quarta-feira, 30 de julho de 2008

Época 2008/2009

 

round4gp1

Partindo desta premissa e em:

1) Substituindo Postiga por Derlei, Izmailov por Djaló, Veloso por Adrien, trocando Tonel por Caneira entrando Grimi para a esquerda;

2) O Porto vendendo o Quaresma;

3) O SLB dispensando o Cardozo como já ouvi dizer;

4) O campeonato decidindo-se com verdade desportiva e sem lesões para o nosso lado;

Este ano é uma laminha! Quanto é que metem de fora?

 

ps - Moss, agora é que eu vi! Liga Sagres, Carlsberg Cup... Tá o futebol entregue aos relaxados, mó!

terça-feira, 29 de julho de 2008

Blogue prevenido vale por dois

Estes gadgets com que artilhei o blogue revelam-nos informação interessante como a proveniência dos seus visitantes. Descobri que há leitores nos cinco continentes e que exBez tytułuiste um forte interesse nestas aventuras por parte de leitores radicados no Brasil e nos EUA, bem como pela Europa fora e nas longínquas latitudes chinesas. É gratificante saber que as minhas peripécias polacas despertam a curiosidade de tão diferente gente, o que obriga-me a elevar a fasquia em termos de qualidade de conteúdos e a agradecer a fidelidade dos leitores.

Fica também a informação para o(s) visitante(s) do Irão: Este é um blogue laico cuja única forma de religião permitida (e nisso somos fundamentalistas) é o Sportinguismo do mais crente e praticante possível. Não somos pró-América nem pró-Rússia, nem proactivos ou proteicos e, em última instância, teremos alguma simpatia pelos muçulmanos pela herança árabe deixada no Al-Gharb.

As salam alaikum!

segunda-feira, 28 de julho de 2008

A Leste, tudo de novo

Este fim-de-semana houve inundações na Ucrânia que causaram 13 mortos, "algo nunca visto nos últimos 100 anos no país" nas palavras do Vice-Primeiro-Ministro ucraniano Aleksandr Turchinov. No leste da Alemanha a coisa também não anda boa com os rios a transbordarem e a causar a preocupação de Angela Merkl às portas de Berlim. A Roménia lamenta os 4 mortos, 2 desaparecidos e os mais de 9000 deslocados que as chuvas e ventos fortes provocaram. A Europa Central (aqui não se diz "Europa de Leste") foi varrida por um Ciclone Balcânico que não é usual nestas paragens, a surpresa ainda está estampada na face das pessoas atingidas pela intempérie.

Na Polónia, na sua capital, foram sentidas temperaBez tytułuturas na casa dos 30º o que levou a que a população invadisse as piscinas e parques aquáticos da cidade para mergulhos refrescantes. Vesti o calçanito e torrei com gosto sob um desejado sol de Verão. Finalmente apanhei uma corzinha, já tinha vergonha de andar caiado de branco a meio de Julho. Se somarmos esta tarde com esta noite, todos saberão porque não fiquei em casa q:D

sábado, 26 de julho de 2008

Marco Polo? Marco Paulo? MarcPol!

Uma festa recente levou-me à dzielnica (freguesia) de Ursynów, no extremo sul de Varsóvia. Foi mais uma oportunidade para conhecer parte desta enorme cidade, tão diferente de norte para sul, de esta para oeste.
ursynow35Ursynów é uma zona predominantemente residencial, as pessoas vêm para esta zona de Varsóvia porque as casas são baratas e fáceis de arrendar. É a freguesia que tem maior taxa de população com menos de 18 anos (25%) e é a preferida pelos estudantes para radicarem-se em Varsóvia. Nas minhas primeiras pesquisas no mercado imobiliário constatei que os preços são bem mais baixos do que os praticados noutros locais mais centrais da cidade, como na minha freguesia de Mokotów, mas o tempo que se demora a chegar a outros pontos de Varsóvia também é bem maior e o comodismo típico dos algarvios apagou imediatamente essa hipótese do livro.

