domingo, 30 de dezembro de 2007

Misha has left the bulding

Amanhã vou para Cracóvia passar o ano. A cidade comemora 750 anos sobre a sua fundação, tem um especial fascínio que atrai-me constantemente e penso que devo prestar-lhe tributo escolhendo-a como destino da minha passagem de ano.

2007 foi o ano da mudança para mim, como todos sabem. Mudei radicalmente de estratégia, de pensamento e de atitude perante a vida. Já há alguns anos tinha sofrido um abanão (em 2000, por exemplo. Lembras-te da nossa conversa, Parceira?) mas nunca com o impacto e dimensão do acontecido em Outubro. Deixei casa, carro, (bom) emprego, família e incomparáveis amigos para perseguir um objectivo que é tão simples de saber como díficil de alcançar: A felicidade.

Não sei se o conseguirei no ano vindouro. Não sei se 2008 será um ano de sucesso ou o ano do regresso a Faro com o rabo entre as pernas. Mas o que sei é que tenho força e fé para levar o sacana do barco a bom porto e macacos me charinguem se eu não honro o meu país e a minha cidade nesta terra, construíndo algo de positivo e que permita-me orgulhar do passo que dei.

Brindo a todos os visitantes e apoiantes da minha aventura. Este é o meio pelo qual posso agradecer a todos pelo apoio e carinho que têm dispensado ao "último czar dos Algarves". Daqui envio beijinhos e um abraço "do tamanho do Algarve" para:
  • A minha Família (Necos, Pelé e Peter incluídos)
  • Os "Água na Boca"
  • O povo do Liceu - do 11º ano e da AE
  • Os mânfios do Rogerinho
  • Os "Nojentos", Micromania, Shop Lucas e todos os amigos feitos nesses círculos
  • O painel do Zé Maria Grand Beach Bar & Resort :)
  • O grupo da Escola do Carmo / Largo da Caganita
  • 11 Esperanças e SC Farense
  • Farmácias Alexandre e Caniné
  • Juve Leo Faro / Algarve
  • Camaradas, amigos, palhaços deste circo que é a Blogosfera
  • Todas as mulheres com quem vivi momentos de eleição e memória.

Saúde e sorte é o que desejo para todos. Tenham um óptimo 2008.

sábado, 29 de dezembro de 2007

Montanhas em monte / Decepções a montes

Na sexta-feira fui arrastado pela minha Maria a Bielsko-Biała, terra dum guarda-redes já aqui mencionado, para que eu pudésse ver as montanhas e começar a familiarizar-me com a neve e pistas de ski. A viagem não foi grande pois a dita cidade fica a apenas 35 km de Tychy e chegámos com rapidez ao destino.
As montanhas de Bielsko não são muito altas, rondam os 1000 m de altitude. Existe um teleférico que transporta-nos em metade da subida e a única pista de ski no monte Szyndzielnia é a ideal para um bicho da praia aprender as manhas destes desportos do frio. Vou ter de investir uns patacos e comprar um fato próprio e um par de skis para desfrutar desta cena.
A máquina fotográfica estranhou os -6º C e recusou-se a trabalhar em tão violentas condições. Eu levei o tempo todo a barafustar com o frio e só acalmei-me perante um prato de bigos e uma cerveja morna. Regressarei certamente a esta estância com esperança de documentar as minhas primeiras aventuras em desportos de inverno.

Mataram Benazir Bhutto e com ela muita da esperança numa solução pacífica e democrática para o problema do Paquistão, uma potência nuclear que não pode ser negligenciada. Sabe-se lá agora como será o futuro naquela zona sensível do Planeta.

Este facto deixa-me muito apreensivo sobre o futuro da Humanidade. A uma Mulher mataram-na por querer ao seu povo. Nós todos andamos cá apenas meia-dúzia de anos, ninguém fica para sempre. Porquê tanta intolerância?

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

À vitória, Farense, à vitória!


Seja em que escalão for, seja contra quem for (mesmo contra o Sporting), seja onde for, o Farense é o meu clube do coração e onde tive a sorte de acabar como jogador, celebrando uma subida de divisão.

Torço para nova subida, para a 3ª div. já este ano. Com o Baranito e Edinho como novos reforços ficaremos mais perto do objectivo. E o Brasa está a jogar a montes, já não era sem tempo de ele mostrar o que realmente vale.
Força Farense, alé!

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

O Natal na Polónia


Há muito para dizer sobre o Natal da Polónia, tanto há que não existe espaço suficiente para descrever todas as tradições e rituais deste país nesta quadra. Posso, porém, enumerar alguns constumes silesianos.

Sábado, depois do almoço, carreguei a chata com os presentes e zarpei para sul em direcção a Tychy onde viémos passar a quadra natalícia com a família Krupa. 4 graus negativos (sem neve) esperavam-nos à chegada e o cheirinho a bolos que vinha de dentro de casa convidava-nos a entrar o mais depressa possível. Percebemos imediatamente a razão do agradável aroma quando vimos os pais da Iza de avental, atarefados na preparação de 2 ou 3 bolos diferentes. Era uma das tradições da família.

Na Polónia os presentes ficam debaixo da árvore de Natal, tal como em Portugal. Tradicionalmente o jantar de Natal é composto por 12 pratos diferentes. Sim, 12 especialidades diferentes que vão desde variadas apresentações de peixe, porque não se come carne na véspera de Natal, até às milhentas sobremesas como bolo de farinha de papoila que é muito popular neste país. Os 12 pratos não são seguidos religiosamente por questão de logística mas põe-se sempre um lugar a mais na mesa para o "convidado inesperado" que poderá ser uma visita de última hora, um familiar que resolve aparecer ou mesmo um sem-abrigo que não tem onde passar o Natal e passa, desta forma, a Consoada com uma ceia apropriada. Um gesto próprio de um povo habituado a sofrimento e privações.

São feitas leituras de passagens bíblicas ou dão-se explicações acerca das comidas antes da refeição. Existem hóstias, uma para cada comensal, que têm uma utilidade interessante. Cada pessoa oferece a sua hóstia à outra que parte um pedacinho ao mesmo tempo que formula-lhe um desejo. No final dos votos, ambas as pessoas beijam-se (homens inclusivé) e tomam os pedaços de hóstia. O gesto é repetido por entre todas as pessoas para que todos transmitam votos de Natal a toda a gente. Como algarvio e filho de Faro, desejei a todos o dobro do que desejam-me, muita saúde e sorte!

Após dar graças pela comida na mesa inicia-se o jantar. Como disse, a carne não tem lugar na mesa de Consoada sendo substituída pela carpa frita com batatas cozidas e couve. Vinho caseiro para acompanhar e abrir caminho para as infindáveis sobremesas que se seguem. Um irmão da Iza chega com a sua esposa e filho à hora do chá, servido no final e que é coisa habitual na Polónia.

Os presentes são distribuídos após o chá, sem ordem aparente nem horário específico. São entregues simplesmente em mão por quem estiver mais próximo da árvore de Natal. A festa é comum entre velhos e novos e os agradecimentos são feitos ao Menino Jesus e não ao Pai Natal. Este não tem muita tradição na Polónia sendo apenas uma figura secundária na celebração do Natal. Os polacos exortam o nascimento do Menino Jesus enquanto o Mikołaj (São Niculau, nome oficial do Pai Natal) tem o seu tempo próprio noutra altura do mês. Fiquei a saber que na América não se retiram os preços dos presentes de Natal para que, se não se gostar da prenda, se possa trocar por algo do mesmo preço ou mais caro. Tem algum jeito?! Cada vez gosto mais da cultura americana...

Finda a cerminónia das prendas cantam-se cânticos de Natal. O sr. Krupa toma o seu lugar no piano e toca algumas melodias natalícias que são cantadas por toda a família, tornando o ambiente de casa verdadeiramente harmonioso. Perto da meia-noite é hora de sair de casa para assistir à Missa do Galo, coisa a que falhámos por estarmos entretidos a ver a festa luso-polaca do ano passado, em Faro, cujo dvd finalizei in-extremis durante a ceia de Natal deste ano e que foi a minha prenda de Natal à família. Por esse facto vamos todos esta tarde à igreja pelas 17:00.

Hoje, dia de Natal, serviu-se um pequeno-almoço mais consistente. Salsichas, fiambre, salame, ovos cozidos, muito pão e manteiga, carpa do dia anterior, chá e bolaria de sobra para acompanhar uma conversa mais descontraída. Os avós da Iza juntaram-se a nós, isso permitiu-me falar de bola com sr. Stawowy, antigo futebolista profissional da 1ª liga polaca, e discutirmos as sortes de Portugal e Polónia nos grupos do Euro2008.

Agora faz-se uma pausa nas comezainas. Assiste-se à mensagem televisiva do papa enquanto se espera pela hora da missa e pela refeição principal do dia. Eu partilho este bocado de vivência convosco e arranco imediatamente para o quarto, bater uma pestana. Comi tanto que só me apetece amalhar-me como os gatos.

Feliz Natal - Wesołich Świąt
ps - Eu a sair do computador e entra a mãe da Iza perguntando se quero um prato de sopa de beterraba. Qualquer dia rebolo!

sábado, 22 de dezembro de 2007

Férias!

