segunda-feira, 28 de abril de 2008

O Pânico

"Então e na Polónia também há 25 de Abril? Ai não? Passam do 24 directamante para o 26?"


Esta piada óbvia não foi me foi contada por ninguém e ainda bem porque teria de ser desagradável ao aconselhar mais criatividade a quem me dissésse isso. O dia 25 de Abril foi igualmente dia de liberdade, liberdade para dar um passeio e descobrir outra cidade: Łódż.

Foi em Łódż (uôdje) que testemunhei um casamento polaco pela primeira vez. Muitos colegas da blogosfera luso-polaca escreveram as suas impressões sobre esta cerimónia tradicional e eu quero deixar também a minha impressão sobre um casório à polaca, os aspectos positivos e negativos.

Em primeiro lugar, a agradável surpresa que constituiu a celeridade da cerimónia religiosa. A missa na igreja demorou apenas uma horinha, bem menos que eu supunha. A saída da igreja os convidados perfilaram para a foto de família fazendo, em seguida, fila indiana para apresentar cumprimentos aos noivos. Este processo não levou mais que uma hora, substituindo as penosas horas de fotografias que os convidados portugueses têm de aturar nos casamentos lusos. Beijinhos e votos de felicidades já efectuados em polaco, um autocarro esperava os convivas para transportá-los ao hotel onde iria decorrer o copo-de-água.


A sala do banquete tinha uma mesa disposta em U. Na Polónia as pessoas não estão agrupadas em mesas de 6 /8 /10 pessoas, conforme as amizades, como na nossa terra mas colocadas simplesmente lado a lado. Como também não há indicações sobre quem se senta onde, todos os convidados têm de procurar o seu local lendo os cartões que se encontram em cada lugar provocando barafunda geral até que todos se sentam. A banda ajuda à confusão tocando música apropriada ao tema e incentivando as pessoas na sua busca para que esta seja rápida. Ao fim de uns minutos encontrei este cartão:






Já sabia o lugar dela, o meu deveria ser a um dos lados. No lugar anterior estava outro cartão:


Algo do tipo "Pessoa acompanhante de Izabella Krupa". Aqui fiquei danado! Já sei que o meu nome é algo exótico (coisa interessante de se saber quando eles têm nomes como Zbigniew e Przemisław) nesta terra, muita gente trata-me por Nhiunhio mas escrever o nome não é assim tão difícil. Adiante, sem stress.

Comida a potes e as primeiras rodadas de vodka. De vez em quando é servido um cálice de vodka para brindar à saúde dos noivos. Não importa se acabámos de tragar um shot, se aparecer um dos vizinhos a servir vodka manda a tradição que aceitemos e bebamos com eles. Isto passa-se durante e depois do jantar e contei os cálices até ao 8º. Nisto a banda toca a música do beijinho. Não somos nós que batemos nos pratos e copos para que os noivos se beijem mas a banda que toca uma música especial para o efeito, enquanto o beijo não for satisfatório a banda não pára de tocar a música cuja letra é "Nós não bebemos a vodka porque o vosso beijo não foi longo". Quando finalmente o beijo satisfaz as pessoas... vodka.

Depois de comer vamos dançar músicas típicas da ocasião, pimba polaco e êxitos internacionais, tal como em Portugal. Até se fez um comboio sem o tema dos Zimbro! Tudo em grande animação e bem regado. No momento em que o meu vizinho ia atacar-me com mais vodka levantei-me e propus fazer-lhe uma bebida. Concordou espantado e cambaleei para o bar onde misturei algumas poções que me pareceram adequadas. Lembro-me que levou Malibu, Kahlua e água com gás. Gelo e palhinhas deram um toque mais tropical à minha criação, sem nome por falta de coerência no meu raciocínio. O gajo gostou, louvou a minha habilidade e foi contar à esposa. Eu ofereci a minha bebida à Iza e pedi para ausentar-me uns minutos.

Lembro-me de serem 9:00 da manhã e estar de t-shirt e boxers deitado sobre os lençõis. A Iza pergunta-me se estou melhor. "Mas melhor do quê?" penso eu. Levanto-me agoniado e percebo imediatamente a pergunta dela. Caio redondo na cama e murmuro "O que se passou?". As explicações dela levaram-me a concluir que deu-me o pânico.