Há um contraste marcado entre a zona leste de Ursynów e as outras sendo que, na zona oriental, os blocos de apartamentos demarcam a paisagem entre prédios modernos e outros do período pós-guerra. Alguns centros comerciais enfeitados de neons recordam-nos que estamos em Varsóvia enquanto simpáticos casais de idade passeiam os seus cachorros entre os decrépitos parques infantis obrigatoriamente construídos entre os edifícios de habitação. A sul e oeste acaba Varsóvia, são os parques de Natolin e a floresta de Kabaty que oxigenam esta freguesia e que permite saudáveis passeatas de bicicleta entre lagos e palácios erigidos no século 18. É extraordinário perceber como estes edifícios resistiram à destruição causada pelos nazis e soviéticos aquando da guerra.

Ursynów é também a zona onde mais "MarcPol" se vê, essa famosa cadeia polaca de supermercados de desconto. O MarcPol está para a Polónia como o Minipreço está para Portugal, milhões de lojinhas em cada esquina da cidade oferecem-nos tudo e mais alguma coisa ao mais baixo preço. Não gosto de lá fazer compras pois a freguesia destas lojas é chunga e n05072008(002)ormalmente sem educação (roubam lugares nas filas quando estas existem, as funcionárias tratam-nos ao pontapé, há sempre bêbados) e felizmente não sou obrigado a recorrer aos seus préstimos no meu bairro pois tenho um SuperSam (o primeiro supermercado da história na Polónia, inaugurado em 1962) a 2 min de casa, mas como a casa da Ania fica em Ursynów acabei por fazer o frete e gastar lá uns polónios para comprar cerveja.

Ninguém me explicou a razão ela qual esta cratera existe no meio duma praça lá do bairro, mas combina na perfeição com a peculiaridade do MarcPol.

terça-feira, 22 de julho de 2008

O Grande Artista

2001 / 2002 é uma época inesquecível para todos os sportinguistas. A dobradinha foi o colorário lógico duma época de sonho que começou cedo com a vitória em Alvalade frente ao FC Porto assinada por Niculae. A táctica idealizada por Boloni era tremendamente ofensiva com jogadores de classe conhecida como Pedro Barbosa, jovens promessas de grande talento como Quaresma e Ronaldo, o próprio Niculae cuja infelicidade serviu para resgatar o talento goleador de Jardel.

Ver o Sporting jogar era um regalo para a nação leonina, exibições de encher os adeptos de satisfação, grande qualidade futebolística, golos. Um nome sobressaíu dos demais pelos elevados níveis de talento que demonstrou com o nº 25 nas costas: João Vieira Pinto. Deu banhos de bola em todos os campos portugueses e estrangeiros e ficam célebres as suas descidas pelo lado esquerdo quando ele parava, flectia para o meio, passava a bola para o pé direito e enviava-a redondinha para o 2º poste onde o seu "filho" empurrava para a baliza.

Hoje despede-se da relva que sempre o acolheu com prazer. Recordo-o como o jogador que me fez passar as tardes do Verão de 89 a ver jogos disputados em Riade, como o primeiro futebolista que entrevistei no tempo das rádios piratas em Faro (num Farense - Boavista em que ele escusou-se educadamente de comentar o "caso Pudar") e como um baixinho que marcava golos de cabeça como só ele sabia. Recordo também o cântico mítico da saudosa Curva Sul:

Tantos anos sem sentir o prazer da glória
Sempre a jogar bem, fosse na derrota ou na vitória
Como mais ninguém, queremos que fiques na nossa memória
Ver-te de verde nem sei o que sinto
O Grande Artista: João Pinto

Em três anos de Leão ao peito ganhaste mais que em qualquer outro clube e com a tua fibra e lealdade compensaste as memórias dos 3-6. Obrigado, Campeão.
(edit: Naturalmente que tens razão, Pitons. A idade já vai afectando...)