Após vários dias começando a trabalhar às 7:00 e terminando às 19:00 eis-me de férias! Vou daqui a um par de horas para a Silésia passar o Natal com a família Krupa e decidir finalmente onde ir na passagem-de-ano.

Cracóvia oferece uma festa com nomes diversos, entre eles Lou Bega, Boney M e Shakin Stevens. Música que não se ouve há 10 anos (pelo menos) mas que num contexto de copos e palhaçada assenta perfeitamente. É para esse lado que estou voltado mas tudo depende do tempo.

É que Katowice vai andar entre os -2 e -6ºC durante os próximos dias e sendo Cracóvia das cidades mais frias da Polónia, não sei não...

Palpita-me uma noite de fim de ano em caselas, ensopado em vinho caseiro, a dar vivas ao Sporting e a maldizer o clima polaco. Ou vice-versa.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Polónia Europeia - Dia 0

Não deve existir neste planeta um tipo mais bruto que um polaco com mais de 50 anos. "Bruto" com a conotação que a palavra tem em Faro, significando algo como marrão, sagorro, carneiro. O termo "civismo" não tem qualquer significado para esta espécie de gente, pelo que os seus comportamentos são desprovidos de qualquer sensibilidade ou sentido de respeito pelo próximo.
Estou a falar dos polacos acima de 50 anos, note-se bem, porque as gerações seguintes são muito mais civilizadas.

Há dias vinha do trabalho com uma colega e ia apanhar o metro. Uma das cancelas estava avariada e um homem batia com violência o seu passe no sensor da máquina esperando que ela desse-lhe acesso. A Rita explicou em polaco que aquela cancela não estava boa. O tipo bufou para a cancela seguinte e passou sem sequer olhar para ela, quanto mais agradecer.
Nos elevadores é impossível esperar um "bom dia" ou um "obrigado" se aguentamos ou abrimos a porta para eles passarem. Homens e mulheres, se forem entrados na idade, sacodem o casaco para cima de nós e seguem como se nada se tivésse passado.
Filas de supermercado é um conceito muito vago. Se olharmos um segundo para as pastilhas elásticas temos logo uma cabeça grisalha vinda do nada à nossa frente, empurrando as compras do cliente anterior que estão no tapete rolante.
Nas passadeiras de peões da Baixa, onde trabalho, há imensa gente à espera do sinal verde e todas as probabilidades de sermos atropelados por um polaco que caminhe em sentido inverso. Não se conte que eles desviem-se um milímetro que seja pois seguirão em frente, sagorros, levando tudo o que se lhes atravessar no caminho, qual manada de rinocerontes eslavos em fuga.
Um português é alegre por natureza e é natural que assobie enquanto ande na rua, especialmente se estiver ouvindo música nos fones. Esse mesmo português será automaticamente verberado se cometer o deslize de assobiar Pedro Abrunhosa ou Xutos enquanto espera pelo elétrico. Dentro do elétrico, então, provavelmente o tuga será posto na alheta.
E nem pensar em conversar com um patrício na via pública. Falar alto? Gesticular? Rir em voz alta (e logo eu...)? Gajas, bola, carros, gajas, copos, telemóveis, frio, dinheiro, gajas, filmes e gajas são temas para se discutirem em volume de biblioteca / igreja. Os latinos são uns alarves, falam bué e perturbam a "ordem" pública.

Explicações?

A Polónia terá o pior Serviço ao Cliente que conheço. As pessoas não têm o mínimo senso ao atender o cliente; é tudo às três pancadas, com uma antipatia e umas trombas parecidas às nossas na final do Euro2004. A Iza perguntou por 3 vezes o preço das laranjas no supermercado e ninguém se dignou a pesquisar, os funcionários apenas respondiam "não sei" e arrancavam.
O eventual serviço de apoio ao consumidor é inexpressivo (que saudades da DECO), a figura do livro de reclamações não existe. O cliente é constantemente enrolado e não reclama porque é considerado falta de educação, ficando a remoer a insatisfação pelo serviço prestado e recalcando o grande escabeche que qualquer lusitano faria numa repartição pública se tivésse um grama de razão do seu lado.
Também não têm grandes motivos para rir facilmente. O pai da Iza contou-me episódios da vida polaca no tempo do que mediou o stalinismo à perestroika que são de arrepiar, experiências que podem ajudar a perceber a razão da rudeza desta gente. As privações, denúncias, perseguições, carências e uma História cheia de invasões e atrocidades contra o seu povo e cultura são feridas que ainda não cicatrizaram nestes polacos endurecidos pela vida.

No instante em que publico este artigo a Polónia entra ao Espaço Schengen. Ouve-se fogo de artifício e festejam-se nas 7 ex-fronteiras deste país (Alemanha, Rep. Checa, Eslováquia, Ucrânia, Bielorrúsia, Lituânia, Rússia - Kalinegrado). Na TV os jornalistas dizem "Polska jest w Schengen" com emoção. Bebe-se champanhe e tiram-se fotos. Bandas tocam a "Ode à Alegria" de Beethoven. O momento é histórico, faz-me lembrar a queda do Muro.

Que seja um novo começo para a Polónia e que as esperanças deste povo convirjam nas minhas pois a Polónia precisa tanto da Europa como os europeus precisam da Polónia. Powodzenia, Polska!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Cine Algarve

No sítio do Moinho do Sobrado (séc. XIX: actualmente o Grupo Naval de Olhão), havia antigamente uma casa, onde aparecia à janela, noite fora, uma formosa mulher vestida de branco. O único que se atrevia a andar por aquelas bandas à noite era um sujeito de meia idade - o compadre Zé - que se embriagava e adormecia na rua, sem receio. A mulher de branco aproximava-se do bêbado, fazia-lhe meiguices e até se sentava a seu lado. O compadre Zé contava a sua história sem convencer ninguém a deslocar-se ao local para a comprovar.

No entanto, o compadre Zé tinha um amigo mais jovem que se iria casar brevemente. Aproveitando-se do evento, promete ao amigo oferecer-lhe um seu terreno como prenda de casamento, caso ele tivesse a coragem de o acompanhar a ver o fantasma. Este, transido de medo, lá foi à aventura, atendendo ao grande jeito que lhe fazia a prenda. Sentou-se numa pedra, junto ao Moinho do Sobrado, e esperou pelas doze badaladas. Nesse momento surge da porta do Moinho uma mulher vestida de branco até aos pés. O vestido terminava numa bainha esfarrapada, a cobrir-lhe os pés descalços. A mulher aproximou-se com a face envolta num véu e uma flor nos cabelos loiros. Julião, assim se chamava o amigo do compadre Zé, pergunta-lhe quem era e donde vinha.

- Sou a desditosa Floripes - respondeu, numa expressão triste.

- O que faz por aqui?

- Sou uma moura encantada. Quando a minha raça foi expulsa da província, viu-se o meu pai obrigado a partir, sem poder prevenir-me. Eu tinha um namorado que também fugiu e aqui fiquei sozinha, à espera a cada momento que o meu pai me viesse buscar. Numa noite em que esperava, vi ao longe a luz de uma embarcação. A noite era de tormenta e o barco escangalhou-se de encontro aos rochedos. Não era o meu pai que ali vinha: era o meu namorado, que foi engolido pelas ondas. Soube o meu pai deste funesto acontecimento e vendo que não lhe era possível vir buscar-me, encantou-me de lá.

Julião, penalizado com a triste história, logo pensou em oferecer-se para salvar a moura e perguntou:

- Existe algum meio de a salvar?

- Há sim - respondeu a moura.

- Que meio?

- É necessário que um homem me dê um abraço, à beira de um rio, e me fira no braço contíguo ao coração. Logo que tal aconteça, irei de imediato para junto dos meus familiares. Mas existe uma dificuldade.

- Que dificuldade? - perguntou Julião, quase resolvido a ser o seu libertador.

- O homem que me abraçar e me ferir terá de me acompanhar até África, atravessar o oceano com duas velas acesas e casar comigo à chegada..

- Isso é que eu não poderei fazer. Já tenho casamento marcado com a minha Aninhas.

- Então continuarei novamente encantada – respondeu a moura soluçando – Até agora, ninguém se atreveu a tanto sacrifício!

A moura continuou o seu encantamento durante muito tempo ainda, sentada no cais com os pés na água, esperando o seu pai voltar de África. Era por vezes vista no cais, sempre de noite, a conversar com um menino de olhos grandes e com gorro encarnado. Seria o menino algum mouro que ali também ficou encantado? Ninguém sabe responder...

Alguns olhanenses mais antigos acreditavam tanto nesta lenda que diziam que a Floripes era vista também durante o dia a fazer compras em lojas, onde pagava com uma moeda de ouro e sempre desaparecia sem receber o troco. Ainda hoje, quando alguém por qualquer razão não recebe o troco, se diz "és como a Floripes, não queres a torna!".

