quinta-feira, 31 de maio de 2012

1 semana para o Europeu

mascotes Muitos perguntam como está a Polónia a viver o Euro2012, se se sente a mesma euforia que se sentia em Portugal quando fomos nós a organizar o torneio há oito anos, se os polacos estão mobilizados para o certame. A resposta é não, não estão mobilizados e a pouco mais de uma semana do início do campeonato poucos são os sinais de que um dos eventos mais mediáticos do mundo vai ter lugar nesta terra. Mas tal não é completamente inesperado.

A Polónia não é um país de bola, não gosta tanto de futebol como os portugueses (difícil achar igual gente na Europa, para falar a verdade) e prova disso são os trabalhos que passo para arranjar uma malta para jogar futebol. Ao fim de anos a porfiar encontrei três tugas e dois turcos gostam (e sabem) jogar, juntamos dois patrícios mais abnegados, um brasileiro, mais um par de turcos rijos e chatos como a potassa emapa polacos voluntariosos mas com duas pernas esquerdas para fazer número q.b. e tá a pelada armada aos domingos, sete para sete em relva sintética exemplarmente penteada, uma estrutura fantástica para tuga ver. Porquê? Porque a Polónia não é um país de bola. Dêem-lhes lutas, boxe, wrestling, jiu-jitsu, vale-tudo, porrada de rua e juntam-se aos montes em frente à tv de lata na mão soltando "oooohs" e "aaaahs" de entusiasmo, repetindo os golpes e esquivas dos seus heróis. Ver um jogo de bola? Nah, não vale a pena, não mete vício.

A Polónia não tem um Scolari que mobilize o país em torno da Seleção. Digam o que disserem, foi com Felipão que os portugueses voltaram a olhar para a equipa das quinas e a gostar da Seleção, foi com ele que se uniu o país de norte a sul em prol duma entidade, foi com o discurso dele que Portugal passou a acreditar que era capaz de fazer qualquer coisa de grande e histórico. Bandeiras nas casas, defendendo o "minino", chorando nos penaltis, sentindo a Pátria que é a nossa, Scolari foi um elemento aglutinador de vontades e fés, um condutor de talentos que levantou as traças dum Portugal bolorento e lhe devolveu a esperança. A Polónia discutia até há pouco tempo o caso de Peszko, internacional estádios polaco que joga na Bundesliga e que foi intercetado na Alemanha com álcool a mais no sangue e por isso preterido das escolhas do selecionador Smuda. Debateu também a opção Sandomierski como substituto do guarda-redes Fabiański que se lesionou nas primeiras sessões de treino em vez de Boruc, titular da Fiorentina e herói do Euro08 na Áustria e na Suíça. Tudo temas polémicos, controversos, mas não se fala de sistemas táticos, não se desenha o xadrez da equipa, não se arrisca um XI inicial. O pessoal prefere falar das obras em Varsóvia e do caos que causa no dia-a-dia da Cidade Capital, da chuva que se lembrou de aparecer ou dos "amigos" russos que se preparam para deixar uma marca indelével em Varsóvia - a seleção vai ficar alojada no hotel Bristol, o mais caro da cidade, paredes meias com o Palácio Presidencial, em plena zona histórica, atitude que vai dar muito tema para os fanáticos de conspirações. Além disso, Roman Abramovich (esse mesmo) comprou por €5.000.000 todos os lugares VIP do Polónia - Rússia e a Associação de Adeptos Russos alugou um pavilhão desportivo durante o Euro para lá instalar a sua fan zone. Como curiosidade, aponte-se o facto deste pavilhão se situar mesmo em frente a um espaço que receberá imensos adeptos polacos durante os jogos da sua seleção, o bar do estádio da... Legia.

É disso que se fala, das coisas que podem correr mal em vez de se falar de coisas da bola, discute-se o acessório e não o fundamental apesar de nenhum polaco ser da opinião que a Polónia não passa a primeira fase. O apito inicial está aí prestes a se ouvir, mas cânticos ainda não se ouvem nenhuns .

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Postais da Polónia - 17

Zegrzynski 1 Há a sensivelmente 30km para norte de Varsóvia um lugar que me faz lembrar um ponto do Algarve. O Lago Zegrzyński, local de romaria  dos varsovianos nos fins de semana de céu morno e limpo, sugere-me uma Quinta do Lago em versão lacustre pelo tremendo potencial turístico que encerra. Estamos a falar de um lago enorme a 45mins da Cidade Capital que tem três importantes povoações nas suas margens (Nieporęt foi a que visitei num domingo) e parece ser um núcleo de desportos aquáticos a concluir pelo número de stands de barcos no caminho para lá.

