terça-feira, 31 de agosto de 2010

Retalhos da vida de um Algarvio - 13

Natolin de manhãHoje foi dia de bricolage dedicado à montagem de dois itens fundamentais ao melhoramento da qualidade de vida de um emigrante, duas peças de mobiliário que fazem a diferença entre o prazer e o sacrifício mas que são extremamente simples e fazem parte do mais comum lar português: Uma escrivaninha para assentar o PC e parafernália afim e uma cadeira de escritório para que o chassis humano fique confortavelmente instalado enquanto trabalho no computador, coisa que faço com regularidade e largas horas por dia. Estes dois elementos faltaram durante os 2 anos em que habito neste apartamento do sul de Varsóvia e a felicidade que a senhora cadeira que comprei me confere só é comparável com a que o Sporting me deu há minutos por ganhar um jogo sem contestação, coisa que eu não via há muitas luas.

Agora sim, posso escrever com mais comodidade e gozando do bónus de estar ao nível da janela por onde assisto de camarote ao filme que a cidade e as pessoas protagonizam sobre a vida varsoviana, vida diferente da minha por deliberada opção traduzida no finca-pé que faço todos os dias ao recusar alinhar no rebanho triste dos empregos mecânicos apesar das constantes seduções. A minha casa é pouco polaca, não tenho TV polaca porque tenho a TV Cabo portuguesa (Sport TV inclusive) por satélite e por isso tenho o privilégio de gozar os jogos da liga portuguesa na companhia, como por exemplo esta noite, dum Brandymel on the rocks, pequenos nadas conjugados com sabores algarvios que auxiliam a vida dum filho de Faro no estrangeiro. Também não tenho conservas envinagradas no frigorífico porque tenho um tachinho com o resto dos griséus com ovos que fiz no domingo, prato que não figura em nenhum compêndio de gastronomia polaca mas que me recorda as pratadas maternas da infância – mais Algarve, houvesse na Polónia o chouriço português para que o paladar fosse o mesmo de casa.

Nestes dias apetece-me rir à toa mesmo sendo segunda-feira, o trabalho ainda não me espreme a paciência e o clima mantém-se aceitável com Praia by night temperaturas na ordem dos 20º apesar das neblinas matinais. Olhando em redor satisfeito com o resultado dos meus lavores e cheirando ainda o tratamento de óleo de cedro que apliquei na mobília, ouvindo os latidos dos comentadores do “Dia Seguinte” que opinam alto e desregradamente sobre o castigo a Carlos Queiroz ainda consigo ver uma estrela tímida a furar as nuvens e a espreitar curiosa a minha sala de estar, talvez interessada em saber porque tanto sorri este algarvéu quando muitos dos amigos dele estão ainda a banhos de mar e de minis.

PS – Sinceramente, sinto falta do Cervan. O “gajo” que o substitui é um javardo qualquer que só sabe provocar acintosamente os oponentes e que quando tem de comentar só sabe espingardar à parva. Volta Sílvio que estás perdoado.

sábado, 28 de agosto de 2010

Férias – O Regresso

PortaroQuanto à viagem de regresso diga-se que foi um cruzeiro permanente em autoestradas das quais talvez pouco haja a dizer mas que começou com um sinal interessante. Um Portaro, símbolo da vigorosa indústria automóvel portuguesa dos anos 70 e 80, passava por mim como um postal de boa-viagem. Recordo com mais receio o irregular troço da A-66 espanhola junto a Salamanca, quando passei o volante pela primeira vez depois de ter conduzido 700km desde Faro, e a assustadora A-8 que sai de Bilbao, contorna San Sebastian e acaba na fronteira com a França. Estes quase 120km fi-los eu ao volante porque já conheço a estrada desde a minha primeira viagem rodoviária entre Portugal e Polónia e sei que não é uma estrada fácil, tem muitas curvas apertadas devido aos acidentes naturais e à elevada densidade urbanística e muitos declives que exigem uma condução mais atenta e experiente. Não desfazendo as minhas ajudantes, a Ewa e as duas amigas que a acompanharam nestas férias de verão, a verdade é que eu era o único elemento dentro daquele carro que já tinha guiado um automóvel de mudanças automáticas. Além disso elas fizeram questão de não parar pelo caminho para descansarmos, fizemos a Espanha toda num tiro só e eu não queria arriscar um milímetro daquela estrada em mãos hesitantes. O lado positivo é que as estradas espanholas mantêm-nos despertos precisamente devido à sua sinuosidade, são grátis – o que representa uma vergonha tamanho da Ibéria para os governantes portugueses que queres despudoradamente roubar o contribuinte até à medula com a introdução de portagens nas SCUTs – até ao País Basco e têm áreas de serviço com (provavelmente) o combustível mais barato da Europa – outra vergonha para Portugal.

