segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Infâncias polacas

Aula de Inglês com a Asia, praticar estruturas gramaticais com o tema ‘o que costumávamos fazer quando éramos crianças’. Eu tentei dar uma de aventureiro, explicando que quando era puto costumava ir de bicicleta com a minha cambada até à lixeira da Câmara para apanhar latas (de bebidas) para as nossas coleções. Diálogo entre professor/amigo e aluna/amiga, originalmente em Inglês mas aqui reproduzido em Português:

- E tu, Asia? Como costumavas passar as férias de verão quando tinhas, digamos, oito anos?

- Eu costumava ir para a casa da minha avó no campo e era muito engraçado! Ia com uma amiga para umas dunas que lá havia, escavávamos as dunas e encontrávamos granadas e bombas da Segunda Guerra Mundial que não tinham sido detonadas e brincávamos com elas. Uma vez levámos uma granada no bolso para casa da minha amiga, a mãe dela descobriu e fez um escabeche dos diabos, chamou a Brigada Anti-Explosivos, os tipos invadiram a aldeia para esgravatarem as dunas de alto a baixo. Era só camiões a irem e virem, divertimo-nos muito! Outra ocasião estávamos sozinhas na casa dela e ouvimos um barulho estranho a vir do estábulo, quando fomos ver do que se tratava vimos que era uma porca que estava a dar à luz e ajudámos no parto. Nasceram oito porquinhos. Sabias que as porcas parem de pé?

Ir à lata na lixeira? Moss, menino…

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Natolin

Rua Belgradzka Anos passados desde a minha mudança, voltei hoje a Natolin. O bairro onde vivi as primeiras aventuras varsovianas a solo, o lugar onde comecei a cimentar a estadia na Polónia, o sítio que me acolheu durante metade da minha vida em Varsóvia. Natolin é o berço da minha experiência polaca e regressar a este canto a sul da cidade provocou uma cascata de emoções porque me fez recordar setembro de 2008 no tempo em que não tinha carro, as viagens noturnas ao Tesco de Kabaty, as farras na varanda até de manhã, a primeira namorada a sério, acordar às 5:30 no frio breu no inverno para começar a trabalhar às 7:10, o apartamento onde comecei a receber os meus primeiros amigos feitos em Varsóvia, onde finalmente instalei a antena parabólica e comecei a ver o Sporting na televisão – como o épico jogo no Etihad Stadium durante o qual a Ewa se trancou no quarto com medo que alguma peça de mobília que eu atirava pelo ar com os nervos lhe acertasse acidentalmente - e onde os 'munines' de Faro se amalhavam depois de inolvidáveis bezanas no Enklawa e no Klubokawiarnia. Natolin foi a transição de menino para homem porque quando terminou a minha relação com a Iza e fiquei dois meses sem casa foi Natolin que me recebeu e foi em Natolin que me fiz sozinho à vida profissional. Natolin foi trapézio sem rede, deu-me embalagem para encarar a Polónia de frente. Era lá que agendava entrevistas de trabalho, era lá que preparava as aulas que me proporcionaram reputação positiva como professor de línguas, era lá que ensaiava para as minhas primeiras atuações como DJ (um grande obrigado ao enorme Ed Szynszyl que me deu a primeira oportunidade no extinto Muza), era lá que acabavam noites de indescritível luxúria.

Nas vésperas de completar oito anos na Polónia, visitar Natolin foi como voltar à nossa escola primária e ver antigos colegas. O jardim onde eu vi pela primeira vez um ouriço na cidade, a casa onde morava a minha senhoria que infelizmente já faleceu, o supermercado onde a menina da charcutaria sempre me fazia olhinhos, o restaurante jugoslavo onde a minha ex adorava jantar, o mercadinho de rua no qual eu comprava bananas e cebolas, as pequenas ruas calcetadas junto ao bosque que eu percorria em passeios desintoxicantes, a estação de metro que significava o porto seguro depois de noites pesadas de copos no centro - tantas vezesEstação de metropoliotano Natolin acompanhado pelo meu leal escudeiro Giga - e claro, o prédio da rua Belgradzka n° 4 onde fui felicíssimo habitante durante um maravilhoso período da minha vida. Parece uma coisa sem muito sentido, ter tanta emoção por ir a um bairro que posso visitar sempre que me apeteça, mas o meu ritmo de vida mudou imenso neste último biénio e tem-me afastado de Natolin, daí que este retorno tenha provocado em mim enorme comoção, tanto foi o que vivi e cresci naquela zona a sul da Cidade Capital. 

Ter ido a Natolin hoje fez-me perceber uma coisa curiosa. É que já não é só de Faro que sinto saudades.