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Сделано в России (Fabricado na Rússia)

Todos os dias cruzo-me com elementos absolutamente diferentes dos que habituei-me a ter em meu redor ao longo da vida. Elementos arquitectónicos, históricos, culturais, elementos que me relembram do quão longe estou das minhas referências. Vejo coisas que me espantam e fascinam, algumas que me repudiam e desagradam e muitas outras que, apesar de já ter idade suficiente para compreender o mundo, ainda me assustam. Esta é uma delas:

20072008

Percebe-se "Saint Petersburg" e "Vagonmach", provavelmente a cidade e a fábrica onde esta carruagem de metro foi construída, algures em 1997.

Os caracteres em cirílico... metem medo!

domingo, 20 de julho de 2008

Os dias seguintes

Finalmente vou conhecedo uns spots interessantes da noite em Varsóvia. Amizades que se fazem e que se consolidam transformam-se em óptimas oportunidades para socializar e dar umas voltinhas pela cidade. Já tinha imensas saudades de fazer noitadas e ultimamente tenho regressado à boémia que tanto curto e que tanta falta me faz. Noites alegres de Sábado, de som, de batidas, de gente bonita e gargalhadas entre amigos.

O conceito de "Domingo de Manhã" não existe, essa parte do dia foi feita para dormir e recuperar das litradas da noite anterior. Acorda-se devagarinho para não dar cabo do esqueleto, um duche brando, um pequeno-almoço potente e um passeio pela cidade tentando oxigenar os sofridos pulmões :D Se estiver muito sol e calor, como hoje, apetece um geladinho sentado à sombra, tipo um Magnum Double Caramel, mas não há disso neste país.

A cruzada pelos melhores sorvetes, digo, gelados da cidade levou-nos a um quiosquezinho suspeito mas que tinha uma sugestiva fila de clientes esperando por vez. Pacientemente aguardei que fosse atendido, pedi a especialidade da casa e deram-me este torpedo:

06072008(001)
Este é o gelado típico de Varsóvia. Uma bazuca de baunilha e chocolate que mantém-se agradavelmente sólido mesmo debaixo da torreira, sem derreter e que permite largos minutos de lambidas saborosas. Vêem-se gelados destes por todo o lado, casais ou simples transeuntes passeiam com o respectivo cone na mão e é comum passarmos por pessoas que seguram o doce numa mão enquanto têm o telemóvel na outra.
 
São mais alguns passos na minha "polonização", o gelado bigalhão a combater a ressaca e o Legia-Wisła desta noite para a Supertaça da Polónia.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Latinos & Cia.

Na minha actividade profissional encontro muitos polacos que falam razoavelmente espanhol e que tentam aprender uma segunda língua latina. Pela proximidade com o idioma aprendido e pela possibilidade de entrar num mercado que tem muita representatividade no seu país, os polacos descobrem o português como o exotismo linguístico de eleição e mostram-se muito interessados em aprender a nossa língua. Todos os dias dedico-me a limar as arestas afiadas do sotaque castelhano aos alunos mais desenvolvidos no espanhol, tentando suavizar-lhe o irritante flamenco que lhes sai da boca sempre que a abrem. Franzo sobrolhos quando ouço um pero em vez de mas e coço o ouvido quando aparece um mientras no lugar do enquanto. O pessoal acha piada, corrige e procura não repetir o erro aprendendo assim a falar bom português (teoricamente). Há pouco tempo, a Magda levou-me quase à histeria quando inocentemente perguntou: "Mas Portugal e Espanha, tão próximos que estão, vocês certamente são amigos. Vocês gostam dos espanhóis, não é?"

Engoli a resposta vernácula que me veio automaticamente à cabeça e raciocinei um pouco para que não parecesse ordinário. "Ora, deixa cá ver como é que eu explico que não gostamos daquela gentalha..."