A França é chata, chata nas estradas como no futebol, como no idioma, nas pessoas, em tudo. Um país plano de estradas caras e gasóleo não menos caro. Engarrafamentos brutais nas zonas de Poitiers, Tours e Orléans que me fizeram anuir ao pedido das meninas para pararmos em Paris e visitar os locais da praxe: A Torre Eiffel, a Praça Trocadéro, o Arco do Triunfo e um lanche nos Campos Elíseos até descermos para o Rio Sena onde tínhamos estacionado. Daí outro esticão até à Bélgica, outro país chatinho mas que por ser curto não incomoda muito, fizeram-se rapidamente os 190km belgas ao largo de Mons e Liége e não se deu por isso quando entrámos na Alemanha.

Aqui sim, conduzir é um prazer porque as estradas devem ser as melhores da Europa e porque não há limites de velocidade exceto nas zonas assinaladas. Senti isso na pele porque levei com uma intensa luz vermelha na cara ao circular num desvio criado pelas obras naSNC00102 autoestrada cujo limite era 80km/h, lembro-me de ter olhado para o velocímetro e ter visto 84km/h, espero não ter nada à minha espera no correio nas férias de Natal :) Mas seguimos  serenos e decididos passando por Colónia, Wuppertal, Hannover, Magdeburg, Berlim até vermos a placa com o nome da terra desejada, Matka Polska. Surpresa causada pela fabulosa A2 polaca que promete ligar a fronteira polaco-alemã com a da Bielorrúsia, um excelente percurso até perto de Varsóvia e a chegada a casa com uma imagem característica, a dos bazares urbanos tão típicos das cidades polacas. O final duma viagem extenuante mas que vale pelas mudanças de paisagens e cores a que vamos assistindo no percurso.

Da praia ao bazarek em 40 horas, 30 delas passadas ao volante, coisa que não vou repetir tão cedo porque já não tenho vida para passar tanto tempo amarrotado dentro dum automóvel. Agora é altura de voltar a abrir o Excel, lavar a roupa, preparar o saco do portátil e atirar-me a Varsóvia que deve ter preparado um menu especial para mim nesta época de outono-inverno. Sim, ou vocês julgam que o fim de agosto na Polónia é igual ao do Algarve?

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Um post para o qual não consigo arranjar título

Ele há coisas que só acontecem em Varsóvia!

A infame Estação Central está finalmente a ser objeto de obras de renovação, obras que não vão resolver os problemas estruturais do edifício mas que servirão para aguentar as pontas até à inevitável demolição. Seja como for, obras naquela casa são mais que bem-vindas e o átrio da Estação tem a sua área reduzida a metade devido à presença de grandes telas que tapam as obras dos olhos curiosos, obras essas que se estenderam até ao subsolo da estação onde há alguns pisos subterrâneos que contém galerias constituídas para se albergarem materiais de manutenção e de intervenção em caso de avarias. Algumas dessas galerias não são visitadas pelos responsáveis da Estação há anos, concretamente a galeria do piso –2 onde foi efetuada uma descoberta que quase qualifico de macabra.

 

Uma dessas galerias encontrava-se abandonada há décadas e foi visitada (ou talvez achada) pelos trabalhadores, porta deitada abaixo e descobriu-se uma quantidade razoável de carne armazenada em condições que facilmente atentam à saúde pública. O desconhecimento da situação por parte dos gestores da Estação Central levou a um inquérito que concluiu que essa carne era propriedade de um turco e servia para abastecer  restaurantes e quiosques vendedores de kebab, petisco muito apreciado pelos varsovianos, por ser vendida a preço muito abaixo do praticado normalmente, o que não espanta devido à inexistência de regras de conservação do alimento. Jacek Przesluga, um porta-voz da PKP – a CP polaca – declarou que “uma enorme quantidade de carne de origem duvidosa foi cortada e guardada no referido espaço”. Como se este achado não fosse suficiente para chocar a opinião pública eis que se acrescenta o dado de que a dita galeria ser a “casa” dum número significativo de sem-abrigos que ali dormiam e “viviam”, pagando a estadia com o silêncio cúmplice sobre o caso da carne. Para rematar, a gordura retirada da carne era simplesmente atirada pelos canos de esgoto onde solidificava, apodrecia e empestava o ar com o cheiro característico e familiar a quem passa (ou já passou) pelos corredores da estação.