O pânico é aquele instinto que me faz abandonar rapidamente o local onde estou se sentir que bebi mais que a conta. Não importa onde nem "como" esteja, arranco célero em direcção ao pouso, termas, ninho, casa! Já me deu um pânico na Trigonometria que me fez passar meia hora no parque de estacionamento à procura do carro do Basic, deu-me um em Faro que me fez andar 3 km até casa e pelos vistos Sábado deu-me outro. É notável esta capacidade instintiva de abalar em pressa quando dá o clique. É o fim da picada, boa noite e obrigado.

A cidade? Não vale nada, velha e feia. Não troco Varsóvia (nem Katowice) por Łódź. Quanto a casamentos, agora só no mês que vem em Faro.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Another day in the life

Muitos polacos ficam admirados quando sabem que eu sou português, algarvio e troquei uma vida de conforto à beira-ria pelo rebuliço duma metrópole desordenada e cruel. Custa-lhes perceber porque preferi uma vida incerta e desgastante à paz e sossego duma cidade onde há sempre tempo para tudo. Confesso que por vezes até eu tenho dúvidas e pergunto-me o que terá passado pela minha cabeça para preterir as coisas boas duma cidadezinha pacata em prol dum vespeiro em permanente convulsão. Não estava preparado para o choque dimensional que encontrei, uma coisa é sair do trabalho e chegar a casa em 7 minutos com tempo de responder aos mails antes de ir treinar e outra coisa é abala às 6:40 da matina regressando apenas às 20:00 (quando não é mais tarde). A pausa doméstica de almoço aligeira um pouco a carga horária mas vai moendo o juízo.

Felizmente ainda consigo surpreender-me e rir de mim próprio. Há dias conheci uma miúda que queria ajuda com o inglês e talvez iniciar-se com o português, uma conversa sem avacalhos e no profissionalismo possível quando se tem à nossa frente dois olhos cor-de-piscina lançando idéias, já pra não mencionar os lábios desenhando fantasias a cada palavra. Minimamente fiz o meu papel sem armar-me em campianito e fiquei contente por finalmente ter conseguido falar com uma (potencial) cliente sem pensar em incluir uma prova de hormonas no programa. A meio da conversa, a sua pergunta, voz macia e insinuante:


"E compensa-te trabalhar em Varsóvia, assim como professor de línguas? Há muita gente interessada no português? Eu conheço muita gente que estuda espanhol, mas português..."


Remato de primeira, um raciocínio impreparado, fala pausada de segurança e saber:


"Daria, Varsóvia é a capital do novo-riquismo como sabes. Para seres "de Varsóvia" precisas ter um Porsche Cayenne porque se não tiveres um carro desses... não és mesmo da malta, não é? Se tiveres um BMW X5 a coisa escapa mas nunca é o mesmo que um Porsche Cayenne. Assim é com o português e o espanhol. Se aprenderes espanhol, tá bem, pronto. Mas não é o mesmo que aprenderes português."

Ela riu-se em concordância com o meu exemplo, eu achei-me piada porque não disse peta nenhuma, combinámos café e os detalhes da colaboração. Hoje em dia é muito fashion aprender português e não me tem faltado trabalhinho. Pode ser que um dia possa ir buscar aos meus amigos a Okęcie num... Porsche Cayenne :)

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Bebidas do Leste

Uma das recordações que trouxe de Praga foi uma garrafa de Absinto a pedido do Glenn. Segurei a tentação de despachar o biberão sozinho em minha casa e combinámos desbastar o produto na casa dele, juntamente com umas garrafas de tinto vindas expressamente de Sófia, Bulgária, aquando da viagem do colega americano aquele país sensivelmente na mesma altura em que eu e os meus colegas "profes" calcorreávamos a linda capital checa.

Segundo manda a sapatilha, preparámos o arraial e beberricámos alegremente metade da garrafinha, tranquilos e alegres. Como éramos 5 cabeças em torno da garrafa não bebemos o suficiente para vermos a fada verde, mesmo assim houve quem ficásse ligeiramente entornado.

Aparte outras fotos de menor qualidade, ficam estas que testemunham o momento da preparação da bebida, com a promessa de que vai haver mais na excursão às montanhas do sul da Polónia pelos feriados de Maio. Vai ser de cair de cu!



o alquimista, preparando mais uma dose de poção mágica



as fêmeas depois de tomarem a poção. ganda despacho!

