domingo, 24 de janeiro de 2010

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O que é que a gente tá aqui fazendo? - 6

Ursynów Ouço uns ruídos secos ao longe, incomodam e crescem cada vez mais até se tornarem insuportáveis e fazerem-me abrir os olhos. Atarantado, rodo a cabeça para saber que horas são: 7:15. “Raios me partam, mas quem será faz obras em casa a estas horas da manhã?” Não consigo abafar o barulho das marteladas nem com os dois travesseiros que uso e à falta de melhor remédio levanto-me da cama. Primeiro gesto, ligar o PC. Segundo gesto, necessidades fisiológicas.

Confiro os e-mails, atualizo-me com os jornais portugueses e polacos procurando saber de que quadrante sopram ventos melhores. Parece que aqui o povo gosta do seu primeiro-ministro e até votaria nele para as presidenciais deste ano, duvido que tal aconteça com o nosso chefe de Governo (alguém escreveu que a voz do povo é a voz da Razão). Vou atéVerão em Wawa à bancada da cozinha preparar o pequeno-almoço e vejo que me esqueci de comprar pão pela 4ª vez esta semana, não me está a apetecer comer torradas de pão velho e abro o frigorífico para ver o que se pode inventar como desjejum. Uma caixa da Telepizza recorda-me a carbonara de anteontem, as fatias ainda estão com bom aspeto e desaparecem empurradas pelo café com leite frio. Lá fora, a neve. Sempre a neve que insiste em pingar como a tortura chinesa que nos testa os limites da paciência, o termómetro do computador acusa -10ºC que parecem –15 com o vento que surpreendentemente começou a bufar há 3 ou 4 dias.

medonho Como algarvio que sou não gosto de vestir muita roupa, até cá em casa durmo de tronco nu, aborrece-me chegar a um sítio e ter de tirar camadas tipo cebola, por isso prefiro sofrer um bocado de frio do que ter de andar na rua com se fosse o boneco da Michelin e arranjei maneira de sair de casa apenas de t-shirt e um casaco (quase um saco-cama), assim o frio não penetra e não tenho os trabalhos do costume ao chegar à escola. Saio de casa orgulhoso da minha resistência ao frio polar mas o clima continental resolve mostrar que não está para brincadeiras e esbofeteia-me com uma brisa gelada que nunca tinha sentido, a espera no semáforo torna-se complicada e os pés inquietam-se porque não gostam de estar muito tempo em cima da neve. No metro está-se melhor e ao entrar no edifício da escola sinto o degelo, a circulação do sangue restabelece-se no rosto e nas extremidades dos membros, o nariz já não goteja, os músculos da face já se mexem de novo. É primavera dentro de portas, benditos engenheiros civis polacos!

Ainda estamos em Janeiro, ainda temos mais 2 meses de inverno pela frente e ainda me aparecem notícias destas como se não bastasse. Digam-me sinceramente, e se souberem, a resposta à pergunta que dá título a este artigo.

PS – Mais triste do que ter acontecido o que aconteceu no balneário de Alvalade foi ter passado para o conhecimento público o que aconteceu no balneário de Alvalade. Isso é que é triste, ter um balneário com paredes de papel, uma equipa com cabeças de cristal e uma direção com pés de barro…

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Tu sabes que estás velho quando…

… mostras uma imagem de Mikhail Gorbachev aos teus alunos e ninguém o consegue reconhecer.

Foi assim há tanto tempo?

domingo, 17 de janeiro de 2010

Assim não…

Estou num lounge do aeroporto da Portela à espera da ligação Lisboa – Varsóvia depois de ter apanhado um outro avião desde Faro. À espera também do John, meu brother de Varsóvia que também voará comigo, e de algumas visitas que me irão ajudar a passar o tempo. Em visita a blogue amigo, encontro este artigo, esta notícia, este “acontecência

Pela amostra publicada não me apanharão lá nem que seja à borla. Vou é já fazendo figas para que a Joana Amaral Dias se lembre de fazer o mesmo.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Recordar é Viver – Obrigado, Tio

Há quem tenha pai, há quem tenha apenas progenitor.

Dois homens, um nos 20 anos e outro nos 70, e duas mulheres, uma nos 40 e outra nos 60, meteram-se dentro do carro e saíram de Faro a caminho de Famalicão. Chegaram muito tarde mas a tempo de irem a uma tasquinha petiscar rojões acompanhados de algumas malgas de vinho verde, tudo por sugestão do homem mais velho. O rapaz mais novo, que tinha feito os 700 e tal km de seguida, ficou-se pela primeira malga de vinho e foi incapaz de beber mais apesar do homem mais velho insistir. Foram dormir, todos bem comidos e bem bebidos.