Pensei na sabedoria popular que fala de ventos e casamentos mas tenho boas amizades de mães espanholas e o argumento cairia logo aí. Passou-me a ilustre Dona Brites, minha conterrânea, pela cabeça mas a lenda poderia confundir os polacos e se calhar punha-os a pensar que eu ando metido com narcóticos. Rechacei a conversa que "a Espanha é um país amigo" dado que na minha opinião a Espanha é um país irmão pois os amigos podemos nós escolher.

Andei a anhar alguns segundos quando tive de dizer alguma coisa para que o silêncio não sufocasse a sala, balbuciei introduções e fui dizendo que os portugueses não gostam dos espanhóis da mesma maneira que os italianos não gostam dos franceses e vice-versa. A minha explicação fê-los acreditar que os países latinos não se gramam uns aos outros, o que até nem é mentira nenhuma, mas trouxe outra pergunta com água no bico. A Magda, pele de leite, olho de mel no sorriso largo:

-Então, afinal, de que país gostam os portugueses além de Portugal?
-Da Polónia, querida. Gostamos imenso da Polónia.

Estivésse eu em Faro e remataria com um "atão na sabes?..."

quarta-feira, 16 de julho de 2008

O Filão

 16072008(002)

A Polónia interessa-se pelo Algarve. Porque será?

Tradução: algarve. uma dose de energia

domingo, 13 de julho de 2008

Tempestades continentais

Já percebi uma coisa sobre o Verão em Varsóvia. Percebi que faz muito calor até às 17:00 e que por essa hora a temperatura cai rapidamente, coincidindo com a descida do sol. Nessa altura sente-se imediatamente um fresco na pele e o cheiro inconfundível da chuva iminente. O céu depressa cobre-se de nuvens e vêem-se os relâmpagos ao longe. A partir desse momento, o dos relâmpagos, temos exactamente 15 minutos para abrigarmo-nos da indescritível tempestade que irá abater-se sobre a cidade.

É um dilúvio terrível que dura sensivelmente 40 minutos e que arrasta tudo sem piedade. A chuve pune severamente as pessoas que se atrevem a fazer-lhes frente e eu já aprendi a minha lição, o meu recolher obrigatório é às 18:00 e só é levantado 2 horas depois. Como neste momento, altura em que escrevo de cortinas arreadas para não me assustar com a tenebrosa trovoada que ilumina o bairro.

Os trovões discutem lá longe, parecendo aproximarem-se do meu prédio como que se quisessem acertar contas comigo. Eu aumento o volume do VH1 na televisão para fazer de conta que não os ouço. As tardes são tão belas mas... Que raio de noites de Verão, estas, que nem parecem que começam assim:

Tivesse a máquina mais qualidade e a imagem do pôr-do-sol em Varsóvia visto dum 16º andar teria mais encanto. Mas, como diz o Ti Bolas, "é o que há!"

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Saber ter idade é um arte

Numa destas tardes sentei-me com a Iza num banco do Pole Mokotowskie, um dos muitos parques de Varsóvia. Um calor do caraças puxou-me para a sombra de onde pude ver crianças chapinhando no grande lago artificial do jardim, alguns namorados alambazando-se indeferentes à reprovação das avozinhas, jovens branquíssimos de jeans e tronco nu bebendo meios-litros de cerveja de empreitada, ancas perfeitas saltitando ao ritmo do jogging ou rebolando em cima dos selins das bicicletas que cruzavam os caminhos do parque.