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Para variar

Não tem nada a ver com a Polónia mas sim com Praga, República Checa, cidade que visitei há pouco tempo.
Além de ser a cidade mais bonita que conheci tem esta loja de nome sugestivo, se não soubermos o que fazer à vida. A ordem é clara:

...para bingo. Ou melhor ainda, nada como umas férias na neve onde nos poderemos divertir num fabuloso:


Praga é ganda cidade!


ps - Cansei-me de teorizar sobre o meu desgraçado clube. Se já tinha imposto um embargo ao Sporting na minha casa, agora imponho-o neste blogue. Não tenho vida para chatear-me com essa cambada de cabrões, eles que se enterrem como bem entenderem que eu tenho mais que fazer. Olhos que não vêem, coração que não sente.

domingo, 20 de abril de 2008

À Sporting - parte II

"Mas atenção que isto foi um jogo bom numa época inteira má, não ganhámos nada. As pessoas responsáveis devem reflectir sobre o fracasso que tem sido o campeonato, as lacunas estruturais que a equipa tem e que são gritantes e não tomar este resultado como um êxito suficiente. O jogo com o Leiria é perigoso e a Final será apenas contra o FC Porto."

Parecia eu que adivinhava...


Bem-vindos de volta à Terra, sportinguistas. Queriam o quê, duas alegrias seguidas? Ai, que ingénuos!

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Espectáculo em Alvalade

A Iza hoje faz anos, mas o presente fui eu quem o recebeu.


Factos a reter desta ganda joga:

  • A notável combinação Di Maria - Rui Costa no 1º golo benfiquista, onde Miguel Veloso não acompanha o 10 encarnado. Mérito do laboratório da Luz;
  • Nova falha de Veloso no golo de Nuno Gomes, outra vez papado talvez por falta de concentração que já custou alguns dissabores à equipa este ano;
  • O trabalho de Vukcevic no golo de Djaló é enorme. Aquele nó ao Petit devia ser punido com cartão amarelo por humilhação ao adversário. Ainda por cima centrou com o pé cego!;
  • Liedson marcou novamente a Quim. Há pesadelos com o "Levezinho", acredito;
  • Derlei ressuscitou. Eu previa uma boa época do "Ninja" e tenho pena que ele estivésse ausente durante esta temporada. Em boas condições físicas é o par ideal para Liedson;
  • Grande golo do "Cebola", também com o pé cego. É claramente um jogador acima da média e teria lugar em qualquer plantel português. Talentos destes fazem falta à liga nacional.
  • Excelente Djaló no 4º golo do Sporting. Encarando Luisão como deve ser (pelo chão e em progressão), teve a sorte pelo seu lado. A tal sorte que só protege quem a procura;
  • Imperial Vukcevic! O seu golo merece figurar nos almanaques da especialidade. Técnica, abnegação, raça, sentimento, qualidade, força. Um leão dos Balcãs para manter a qualquer preço;
  • A cada vez mais evidente e irritante inutilidade de Romagnoli no plantel leonino;
  • O inqualificável, inenarrável, indescritível Nuno Luz no flash-interview;

Mas atenção que isto foi um jogo bom numa época inteira má, não ganhámos nada. As pessoas responsáveis devem reflectir sobre o fracasso que tem sido o campeonato, as lacunas estruturais que a equipa tem e que são gritantes e não tomar este resultado como um êxito suficiente. O jogo com o Leiria é perigoso e a Final será apenas contra o FC Porto.

Hoje vou saborear este raro momento de alegria que o meu clube me proporcionou e, excepcionalmente, rir-me das desgraças alheias.


ps - E já agora... Filho da puta és tu, ó Nuno Gomes!!!

segunda-feira, 14 de abril de 2008

(P)essa é boa...