O lado de Nieporęt pareceu sossegado com três ou quatro restaurantes a servir a clientela, pessoas que passeavam vagarosamente nas margens do lago, sem pressas, como se a maioria delas não conhecesse outro ritmo - hipótese altamente improvável pelas matrículas de Varsóvia que invadiram a localidade. Apesar de que a água estivesse ainda congelada, pelo menos na superfície, algumas dezenas de corajosos decidiram passear mais longe no lago, tiravam fotos, namorados observavam a paisagem desde um seguro cais, o algarvio filmava enquanto construía num canto imaginário um bar de praia com puffs e rede de vólei, festas de mojitos e caipiras até de manhã num tremendo sunset ou fogareiros de peixe e febras, carteado até de manhãzinha. Sonhar não custa, dizia eu.

Um ano e dois meses depois voltei ao mesmo lago mas a outra margem e com outro clima. Aproveitando os quentes feriados de maio (mercúrios na casa dos 28 graus) carreguei o automóvel com acendalhas, carvão e carne e fiz-me ao caminho com a Ewa, o John, a Tynia e a Kasia para uma visita estival ao mesmo lugar, desta vez no lado de Białobrzegi, com medo de levar com uma seita de polacos mal comportados em cima mas curioso para saber o quão seria diferente aquele lugar em dias deZegrzynski 2 sol. E foi uma maravilha! Companhia do melhor, carnagem assada na grelha até ter avonde, sol do bastante como se estivéssemos à beira-ria, praia de areia clara para bater uma sorna de hora e meia depois do almoço e até um temerário banho de rio para fazer juz ao lema do meu tio João - Saber como é para contar como foi. Nada que se compare a uma tarde de mar e peitada na Praia de Faro mas bem bom dadas as circunstâncias porque um homem tem de saber adaptar-se ao meio em que vive, ser tolerante e aceitar as diferenças em vez de se tornar bicho do mato e meter defeitos em tudo sob pena de nunca estar bem em lado nenhum.

É uma questão de atitude perante a vida, uma postura que sempre fiz questão de adotar, respeitar o que o meu país adotivo tem para me dar com todas as suas potencialidades e limitações. É claro que uma tarde no lago não tem nada a ver com uma tarde de Algarve mas para quem está a 3200km de Faro serve para matar as saudades. É como se abrisse uma lata de sardinhas pensando em peixe assado, não é a mesma coisa mas é o que há e haver alguma coisa para enganar a maldita já é muito bom.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Ah, primavera…

Primavera I Não é nada de novo mas também não é de não se assinalar - a primavera instalou-se na Polónia. Chegou para ficar (aparentemente) e trouxe toda aquela alegria e cor que sempre a acompanha, trouxe vida e energia, todo o país fica diferente com a chegada da princesa das estações do ano. Nunca é demais salientar este facto porque a cidade fica realmente diferente com as tonalidades da nova estação, só estando cá é que se consegue dar valor à mudança que se verifica, à amplitude térmica, desde -20ºC a 20ºC, quarenta graus de diferença. Um estrilho.

A primavera traz sol e calor para apaziguar os mais rabugentos, aqueles que passaram o verão debaixo de mantas e samarras a rosnar de frio. Ele foi depressões, irritações, más-disposições e outras coisas que tais, seis meses abaixo de zero na escuridão do inverno mesmo que este tivesse sido o mais temperado a minha estada na Polónia, casacos, gorros e cachecóis postos no profundo das gavetas, meias turcas e lençóis de flanela afastados de circulação por pelo menos cem dias, tempo de recuperar bermudas de emergirem chinelos, de passar as t-shirts a ferro.

A primavera polaca traz situações que não preocupam os portugueses (que moram em Portugal) como trocar os pneus de invernos pelos dePrimavera II verão, filas de espera mesmo com hora marcada, cobrir mais as janelas do quarto para não acordarmos com os primeiros raios de sol do dia (a alvorada já bate à porta antes das 6:00), comprar quilos de carvão, centenas de tomates e cebolas, milhares de costeletas e infinitas salsichas para dar conta da temporada de churrascos para os quais somos convidados em abril/maio, a Majówka, período que compreende os feriados de maio (1, dia do trabalho e 3, dia da constituição) no qual os varsovianos abalam da Cidade Capital para visitarem a família e antigos amigos. Aí a cidade fica vazia de pressas, pode-se passear e descobrir recantos verdadeiramente encantadores, coisas que Varsóvia tem sempre na montra mas nem notamos durante a rapidez dos dias de trabalho.