A minha comadre lia uma revista e já quase que me corria o fiozinho de baba revelador dum sono profundo quando um casal velhinho perguntou-nos se podiam sentar-se no "nosso" banco. Automaticamente ajeitei-me para que coubéssemos todos e compus a t-shirt para que os novos vizinhos não estranhássem a minha falta de cuidado na escolha de roupa. Sentei-me como deve ser e os velhotes sacaram dum transistor do tempo do Brejnev e dum saquinho com miolos de pão. A senhora lançou ao chão algumas bolas de pão e dezenas de pombos e pardais vindos do nada acamparam à nossa frente.
O radinho lembrou-me Alvalade antigo nos relatos do Rui Almeida da Antena 1, não pude deixar de sorrir ao ver aquela peça de história que me fez recordar os idos de 80. Perguntei-me se alguma vez chegaria aquela idade e, se o conseguisse, se seria aquele o meu retrato. Sacudi esses pensamentos da cabeça, enchi os pulmões do ar quente e seco daquela tarde e senti os velhinhos levantarem-se. Olhei para eles e eles cumprimentaram-nos:

"Obrigado pela hospitalidade", disse o senhor, tocando na aba do seu chapéu antes de seguirem vagarosamente o seu caminho por entre os arbustros e árvores.

Sim, é assim que eu quero ser se chegar a velho.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Moro... num país tropical

Fechem os olhos e imaginem.

Imaginem um lugar onde a temperatura é quente ao ponto do suor colar a roupa ao corpo. Sentem-se numa esplanada soalheira e peçam uma cerveja geladinha, ignorem a inexistência de tremoços. Desabotoem os 3 primeiros botões da camisa mais os dos punhos, arregacem as mangas, puxem a fralda para fora das calças, ajeitem os óculos escuros e aceitem os raios solares que encharcam a cidade. Contemplem a incomparável fauna que passeia-se de trajes menores a curta distância e gozem o espectáculo das coreografias femininas que cortejam constantemente os machos expectantes e preguiçosos, numa manobra eterna de sedução / recusa que imita o jogo do gato-e-rato. Sacudam a gola da camisa num ar desinteressado e olhem noutra direcção enquanto saboreiam mais um golo de cerveja, já a pensar na próxima imperial ou no próximo bar a visitar. Espreguicem-se como agradecimento pela generosidade do sol e bocejem de desdém ao burburinho urbano que vos cerca. Vejam as horas e sorriam de sacanice ao ver que ainda falta meia-hora para o regresso ao trabalho.

Ouçam um trovão ao longe. Olhem para o céu por cima das lentes e estranhem a rapidez com que o céu se fez negro. Ouçam um trovão mais perto. Pensem rapidamente em abrigarem-se antes que... Tarde demais, cai-vos um dilúvio em cima.

Fujam a sete pés das poças armadilhadas que se formam na berma das ruas e por onde rodam pneus maldosos despejando água suja por cima dos peões. Desviem-se dos sinuosos pilares dos passeios e procurem não se espalhar nas curvas, praguejando e maldizendo a vossa sorte enquanto ficam ensopados. Cheguem ao trabalho num pingo e sejam motivo de risota de toda a gente.

Olhem pela janela e vejam o sol a rir-se da vossa figura. Ranjam os dentes de raiva enquanto ele seca as ruas e devolve as pessoas às esplanadas. Amaldiçoem o lindo céu azul que rapidamente substituiu a tempestade. Trabalhem molhados pela chuva e pelo suor que reaparece devido ao tal calor húmido que cola a roupa ao corpo. Acabem o dia bafientos, fedendo a mofo, num metropolitano peganhento.

Fortaleza? Punta Caña? Bali? Sharm el-Cheik? Não, apenas Varsóvia num qualquer dia de Verão.

ps - Desforrei-me. Comprei um casal de postas de bacalhau, cozi-as com batatinha e ovo, juntei-lhe umas verduras para dar saúde e fazer crescer, alaguei o prato em azeite enquanto a Iza temperava as batatas com manteiga (!) e consolei-me com a peixada. Agora, com a vossa licença, vou arrotar para o sofá q;)