Hoje acordei com uma anormal disposição para o trabalho, algo que vai totalmente contra a minha natureza desde que me conhecço como gente. Como de costume, às 6:00 de Varsóvia, (5:00 em Portugal, no Algarve e "na Madeira, menos uma hora nos Açores" como dizem na telefonia) o meu implacável alarme fez o especial favor de começar o meu dia a toque de Tina Turner. Já o sol era adulto na Polónia e invadia o apartamento tomando cada móvel como seu trono, eu desligo o alarme em definitivo em vez de rebolar mais 10 minutos na cama e pulo directamente em direcção da cozinha para o pequeno-almoço. Entre duas dentadas numa sandes de paté, vou a medo à janela para medir a densidade da habitual neblina que embacia a paisagem matinal e surpreendo-me quando verifico que a visibilidade é superior a 50 metros, passando bem até dos 500 metros. O céu está finalmente em tons de azul, o mercúrio bate nos 12º, hoje já posso sair à rua sem camisola interior e até dá para caprichar no visual usando os Ray-Ban da moda. A Primavera chegou mesmo a Varsóvia.

Com uma agradável música pop polaca no leitor de mp3, vou saltitante para a estação do metro onde espera-me a inevitável batalha para um lugar de proa no ataque às carruagens. Deixo os gnus cornearem por uma miséria de segundos e ocupo o meu quadradinho tranquilo pois ainda tenho um eléctrico ou dois para apanhar enquanto o carro não regressa da Silésia. Já há muito tempo que apaguei a palavra stress do meu dicionário e nem dou hipótese a que seja afectado por situações causadoras dessa "modernice", daí que vou descansadinho entre uma manada de polacos arfantes, um descontraído algarvéu de fones curtindo a paisagem urbana do Leste Europeu causando admiração nos passageiros ultrajados pela incómoda demonstração pública de calma. Na última estação o tempo pareceu estar mais cinzento mas bastou-me atirar um olhar reprovador para o céu que o sol desculpou-se imediatamente, estendendo-me cumprimentos na forma dos seus raios. Desculpas aceites, vamos trabalhar.

Em inglês entendo-me durante a manhã, com empresários e funcionários debato actualidades e projecções futuras. Tento convencê-los que a Polónia vai mesmo conseguir organizar o Euro 2012, que vai construir a 2ª linha do Metro a tempo do torneio, que vai mesmo modernizar as jurássicas estradas. "Bolas, nós somos Portugal, o país menos desenvolvido dos desenvolvidos e conseguimos sozinhos! Vocês não conseguirão porquê?". Eles respondem: "Porque nós somos muito mesquinhos". Portugal e Polónia, tão distantes e tão parecidos. Terminei a cruzada quixotesca contra o cepticismo desta gente. Se eu também ponho imensas reticências sobre a capacidade dos polacos e (pior!) ucranianos montarem um certame da dimensão dum Euro de bola, porque cargas de diabos hei-de convencê-los que irão ser felizes para sempre? Voltei a casa debaixo dum sol novo e preparei o meu almocinho como mandam os meus cânones.

Estou contente porque está calor e vão brotando florzinhas nos ramos secos das árvores, quer dizer que daqui por umas semanas terei sebes verdejantes a esconderem os casebres velhos e abandonados que ladeiam o meu caminho para o Metro. É bom ver as garotas com menos trapos e mais atrevimento, o humor muda para melhor e como hoje é terça vou ter o meu grupo de alunos do 4º semestre. Eles arranjam sempre perguntas do arco-da-velha sobre a imagem que o nosso país tem do deles e divertimo-nos alguns minutos a comparar opiniões antes de entrarmos no trabalho a sério. Há pelo menos duas meninas muito imaginativas que tentam sempre entalar-me com perguntas traiçoeiras sobre os defeitos de ser português mas, felizmente, em 20 anos de futebol consegui aprimorar o golpe de rins e tenho defendido os remates mas traiçoeiros das minhas queridas e lindas alunas. Sereno e confiante, tomo o meu lugar de "lektor" na sala e preparo o sorriso magnânimo para as metralhadoras de olho azul. A Maria pergunta-me:

"Ó Nuno, é verdade que todos os latinos são infiéis?"

domingo, 13 de abril de 2008

Cine Polónia

Acabei de vir do cinema. Visitei uma sala do complexo construído no PKiN e fiquei impressionado com a beleza arquitectónica do espaço interior lembrando o Alcântara-Mar ou o Alabastro pela escolha dos materiais e pela criação lounge da sua sala de espera, resultando numa muito agradável combinação do conceito moderno de design de interiores com as austeras e imponentes linhas socialistas. Por muitos defeitos que se possam pôr nos antigos dirigentes soviéticos não se lhes podem atribuir falta de gosto e funcionalidade na sua arquitectura, o Kinoteka é um espaço fantástico que surpreende qualquer visitante. O filme foi muito fixe, por cá chamam-lhe "Nieuchwytny" e penso que em Portugal será "Indetectável" porque essa é a tradução literal da palavra em polaco. E que bom que é voltar a ver um filme sem o chato do narrador polaco por trás a ler as falas...