SNC00449 As obras da segunda linha do metro transformaram o centro da capital polaca num teatro de obras, um terreiro de entulho e maquinas de construção. Há terra, buracos, andaimes, pedras, operários, cercas e taipais por toda a parte, o acesso ao centro está condicionado e cortado ao trânsito de superfície, felizmente o metropolitano ainda rola por Świętokrzyska, mas mesmo assim, mesmo com toda a fealdade que as obras implicam, a primavera chegou a Varsóvia e quando ela chega há um mundo novo que acorda e sorri.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

O País que temos e o Povo que somos

A minha condição de emigrante permite-me ter um olhar mais frio sobre as coisas de Portugal, vejo diariamente as mesmas notícias que se vêem em Portugal, assisto aos mesmos filmes e séries que passam em Portugal e estou perfeitamente atualizado com a realidade portuguesa, para o bem e para o mal. No entanto, estar fora de Portugal poupa-me em parte aos estragos que a vida portuguesa tem causado à pessoas, não sinto na pele (e na psique) o peso da dita austeridade, não me cortaram regalias nem bónus nem direitos constitucionalmente adquiridos há décadas, não me baixaram o salário. Não quer isto dizer que passe incólume ao sacrifício que os meus compatriotas estão a passar porque tenho interesses e património em Faro e este ano já levei uma martelada do IMI, não posso usar a Via do Infante gratuitamente como é meu direito sem pagar uma ilegal taxa e andar de automóvel com a gasolina a quase 400$00 o litro é como se fosse uma exibição de riqueza, ainda por cima perco sempre dinheiro em comissões sempre que troco os meus suados zlotys por euros, outra dentada no orçamento.

Portugal passa por uma crise económica, financeira mas também de identidade e de valores. Os portugueses deixaram de confiar nos outros, neles próprios, já não confiam em ninguém e procuram orientar-se como podem entrando numa dinâmica perigosa de planear as coisas a curto prazo, até ao fim do mês no máximo porque a coisa está preta e ninguém sabe quando (nem se) vai melhorar. A ambição dos portugueses, que devido à herança salazarista sempre foi modesta, está ainda mais limitada, os horizontes cada vez mais curtos e a capacidade de reivindicar embotada. O português está a ficar conformado, resigna-se ao estado que chegaram, não bufa nem chia, parece que voltámos aos anos 70 tão bem retratados na série "Conta-me Como Foi". Estamos a viver um Portugal pequeno espiritualmente, de pouca produção crítica, limitado intelectualmente, mediano, medíocre.