A Floripes foi também a personificação do medo do transcendente. Quando se quer acautelar alguém, ainda se diz "vê lá se te aparece a Floripes!".

retirado daqui


Pessoalmente, lembro-me vagamente deste conto sem nunca ter aprofundado os estudos para saber mais. Porém os gajos do Desunited noticiaram que estreia amanhã, em Portugal, um filme sobre esta lenda. Um trabalho sobre a cultura algarvia, neste caso de Olhão, com sotaque genuíno e que merece ser divulgado por ser inteiramente produzido e protagonizado por algarvios. Melhor dito, por "fis d'Olháo".



Numa altura em que o cinema português se divide entre as inenarráveis xaropadas de Manoel de Oliveira / João César Monteiro e as insípidas aproximações ao mainstream de Hollywood, tipo "O Crime do Padre Amaro", "Floripes" é uma obra a não perder pelo interesse do tema e pela qualidade que parece ter. Alguém que me arranje o dvd, por favor.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

O esplendor de Portugal

O Restaurante Portucale, do Manel e do Zé Costa, foi no sábado palco da minha primeira reunião de portugueses radicados em Varsóvia. Nada que se pareça com as colectividades de emigrantes espalhadas pela Europa que são, perdoem-me a franqueza, un tanto ou quanto chungas. Estes compatriotas são tugas da nova leva, modernos e com uma forma bem mais subtil de estar na vida. Pessoal cosmopolita, casais mistos, globalização presente em todos os gestos, percebe-se perfeitamente que estão adaptados quando falam das ruas de Varsóvia como se falássem de Lisboa, do Porto ou de Faro.

Criou-se um lobby algarvio pois conheci uma miúda de "Vilarreá" de Sto. António que até é irmã dum gajo que jogou à bola contra mim (Salsinha). Conheceram-se pessoas muito interessantes, com experiências para transmitirem-me e ajudas importantes que prontificaram-se a dar-me. Falou-se em polaco, inglês, português e em algarvio pois a Sónia abriu o livro com o sotaque da Vila e eu tive de ripostar com a pronúncia da Escola do Carmo.

Pastéis de bacalhau, croquetes, carne de porco à alentejana e o bacalhau com natas, a minha escolha, foram aprovados por unanimidade. Deu para ver os dois jogos grandes da jornada, para trocar contactos com os patrícios, para descobrir que alguns deles moram na mesma rua que eu e para confirmar que Portugal, afinal, não está táo longe.

Sim, claro. Fomos para os copos. Mas isso é outra música...

sábado, 15 de dezembro de 2007

Há dias assim

1-Recentemente abateu-se uma senhora neura em mim. Uma rabugice que impede-me de preparar o trabalho convenientemente, de escrever o meu blogue, de consultar o e-mail, de estar disponível para o mundo. Disseram-me que o problema poderá ser da pressáo atmosférica que é muito baixa nesta altura do ano e que afecta o humor das pessoas, causando violentas dores de cabeça às pessoas entre outros sinais de desconforto. Como considero que dores de cabeça é coisa de nulher (nunca ouvi um homem dizer "ai, dói-me a cabeça!") e nunca ouvi falar de pressáo atmosférica mais a respectiva influência no estado de espírito das pessoas, resta-me levar este período de menor inspiração da melhor forma possível e aguardar com serenidade que ele passe.

Sempre ouvi dizer que "há dias cabrões", não há de ser nada.

2 - Colega da blogosfera lusitana e ilustre jornalista destacada em Pequim cujo blogue podem visitar nos links aqui divulgados, a minha amiga Maria João Belchior teve um pequeno/grande acidente que condiciona a sua escrita. Felizmente o raciocínio continua arguto, para seu bem e nosso deleite, e continua a presentear-nos com deliciosas estórias e preciosos artigos sobre a vida da (e na) China. As melhoras, miga. Feliz Natal e se não for pedir muito, um abraço ao António.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Jogada de mestre

Andei aqui a ganir com a falta de Halibut há umas semanas atrás, recordam-se? Pois bem, houve um casal de alminhas caridosas que lembrou-se de expedir uma bisnaga da valiosa pomada para cá causando-me surpresa indescritível. Como se não bastásse, os meus manos da Linha do Estoril (bem mais chique que dizer que moram na Abóboda) fizeram o creme acompanhar-se por outros artigos de primeira necessidade que passo a mostrar:




1) Uma garrafinha de leite Ucal porque não há outro igual. O leite polaco é bem bom (e eu sou um perito na matéria) mas ainda não encontrei leite achocolatado. O povo aqui prefere litradas de chá ou baldes de café mas eu sempre fui menino de copo de leite, o café puro sempre lixou-me o vasilhame. Um Ucal e um croissant misto, o meu pequeno-almoço da Baixa de Faro!

2) Um SG Gigante. O pouco que fumo é Marlboro Lights (tabaco de puta, eu sei) mas um Gigante é o puro sabor lusitano. O verdadeiro espírito e imagem de marca dum Manel de grandes bigodaças a mamar minis, a bela tattoo "Guiné 67 Amor de Filha", o fio de ouro com o cérebro da corvina ao peito, a mão manhosa tocando no rabo da cunhada, dentes em obras, galhardete do benfas no Renault 5 e a imagem de Nossa Senhora no tabliê, dobrada com feijão branco ao jantar, Pedras Negras tinto pra empurrar, a unhaca da higiene pessoal a pinicar o olho enquanto o Prof. Marcelo debita sugestões que ele nunca irá seguir mas a que assiste com regularidade para presumir que é culto. SG Gigante, sabor de Portugal.

3) Nestum mel. É como o doce da Raquel: É mel, é mel! Comecei por ser apreciador do de figos, passei para o de chocolate que alternava com o de arroz religiosamente antes dos treinos. Experimentei o de maçã e o de alperce (havia também, no meu tempo, o "rico em proteínas" e o de amêndoas) sem conseguir gostar deles. O Nestum mel, apesar de ser o mais célebre, nunca fui muito da minha predilacção mas vou sempre a tempo duma aventura radical. Tenho amigos que começaram a fumar borras já com 30 anos, que mal faz começar a comer Nestum aos 34?

4) Uma farinheira de Arganil. Arganil é terra baril. O Barril é uma praia perto de Tavira onde há festas da espuma ao ar livre. Se comeres muitas farinheiras sai-te espuma pelo às de copas. Se fizeres cocó ao ar livre podes ser picado por um besouro no às de copas. No Barril não há besouros. Na Ilha de Tavira há besouros. Tenho saudades da Ilha de Tavira. E do Barril, que é baril como Arganil.

5) Um tubo de Halibut. Já não vai haver mais borbulhas nem rabinhos assados nesta casa q:9

6) Um postal de aniversário. Dedicatórias, votos e a promessa duma caneca das Caldas no próximo ano. Charinga-te, mano grande!

Nem calculam o bem que me soube receber estas prendinhas. Nem eu calculo o bem que me vai saber o pequeno-almoço de amanhã. Obrigado, cabrões! q:D

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Nozes a quem não tem dentes

Ainda entrevistas de ex-sportinguistas.

Jardel fala da sua vida na Austrália ao serviço dos Newcastle United Jets e compara a cidade de Newcastle com a sua Fortaleza natal devido à proximidade com o mar que possibilita-lhe pescar todas as tardes.

Quando foi perguntado ao bi-bota de ouro, vencedor da Taça Uefa e Supertaça Europeia, qual o momento mais alto da sua carreira ele responde, passo a citar:

“2002” he says without hesitation. “When I played for Sporting Clube de Portugal, we became Champions that season, and I was awarded the European Golden Boot. It was a very special time for me so I must choose that to be my favourite.”

E pensar que na época seguinte ele deu cabo de tudo... Até onde poderia ir uma equipa que tivésse o tridente JVP-Niculae-Jardel? Dá vontade de dizer: "Ó Jardel, vai cagar!"

Bom, é melhor mas é eu voltar ao trabalho.

Need for speed

Soube que o Ginjeira morreu assim. Um típico gajo porreiro, bom moço, da maltinha do meu tempo de Liceu, sempre disposto a uma boa gargalhada e de falar de carros. Tantas vezes conversei com ele no Columbus que arrepia-me saber que ele entrou por uma casa adentro e ficou encarcerado enquanto o carro ardia...

Isto leva-me a pensar que a minha cidade já não é a mesma. Não que ela tenha mudado mas porque as pessoas mudaram bastante.

Sinceramente, desconhecia que o Ginjeira era piloto. Poderia possuir uma sensibilidade mais apurada para manhas e truques dos automóveis e é isso que me deixa perplexo. Como foi possível? O que terá realmente acontecido?

Tá tudo maluco... Calma, meu! Ao fim e ao cabo ninguém fica cá, pra quê tanta pressa?

domingo, 9 de dezembro de 2007

Postais da Polónia - 1

O Palácio da Cultura e do Conhecimento (Pałac Kultury i Nauki, abreviado PKiN) é o cartão de visita de Varsóvia e desperta sentimentos distintos entre os polacos desde o primeiro instante da sua controversa história. Uns pensam que o edifício é feio, um símbolo dos negros anos do domínio comunista soviético e que destruíu a estética arquitectónica da cidade, enquantos outros consideram-no um ex-líbris da cidade e da cultura varsoviana, um ícone indissociável da cidade como a Torre Eiffel estará para Paris ou o Big Ben para Londres. O PNiK também é conhecido por pajac (lê-se páiats), palavra polaca que significa palhaço, cretino, idiota e que tem sonoridade parecida a pałac (lê-se páuats) que quer dizer palácio. O 30º piso oferece uma panorâmica soberba sobre Varsóvia e é motivo de anedota pois os varsovianos costumam dizer que "as melhores vistas de Varsóvias são aquelas de onde não se vê o Palácio".