É mesmo assim. Por cá, todas as séries e filmes estrangeiros têm as suas falas traduzidas em polaco por um narrador. Atenção, não é uma dobragem como em Espanha (que já de si é aborrecido) mas uma simples leitura (sem qualquer emoção) dos diálogos em polaco. No CSI Miami, por exemplo, há uma voz que lê as vozes do Horatio... e as da Calleigh e as do Tim e todas as restantes. É brutal escutar uma voz monocórdica a narrar uma perseguição de automóveis ou a descoberta dum cadáver, como se ouvíssemos Xanana Gusmão a relatar futebol ou Pinto da Costa a apresentar um leilão.

No cinema felizmente não é assim, é tudo legendado em polaco para não se perder o realismo da acção e em bom inglês de Hollywood para minha felicidade. Em conversa com os meus alunos percebi que muitos não gostam de legendas nem de dobragens com vozes diferentes. A maioria é adepta do "lektor" e fundamentam-se com a economia de tempo que se faz ao ouvir o narrador em vez de perder o fio à meada lendo as legendas. É discutível, como tudo na vida, mas ninguém me convence que não é ridículo ouvir a mesma voz masculina a "ler" as falas do Hugh Grant e da Renée Zellweger. A solução é afinar o tímpano para decifrar o inglês por trás do polaco e esperar que a moda não cole em Portugal. Imaginam o Al Pacino com a mesma voz da Scarlett Johansson?

sábado, 12 de abril de 2008

À Sporting


adeptos escoceses celebram a vitória do Rangers em Alvalade

E assim (des)anda a minha equipa (?)

quarta-feira, 9 de abril de 2008

1 + 1 = 2

- Sabendo como as polacas são (lindas, fogosas, etc.)
- Sabendo como os polacos são (feios, desinteressados, etc.);
Esta imagem colhida em Varsóvia não surpreende ninguém.




créditos da foto devidos ao Sultão Mário Machado

Pista: O senhor de azul à esquerda da fotografia .

segunda-feira, 7 de abril de 2008

O papa e os papistas

Passou-se recentemente mais um aniversário da morte do polaco mais célebre da História: Karol Wojtyła, o papa João Paulo II. A Polónia saíu à rua para homenagear o seu filho mais querido, visto como um santo e fonte de inspiração para um país que tenta impacientemente ganhar qualidade de vida. O Santo Padre foi durante muito tempo o escape espiritual dum povo oprimido e que via na sua imagem a esperança em dias melhores.

João Paulo II desempenhou um papel importante na abolição do socialismo da Polónia embora pouca gente o saiba na Europa Ocidental. Ele manteve encontros secretos com Lech Wałęsa, enquanto este desenhava a queda do regime, até à recepção oficial no Vaticano em Janeiro de 81 onde assumiu publicamente o apoio ao movimento sindicalista de Gdańsk. Ainda cardeal em Cracóvia, João Paulo II celebrou uma missa de Natal dum terreno baldio onde supostamente tinha de ser construída uma igreja, obra embargada pelo soturno chefe de estado Jaruzelski. O então cardeal Wojtyła não facilitou e orou numa gélida noite de Dezembro acompanhado de centenas de fiéis enregelados mas firmes na demonstração da sua fé, talvez a única forma de contestação que poderiam ter na altura.

O papa pode ser uma das justificações para a Polónia ser o país mais católico (e praticante) deste lado da Europa mas a contestação ao peso da religião na sociedade polaca começa a ser bem visível um pouco por todo o lado. O anterior primeiro-ministro Jarosław Kaczyński conseguiu ser eleito devido a um pacto com a Radio Maria, a emissora católica polaca, e com o seu coordenador, um padre conceituado no país, senhor duma enfática oratória de propaganda que levou as classes mais humildes a seguirem os seus conselhos e a elegerem o primeiro-ministro mais detestado da democracia polaca. A Igreja Católica é vista como responsável pela chacota que a Polónia levava dos seus parceiros europeus sempre que o seu primeiro-ministro abria a boca, para não falar do insólito de ter dois irmãos gémeos ocupando as cadeiras mais importantes da Nação.