Domingo à Noite

Domingo à noite é tempo de ficar entocado, tratar das coisinhas para a semana de trabalho que se segue e assistir aborrecido aos inúmeros programas de variedades que os canais polacos têm para oferecer aos telespectadores neste horário. Meio entediado e mastigando em seco, puxo um travesseiro aproveitando que a Iza está papagueando com amigas (diz ela...) no Gadu-Gadu (o Messenger polaco) e lá acabo por deitar um olho curioso ao televisor tentando perceber do que esta gente está a falar.

hein7Este foi um fim-de-semana em grande em termos de entretenimento dado que dois dos maiores festivais de música do país realizaram-se no norte, entre Sopot e Gdynia. Não terá sido uma idéia feliz ter agendado tão grandes certames para o mesmo fim-de-semana separados por tão curta distância física pois estas cidades distam uma da outra o que Lisboa dista da Amadora. Esse factor causou grande aglomeração de gente, congestionamentos enormes de trânsito (desnecessário recordar o primário estado das estradas polacas) e entupimento dos meios de transportes como o comboio ou autocarro devido à enorme afluência de espectadores de todas as partes da Polónia, especialmente de Varsóvia. Eu tinha o Open'Er Festival de Gdynia em vista porque queria testemunhar outra actuação ao vivo de Chemical Brothers (aquele show no Sudoeste de 2002 ficou nos anais da História!) mas acabei por ficar em casa a vê-los na tv. Agora o festival está nos cascos e entram as actuações finais dominadas pelo inevitável kabareton porque é Domingo à noite.

publika_2O kabareton é um estilo de comédia muito apreciado pelos polacos. Dois actores interpretam uma rábula de sátira política ou social, finda a rábula entra mais uma equipa de actores que conta nova estória. As piadas sucedem-se e os visados são ridicularizados de forma suave, arrancando gargalhadas ao público que diverte-se bastante. É um registro que também existe em Portugal, se bem que não tenha muita aceitação, mas cuja versão tem uma enorme diferença: O desfecho da anedota.

Versão Portuguesa: Era uma vez um Português, um Inglês e um Francês. O Inglês enterra-se, o Francês enterra-se mais ainda, o Português fica por cima de todos.

Versão Polaca: Era uma vez um Polaco, um Russo e um Alemão. O Russo enterra-se, o Alemão tenta remediar a situação e o Polaco dá cabo do resto.

Assim se passa uma agradável noite de Domingo, janela aberta para arejar a casa, coçando o queixo intrigado com o estranho sentido de humor deste povo que, decididamente, tem de reaprender a rir.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

História e Fruta num Domingo de Verão

109_1 Não há melhor estação do ano que o Verão, apesar de alguns polacos preferirem o Inverno. Eles dizem que no Verão não podem esquiar, faz muito calor e ficam desconfortáveis na cidade. Percebo-os porque não havendo uma praia por perto torna-se difícil aguentar os 30º que Varsóvia tem proporcionado aos seus habitantes. Eu sou um tipo habituado ao tempo quente mas não me sinto muito à vontade com este calor seco, acrescido de falta da fugas possíveis pois os parques de sombras frescas e os muitos laguinhos que a cidade tem não são comparáveis às tardes de praia passadas a cervejar à do Fava, com o mar logo ali para molhar os artelhos sempre que a temperatura o justifique. Mas, como os tempos são outros, tenho procurado limpar essa nostalgia da idéia e tentar gozar o Verão à polaca.

Um passeio pela reconvertida Cidade Velha levou-me a uma Varsóvia desconhecida e muito bonita. 113_1Uma das ruas que sai do Largo do Castelo, a Krakowskie Przedmieście, foi condicionada ao trânsito ao fim de meses em obras transformando-se numa montra de história polaca. O Palácio Presidencial, os monumentos a Adam Mickiewicz - o Camões polaco - e Copérnico, a Universidade de Varsóvia, O Bristol - hotel mais luxuoso da Capital -, a Igreja da Santa Cruz* e muitos outros edifícios cheios de simbolismo estão agora de cara lavada e sorriem aos transeuntes com orgulho na sua renovada rua. Exposições fotográficas ensinam a Polónia rural dos anos 20, violinistas tocam por prazer (um músico recusou esmola alegando estar a tocar por pura alegria), namorados consultam mapas e apontam para o seu futuro com o Wisła como testemunha.