O edifício mais alto da Polónia era inicialmente designado por Palácio da Cultura e do Conhecimento Josef Stalin mas após a morte do ditador e consequente substituição por Nikita Kruschev, todos os símbolos stalinistas foram removidos do palácio, tais como todas as alusóes ao seu nome e a habitual estátua de culto ao líder vermelho.

Actualmente o Palácio encerra um complexo de galerias, cinemas, livrarias, teatros, museus, escritórios e uma grande sala de congressos e concertos, a Sala Kongresowa. Os seus mais de 230 m de altura servem também para retransmissão de sinais de TV e rádio enquanto 3288 divisóes estão espalhados por 42 andares ocupando uma área de 123.000 m2.

A sua construção iniciou-se em, 1952 e estendeu-se por 3 anos seguindo planos elaborados na União Soviética e levada a cabo por 3500 trabalhadores exclusivamente oriundos daquele país, dos quais 16 morreram em acidentes de trabalho. A arquitectura do edifício é similar à de muitos arranha-céus de Moscovo e foi inspirada na Universidade Estatal de Moscovo apesar de ter alguns elementos polacos recolhidos em observações levadas a cabo pelos arquitectos soviéticos em observações pela Polónia. O Palácio foi uma suposta oferta de Estaline ao povo de Varsóvia que "puderam" optar entre o metropolitano e um palácio. O povo escolheu o metro, Estaline deu-lhe um palácio. Surpresa? Claro que não.

Estaline não viveu o suficiente para assistir à inuguração do Palácio e certamente deu voltas no túmulo quando os Rolling Stones actuaram no em 1967, o primeiro concerto rock duma banda ocidental num país da Cortina de Ferro.

Contudo a retirada das tropas soviéticas e posterior desmembramento da União em 1989 contribuiram para a diminuição da conotação negativa do Palácio. Também no passado recente foram erguidos em Varsóvia arranha-céus de dimensóes comparáveis ao PKiN que harmonizam a integração do edifício na paisagem. Em 2000 quatro relógios de 2 metros foram acrescentados a cada uma das faces so Palácio tornando a sua torre como a mais alta do mundo até 2002 quando na NTT DoCoMo Yoyogi de Tóquio foram colocados relógios.

Já visitei a Sala Kongresowa quando a gala da Radio Wawa ali teve lugar, fez-me lembrar o Coliseu dos Recreios em tons de vermelho. Ainda não tive oportunidade para subir ao Palácio mas assim que consiga trarei ao blogue imagens captadas. Devem ser estrondosas! Por enquanto vou deliciando-me a contemplá-lo na Baixa de Varsóvia, todos os dias, quando vou trabalhar.

Prá posteridade

Alguns muninos passaram por Varsóvia em trânsito para Cracóvia. Esta é a foto de família, tirada na "minha" estação do metro a 2 min de casa (a pé, note-se!).


Até tenho estado a gostar de viver em Varsóvia, mas Cracóvia é outra frescura.

- Pede lá aí duas prá gente, boy!

Ganda Brélio, em Fevereiro quero-te aqui juntamente com a Turma. Luanda não termina numa semana q:)

sábado, 8 de dezembro de 2007

Por qué no te callas?!

É de uma falta de carácter - diria, é de uma grande lata - vir para a praça pública fantasiar bodes expiatórios responsáveis por uma explosão que nunca se verificou, apesar das inúmeras oportunidades que foram-lhe dadas para poder afirmar-se como grande talento do Sporting e da nossa Selecção.

Carlos Martins nunca aproveitou a tolerância e o carinho que os adeptos sportinguistas lhe dispensaram enquanto acreditaram que ele queria ser, realmente, um grande jogador de futebol. Nunca levou a sério as suas responsabilidades enquanto profissional de futebol, ainda por cima representando um dos Grandes. Não aceito, portanto, a encomenda que ele resolve colocar na imprensa, disparando para todo o lado mas nunca assumindo que falhou sempre quando apostaram sucessivamente no seu potencial.

Não vou referir as noitadas no Buddah-Bar em Lisboa ou em Coimbra, isso já é do domínio público. Não vou lembrar a expulsão estúpida no Restelo que custou-nos pontos preciosos na luta pelo título do ano passado (recorde-se que ficámos 1 ponto do campeão). Não vou recordar os alheamentos (ressacas?) durante os jogos em que mais precisámos do seu talento.

Vou apenas somar a todos estes factos um que é ilustrativo da sua postura de vida: Após a transferência para Huelva Carlos Martins resolve procurar casa em... Faro. Sim, em vez de habitar na cidade onde trabalha ele prefere efectuar 300 km / dia em deslocações casa-trabalho-casa. Em Huelva as coisas correm bem. A culpa era dos médicos e do treinador, dos adeptos e das condições do relvado, da ex-mulher do Hugo Cunha ou do whisky marado que o Pinilla partilhava com ele. De tudo e de todos, mas não dele.

Agora que o Sporting está a atravessar um mau momento é fácil vir bater no Leão, chamar-lhe nomes, maldizer e zombar. Mas cuidado, Carlos. O peixe morre sempre pela boca e tenho cá para mim que serás outro Dominguez ou Dani porque pau que nasce torto nunca se endireita.

Tem juízo, mó!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Superamendoins

Estes gajos não têm mais nada que fazer senão lançar temas interessantes no seu espaço. Ainda há dias estávamos a falar da Vila Xurupita e dos Manuais do Zé Carioca, do Prof. Pardal, do Escoteiro-Mirim, da Vovó Donalda, do Peninha, do Gastão...

E eu, em vez de estar a preparar o bules para amanhã, ando aqui entretido. Está a ser a minha desgraça, não consigo largar o pc!

Obrigado pelas missivas no post anterior. Ter passado o primeiro aniversário longe do povo amigo não foi vida fácil mas as mensagens enviadas (e os e-mail, sms, toques no hi5 e no msn) deram uma força fixe. Bem-hajam, Amigos q:)

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

5-12-1973: Once upon a time in Faro

Há uns anos atrás é que isto tinha piada. A festa começaria logo hoje com a família junta na casa da minha avó para desbastar centenas de pastéis de bacalhau e empadas que ela fazia quando abastecia metade da cidade de Faro. Cantorias e anedotas, comida que nunca mais acabaria, vizinhos que entrariam, outros que não sairiam, a Rua do Alportel em alvoroço de manhã à noite, eu a faltar ao treino para estar a horas do jantar, comprariam-se grades de "Fruto Real" no supermercado do Lopes, a eterna conversa de "O Sá Carneiro morreu, faz hoje anos. Lembras-te, Nuno?", o feijão com massa, o meu avô tiraria a placa para atazanar a minha avó que devolveria-lhe a brincadeira com um tacho na pinha, a D. Maria guardaria um mil-folhas para mim, o presépio montado (e que grande seria), pasodobles e corridinhos, o Mijica Leiteiro queixaria-se do barulho, o Orlando Chupa puxaria novamente fogo à casa no Largo da Caganita, a malta jogaria aos centros na rua, seria um fandelir.

Há 3 anos que não é a mesma coisa devido à natureza efémera das pessoas pois a minha avó não faz mais anos. O meu aniversário, dia 5, era antecipado em 24 horas como se fosse a antestréia duma peça de teatro. Eram dois dias de festarola pegada, mesmo após o peso dos anos terem empurrado a Laurinha para a cadeira de rodas. Corrijo -após terem empurrado-lhe o corpo porque a mente lúcida manteve-a até à última, recordando tanto os momentos de hilariante graça como expondo embaraços do meu avô.

Há 3 anos que não tenho sido tão efusivo na celebração do meu aniversário. Eram sobejamente conhecidas em Faro as minhas jantaradas no Chalavar (há DVDs dessas jantas) e no mês de Dezembro era comum perguntar-se onde era a passagem de anos e a festa de anos do Soviético. Penso que perdi um pouco a vontade de estar alegre nessa altura, a chama não era a mesma. Sem os sorrisos da família no dia anterior a coisa não resultava.

Pois... Como aqui já passa da meia-noite posso dizer que hoje é o meu aniversário, o primeiro fora de Faro. Não faço ideia de como irei comemorar mas será naturalmente com a Iza algures a 3000 e tal km do meu povo e homenageando a minha avó. Pode ser que as nuvens dêm-me um presente e afastem-se por um instante para que ela possa ver-me a brindar por si.

À tua, Laurinha. A âncora da nossa família.

Zerocentos e zerenta e zero

O saudoso Vítor Correia dizia: "Desde que vi um porco a andar de bicicleta passei a acreditar em tudo!"

Eu passei a acreditar em quase tudo quando vi esta grandessíssima barraca na televisão.

Agora saíu uma zerada * na lotaria. Quem ganhou o prémio? Ninguém!

Mas isto anda tudo variado da marmita ou é impressão minha?

*info retirada daqui.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Acaba já...

