quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Bolo de quéim?

Tesco de Piastów, arredores de Varsóvia, nas compras para a festa de passagem de ano.

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Lá o que esta gente come...

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Lar, distante lar

Jardim das PirâmidesUma semana, cinco temporais e 100 000 calorias depois, aí estou eu às voltas com os sacos para decidir o que levar para Varsóvia e o que deixar em Faro. A roupa de verão vai fazer falta nos meses de Junho e Julho, algumas garrafas de licores portugueses fazem obrigatoriamente parte da bagagem, o critério difícil de definir porque tudo faz falta, tudo é necessário mas poucas coisas são utilizadas. É difícil despegarmo-nos das coisas que têm história e que tanto significam para nós mas o regresso a casa a isso implica.

Regresso… a casa? Mas, Faro não é “casa”? Voltar a casa significa voltar a Varsóvia ou voltar a Faro?

É realmente um sentimento ambíguo, este. Não consigo definir com clareza esse conceito de “casa”. Casa será onde temos a família e os amigos do berço ou onde moramos e pagamos impostos? Casa será onde se respira a nossa herança ancestral ou onde funcionamos no dia-a-dia? Casa é o quê, onde nos sentamos para comer o nosso prato favorito com a família ou onde nos sentamos para comer o prato que nós mesmos preparámos?

Casa, para mim, é um pouco de tudo. É a Ria Formosa, braço de mar que entra pelo sapal adentro, que me inspira o rumo e onde me reencontro a chapinhar em puto. É subir as escadas do metro Świętokrzyska e cumprimentar o PKiN embora ele esteja sempre enevoado e ignore esse pequeno português que teima em lhe dar os bons-dias. É o beijinhoRotunda da velha tia e o sorriso rasgado da mãe somados à formidável panela de feijão com massa ou com o sublime pargo assado no forno. É a karkówka grelhada com legumes congelados que satisfaz o estômago congelado do algarvio que nadou entre -15ºC para chegar a casa. É minis, charros e poker até às 4:30 da manhã com inigualáveis amigos, gente feita duma massa que não existe mais. É o verde-mar dos olhos da Ewa que sorriem felizes quando encaixam nos meus. É a viciante peladinha no Liceu nas noites de segunda-feira onde um gajo cospe a ceia de Natal, os 12 pastéis de nata dos últimos dias (verdade! 12-doze-12 numa semana), o tabaco, o álcool, o plasma e alma a fugir atrás duma bola (ainda faço a diferença, mesmo com 36 anos. Ah pois é, bebé!). É a noite do Klubo, do Opera, do Enklawa, do Organza, do Mono, do Tygmunt.

Casa, para mim, é onde me sinto bem. Quando viajamos nada se compara ao sensação de se regressar a casa porque é sempre bom voltar a Faro como sempre bom é retornar a Varsóvia. Sou um previlegiado ao ter duas casas tão boas onde viver.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Conversa de vão de escada

Vinha a sair do meu prédio quando ouço uma voz a chamar:

- Eh rapaz, que pressa é essa?

Domofon Era o meu Domofon, o aparelhinho onde digito o código que me permite entrar no condomínio. Às vezes o tipo mete conversa comigo, ele passa o tempo todo à porta do condomínio e até é um gajo porreiro mas eu pouco cartão lhe passo porque estou sempre apressado quando entro ou saio de casa. Desta vez parei para lhe dar dois dedos de cavaco.

- Épa, tu já sabes como isto é. Um gajo tem de ir atrás dele, o dinheiro não cresce no chão. Aliás, com a camada de gelo e neve batida que há no chão acho que nem ervas daninhas crescem.

- Bah! – exclamou aborrecido o aparelho. – Isto não é nada, havias de ver o que foi há 3 anos. Uma semana seguida com –30º C, isso sim! Esses é que foram os tempos áureos do inverno.

Aí arregalei os olhos e ataquei-o:

- Tu não regulas bem, com certeza. O frio atacou-te o chip! Então, tu estás com um palmo de neve no toutiço e ainda achas que devíamos ter mais frio?

- Não, pá! Estava a meter-me contigo porque andas aí todo encurvado e Belgradzka de noite atascado em roupas, pareces uma cebola de tanta camada que levas. Mas tu também és um bocado totó, não vestes ceroulas nem enfias o gorro e depois vais ganir para a televisão polaca dizendo que o tempo está horrível e que no Algarve por esta altura está toda a gente a banhos.