Devoro esta História com a fome própria de quem está cá há 8 meses sem saber quase nada da cidade devido à hibernação típica dum algarvio no Inverno. A cidade está colorida, quentinha, convidativa e assim já tenho vontade de por a cabeça fora da caverna para ir espreitando os encantos da "Paris do Leste".

A delícia que foi ver um atarefado v22062008(001)endedor de apetitosas frutas a tentar dar vazão à sua freguesia (a inclemência da ASAE não chega   aqui, felizmente) fez-me pensar que, se calhar, esta cidade é substituída no Inverno por outra que não tem nada de parecido.

Fica mais tempo, sol! Não tenhas pressa de sair daqui...

* Chopin pediu no seu testamente que, após a sua morte, o seu coração fosse levado para a sua Polónia natal. Rezam as crónicas que o mesmo está emparedado num dos pilares desta igreja.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Não. Porquê? Porque não!

O presidente polaco Lech Kaczyński avisou que não irá "ratificar o Tratado de Lisboa" por entender que, após o não irlandês ao Tratado, este "não faz mais sentido". Kaczyński volta a ser motivo de zanga entre os polacos pois este seu volte-face (recorde-se que o presidente da Polónia assinou o tratado em Dezembro) põe o seu país em perigo no que diz respeito às relações internacionais com os novos parceiros europeus e dá novamente a imagem duma Polónia retrógada e excessivamente conservadora.

Este retrocesso na posição do presidente polaco em relação ao Tratado de Lisboa pode justificar-se com a sede de protagonismo que ele sempre demonstrou. Após o seu partido (liderado pelo seu irmão gémeo Jarosław) ter perdido as últimas legislativas, a Polónia respirou fundo e começou a contagem decrescente para o final da "dinastia Kaczyński" e das suas políticas aldeãs. O novo primeiro-ministro Donald Tusk é manifestamente um europeista e percebe bem que a Polónia não pode voltar atrás na sua palavra dada em Lisboa sob pena de perder credibilidade e vários milhões de euros em quadros de apoio e pacotes de subsídios. Sarkozy já mostrou um cartão amarelo ao presidente polaco lembrando que os "compromissos são para serem cumpridos", Angela Merkl quase que levantou a voz há uns meses atrás aquando das hesitações polacas em assinar o tratado em tempo de eleições. O Sejm (parlamento da Polónia) quase pede de joelhos ao seu Presidente da República para que deixe de "deteriorar a imagem da Polónia" e assine um documento que "ele próprio negociou". Os ministros revelam-se "surpreendidos" e acusam o Presidente de "brincar com o fogo".

Quer-me parecer que a Polónia deseja fazer parte da União Europeia como membro de pleno direito pois tudo tem a ganhar, o povo já percebeu isso. Só Kaczyński continua isolado no seu castelo, politicamente moribundo, desafiando todos com a sua irredutibilidade cretina e perigando o desenvolvimento futuro do seu país. Platini aterra amanhã em Varsóvia para constatar os atrasos que o Euro2012 leva e a Polónia não pode dar-se ao luxo de enervar a UE sob pena de ficar sem fundos importantes para a organização do certame. Penso que a recente entrada da Polónia na UE não lhe transmite estatuto para cantar de galo como o seu presidente o faz agora. Espero que em vez dum canto de galo não seja um canto de cisne para a país.
edit - Vi agora no Jornal da Tarde Kaczyński admitir que ratificará o Tratado se a Irlanda também o fizer. Tipo as moças que dizem "eu só vou se ela também for".