Com o Geraldo em Poznań, o Tiago e o Fernão em Cracóvia, já somos 4 tugas na blogosfera polaca. Se aparecer mais um faremos equipa para dar um tareão de bola a estes gajos.
Porquê? Vocês não estão conscientes das risotas que desperto aqui quando digo que sou português. Tudo por causa deste tipo!
O Pintassilgo é que dizia bem, lá em Monte Gordo: "Jogas aonde, mó?!"

domingo, 2 de dezembro de 2007

Andrzejki - Dia de Santo André


O dia 30 de Novembro é dia de Santo André, o santo patrono da Escócia, Grécia e Rússia, mas que tem um significado muito importante na cultura polaca.

No primeiro dia de Dezembro inicia-se o "advent", um período de reflexão e introspecção que dura até ao Natal. Nestes dias as festas não são tão vigorosamente vividas e as pessoas procuram ser mais comedidas em eventuais comemorações como aniversãrios, casamentos ou efemérides do género. Devido à existência deste período de tempo mais sereno, o último dia antes do início do mesmo é aproveitado para valentes borgas ou manifestações culturais de outra ordem. Os "Andrzej" deste país reúnem em casa amigos para festejar o dia do seu nome, após o que saem todos à rua para assistir aos mais diversos espectáculos oferecidos em toda a Polónia ou apenas para beber copos. Cumprem-se algumas tradições, como derramar cera de vela fervente num pote de água fria pelo buraco duma chave e teorizar sobre a forma que a cera ganha depois de solidificada na água. Normalmente essas teorias incidem sobre os possíveis casamentos de jovens ou acontecimentos relacionados com o trabalho.

Este ano o "Andrzejki" calhou numa sexta-feira, curiosamente enquanto alguns "muninos" passeavam-se alegremente pela mágica Cracóvia depois de terem feito escala em Varsóvia, vindos directamente de Old Trafford, para darem-me um alô e jantarmos juntos. Na sexta fui largado pela Iza em Katowice e apanhei o comboio para Cracóvia onde já me esperava a turma liderada pelo grande Giga. O Artur queixava-se do frio, o Rui tinha a vasilha desfeita desde Inglaterra mas tudo isso foi aliviado com uma generosa oferta da Burn efectuada assim que entrámos na rua Floriańska. Botámos a garrafa abaixo e fomos directos à noite, animada como sempre nesta terra. O plano era experimentar bares e discos diferentes pois, somando todas as visitas a Cracóvia, só conheço 2 ou 3 sítios. São os bons, para quê inventar?
A noite começou no Prozak e acabou... no Prozak. Foi mais uma vez 5 estrelas (alguma vez não será?!) para não dar cabo da impressão que tenho da cidade. Cracóvia é de outra galáxia e os "boys" foram mais uma vez parte das suas estrelas.
E eu cumpri a tradição do meu país adoptivo. É prá festa? Buga prá festa!
PS - A Iza encontrou o Sporting - U. Leiria no Polsat Sport e pude papar o joguinho refastelado no sofá. Foi o que precisava para pôr uma cruz no meu clube, decretei um mês de embargo ao Sporting na minha casa. Como se diz na minha terra, "o que é demais é demasiado!"

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

(se eles) Dizem que isto ainda não é nada (então não sei o que será alguma coisa)

Varsóvia, 10:30 da manhã, varanda do meu apartamento 3 dias depois da foto anterior.


Quando chegar o Inverno devo ter neve até à janela, concerteza.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Targa de crabalhos

Já fui à Embaixada Portuguesa em Varsóvia dar-me a conhecer e comunicar oficialmente que sou mais um patrício a viver na Polónia (esqueci-me de perguntar quantos somos...). Já fui à Junta de Freguesia de Tychy, contando com a inestimável ajuda do pai da Iza, recensear-me para poder contar como elemento activo no mercado de trabalho deste país. Já tenho número de telemóvel polaco. Já tenho contratos de trabalho registrados em Varsóvia que comprovam a minha profissão. Já tirei o passe do metro, elétrico e autocarro. Já tenho o Cartão Europeu de Saúde para não dizerem que tenho piolhos. Fiz tudo o que foi-me pedido para poder estar descansadinho nesta terra a ganhar o meu e a contribuir modestamente para o seu desenvolvimento, só faltava pedir o Número de Identificação Fiscal - o nosso Número de Contribuinte.

Puseram-me isto à frente:



















E agora, Miguel?

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Para seguir com atenção

Salvé, Faro! Os teus habitantes saúdam-te... à distância.

Já aguardava por esta boa nova há algum tempo. Espero que venha a beneficiar a cidade tanto quanto precisam dela aqueles que transitam entre Loulé e Olhão.

Só espero é que não ponham meia dúzia de tomates e laranjas à frente do desenvolvimento e progresso do concelho, já bem basta a vergonha que é o nosso acesso directo à A22.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Dizem que isto ainda não é nada

Varsóvia, 10:30 da manhã, varanda do meu apartamento.


O Daniel é que tem razão: "Não há dinheiro que pague o clima algarvio!"

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Na Polónia sê polaco - 2


Esta imagem retrata dois símbolos indeléveis da Polónia. O Fiat 126 e o "pierogi" .

O Fiat 126 foi produzido na Jugoslávia e, a partir de 1973, na fábrica que o construtor italiano tem em Tychy, terra da Iza. A partir de 1980 e até 2000 esta fábrica ficou com a exclusividade de produção deste modelo que tantas vezes encontro nas ruas polacas. O meu interesse por este simpático utilitário vem da curiosidade natural pela quase inexistência de carros destes em Portugal mas também pela elevada simbologia histórica que eles carregam.

O chamado Polski Fiat 126 (Fiat 126 Polaco) tem uma ligação com o período de influência comunista na Polónia. No regime comunista, um automóvel próprio era considerado
bem de luxo dada a acessibilidade limitada e os baixos salários. Em 1971 existiam apenas 556.000 automóveis de passageiros na Polónia. Note-se que numa economia socialista a decisão sobre se uma fábrica estatal poderia produzir automóveis era assente em princípios políticos e não económicos. As próprias autoridades não viam com bons olhos a ideia de produzir-se automóveis. O primeiro carro polaco relativamente barato foi o Syrena (nome da criatura semi-deusa, metade mulher e metade peixe como as sereias, que protege o rio Wisła e a cidade de Varsóvia) mas a sua produção foi muito limitada. Carros importados de outros países do Bloco de Leste eram muito poucos e era difícil comprar um carro estrangeiro porque a moeda polaca, o złoty, não era cambiável tal como todas as outras moedas dos países do Pacto de Varsóvia e não havia mercado livre.

O Polski Fiat 126p (este "p" foi adicionado para distinguir o modelo polaco dos italianos e jugoslavos) foi supostamente o primeiro carro barato para motorizar as famílias do país, seguindo o conceito do VW Carocha na Alemanha e do Citroën 2 cv francês. Apesar de pequeno era o único carro que as famílias podíam comprar e fazia as vezes dum monovolume. Naquele tempo era comum verem-se famílias de 4 elementos em férias no campo dentro dum PF 126p afundado de malas na capota. No entanto os automóveis não foram produzidos em quantidade suficiente e foram racionados, pondo famílias em lista de espera às vezes por dois anos como a RDA fazia com os seus Trabant. Apenas no caso de algum louvor ou mérito é que o Estado excepcionalmente brindaria uma família com uma senha para o automóvel. Em 2000 estes "Maluch" (algo pequeno) deixaram de ser produzidos com a última remessa (os Happy End) a ser inteiramente composta por modelos de cor amarela. Contudo ainda se podem ver inúmeros carrinhos destes a zunir pelas ruas e estradas polacas.

Os pierogi são como os rissóis mas com recheios mais variados e nem sempre fritos. Já comi pierogi com couve e cogumelos, à moda russa (de queijo e passas) de carne, vegetarianos, com recheio de morango e posso dizer que são bons... se não forem muitos, senão enjoam. A foto tem piada pelo trocadilho involuntário. Portugal em polaco diz-se "Portugalia". A marca do produto é "Pierogalia". Haverá aqui ligação?

Dá-me vontade de comprar um PF 126p e kitá-lo todo só para judiar! q:D

domingo, 25 de novembro de 2007

O guarda-redes é uma ganda...

Este é o website duma obscura equipa de futebol da 2ª divisão polaca. O primeiro atleta da lista é o guarda-redes titular e capitão de equipa.

Calculem as anedotas se ele jogásse em Portugal.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Quem é o "cá má feu" que tu conheces?

substantivo masculino, pedra preciosa com duas camadas de cor diferente, sobre uma das quais foi gravada uma figura em relevo;


pop., mulher muito feia;

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Das duas uma: Ou vamos à Áustria ou à Suíça


Algumas latas de ceveja depois consegui celebrar o sofrido apuramento de Portugal para o Europeu. Tipicamente scolariesco, como afirmou um visitante da nossa taberna, esta fase de qualificação foi do mais sofrível dos últimos tempos. Jogos dos 150 que fizeram-nos sofrer sem necessidade nenhuma mas que culminaram num escriba de cachecol e bandeira, agarrado ao pc vendo a transmissão do jogo online, arrotando alarvemente como bom tuga, praguejando contra as bolas cheias de tabaco que o Maniche mandava à baliza, chutando os puffs da sala sempre que o Quaresma falhava uma rabeta, marafado com a @€§$ da parabólica que ainda não está instalada, perguntando o porquê do Makukula não ter entrado mais cedo enquanto ainda surgiam cruzamentos para a área.