- Não senhor, eu não disse isso. O que disse foi que no meu país não tínhamos este clima e que o dia estava horrível, e isto é alguma mentira?

A geringonça aceitou:

- É verdade. Mas tu já sabias ao que vinhas quando decidiste vir para a Polónia, não sabias?

- Sim, mais ou menos. Sabia que era frio no inverno mas temperaturas negativas em Portugal só experimentei uma vez quando vinha a conduzir entre Lisboa e Faro e encostei em Santana da Serra com –1º C para fazer xixi.

- Hahahaha! – riu o Domofon. – És mesmo tolinho. –1º? Com essa temperatura a malta vai para o Las Kabacki assar salsichas em mangas de camisa, o que é que tu julgas? Tu não estás consciente, o inverno polaco é tão severo que há 60 anos, quando a Polónia foi ocupada pelos soviéticos, houve uma senhora que ao saber que a sua cidade então passou a fazer parte da União Soviética exclamou: “Graças a Deus, já não suportava outro daqueles invernos polacos!”.

- E isso é suposto animar-me? – desabafei.

- Não, é suposto avisar-te que isto é apenas o começo.

- O começo? Estão –16º C e tu dizes que isto é apenas o começo?! Ó Domofon, não me lixes com essa conversa! Então isto pode descer até onde, aos –50º C?

Belgradzka de dia - Calma, isto também não é a Sibéria! Mas vai pondo as barbinhas de molho… aliás, nem faças a barba até voltares a Faro pelo Natal porque este domingo baixa dos –20º C. Protege as orelinhas, não te esqueças do cachecol e das luvas e não te armes em latino engatatão com o teu gel. Mete o gorro e deixa-te de cenas.

Depois desta última frase eu olhei para ele de cima a baixo, fitei o fundo da minha rua absolutamente coberto de branco, subi a gola do sobretudo, respirei para as palmas das mãos e terminei:

- Bom, amigo, obrigado pelos conselhos. Vou ver se sobrevivo, aparentemente não vai ser fácil.

- De nada, companheiro. Já não és o primeiro estrangeiro que eu vejo a penar com o frio e sinto-me na obrigação de alertar as pessoas para o que aí vem. Quando precisares, dispõe.

Afundei a cabeça nos ombros e toquei para o metropolitano enquanto pensava com os meus botões: “Será que o gajo tem mesmo razão ou está a gozar comigo?”

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Fazer História Juntos

Euro2012mapa Numa cerimónia ontem realizada na Praça Mykhailivska na capital da Ucrânia, Kiev, presidida por individualidades como o dirigente-máximo da UEFA, Michel Platini, a primeiro-ministro e o presidente ucraniano, Yulia Tymoshenko e Victor Yushchenko respetivamente e acompanhado pelos presidentes das federações de futebol polacas e ucranianas, Grzegorz Lato e Grigoriy Surkis, foi revelado o logotipo do Campeonato Europeu de Futebol 2012. Uma fusão de vários temas inspirado nas Wycinanki, trabalhos realizados em papel colorido recortados em motivos florais e folclóricos característicos da faixa territorial que compreende o Leste e Sueste da Polónia, o sul da Bielorrúsia e a parte mais ocidental da Ucrânia, e as cores das bandeiras dos dois países: Branco e vermelho na Polónia, amarelo e azul pela Ucrânia. Nem de propósito, o logo é autoria de portugueses.

Gostei muito da ideia e achei-a muito feliz, a combinação surtiu numa figura que junta tradição com evolução e acredito que se tornará numa imagem muito útil para a divulgação do evento e dos países organizadores. Varsóvia aparentemente também gostou do logotipo a julgar pela iluminação alusiva ao tema apontada ao Palácio da Cultura e pelos fogos de artifício lançados desde o mesmo edifício.