O próprio João Paulo II não está imune a suspeições e controvérsia, pairando sobre ele uma eventual conivência em relação ao alegado assassinato do seu predecessor João Paulo I, falecido em circunstâncias nunca convincentemente explicadas. No entanto a sua figura é inquestionavelmente um ícone da Polónia e a devoção do seu povo à sua imagem é constante, como fica aqui bem patente nestas imagens colhidas em Varsóvia aquando do aniversário da sua morte.
PS - Um beijinho para as minhas colegas da Academia. Não é todos os dias que descobrem uma "celebridade" no metro q:D

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Varsóvia, a Terrível

bandeira da Cidade de Varsóvia

Muito se passa no mundo no dia 1 de Abril. Desde o clássico Dia das Mentiras, de cujas práticas sou adepto (uma vez até pus a minha mãe a chorar de tão convincente mentira), até ao 98º aniversário do mais antigo clube algarvio: o meu Sporting Clube Farense.

O Primeiro de Abril na Polónia não tem muita tradição, talvez pelo facto dos polacos não serem um povo descontraído e dado a travessuras. Eu espalhei uma peta nos meus meandros e quando a revelei fui presenteado com a indiferença própria de quem não liga a estas patetices. Foi o suficiente para iniciar uma reflexão sobre a minha postura e futuro nestas terras.

A língua é complicada, o clima é desagradável, a cidade é feia, as pessoas difíceis, as infraestruturas deficientes, o trabalho exigente, o horário é tirânico, a localização é longínqua e mais situações poderia enumerar. Todas são ponderadas em cada dia que começo, madrugada em Faro, bem como no final do dia de trabalho quando muitos portugueses já se sentam à mesa para o jantar. Avalio o peso da mudança de hábitos e a ausência de gestos familiares, procurando encontrar motivos para permanecer numa terra esquecida pelo civismo e simpatia. O travesseiro sossega um espírito em permanente viagem entre Faro e Varsóvia, perdido entre a peitada de Verão na Praia de Faro e as festas de fim de curso na Polónia. A Razão despacha palpites sobre as perspectivas de dias iguais ou de desafios permanentes. O espelho tenta explicar-me os motivos pelos quais emigrei e conta-me estórias de planos ambiciosos guardados numa gaveta algarvia que nunca viram outro sol que não o polaco. Deito um olhar pela janela e tenho edifícios em obras em vez de areia e mar. Não é fácil viver balançando entre dois mundos tão diferentes.

Curiosamente, o que me desagrada em Varsóvia é precisamente o que me fascina. Toda esta envolvência lúgubre é interessante e constitui um desafio impossível de recusar, as provações que a cidade me oferece diariamente dão-me força para triunfar e as dificuldades são obstáculos criados para fazer-me mais capaz. Varsóvia é uma cidade muito competitiva onde todos os segundos contam e todos os centímetros são preciosos. Vindo eu duma cidadezinha pacata, solarenga e gostosa como é Faro, a idéia de triunfar nestas paragens é assustadora e difícil de ter como possível. Mas a minha avó dizia que eu sou muito torto - teimoso em algarvio - e ela tem toda a razão: Quando encorno com uma idéia, mesmo que me mostrem todas as suas desvantagens eu sigo o meu instinto até ao fim. É isso mesmo que farei neste país e, pior, nesta cidade.

Varsóvia não há de ser mais torta que eu, ainda tem de comer muito pão!

Postais da Polónia - 3



Esta é uma das vistas que tenho a partir duma das salas do meu emprego, a estação dos Correios na esquina. Eram quase 20:00.




Análise das condições climatéricas in loco para perceber se aquele nevão não era produto da minha imaginação.



Do outro lado da rua mais do mesmo. E foi assim durante uma hora, a falta de equipamento fotográfico apropriado impediu-me de registar as imagens do lençol de neve que tapou Varsóvia nos primeiros dias da nova estação. Que estranho conceito de Primavera, este.


Se aqui em Varsóvia está este briol todo, imagino como estará em Loulé...