Ou seja, encontro-me meio bezano a escrever a posta de hoje porque preciso de comunicar a minha alegria ao mundo. Vamos ao Europeu, porra!!!! Já estava a ver polacos (que pela primeira vez na história qualificaram-se para a competição) a dizer "Ai és português? Nós vamos ao Europeu, vocês não vão porque perderam conosco."

Valeu, boys! Estamos e isso é que interessa!



PS - Completamente off-topic, não posso deixar de mencionar este episódio. Tem a importância que tem, a gravidade que tem, o significado que tem mas fundamentalmente tem a piada que tem. E não é pouca.

Passa por mim... whatever!

Há tempos conheci uma rapariga de Leiria que contou-me ser no seu distrito onde encontram-se as localidades com os nomes mais estranhos. Perante os exemplos que ela me deu acabei por concordar pois não lembra a ninguém morar em Caranguejeira, Amor, Bidoeira de Cima, ou Souto da Carpalhosa. Ainda ri umas boas horas no Zé Maria com essa miúda à pala duma visita minha a um amigo de Peniche que levou-me a passar por Atouguia da Baleia e que deixou-me a imaginar como seria a designação da Banda Filarmónica local.

Mas por muito esquisitos que sejam os nomes de Leiria (e o Algarve também tem nomes estranhos: Mexilhoeira da Carregação?!) nunca chegarão aos calcanhares do nome desta localidade, laureada com o Prémio Misha "vai-morar-pró-raio-que-te-parta-pá!"



Bem poderia esperar pelas vossas cartas q:D

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Queres o quê?!

De uma maneira ou de outra tenho conseguido arranjar substituição para muitas coisas que não existem neste país, fundamentalmente na alimentação.. Por exemplo: Na Polónia não há...

- Carne grelhada (entremeada, costeleta, febras); os polacos não têm esse hábito mas têm outras especialidades que são igualmente saborosas e satisfazem o meu paladar.
- Marisco barato; os camarões são pornograficamente caros e das santolas nem se fala. Sapateiras nunca as vi. Prometo nunca mais falar mal dos preços do Amador.
- Batatas fritas com sabor a presunto; mas existe com sabor a frango assado e são muito boas!
- Bolas de Berlim da fábrica; encontrei algumas com recheio de maçã, dá para desenrascar.
- Sporting; deve ser karma porque o clube de Varsóvia, o Legia, vai em 3º lugar a alguns 8 pontos do líder... clube da 2ª cidade do país. Dejá-vu descarado.

Mas as primeiras negas vieram dum local que, julgava eu, estaria mais sujeito a influências do exterior. A farmácia.
Eu trabalhei 15 anos em farmácia o que permite-te ter algumas noções dos procedimentos a tomar com as gripes e constipações que atravessam transversalmente a Europa nesta estação. O bom do meu sogro está atacadíssimo da garganta, catarro persistente, espirra de seguida, febrícula na casa dos 37,5 / 38º e com dificuldade em engolir. Perante o quadro e a medicação que ele estava a tomar (aspirinas e lixo do mesmo calibre) resolvi dar um pulo à farmácia mais próxima para pedir a minha fórmula infalível - a dra. Isabel vai desculpar a minha opção - azitromicina a 500mg. Só que...

- Não existe? Você tem certeza? Isso é produzido em dezenas de laboratórios, como não existe?
- Eu sei o que o senhor pretende mas esse produto não existe na Polónia.
- Epa, mas são inclusivamente laboratórios alemães que produzem e vendem a substância... Não existe em apresentação nenhuma?
- Lamento mas não existe. Só na Alemanha mesmo.
- Moss, agora vou eu daqui à Alemanha por uma caixa de comprimidos?

Neste ponto percebi que não valia a pena insistir e lembrei-me que precisava dum tubo de Halibut, pomada vulgar e ancestral que dá-me bom resultado quando aparece uma borbulha malina.

- Halibut também não existe.
- Ai o camano... Pronto, uma pomada qualquer com Vit. A e que tenha zinco, vá.
- Não existem pomadas assim, só em spray.
- Spray? Vou pulverizar a testa e andar escorrendo produto por causa duma borbulha? Não tem nenhuma pomada anti-séptica do mesmo tipo?
- Não existe, lamento.

Isto não se deveu a dificuldades na tradução pois a interlocutora foi a Iza. Não existe, não há. vai ao Totta, bate a asa, gira, andor!

Juntando a este episódio o facto de também não existir a gama que uso para o barbear e para os cuidados diários do rosto (culpa da Ana, ela é que habituou-me mal) prevejo que vou deixar crescer a barba à talibã, o que até dá jeito para combater o frio. E espero não adoecer na Polónia porque provavelmente a solução para o meu problema... não existe.

sábado, 17 de novembro de 2007

Retalhos da vida dum Algarvio - Parte 3

Hoje é sábado e aos fins de semana costumamos visitar a família da Iza em Tychy. Como eu tinha de tratar de papelada referente ao meu registro de residência decidi viajar logo ontem de manhã para poder ter o resto do dia disponível e correr toda a burocracia necessária a este tipo de trabalho.

Saio de Varsóvia numa manhã agradável, de céu não muito nublado e com temperatura dentro do que já vou estando habituado a sentir. Os 2 ou 3ºC dos últimos tempos. Estrada sem neve, nem gelo, nem água, prevendo uma viagem mais rápida do que as anteriores. O sol brinca comigo quando espreita entre as nuvens, a observar como estou a adaptar-me à sua quase permanente ausência. A viagem corria bem, bem lançado na estrada quando a meio do caminho a paisagem muda quase dum segundo para o outro.

Terá nevado a partir dum determinado ponto da Polónia para sul pois em Varsóvia nem sinal de neve. Isto foi a pouco mais de 100km depois de ter saído de casa porque o que me esperou ao chegar a Tychy foi isto:








A rua que estava sempre em tons de verde escuro ou amarelo torrado agora cobre-se com uma camada espessa e fofa de neve. Parece uma gigantesca cobertura de chantilly que se abateu sobre o sul da Polónia e apanhou-me desprevenido. Moral da história: Tive de gastar quase 400 złotys para enfeirar um casacão à polaco e umas botas como deve ser para não ficar com os pés gelados. O inverno ainda não começou e já está a sair-me caro.

Mudando de assunto; A Polónia joga contra a Bélgica no Estádio Silésia em Chorzów, cidade que dista apenas 30km de Tychy. Bilhetes a 40zł (+/- 12€) são convidativos mas infelizmente a lotação do estádio está esgotada pois todos querem assistir à mais que provável qualificação da selecção polaca para o Europeu de 2008 na Áustria e Suíça. Por isso vou ficar em caselas a papar os dois joguinhos, o da Polónia às 20:00 e o nosso em Leiria que dá na RTPi às 22:00. Se não ganharmos haverá grandes possibilidades de eu mandar todos dar uma kurwa, espero que tudo corra dentro do esperado.

EDIT: A Polónia ganhou (com dois golos caídos do céu) e fez a festa merecida. Portugal ganhou jogando uma merda mas espero que também mereça a festa. Era o que faltava!

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

O que foi não volta a ser

Também eu fui jogador, mas tudo tem o seu tempo. Tal como o meu, o tempo dele já lá foi.

Esta é decididamente uma boa notícia... a concretizar-se. Espero que não se fiquem por aqui.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Soviéticos? Não, obrigado.

Como referi no post anterior,nunca pensei que a minha alcunha old-school pudésse trazer-me tantos amargos de boca mas efectivamente "Soviético" não é um apodo muito bem visto nestas paragens e já chamaram-me a atenção para tal facto.

Não é que eu apresente-me às pessoas com tal nome, nem por sombras. Estou inscrito em foruns de estrangeiros a viver em Varsóvia por achar ser uma boa maneira de fazer possíveis novas amizades e partilhar experiências com outras pessoas aqui emigradas, conhecer as suas opiniões e prosseguir cada vez melhor com o processo de adaptação ao novo país. Ora, a minha caixa de correio preferencial é demasiado explícita para os costumes da região tendo sido já motivo de advertência por parte de tugas cá emigrados e de "locals" que mostraram-se indignados com tal afronta. A História passada e recente não abona em nada o que venha da Rússia ou da extinta URSS e ainda não encontrei quem se recordásse dos tempos comunistas com saudade, bem pelo contrário.

Por muito que tentásse explicar que o cu não tinha nada a ver com as calças fui mesmo convidado a mudar o meu perfil do hi5, redefinir a caixa do correio e esquecer todas as minhas afinidades com a antiga União Soviética sob pena de ninguém passar-me cartão ou de ser carimbado como "persona non grata". Assim, se alguém quiser visitar-me neste interessante país, agradeço que esqueçam a minha alcunha farense e chamem-me exclusivamente pelo nome próprio ou pelo do ursinho fofinho que todos conhecem. Ainda a Embaixada tem de pagar a transladação do corpo.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Cai neve em Nova Iorque, faz sol no meu país...