Numa altura em que voltam a surgir desconfianças sobre a possibilidade de polacos e ucranianos terem as coisas preparadas a tempo – a UEFA confirmou Gdańsk, Poznań, Wrocław e Varsóvia como cidades-sede na Polónia, ao passo que na Ucrânia apenas Kiev está confirmada aguardando-se decisões sobre Donetsk, Lviv e Kharkiv - a apresentação do Euro2012 é mais um passo na direção certa e um sinal de que as coisas estão a seguir os trâmites corretos. Etapa a etapa, o Euro2012 torna-se cada vez mais real e o próximo capítulo terá lugar ainda este mês: Saber se se confirmam as cidades ucranianas ou se a Polónia estenderá o seu Euro a Cracóvia e Chorzów.

Cada vez mais cheira a futebol na Polónia, mal posso esperar pelo meu segundo Euro vivido por dentro!!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Inverno

Varsóvia, 14 de dezembro de 2009, 12:15, –2º C.

Neve

Começou q:(

Iogurtes de quéim?

Andava eu a gabar os sítios onde se pode comer bem nesta terra quando me chega às mãos… isto.

01122009

Voluntários para provar este iogurte, precisam-se.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Ó Evaristo!

salsichas À medida que vamos ganhando idade também vamos mudando as nossas conceções de vida, coisas que antes se afiguravam negligenciáveis vão ganhando preponderância e fatores que eram prioritários tornaram-se secundários. Quando era puto não ligava muito à comida e comer era um aborrecimento, não porque tivesse maus talentos culinários na família – muito pelo contrário – mas porque não valorizava o que se pode extrair de um bom prato. Admirava o meu tio ao vê-lo passar uma tarde inteira a dissecar pormenorizadamente um pires de moelas ou a raspar todas as fibras duma cabeça de pargo assada, a minúcia e a paciência com que ele se entregava à tarefa deixava-me perplexo e a pensar como alguém pode “perder” tanto tempo às voltas com um pedaço de carne que, afinal, só servia para encher o baú.

Entretanto o puto cresceu e criou um certo gosto pelo ato de comer, adquiriu hábitos como o de passar por casa do avô Luís sempre que ele preparava o seu célebre feijão guisado – as panelas quase que erambanha desinfetadas com as fatias de pão caseiro com as quais eu limpava o rebordo do tacho, não sobrava uma gota de caldo. A minha mãe, embora boa cozinheira, não herdou o jeito para tachos que a minha avó tinha e a prova disso foi um infame feijão com massa que ela preparou e que meteu os homens da casa todos a lutar selvaticamente às 4:00 da manhã pela única sanita do lar. No entanto, louve-se a carninha de vaca à jardineira dela que é uma especialidade (uma no cravo e outra na ferradura, vou passar o Natal a casa e se eu não componho o ramalhete quando chegar como chavelhos).

Ora, eu e o meu compadre Paulo Soska juntamo-nos de vez em quando para atacarmos comida polaca em doses polacas, a sexta-feira começa a ser o dia de eleição para jantarmos os dois e vamos escolhendo as cantinas que mais nos convêm. Hoje foi dia de panados e salsichas servidos com a inevitável couve fermentada (ia escrever couve podre), batata frita e um casal de Tyskies para empurrar. Antes, como entrada, pão de centeio com banha. O desabafo saíu:

- Ah, porra que na nossa terra não temos disto!

Pois não. Na nossa terra esta refeição que em Varsóvia, capital europeia, custou menos de €8.00 a cada um em dinheiro “português”, nunca custaria menos de €15.00 em Faro. Ou seja, o dobro!

panado Enchi a barriguinha e toquei para casa, 500 metros até ao metropolitano para ajudar a desmoer as couves. Entro na Plac Zbawiciela e noto uns floquinhos de neve a precipitarem-se lentamente nos carris húmidos do elétrico, estão 0º e cheira a Polónia por toda a parte, as cafetarias estão cheias de bebedores de chá. Passo por duas louras divertidas que mexem nos telemóveis, elas levantam a cabeça e sorriem para mim, eu cumprimento-as e sigo caminho pensando "será da barba de uma semana?"

Não sei. O que sei, Soska, é que na nossa terra não temos disto!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Desejas o quéim?

Ouvi agora o Nené desejar “que todos os portugueses, essencialmente os desportistas e não só” tenham boas festas.

Obrigado e igualmente, Nenehehehehehehehehehehehehehehe!!!!