 

Na manhã seguinte bem cedinho, o homem mais velho bate à porta do rapaz mais novo que ainda arrotava a alho e a vinho. “Vamos, tá a levantar que hoje temos muitos quilómetros para fazer!”. A contragosto o rapaz mais novo enfiou-se debaixo do duche e lavou a ressaca enquanto no hall do hotel o homem mais velho lia jornais para matar o tempo e a impaciência, mais fino que o azeite apesar de ter consumido alguns três tupperwares de vinho verde na noite passada. “Até que enfim que chegaste! – Disse ele – Hoje vamos comer lampreia a Monção”. O rapaz mais novo sentou-se ao volante do Mercedes e começa os primeiros quilómetros do percurso por intuição, tateando os comandos do automóvel e lutando contra o torpor do vinho da noite anterior.

A terra de Deu-La-Deu proporcionou-lhes uma excelente Lampreia à Bordalesa, iguaria que só alguns apreciam, mais uma vez bem regada com Alvarinho local de trás da orelha. Após o repasto, Melgaço e a curiosidade de ir até S. Gregório, a localidade mais setentrional de Portugal uma vez que todo aquele carro era da cidade mais meridional do país. Em S. Gregório surgiu a ordem para parar a meio-caminho, onde nada havia senão um punhado de casas atiradas contra a encosta dum monte. Numa dessas casas o homem mais velho entrou, sentou-se e ordenou malgas de vinho verde para a sua tropa, um vinho forte, doce, viciante e perigoso para quem conduz. O rapaz não conseguiu terminar a sua porção, cedeu-a à mulher mais nova enquanto o homem mais velho ria da sua fraqueza e pedia mais vinho. Regresso a Famalicão ao fim da tarde e à noite mais uma incursão por casas sinistras de portas altas e abertas só para quem soubesse a senha mas onde o homem velho entrava com facilidade, acomodava-se e iniciava mais um assalto, doses e mais doses daquele delicioso vinho minhoto que suavemente embriagava os dois enquanto empurrava pequenos nacos de carne de porco frita. Malgas onde muitos comem sopa eram trazidas para a mesa, malgas onde o vinho não cabia e se entornava, malgas que giravam a velocidade estonteante. “Saber como é para contar como foi”.

De manhã, ainda mais cedo do que na manhã anterior, outra vez o punho na porta, o aviso de que era tarde, a ressaca gigante, o volante tirano, o riso do homem velho sentado nos sofás do hotel, fresco como um pero, como se tivesse dormido numa incubadora de Guronsan. “Alvorada! Vamos a Mirandela, temos lá uma posta de carne barrosã à nossa espera.” Foi um festim, um bife com três dedos de altura e o vinho divinal que rematava a refeição. A seguir Torre de Moncorvo, Guarda, Castelo Branco para pernoitar, Portalegre, descendo por Évora, Beja, Mértola, Odeleite porque ainda havia tempo para correr o Guadiana, e por fim o Algarve. 1000 e tal km em 4 dias. O homem mais velho sempre fresco, o rapaz mais novo todo cozido.

Este é apenas um episódio dos muitos vividos por mim junto com o meu tio (neste caso mais a minha mãe e a minha tia), um homem com uma incrível capacidade de amar e dar das suas coisas aos seus. Recordo a viagem a Nápoles para ver o Sporting jogar contra Maradona onde sem falar italiano ele conseguiu descobrir uma farmácia e trazer-me os remédios necessários para combater a constipação que lá apanhei, os passeios no Ludo onde ele me ensinou a usar um relógio de pulso como bússola, o meu primero carro que ele me vendeu a preço de sobrinho, o barco a remos onde ele me punha e que me levava à outra margem da Ria para apanharmos lingueirão. A minha gente conhece a relação que tinha com o meu tio João, as lições de vida que aprendi com ele e o inestimável apoio que sempre me prestou. Agora que ele parte, ainda não sei como reagir mas não me apetece chorar. Apetece-me, se calhar, sentar-me à mesa dele na praia e partir um queijinho de Azeitão, abrir aquele Barca Velha de 1985 que lhe ofereci num aniversário e falar do Sporting, de farmácia, de comida, do Farense, de todas aquelas coisas boas que nós tínhamos em comum e que lhe sabia bem discutir. Se ele nunca causou tristeza aos outros, se ele nunca reprovou os outros, se ele nunca prejudicou ou outros sinto que não me devo sentir triste por ele mas celebrá-lo, homenageá-lo e erguer a minha taça à sua memória, um ser humano do tamanho do mundo que me irá fazer falta como a roupa que vestimos todos os dias. Outro terço da minha família que perdi, a rede do trapezista que se foi.