Há poucas mas substanciais diferenças entre os silesianos e as pessoas de Varsóvia e isso é mais visível no seu comportamento na rua.

Já não arrisco levar o carro para a Baixa da cidade e perder 2 horas para percorrer 5 ou 6 km. o metropolitano é o meio mais práctico de chegar ao centro, sem filas nem arruaças para estacionar. Mas não passo sem levar uma sova até poder respirar nas carruagens pois assim que se ouve o ruído do comboio aproximando-se da estação começa a luta por um lugar na frente do pelotão que apresta-se a invadir o dito comboio. Os passageiros que saem mal conseguem fazê-lo tão forte é a vaga de gente que os empurra de volta para dentro da carruagem e para sair-se a tempo na estação desejada é conveniente ganhar posição logo na paragem anterior.

Na Silésia isso não acontece porque não têm metropolitano, em primeiro lugar, mas também não acontece nos autocarros que apanhei porque as pessoas são mais simpáticas e prestáveis. Percebo agora porque disseram-me em Katowice que "ninguém gosta de Varsóvia, nem mesmo os varsovianos". Porém não é a cidade que faz as pessoas, bem pelo contrário, e Varsóvia é uma cidade demasiado bonita para ser classificada negativamente só porque os seus habitantes não têm nenhuma educação cívica.

Hoje tive de andar em monte, penso que calcorrei mais de 10 km para chegar a diversos pontos do centro de Varsóvia. O meu conceito de "longe e perto" começa a modificar-se desde que vim morar para cá, as distâncias medem-se em horas e minutos em vez de metros e quilómetros. As ruas de Varsóvia são como as avenidas algarvias, as avenidas de Varsóvia são como a EN125. Tudo é relativamente perto mas nada é perto o suficiente para poder-se andar até lá, cada vez mais agradeço por ter o Metro a 2 minutos de casa.

Não ficaria muito chateado se tivésse apenas de ter andado dum lado para o outro porque descobri muitas curiosidades interessantes na cidade, como um instituto polaco-nipónico de estudos sobre computação e informática patrocinado quase inteiramente pelo Governo de Tóquio. Ou duas Câmaras de Comércio e Cultura da Hungria e da Eslováquia que procurarei analisar com mais tempo proximamente.

O que me marafou foi ter de levar com neve no focinho o tempo todo! É preferível neve a chuva porque a neve sacode-se enquanto a chuva ensopa uma pessoa, mas levar com neve pela fronha é terrível. O vento trazia-a de tal forma que batia-me na vista impedindo-me de olhar em frente e fez-me abortar os planos que tinha para a tarde.

Como se não bastásse o facto de ter conduzido desde Tychy a Varsóvia (320km) a 90 km/h sempre a nevar, agora não posso sair à rua sem ficar carregado dessa caspa molhada! Um gajo põe o gel maravilha de manhã para destacar o traço latino e ao princípio da tarde tem a gorra feita em merraça, tudo pastoso nem assunto nenhum, com o cabelo cheio de nhanha. Cá está que os polacos têm o cabelo cortado a pente 1, sempre têm razão.

Outra coisa que reparei é que a minha alcunha old-school não é muito apreciada por aqui. Os soviéticos não têm grande cartel por cá, como não têm os russos. Os ucranianos ainda são tolerados por serem mais humildes e trabalhadores mas este vosso escriba será conhecido unicamente como Misha ou Nuno, não quero aparecer a boiar no Wisła um dia destes. Dasse!

E Faro com 22ºC. Fai camano...

domingo, 11 de novembro de 2007

Na Polónia sê polaco - 1

Batatas fritas de sabor frango assado, queijo com ervas e cebola verde.

E perguntam vocês:
- Misha, velho e sábio Misha! O que é cebola verde?
E respondo eu:
- É o grelo da cebola que eles cortam aos pedacinhos e usam para temperar a comida.

Eles lá sabem...

sábado, 10 de novembro de 2007

Ponto e vírgula

Quero, antes de mais, agradecer ao pessoalzinho que deixou mensagens de apoio no texto anterior. Pior que a tristeza infligida por uma notícia chocante é a angústia da impotência, a distância que obrigou-me a falhar momento tão importante. Os toques que me deram serviram de consolo. Valeu, maltinha!

Consolo foi também regressar hoje a Tychy nem que fosse para deliciar-me com a comida caseira da mãe da Iza e ser recebido com um engraçado "olá, varsoviano!". Vim também buscar o resto da roupa, acartar o PC e respectiva tralha eletrónica porque provavelmente 2ª de manhã irá um técnico a casa instalar internet (finalmente!), tv por cabo e telefone porque faz parte do pacote mesmo que não faça tenção de utilizá-lo muitas vezes. Se o técnico for um bacano pode ser que o convença tratar logo da minha parabólica para poder receber os canais portugueses em casa e começar a acompanhar mais a actualidade do nosso País (diz que descobrimos petróleo no Brasil, é verdade?!) e a liga portuguesa. Por curiosidade, na liga polaca o Wisła Kraków vai à frente com 8 pontos de avanço sobre o 2º classificado, o Korona de Kielce, e mais 9 pontos que o clube mais representativo de Varsóvia, o Légia, quando faltam 2 jornadas para cumprir-se a 1ª volta do campeonato. O título parece entregue e qualquer semelhança entre esta realidade e a Superliga portuguesa parece ser mera coincidência.

A vida em Varsóvia tem sido de descoberta contínua, aparte a extraordinária seca que tem sido viver sem net nem sinal de televisão. Tivémos a sorte de encontrar um apartamento pertíssimo do metro, autocarro e elétrico, permitindo que o carro fique o dia todo na garagem. E digo sorte porque uma vez experimentei buscar a Iza ao emprego, na Baixa da cidade, e levei hora e meia para percorrer os 6 km de regresso a casa.

As primeiras impressões ficam para depois. Agora vou preparar o resto da bagagem para levar de novo para Varsóvia (Tychy fica a 300 km SW da capital) e ver se durmo uma grande beca porque tive de acordar às 6:00 e aproveitar o máximo de luminosidade para conduzir. Sabem o que é guiar com neve no piso e a cair em cima da marmita? Não é vida fácil, se pisamos um pouco fora da linha o bote bandeia-se todo e é um castigo para dominá-lo.

Ainda por cima os polacos a conduzir são kamikazes autênticos, mas isso fica para o próximo episódio.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Tu é que jogavas a montes!

(este infeliz texto foi publicado a partir dum cibercafé da Estação Central de Varsóvia. Ainda não tenho net em casa, talvez só para a semana que vem)

Era eu puto na casa dos 8/9 anos e ficava todo danado quando ele roubava-me a bicicleta para impressionar as miúdas do parque de campismo com cavalinhos e outras acrobacias. Deixava-me o guarda-lamas todo raspado e eu ia aos arames por não encontrar a bicla como tinha deixado. Nem me pedia desculpa, no dia seguinte fazia o mesmo e eu ficava sem o meu brinquedo favorito até que ele chegásse à roulotte bem depois da meia-noite. Durante o dia tinha de ouvir perguntar por ele tantas vezes quantas as adolescentes que cruzássem o meu caminho e falavam do raio dos olhos azuis e do cabelinho louro... como se eu não fosse também louro! Era terrível e devo ter tido por esses dias a minha primeira crise de ciúmes.

A vida levou a que, no final desse Verão, nos separássemos por alguns anos - ele em Lisboa e eu em Faro - mas sempre com contactos esporádicos para manter a linha activa. Estava eu no Liceu e assistia ao crescimento do seu currículo como elemento preponderante de casas de referência na noite da cidade alfacinha, tais como o Trifásica e o Kremlin. Ao mesmo tempo a sua inteligência permitia que se mantivésse afastado dos esquemas perigosos e criásse alianças de estratégia empresarial com nomes grandes da sociedade lisboeta. Talvez devido à sua costela sportinguista (até nisso!) um dos seus sócios foi o filho do único algarvio presidente dum grande clube português.

Essa mesma costela permitiu que assistíssemos juntos ao primeiro jogo oficial no novo Estádio José Alvalade, quando ganhámos 4-2 ao Belenenses. Escolhi-o para partilhar esse momento histórico e ele fez a fineza de honrar-me com a sua presença, aproveitando a sua presença ocasional em Lisboa. Recebeu-me no seu belo apartamento na zona da Expo onde jantei também com a avó dele e conheci a sua encantadora namorada de muitos anos.

Ultimamente os laços eram mais estreitos, as visitas menos espaçadas e telefonemas mais amiúde. Invejava o seu estilo de vida e concepção da mesma, sempre um passo além dos demais e com uma estrutura de tal forma sólida que possibilitava-lhe experimentar coisas que, para mim, só havia nos livros ou na internet. Um dia em Praga, no seguinte em Amesterdão, no meu aniversário uma mensagem da “monarquia inglesa”. Recebia-me em Lisboa de Mercedes, visitava-me em Faro de Porsche em trânsito para Sevilha de férias. Era um cromo que admirava com espanto, como se de um futebolista famoso ou duma estrela de Hollywood se tratásse. Uma ocasião fui autorizado a convidá-lo para uma das festas de Agosto do Club Camané onde apareceu vestido de mouro de turbante e cimitarra à cintura. Ao fim de um bocado encontro-o a conversar com uma “tia” e um pouco depois nem “tia” nem mouro na costa. O que se passou nunca saberei pois o tema era sempre cortado com mais uma imperial.