Não se sabe há quanto tempo aqueles sem-abrigo lá viviam nem há quanto tempo a carne imprópria para consumo andou a ser comercializada no mercado da Capital mas é quase inconcebível que situações destas aconteçam numa capital europeia em pleno século XXI porque algumas questões impõem-se: Como é que essas quantidades de carne eram transportadas em carrinhos em pleno edifício sem que ninguém desconfiasse? As câmaras de video-vigilância não registaram nada? A polícia e o SOK (Straż Ochrony Koleji – polícia ferroviária) não tinha conhecimento do caso ou fecharam os olhos? E se os fecharam, a troco de quê? Muita tinta irá correr e a opinião pública terá certamente mais dados no futuro próximo, estaremos atentos.

Verão Azul forever

Pego do Inferno De volta à Cidade Capital após uma viagem-kamikaze de 43 horas que descreverei proximamente, devo confessar que estas férias de verão foram tão boas ou melhores do que as do ano passado não sendo fácil ultrapassar a fasquia de relaxe e curtição que o Verão Azul de 2009 trouxe. De facto, este verão foi mais intenso em termos de festaria (Festival do Marisco, Peitada World Series, as Columbus Beach e Boat Party, Sudoeste, TVI, Aqua Moments, festa da espuma na Kadoc, III Concentração de Geleiras) do que o ano passado e até os meus amigos farenses se mostraram melhores dispostos do que em 2009, sinal duma possível recuperação de confiança em melhores dias.

Tenho sempre enormes problemas em mostrar o Algarve aos de fora porque, como já escrevi, o meu Algarve não é o das pulseiras fluorescentes acumuladas para se mostrar que vamos a todas as festas porque acho isso um exibicionismo bacoco de quem corre atrás do protagonismo à medida que derrete o dinheiro dos pais sem medida nem conta. Ainda assim fiz questão de mostrar parte do glamour algarvio através de visitas escolhidas ao Aqua do meu camarada Miguel e da Kadoc onde o Paulo fez a gentileza de me encaminhar para a porta VIP (por onde eu entrava quando era “sócio” da casa há 12 anos atrás) e desfrutar duma noite de espuma à borlix. Fiquei contente com isso mas mais contente fiquei com os bruás de espanto com que as minhas convidadas recebiam as praias que lhes mostrei – Farol, Odeceixe, Faro, Galé – uma reação que nenhuma festa de batom e gel despoletou.

E isto faz-me pensar, porque há quem pague balúrdios para se plantarem em resorts de luxo e gozarem sol e águas cristalinas quando temos isso tudo a exatos 20 minutos de barco a partir de Olhão ou da doca de Faro? Para quê correr meio mundo atrás de quedas de água e lagos naturais quando temos isso tudo a meia-hora de carro no Pego do Inferno?

O Algarve, o meu Algarve, é provavelmente a melhor zona turística doIlha do Farol mundo. Tem praia, serra, excelente gastronomia, vida noturna, áreas de completa paz e sossego, está suficientemente perto e longe de grandes cidades como Sevilha e Lisboa e não dista muito do tranquilo Alentejo. De volta à Cidade Capital ainda com as cores chocolate deste verão, sinto já alguma nostalgia por ter saído do meu berço solarengo e por ter deixado a maresia da Ria atrás de mim apesar de voltar a Faro daqui a um mês por motivos burocráticos.

