagem ao tema casamento mesmo que eu ainda não tivesse decidido se queria permanecer na Polónia a longo prazo. A maneira tradicionalista de ser neste país é consequência duma influência profunda da Igreja Católica nos setores mais primários da sociedade polaca, o tecido social com menos (in)formação está totalmente moldado pelos ditames duma organização tão poderosa que nem o Vaticano se atreve a meter o bedelho. Muito se tem escrito sobre esse peso, uma mão que conduz o rebanho quase como Kim Jong-un dirige o cardume obediente de 22 milhões de norte-coreanos que compõem a sua nação, um ditame severo que literalmente decide o que é errado e o que está certo, uma voz que diariamente avisa os ouvintes sobre os alegados inimigos da pátria polaca, inimigos esses que até no seio do seu próprio parlamento se encontram. A Igreja Católica tem braços políticos (o partido PiS) e nos media da Polónia (jornais, estações de rádio e canais de televisão) e controla os seus apaniguados por esses intermédios condicionando a informação e debitando uma quantidade absurda de lixo político nos canais de comunicação, sendo a infindável e irritante novela sobre as conspirações no acidente de Smoleńsk e a hilariante ideia de querer decretar Maria, mãe de Jesus, rainha da Polónia os expoentes máximos da sua paranóia.

Ilustrativo da daninha pressão que a Igreja faz na Polónia é o triste caso que se deu na página Wikipedia do novo papa Francisco I onde constava um capítulo referente às acusações de que Jorge Bergoglio terá colaborado com a regime autoritário militar vigente no seu país em 1976, um caso que levantou alguma polémica mas cujos elementos não são suficientes para se emitir opinião. Não fosse o Diabo tecê-las, alguém com poderes de edição na versão polaca da Wikipedia encarregou-se de apagar essa informação menos abonatória sobre o passado do ocupante da cadeira de S. Pedro mal a sua nomeação como líder da Igreja Católica foi divulgada para que o sumo pontífice não tenha a sua imagem afetada perante os crédulos e fieis seguidores da sua palavra. É um pouco triste que tal suceda, que muito do povo polaco seja manipulado por interesses claros e evidentes, talvez tão claros que encandeiam o rebanho deixando-os incapazes de pensar por si mesmos. Entretanto as linhas sobre a eventual cooperação do novo papa com a Junta Militar foram repostas no website, mas da péssima impressão que o incidente causou já ninguém se livra. Apetece dizer "Deus nos livre do PiS ganhar uma eleição outra vez".

segunda-feira, 11 de março de 2013

Sono

Rua Krakowskie PrzedmieścieÉ mais uma segunda-feira e a oportunidade de fazermos o que não fizemos na semana anterior, de corrigir os erros cometidos ou de arranjar novos erros para cometer. Tal como a maioria das pessoas, não nutro especial carinho pela segunda-feira, não a acolho com particular entusiasmo nem a rechaço com antipatia. A segunda-feira vem como vêm todos os males da vida como a falta de vista, as dores de coluna ou as declarações públicas de Jorge Jesus, há que saber conviver com as coisas que são inevitáveis ou que não controlamos e ter a consciência de que elas não mudam por muito que queiramos. A segunda-feira é uma dessas coisas.