Tio, bem sei que tinhas o Caracol, o Brito, o tio Jorge Oliveira, o Balela, o Vasquinho, o Joinha e toda essa tropa à tua espera. Bem sei que todos os caçadores, pescadores e outros mentirosos estavam à tua espera. Bem sei que os teus irmãos também estavam à tua espera. Mas… estavas assim com tanta pressa?

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Queriatividade

Será só a mim que o mais recente êxito da mais recente boys-band portuguesa soa a um tema que já tem mais de 30 anos?

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Warszawa - 2010

Quando eu era menino, no longínquo ano de 1979 (há 31 anos atrás, calculem. Metade dos leitores nem eram nascidos, não há um gajo de estar velho), surgiu em casa um calendário da Exaktor, uma antiga fábrica de lâmpadas que tinha um armazém no Patacão. Esse calendário tinha os meses todos de todos os anos até 2000 e eu lembro-me de ter pensado: “Caramba, o ano 2000… Vou ter 27 anos nessa altura, será que andaremos de nave espacial como andamos de autocarro agora?” Lembro-me também de ter desejado que os meus avós e tios vivessem o suficiente para assistir ao vivo a essa evolução, a toda a modernidade que o mundo iria sofrer, para que eles também pudessem andar de nave espacial, ir à praça ou à praia nesses transportes públicos aéreos do futuro. Veio o ano 2000 e nada disso aconteceu, tanto os meus avós (que entretanto partiram) como os meus tios andavam por cá e a única coisa bizarra a que todos testemunharam foi o Sporting ter ganho o campeonato ao fim de 18 anos a soro. Não era um OVNI mas não andou muito longe.

2000 transformou-se em 2010 e continuam a não haver naves espaciais até à praia conquanto a ponte dos barcos voltasse a receber carreiras (sem o Gavião nem o Alegria mas com descendentes que honram a sua história) e já hajam Minibuses até à Penha e ao Forum. O dito calendário já se deve ter transformado em matéria orgânica algures no aterro da Cortelha e os 27 anos passaram a 36. Lembrei-me deste calendário nesta passagem de ano porque 2010 é uma data redonda e porque gosto mais dos anos pares, não porque tenha desatado a fazer resoluções de Ano Novo. Disso já me deixei há muito tempo porque por mais planos que eu trace para  minha vida acabo sempre por seguir os planos que a minha vida traçou para mim, assim que bebo mais uma à saúde dos meus que cá estão e dos que já partiram e olham por mim.

2010 é uma data que me faz pensar nessa criança que olhava estarrecida para o calendário, como foi um pulinho de 1979 a 2010! Como voou o tempo, como passaram as fases e se transpuseram etapas! Como é possível que já tenha feito 20 anos desde que eu, o Fábio e o Artur celebrámos um aniversário meu no Chalavar?! Que jeitos eu ter tirado a carta de condução há 15 anos?! Quando é que o tempo passou, porque não me avisaram? Porque não me disseram que eu ia entrar no último ano desta década na distante Mazúria, numa província estrangeira? Eu comecei esta década na Praia de Faro, uma grandessíssima bebedeira a ouvir o Mano Zuca recitar poemas eróticos e a malta toda a partir-se a rir, mergulhámos todos nus na Ria quando deu a meia-noite e o gajo não largava o charuto, parecia o Camões agarrado ao “Os Lusíadas”. Já se passaram 10 anos? Não pode ser!

Nunca, nunca por nunca eu imaginei entrar em 2010 na Polónia numa extraordinária festa de fim de ano entre polacos e uma amigona do peito que fez o favor de vir expressamente de Lisboa partilhar este momento comigo. Nunca por nunca pensei em entrar em 2010 ao lado da Ewa, rapariga extraordinária que tive a sorte de encontrar quando menos fazia por isso (sim, é verdade. A sacana dobrou-me). Nunca por nunca achei possível chorar ao ouvir a Marcha do Sporting que o Giga, o Toni e o Cartaxo puseram a tocar quando me ligaram nesta passagem de ano a desejar um feliz ano novo. Nunca por nunca projetei o que me está a acontecer agora.

É nisto, penso eu, que consiste a beleza da Vida – andar por caminhos que jamais havia desenhado, falar idiomas que jamais havia estudado, morar em lugares que jamais havia visto, comer iguarias que jamais havia ouvido falar, usar roupas que jamais havia vestido. De 1979 até 2000 não custou a passar o tempo, de 2000 a 2010 foi um tiro. Em 1979 eu não imaginava como iria estar em 2000 e em 2000 muito menos pensava que estaria a viver na Polónia em 2010. Ah, que ansiedade em saber como vai ser em 2020!

Feliz ano novo para todos os leitores. Saúde e sorte q:)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010