Mas enfim, lá regressei e assim que entrei em Varsóvia fui logo beber uma cola na Plac Zbawiciela com o Mário porque o calor convidava e também para saber novidades. Bastou-me olhar em redor para ver que pouco mudou e que o verão polaco tem encantos próprios, encantos tamanhos como reza o fado. Saudades de Faro e também de Varsóvia, que bom que é poder viver o melhor de ambos os lados.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Pernacas (Pernas Polacas)

Mishonettes Uma das consequências da minha aparição no “Tardes da Júlia” da passada sexta-feira, além duma maré de cumprimentos pela minha prestação, foi o conhecimento que alguns portugueses tiveram das raparigas polacas através da presença da minha namorada e de duas amigas dela que acompanham-na nestas férias de verão. Houve quem tivesse salientado a forma constante como as pernocas das polacas foram destacadas pelo operador de câmara, coisa que não me espanta pois se repararmos no público que assistiu ao programa ao vivo constatamos que as três polaquinhas eram as únicas sub-50 presentes.

As ditas pernas polacas foram novidade para o cameraman mas não propriamente para mim porque alicates como aqueles têm sido Pernas Polacas I visionados por mim regularmente nos últimos dois anos quase três, passe o possível pretensiosismo. Na realidade, as pernas das raparigas polacas são um importante fator que pesa no momento de decidir se a permanência na Polónia é a curto, médio ou longo prazo. Embora o clima seja pouco amistoso (a definição húmido continental mete medo) e o idioma seja dos mais difíceis de aprender para um estrangeiro, a Polónia tem encantos que esgrimam forte com os seus defeitos e em muitos dos casos acabam por triunfar sobre as más impressões do país.

Pernas Polacas II Li algures que se prepara uma candidatura portuguesa do Fado para Património Cultural junto da Unesco, eu lanço desde este humilde palanque a ideia que se proponham as Pernas Femininas Polacas como Património Genético e, para acentuar o caráter altruísta da ação, nem aspiro a ser júri de tal causa. Tenho certeza que angariarei muitos apoiantes desta proposta por este planeta fora…

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

MishanaTVI – ao vivo e a cores

Marszałkowska Amanhã, sexta-feira, vou ser um dos convidados do programa da TVI “As Tardes da Júlia”. O convite partiu do interesse que a redação do programa teve em fazer uma edição dedicada à geração de novos emigrantes que partiu para trabalhar fora de Portugal, querem conhecer as suas histórias e experiências sendo que a vida dos portugueses na Polónia – a minha em particular depois do Ricardo não ter podido dar o sim à estação portuguesa - aparentemente tem interesse suficiente para ser divulgada ao público da TVI.

Não sei que perguntas me vão fazer mas imagino que sejam baseadas nas diferenças entre Portugal e Polónia, dois países que delimitam o Espaço Schengen e as fronteiras da União Europeia a ocidente e oriente, povos e nações com um percurso absolutamente distinto na HistóriaMariscada portuguesa mundial. Também não estudei minimamente o discurso porque não quero que as minhas respostas soem a previamente estudadas mas quero fundamentalmente aqui avisar que as minhas opiniões são estritamente pessoais fundamentadas nas observações que tenho feito enquanto emigrante na Polónia e que de modo algum vinculam a restante comunidade portuguesa residente naquele país.

Espero que gostem, vou fazer a barbinha e tudo q:)

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Kaczyński é o Deus e Rydzyk o seu Profeta

Cronologia dos factos:

  1. Em Abril deste ano um acidente aéreo em circunstâncias mais ou menos esclarecidas vitima o casal presidencial polaco e um considerável número de individualidades políticas, diplomáticas, militares e sociais na localidade russa de Smoleńsk;
  2. A enorme onda de choque e consternação que varre o país tem o seu apogeu com a decisão de sepultar Lech Kaczyński na catedral de Wawel em Cracóvia, um local que até então estava reservado a ser última morada de heróis nacionais. Paradoxalmente Kaczyński não tinha esse estatuto nem tampouco gozava de grande popularidade no país;
  3. As teorias sobre as causas do acidente começam a surgir acusando quase todos os protagonistas da vida da Polónia: Os russos, o partido liberal no Poder (PO), os judeus, os vietnamitas que vendem calças a 10 cêntimos, toda a gente que não siga as diretrizes do Ayatollah… digo, Padre Rydzyk ou que não tenha votado PiS é potencial suspeito de ter causado o acidente;
  4. Para homenagear as vítimas do acidente é erguida uma coroa de madeira em frente ao Palácio Presidencial cinco dias depois do acidente, uma iniciativa de grupos de escoteiros. A cruz tornou-se local de peregrinação onde os populares podiam depositar flores e velas para homenagear os mortos;
  5. Mais de 100 dias depois do acidente e dos funerais das vítimas, Governo e Presidente da República entendem que a cruz deve abandonar a frente do Palácio Presidencial e ser transferida para um local mais propício à sua função. O Povão reage contra a decisão inflamado pelos altifalantes da Radio Maryja e armados de crucifixos, bandeiras e cartazes amotina-se, desafia a Autoridade Policial que se vê obrigada a desmobilizar a multidão com gás lacrimogéneo. Outra cruz é erguida no lugar da antiga em jeito de provocação;
  6. A própria Igreja Católica está dividida entre muitos sacerdotes que consideram que a cruz deve permanecer em frente ao Palácio e outros que acreditam ser melhor transferi-la para um templo para não se criar um símbolo do falecido Kaczyński.