Tive de dobrar a cerviz e anuir à barbárie de me darem trabalhos logo às 8:00, uma altura do dia (da semana, da vida) em que escassas são as funções no meu organismo que estão em desempenho aceitável se excetuarmos aquelas consagradas à satisfação de necessidades primárias porque essas não carecem de vontade incutida para se cumprirem. Adiante que é para não avacalhar o texto. Lá tive de começar a dar ao stick às oito da matina porque a vida não se compadece com caprichos, a semana a ter início a umas obscenas 6:15, uma hora a que só me levantava para fazer xixi. "Só te faz é bem!" dirão os mais prosaicos, "pobre mocinho" pensarão os condescendentes, o bom do vosso blogueiro não tem outro remédio do que abandonar o leito quando o relógio bate à hora determinada e enfrentar o boi da vida com os olhos fixos nos cornos sendo que no inverno a tarefa é mais difícil devido às cornadas de frio ártico e escuridão e aos pios feios e mecânicos dos corvos e gralhas que me esventram os flancos, um acompanhamento perfeitamente dispensável que acrescenta dificuldade a uma vivência já de si árdua. Esta nova experiência tem-se revelado complicada devido às circunstâncias acima explicadas mas igualmente em virtude dum grande apego à cama transmitido pelos genes da família materna, nomeadamente pelo avô que era grande amigo de dormir e que passou esse gosto à filha, minha mãe, especialista em sonos recordes de 10 e 11 horas que por sua vez me transferiu tal afeição. Pode o leitor já imaginar o ferro que me trespassa as vísceras quando o maldito alarme ordena a minha alvorada, perscrutar o pátio para encontrar um centímetro quadrado sem neve que dê fôlego a uma manhã gelada, esquadrinhar o céu na esperança de apanhar um fio de sol que eu possa segurar como uma criança segura no balão que a faz sorrir e imaginar viagens a terras de águas de cristal e dunas cor de trigo.

Esta foi uma dessas segundas duras de roer e não apenas para a minha mediterrânica pessoa porque muitos polacos me confessaram que também sentiam a moleza atacar-lhes o apetite para a vida numa manhã que até correu tranquila e divertida mas que foi substituída por um pesadíssimo saco de sono 20130311_160638que me caiu em cima depois das 13:00, fiquei molangueirão de tal maneira que não consegui conter o largo bocejo que tomou conta do meu rosto durante o resto do dia de trabalho até às 20:00, altura em que recolhi as fichas e bati a asa para casa não sem que antes ainda demorasse uma dezena de minutos a raspar a neve do pára-brisas e da capota e mais uma pausa no caminho para alimentar o carro a gasóleo. Voltei para casa arrastando um passo lento e custoso, sentei-me em frente ao computador batendo indolentemente este texto e agora que o concluí sinto um espasmo de felicidade a percorrer-me a espinha, não por me ter visto livre da companhia do meu amigo que está aí desse lado mas porque finalmente posso entregar este maço de ossos ao misericordioso Hipnos para que ele o restaure e para que consiga estar em condições de se erguer… daqui a seis horas e meia.

Eu também devo ser um bocado parvo, em vez de ir dormir ando aqui a escrever sobre o sono que tenho.

segunda-feira, 4 de março de 2013

As relações dos meus clubes verdibrancos com o papado

1977 – O Betis ganha a Taça do Rei e João Paulo I morre;

1982 – João Paulo II visita Portugal e o Sporting é campeão;

2000 – João Paulo II visita Portugal e o Sporting é campeão;

2005 – O Betis ganha a Taça do Rei, vai à Champions League e João Paulo II morre;

2013 – O Betis luta para ir à Champions League e Bento XVI resigna ao seu papado antes que os andaluzes se qualifiquem e que ele tenha de ir de saco.

Factos são factos, Ratzinger tem medo de morrer.

A partir de agora é assim!

Manda a condição de sportinguista que apoie o Sporting Clube de Portugal e que fique satisfeito com os inêxitos dos rivais, condição essa com a qual não concordo na totalidade pois a minha praia é o Sporting e estou-me nas tintas se os outros ganham ou perdem. Ultimamente e se tiver mesmo mesmo mas mesmo de escolher prefiro que ganhe o FC Porto. Melhor dizendo, preferia. Um sportinguista que se preze reconhece no slb o seu ancestral arquirrival, pode ter amigos benfiquistas mas não se mistura com eles quando o tema é futebol, quer que o slb perca porque sim, porque está no ADN sportinguista o contentamento com as derrotas encarnadas, a miséria do clube de Carnide é motivo de regozijo no Lumiar, sempre assim foi e sempre há-de ser. Porém, este vosso sportinguista vai alinhar noutra corrente e começar a preferir as glórias do "Glórias" às do Porto. Passo a explicar porquê.