O meu irmão César não é muito conhecido em Faro, penso que só a minha ex-namorada conheceu-o pessoalmente. Contaram-me por telefone às 1:15 (hora de Varsóvia) da madrugada de segunda-feira dia 5 que ele deixou-nos sem dar cavaco às tropas, à papo-seco, sem dizer avonde, de estalo. Aborreceu-se da vida terrena e foi em busca de outros horizontes, sempre ambicioso e insatisfeito, se calhar seguindo algum capricho mais exigente que terá sentido ou porque pura e simplesmente andava enfastiado com o que fazia. Esta manhã entrei para uma entrevista de emprego em Varsóvia enquanto a minha família despedia-se dele em Benfica (o que foi que te fizeram, mano?!). O abraço que ele me deu recebi-o na forma da resposta positiva por parte da empresa que irá contratar-me. À tarde vi nevar pela primeira vez na minha vida, terá sido algum sinal?

Mano César, fiquei muito triste com a tua partida, ainda agora choro incrédulo. E deixas-me muito preocupado com uma dúvida que assaltou-me e tem-me perseguido: Se as pessoas boas, como tu, insistem em morrer o que será do Mundo quando só sobrarem os filhos da puta?

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Este blogue regressa outra vez dentro de momentos

Os acontecimentos e oportunidades recebidas precipitaram a decisão de mudarmos de cidade. Amanhã de manhã partimos de armas e bagagens para Varsóvia e por lá ficaremos até surgir algo que nos faça repensar a estratégia que temos para a nossa vida neste país. Pode ser um mês, um ano ou uma vida.

Não sei quanto tempo demorará até eu estar online de novo pois temos de instalarmo-nos, pesquisar o mercado de servidores até escolhermos o que iremos ter em casa. Vai levar o seu tempo mas as coisas boas regra geral demoram até serem conseguidas.

Por isso o blogue vai sofrer uma pausa que desejo que seja curta. Em breve regressarei em força com as primeiras análises sobre a capital polaca e experiências de vida que certamente serão tão ou mais interessantes que as vividas até agora na Silésia. Acredito que com um pouco de sorte no final da semana que vem já estarei de novo no ciberespaço, portanto ficamos assim combinados. Até já.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Tamos aí, vó!

O dia de Todos-os-Santos é celebrado na Polónia duma forma muito intensa, com autênticas romarias aos cemitérios onde toda a gente recorda os seus entes duma forma muito própria. De manhã cedinho começa o périplo pelas cidades onde hajam parentes sepultados e em cada uma das campas deixa-se uma vela, um vaso de flores e reza-se em sua memória.

À porta de cada cemitério há dezenas de vendedores de flores, velas, doces. A polícia controla o trânsito e o estacionamento, autocarros despejam viajantes constantemente, pessoas caminham quilómetros para lá chegar. Dentro dos cemitérios famílias inteiras sentam-se em frente às sepulturas conversando ou em silêncio. Centenas - diria milhares - de pessoas espalham-se pelos talhões enfeitando-os de flores e velas luminosas. Esta tarefa repete-se em cada parente ou amigo, ocupa a manhã inteira e só por volta das 15:00 a família regressa a casa para almoçar e talvez descansar um pouco. Sensivelmente às 17:00, já de noite, nova visita aos cemitérios para passear literalmente entre as sepulturas dos familiares mais próximos e homenageá-los com alguns momentos de silêncio e reflexão diante das suas lápides. Este passeio não se revela nada lúgubre porquanto todas as campas estão iluminadas com várias velas causando um supreendente efeito colorido no cemitério. De notar que, ao contrário que em Portugal, os cemitérios polacos não têm os chamados gavetões pelo que prolongam-se por áreas significativas chegando por isso a atingir hectares de extensão. A intimidade do momento impediu-me que registásse em fotografia a imagem de milhares de velas iluminando um espaço escuro por natureza. Impressionantemente bonito.

Depois da folga dormida é tempo de visitar parentes. Manda a tradição neste dia que a família junte-se na casa dum tio ou primo e que se coma e beba entre as conversas familiares. Alguns dos parentes vêem-se uma vez por ano, por esta altura, e é naturalmente grande o entusiasmo com que se saúdam. Foi a oportunidade aproveitada para fazer-se a minha apresentação pública à família, o tal português que já se tinha ouvido falar finalmente revela-se. Foram momentos de grande curiosidade, cheios de perguntas e dúvidas, naturais de quem está perante uma pessoa que viajou meio continente em 4 dias até chegar à terra deles. As diferenças, os choques culturais, aspectos positivos e negativos, comparações, bisbilhotices sobre a nossa vida privada vieram à baila entre copos de cerveja, cheesecake, batatas fritas e saborosos pratos de bigosz. A atmosfera é a de um aniversário tardio. A lareira acesa, as crianças correndo, os homens rindo, as mulheres vendo fotografias de casamentos, os doces surgindo, o vinho escorrendo, risos e gargalhadas, brindes e memórias.

Primos e parentes trocam números de telefone conosco, fazendo votos para que nos visitemos brevemente. A tia da Iza diz-me que nunca gostou tanto dum rapaz de barba por fazer até hoje. Eu agradeço em polaco para aprovação geral. Toda a gente abraça-se agradecendo o fantástico catering proporcionado e eu abandono esta casa com vontade de ficar mais uns minutos a desfrutar de tão agradável ambiente e companhia. Os Krupa são efectivamente uma família porreira.

Nos cemitérios polacos existe uma cruz gigante para que aqueles que perderam familiares na guerra ou para os que estão deslocados e longe dos seus poderem prestar-lhes os devidos respeitos. No de Tychy coloquei uma vela pela minha avó porque tem olhado por mim como pedi-lhe imediatamente antes de fazer-me à estrada no caminho para a Polónia.

Espero que continue fazendo-o e eu espero não defraudá-la como prometi-lhe.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Este blogue regressa dentro de momentos

Estou em Varsovia por um par de dias (depois explicarei o motivo) e como o PC do hotel tem um teclado polaco as historias ficam para depois do meu regresso a Tychy.

Digo apenas que, daquilo que vi, palpita-me que a Silesia vai esperar pouco tempo para ter-me de volta...

domingo, 28 de outubro de 2007

Cracóvia revisitada

Ontem finalmente regressei a Cracóvia. Queria tanto fazê-lo desde que cheguei à Polónia que até pintava a cidade com as tonalidades mais sombrias do Outono no meu imaginário.


Cracóvia é a capital cultural da Polónia e faz alarde disso com as suas reputadas universidades e museus, o castelo Wawel onde repousam os restos mortais dos antigos monarcas, as igrejas e monumentos erigidos outrora e impecavelmente mantidos até hoje. Dá gosto passear nas ruas junto da Praça do Mercado de interessantes que elas são, sempre com inúmeros artistas de rua entretendo-nos com os seus números de homem-estátua, breakdancers ou tocadores de digeridoo. É obrigatório demorarmo-nos na observação atenta dos pormenores arquitectónicos dos edifícios, prédios antigos mas restaurados com bom gosto, sendo culpados pela cor festiva que a praça apresenta indiferente à estação do ano. As pessoas, principalmente as mulheres, desfilam na rua demonstrando critério na escolha das roupas e deliciando os olhos gulosos dos "muninos", incapazes de disfarçar o deleite que tão formosas linhas femininas lhes causam. Também os numerosos restaurantes lançam na rua perfumes inebriantes de iguarias tão elaboradas quanto impronunciáveis, paredes meias com cafés chiques e páteos de buffets vegetarianos.

Respira-se cultura em cada recanto, nas muitas livrarias e população estudantil que é visível por toda a parte. É uma cidade de sangue novo e tradições seculares, como por exemplo: Encontrar-se seja com quem for será sempre em frente à porta da Empik (a FNAC polaca). Precisamente a porta iluminada no canto inferior direito da foto.

Não foi a cultura que levou-me a Cracóvia da primeira vez, foi mais um colher de impressões para avaliar a possibilidade de emigrar para cá - como veio a suceder - e a oportunidade de conhecer uma das mais afamadas vidas nocturnas da Europa. Se o primeiro factor resultou em sucesso, o segundo não ficou-lhe atrás. A noite de Cracóvia é efectivamente de outra dimensão, qual Carnaval de Leste fora de estação. Recomendo vivamente a quem precisa de espairecer: Hectolitros de cerveja Tyskie em qualquer esplanada da Praça, Jantar bem regado no Sioux, um par de vodkas no Prozak, o pé de dança no Frantic. Basta isto, depois entreguem-me o relatório ;)

Regressei a Cracóvia e foi lindo porque linda é a cidade, lindas são as pessoas e lindas são as lembranças. Se de esperança é o meu futuro decerto que é nas memórias que o meu presente se assenta e as que tenho de Cracóvia ninguém mas tira. Poproszę, dwa piwa!