HipocrisiaMesmo sendo ateu e tendo uma visão muito própria, talvez suspeita, deste assunto vejo poucas diferenças entre estas atitudes e as dos fundamentalistas islâmicos que proíbem todas as formas de expressão contrárias à sua fé. Na Polónia, tudo o que seja oposto ao que rezam os cânones católicos é imediatamente classificado – e aqui cito o ex-primeiro-ministro e irmão gémeo do falecido presidente, Jarosław Kaczyński – de “verdadeiras intenções de acabar com a tradição e a história polaca” cujo melhor exemplo é o que o Governo e o Presidente PO têm vindo a mostrar.

Visto por fora, e tendo em conta que a pessoa protagonista era mais detestada do que amada no seu próprio país, é uma grande vergonha um país que aprendi a amar se tornar na anedota da Europa…

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Na Polónia sê Polaco - 11

A Karolina é uma simpática aprendente de Português que está a passar uns dias em Faro em casa de familiares meus, uma aluna já de nível avançado e que decidiu visitar Portugal pela primeira vez para conhecer o meu país e também desenvolver os seus recursos linguísticos. Foi um prazer revê-la e conversar com ela sobre as suas impressões sobre Portugal e sobre o Algarve uma vez que ela está cá há 3 semanas e já correu o país de Coimbra a Faro, notando o cuidado dela em escolher o tempo verbal certo para não causar má impressão. Foi engraçado termos detetado erros gramaticais nos cartazes publicitários do Pingo Doce quando fomos às compras, encher a despensa para os três dias seguintes.

Na secção de charcutaria ela perguntava-me o nome de produtos que não vêm nos manuais ou que não existem na Polónia como paio, chourição e salame mas a pergunta que me matou foi “Vocês aqui pedem em termos de gramas ou outra medida de peso?” A princípio fiquei algo surpreso com a pergunta e não captei a intenção mas acho que ela leu a minha reação e justificou “É que na Polónia nós pedimos em decagramas.” Aí tive de parar, pensar e perguntar-lhe:

- Vocês pedem as charcutarias em decagramas? Mas que diabo…

- Sim, pedimos. Por exemplo, 20 decagramas de fiambre. Dizemos 20 deko szynki.

Ora bem, estou a morar num país que serve 20 decagramas de mortadela em vez de 200 gramas. Pensei: “O raio da mania que estes gajos têm de terem as suas excentricidades, mas tem algum cabimento pesar a comida em decagramas?” mas recordei o choque que tive quando entrei na Polónia e vi que as bombas de gasolina mediam o combustível servido em decímetros cúbicos em vez de litros. “Bem, eles lá sabem das suas pancadas” e continuei a assistir às compras da Karolina. Logo a seguir, outra pergunta desconcentrante: “Como é que vocês dizem queijo amarelo?”

Não, nós não dizemos queijo amarelo porque há muitos queijos amarelos em Portugal: o queijo Flamengo, o queijo da Ilha, o Bola, Gouda, Emmenthal e por aí fora. Finalmente o alojamento, uma vivenda situada exatamente entre Faro e a Praia de Faro, 3km para a cidade e outros 3km para a praia. Preparava o discurso sobre os horários de autocarros, compra de bilhetes e etecetera quando ela atalhou: “Ótimo, é perto e assim eu posso caminhar até à cidade ou para ir para a Praia.”

Passei-lhe a chave para a mão, dei-lhe as boas noites e voltei (de carro) para a Praia. O que diria Obélix?