Nos últimos 25 anos temos assistido à elevação do FC Porto como potência maior do futebol português, sucessivos triunfos nas competições nacionais e conquistas internacionais guindaram os portistas ao patamar superior da bola nacional, um feito que se deve à ação obstinada de Pinto da Costa que não teve pejo em tornar público o seu objetivo enquanto líder do clube das Antas: Ultrapassar o slb em número de campeonatos conquistados durante o seu mandato. Objetivo ambicioso, complicado mas possível de se atingir aos olhos do presidente portista. No entanto havia uma entidade a obstaculizar esta cruzada, um clube que não tinha mais campeonatos que o slb mas tinha mais títulos que o FC Porto - O Sporting. Então a estratégia foi delineada, eliminar o obstáculo que se interpunha no caminho, um pouco como Hitler quis fazer a Varsóvia, cidade que incomodamente se colocava entre Berlim e Moscovo atrapalhando os planos nazis de construir um corredor entre a capital germânica e a metrópole russa. O Sporting passou então a sofrer na pele os efeitos nefastos dum plano maquiavélico que, mesmo que não tivesse sido concebido para o afetar diretamente, implicavam a anulação do seu valor enquanto potência futebolística, coisa que até nem era muito difícil de conseguir porque o Sporting não tem a massa adepta do rival encarnado, não tem o poder de mobilização, não tem o histórico nem tem a base de apoio de que o slb dispõe e com uma ou duas décadas de sequeiro dissolve-se o tecido adepto, ninguém vai querer ser do Sporting e é menos um clube no caminho.

O plano era para ser cumprido doesse a quem doesse e o modus-operandi era claro e estava à vista até dos menos atentos. Tráfico de influências, coação, compra de resultados, trocas de favores, putas e viagens pagas a árbitros, toda uma teia escura de ilegalidades e crimes que se cometeram para conseguir três pontos (antes dois pontos) ao domingo. Os penaltis inexistentes, os erros obscenos, as arbitragens escandalosas, os Calheiros, Martins dos Santos, Donatos Ramos, Jacintos Paixões, Graças Olivas, Josés Pratas, Augustos Duartes, Paulos Paratys, Isidoros Rodrigues, Paulos Costas, a trupe obediente e submissa que construiram um império de campeonatos sujos à custa do suor empregue pelos adversários que entravam em campo com as regras previamente subvertidas a seu desfavor, jogando contra 13 e 14, sem hipóteses de se baterem de igual para igual. O futebol enquanto jogo estava sempre viciado em desafios em que o FC Porto participasse, sempre! É impossível enumerar os jogos em que o Porto foi clara e despudoradamente beneficiado, é impossível inventariar a quantidade de pontos amealhados de forma ilícita, com juízes condicionados que adulteraram a verdade desportiva sucessivamente e durante anos.

O FC Porto é um clube que fundamenta os seus princípios desportivos na batota e no total desrespeito pelas regras do jogo, é um clube de gente criminosa, mafiosa, perigosa. É um clube que despeja creolina nos balneários do adversário para o inferiorizar, que coloca um Guarda Abel em posição estratégica para coagir o oponente, que tem um chefe de claque que anda de Porsche e está registado como desempregado, que compra resultados, que vicia as regras, que só não é punido (como a Juventus) porque Portugal é um país de gente aparvalhada e incapaz de dar um coice na injustiça. O FC Porto é um clube reconhecidamente trapaceiro que foi (ridiculamente) condenado, e o seu presidente, por corrupção desportiva. A sua batota impune e zombeteira, oportunamente identificada e denominada por Dias da Cunha como "O Sistema", contribuiu para o empobrecimento do meu Sporting, muito mais do que a palhacice idiota dos vizinhos da Norton de Matos, esses mais dignos de dó do que de ódio.

E por isso, caríssimos amigos, afirmo para quem quiser ouvir que se o Sporting não puder ser campeão ou ganhar os troféus que disputa, que os ganhe o slb. Eu sou uma pessoa com alguns princípios, levanto-me de madrugada para ganhar a vida de maneira séria e honesta e não posso tolerar que os batoteiros ganhem e saiam a rir de todos, fazendo pouco daqueles que se aplicam e transpiram na nobreza do seu trabalho, muito menos posso apoiar esse comportamento. Que ganhem os encarnados, então. São foleiros mas não são batoteiros.

PS - Cada vez que me lembro que estive por uma unha negra de limpar o sebo ao Pinto da Costa aqui em Varsóvia...