Postais da Polónia - 11

ogrodek Varsóvia é uma cidade que tem, tal como a maioria das cidades polacas, um sem-número de espaços verdes sejam pequenos jardins ou frondosos parques. A cidade é picotada por áreas onde a clorofila impõe-se ao betão e o varsoviano não tem de andar mais de 5 minutos até ao parque mais próximo ou até uma zona densamente arborizada, há imensos cantinhos verdes entre os quarteirões e até autênticos prados atrás de edifícios. Ao andar pelas ruas feias de Wola ninguém pode imaginar a beleza dos 37ha do Parque Moczydło que está mesmo por trás dos cinzentos blocos soviéticos, a rua Marszałkowska é larga e bruta em frente ao Palácio da Cultura mas encolhe-se para dar lugar às alamedas do Jardim Saxão, a feroz segurança das embaixadas americana e russa (distantes uma da outra como os Estádios de Alvalade e o Colombo) contrasta com a paz e silêncio do majestoso Parque Łazienki, residência real de verão, sem esquecer o inevitável Campo de Mokotów, espécie de estância de verão e palco de banhos de sol citadinos.

Em cada polaco reside um agricultor, o apego à natureza é natural num país onde 1/3 da sua área é floresta pura. A Polónia não sofreu a partilha de terras para cultivo como nos outros países socialistas e a sua herança verde mantém-se intocável sendo alvo de constantes atenções por parte dos seus habitantes. Muitos polacos têm o seu ogródek, um género deogrodek em ostrowiec pequena horta familiar instalada muitas vezes em pleno centro urbano onde as pessoas constroem pequenas cabanas que servem de retiro de fim-de-semana ou casas de férias para aqueles que não têm posses para as passar fora das suas cidades e para os reformados do setor primário, apesar de se estar a tornar popular entre pessoas mais endinheiradas. Estas hortinhas são legais e funcionam ao abrigo duma lei que as classifica como “instalações de utilidade pública para satisfazer as carências de lazer, recreio e outras necessidades sociais da comunidade local”, concretamente a obtenção de alimentos e frutas a preços mais compatíveis com os seus rendimentos. Alguns polacos mais abastados construíram a sua działka numa floresta fora da cidade, junto dos milhentos lagos do país ou até perto do mar e lá passam momentos de tranquilidade bem juntos da natureza. Eu conheci uma dessas działkas e confesso que fiquei espantado com o tamanho do terreno, da casa e com a sensação de isolamento que se sente naqueles locais.

O agroturismo floresce na Polónia e percebe-se porquê, a Natureza oferece o refúgio ideal para recuperar as energias gastas durante a violenta semana de competividade permanente na cidade e é lá, nas profundezas duma floresta polaca, que se restaura a alma e se readquire força. Principalmente ao som de Chopin e devidamente acompanhado duma vodca Żołądkowa Gorzka com mel.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Sorriso em tempo de nuvens

Estimado Leitor,

Tenho falhado com as minhas obrigações no blogue, tal se deve à extraordinária carga de trabalho que tenho tido em virtude das minhas novas funções na escola onde trabalho e que exigem muitas horas (às vezes 10) em frente dum monitor. Tal implica que eu não tenha vontade nenhuma de me sentar em frente ao computador quando regresso a casa, só me apetece engolir qualquer coisa de comestível, ver as últimas do meu país e atirar com o saco de ossos para o cama. Lamento a falta de assiduidade mas ultimamente não tem havido vagar para a escrita.

Porém as nuvens carregadas do trabalho que choveu em cima de mim nas pretéritas semanas vão dando lugar a uns raios de descanso e de mais tempo para as minhas coisas, vejo sinais de calmaria e antecipo uma atualização do blogue a curto/médio prazo. Como aperitivo, partilho convosco uma estória da vida real.

Teste de Português, 5º semestre. Para praticar as estruturas do Conjuntivo e Infinitivo Pessoal, pedi aos meus alunos que escrevessem votos para o excelso sr. professor que fez anos no sábado. Resposta ortograficamente perfeita da Magda:

Senhor professor, muitas felicidades. Que sejas feliz, sempre contente e que tenhas uma vida fácil e fantástica! Que as raparigas sejam sempre jovens e bonitas, que a cerveja seja sempre fria e que o Sporting ganhe sempre! :)”

De 0 a 20, esta miúda vai ter 32! q:D