Parece ser essa a nova ordem em Portugal, ser medíocre. O nível, a bitola pela qual as instituições se regem é a mediocridade. Não devemos ser excelentes, não podemos sobressair na nossa atividade profissional, não nos é permitido ter talento acima da média, ter qualidade no que fazemos ou ter razão no que dizemos. Damos mais valor ao gajo que deu uma banhada na empresa e fugiu com a guita para o Brasil do que ao funcionário que graças às suas competências fez a companhia progredir. O português que é bom é sempre visto com escárnio ou ciúme nem que seja um português que diga a verdade ou que eleve o nome da Pátria, são pretensiosos e altivos, não gostamos deles. Marinho Pinto, bastonário da Ordem dos Advogados tem opiniões desassombradas sobre a (in)justiça portuguesa, fala do que sabe e assinala as coisas que têm de ser corrigidas, aponta erros, traça rumos para a melhoria do estado de coisas e qual é a opinião dos portugueses (que pelo menos sabem quem é Marinho Pinto) sobre ele? Ah, é um fala-barato, faz muito arrozoado. Henrique Medina Carreira e José Cravinho põem o dedo na ferida em cada intervenção pública, chamam os bois políticos pelos nomes e falam claro, preto no branco, sem concessões nem favores a pagar. São desacreditados pelos seus pares, estão velhos e ultrapassados, não têm credibilidade, ninguém os ouve nem presta atenção. Cristiano Ronaldo e José Mourinho transformam em conquistas as ligas futebolísticas que disputam sejam portuguesa, inglesa, espanhola ou europeia – até italiana no caso de Mou - , são ícones da excelência portuguesa que têm orgulho em se afirmarem portugueses. O que dizem os seus compatriotas? O Mourinho é um convencido, O Ronaldo é piroso, o Mourinho é antipático, o Messi é melhor que o Ronaldo. Como é possível?! Como se pode branquear o valor de Mourinho só porque ele não se ri nem diz ámen a tudo? Como se pode minimizar as conquistas do melhor treinador do mundo só porque ele afirma publicamente o óbvio, que é excelente, que é o melhor e que não tem pontos fracos? Sempre ouvi dizer que “quem diz a verdade não merece castigo” então porque castigam os portugueses Mourinho e Cristiano Ronaldo? Porque Ronaldo comeu a Paris Hilton e nenhum outro português lá foi? Porque Ronaldo visitou países que nenhum outro português visitou? Porque Ronaldo ganha o que nenhum outro português ganha? Exemplo dessa mentalidade pequena é um familiar meu que passa o tempo a ganir e a gemer que não é rico, não sei se por inveja ou por feitio, mas tenho a certeza que passou muito mais tempo a olhar para a riqueza dos outros em vez de olhar para dentro e fazer a pergunta que se impõe: Não sou rico porquê? A que se deve o facto de eu não ser rico?

Estes portugueses que acima mencionei são alguns dos que têm autoridade no seu ofício mas que são ostracizados pelos seus compatriotas precisamente por serem bons naquilo que fazem e que dizem, por não serem medíocres. Portugal está de tal maneira formatado pela mediocridade que perdeu a palavra e a coerência. No princípio do ano o país levantou-se pela raiz a protestar contra a deslocalização de uma parte da operação da Jerónimo Martins para a Holanda para beneficiar de uma melhor lei fiscal, um princípio igual ao de qualquer português que aceita o pedido de transferência do seu crédito à habitação para um banco que lhe oferece melhores condições, nem que o banco seja espanhol ou inglês. Coisa corriqueira e que não oferece contestação na minha insignificante opinião. Uai mãe! Aqui d’El-Rei que o Pingo Doce é uma cambada de Miguéis de Vasconcelos, boicote ao Pingo Doce, incendiemos os supermercados dessa corja de ingratos, nem mais um tostão que se gasta nas lojas deles para aprenderem como é! 120 dias depois o Pingo Doce abana um rebuçadinho em frente aos portugueses e eis que eles mandam às malvas todo o puritanismo que evidenciaram e entopem as lojas, varrem prateleiras, lutam, soqueiam-se, mordem-se e esgatanham-se por (literalmente) um punhado de lentilhas. As imagens da campanha chegaram-me a casa, em Varsóvia, e eu tive de olhar bem para a televisão para ver se não estava a assistir a alguma peça sobre uma ação de entrega de alimentos num campo de refugiados da Síria ou do Darfur. Encheram os carrinhos, carregaram a chata sem se lembrarem das loas e pragas que tinham rogado à Jerónimo Martins, borrifaram-se para a sua própria palavra. Uma vergonha!

Os portugueses elasteceram a espinha, tornaram-se cataventos, vão grogues atrás do flautista, perderam identidade e credibilidade, valores. Portugal está tornado numa terra onde os medíocres é que governam, os incompetentes ocupam as cadeiras de poder e os incapazes tomam decisões. Temos o país que temos graças ao povo que somos, não merecemos melhor nem pior pois esta é a colheita lógica do que semeámos por sermos um povo inerte e incapaz de pensar pela sua própria cabeça. Esta é por definição uma circunstância perigosa para se augurar algo de positivo no meu país. Como se diz onde eu nasci, Portugal está mal deitado e não estou a ver jeitos de melhoras.

domingo, 6 de maio de 2012

O “tema” da seleção polaca para o Euro 2012

A Seleção Polaca de futebol teve a sua música oficial escolhida, o tema “Koko Euro Spoko”, algo que pode ser traduzido como “O Euro Cacarejante e Tranquilo” foi escolhido através votação por sms. Por respeito e devido ao enorme afeto que tenho pela Polónia e pelos polacos – até porque foram eles que elegeram a canção - abstenho-me de comentar o tema e o video, façam os leitores por mim.