domingo, 29 de junho de 2008

O Euro visto da Polónia - 7

O Futebol acabou como nós o conhecemos! A Espanha ganhou alguma coisa!

Esta não é a opinião desabrida de um adepto de futebol, de alguém que analisou este Europeu com imparcialidade e frieza. Este é um desabafo dum tuga fodido com a prestação miserável da sua equipa, vencida às mãos da Alemanha mais acessível das últimas décadas, e roído por ter visto o eterno flop vizinho apodado de "fúria" levar o caneco para casa.

É-me difícil conceber que este enorme erro histórico chamado Espanha tenha levado o caneco para Madrid. Um país que tem metade da população a considererar-se tudo menos espanhola teve o mérito de formar uma equipa de óptimos futebolistas de qualidades inquestionáveis e gerar força suficiente para ganhar a competição. Um país cujo hino nem sequer tem letra foi representado por uma selecção amputada do seu líder natural e melhor jogador (Raul) e limpou a taça. Um país com índices de separatismo regional apenas comparáveis aos Balcãs reviu-se numa equipa cujo treinador foi contestado desde o primeiro segundo e que só obteve consenso quando a imprensa e o povo tocou a criticá-lo. Um país que não ganhou uma única guerra contra nações de menor expressão vitoriou os seus heróis numa conquista inesperada mas merecida.

Perante estes factos e perante uma platéia de polacos torcendo ardentemente pela Espanha (ou contra a Alemanha, resta-me tirar a bandeira portuguesa da varanda, evitar a tentação de comparar os motivos do sucesso espanhol com o fracasso português e fugir de todas as alusões ao Euro08 nas próximas semanas. Talvez me dedique ao hóquei no gelo porque o futebol, para mim, já não é mais o mesmo.




ps - Recuso-me a cair na fácil tentação de comparar Ricardo a Casillas, isso seria percorrer o caminho mais fácil, mas que não houve nenhuma bola parada que fizesse tremer os espanhóis... isso não se pode negar!

sábado, 28 de junho de 2008

O Banco? O Banco é a Caixa Geral de Depósitos

(esta entrada é para ser ouvida ao som de Jorge Palma - Deixa-me Rir)

O ex-seleccionador nacional Luiz Felipe Scolari está a ser investigado pelo Ministério Público por suspeitas de fuga ao Fisco, no âmbito da ‘Operação Furacão’. A documentação, que dá conta do pagamento de elevadas quantias ao técnico brasileiro através de uma instituição financeira com destino a uma offshore, vai agora ser analisada pelo DCIAP, de forma a averiguar se houve ou não falta do pagamento do imposto e, caso se comprovem as suspeitas, qual o valor em falta.

Aqui, o burro não foi ele, não senhor. Mas ainda há mais...

Espregueira Mendes, o administrador da SAD da PortoComercial, uma empresa do universo da SAD azul-e-branca, foi ontem condenado a seis anos de prisão "necessariamente efectiva" pelo Tribunal de São João Novo, no Porto, pelo crime de burla qualificada.

Tipo Carlos Cruz, no 1-2-3: E ainda...

A autorização concedida ao FC Porto de participar na próxima edição da Liga dos Campeões deixou amargo na boca ao presidente da UEFA. Para Michel Platini, «se um clube foi sancionado pela sua Federação, pela UEFA, por corrupção, não pode disputar uma competição europeia».AP Em entrevista ao jornal espanhol Mundo Deportivo, o líder do organismo que rege o futebol europeu não escondeu, assim, o seu desagrado com a decisão respeitante ao actual tricampeão nacional. «Como presidente da UEFA não estou nada contente com a sua (FC Porto) inclusão na Liga dos Campeões. Assumo-o claramente. A UEFA, durante o meu mandato, vai lutar até à morte contra a corrupção», vincou ainda Platini.

Já para não falar de...

Apesar da justiça portuguesa não saber dele, o antigo presidente do Benfica vive há dois anos uma vida de lorde numa casa com quatro andares, no valor de 15 milhões de euros, a cem metros da embaixada portuguesa e perto do magnata russo dono do Chelsea, Roman Abramovich. Vale e Azevedo, um dos mais luxuosos fugitivos portugueses, é proprietário de um Bentley no valor de 380 mil euros, com direito a motorista, a quem alegadamente paga um salário de mais de quatro mil euros por mês.


Não há absolutamente vergonha nenhuma na cara do nosso País, que tristeza!

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Haja fé

Platini tem fé e acredita que a Polónia e Ucrânia conseguirão organizar o Euro2012.

Eu também tenho fé mas não acredito lá muito nisso e não sou o único.

The UEFA progress reports on Poland and Ukraine’s preparation for the 2012 Championships imply that the two countries may lose the right to host Euro2012. The latest report evaluates the preparation of Poland and Ukraine for the championships. UEFA uses a system of colours to assess the level of investment in the hosting countries. White colour stands for a completed or near-complete investment. Green indicates that work is going as planned. Red means that the investment will probably not be finished on time. UEFA marked Warsaw and Chorzów red, as work in these cities is going very slowly. In the case of Chorzów, the stadium’s roof is the main problem and its construction will cost a fortune.
Red means that it is likely that the investment will not be completed on time. From the information acquired by Gazeta, Krakow is best prepared. The newspaper Polska showed that this city obtained the highest grade with regard to tourist accommodation. Gdansk, Wrocław and Poznań are all in a worse situation. Gazeta highlights the fact that Ukraine has been marked red for nearly all of its developments and investments. Dziennik enumerates the problems of our eastern neighbours: the construction of new hotels, road improvement, and the building of stadia. According to Polska, it is possible that UEFA will move most of the events to Poland.


Wirtualna Polska

Oxalá me engane.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Postais da Polónia - 5

Quem visita Varsóvia é bom que não tenha expectativas exageradas em relação às coisas típicas da cidade. Se o visitante de Paris pode trazer uma baguette para casa ou perceber a diferença entre um Piero de la Francesca e um Guardi depois de conhecer Veneza, também tem a possibilidade de especializar-se em tapas em Sevilha ou licenciar-se em salsichas em Munique. Em Varsóvia não se passa nada semelhante porque a capital da Polónia é uma cidade indefinida, sem identidade. A que tinha foi destruída por Hitler e a que sobrou foi aniquilada por Estaline. Guerras sucessivas e regimes loucos deram cabo da imagem de Varsóvia e dão corpo ao ditado eslavo que reza "o que realmente és, ninguém sabe". De facto, ninguém sabe o que é Varsóvia porque, de facto, ninguém é de Varsóvia.

Passeando pelas suas ruas percebe-se imediatamente que a cidade não tem "a Baixa". Teoricamente será na zona do Palácio mas nenhum varsoviano reconhecerá aquele monumento como simbólico do centro da cidade. A Cidade Velha e o respectivo Mercado não têm expressão pois o conceito de "Cidade Velha" é algo ambíguo na medida em que, depois de destruída pela II Grande Guerra, essa zona começou a ser reconstruída há apenas 60 anos. Os restaurantes são vulgares e não há nenhuma atracção que valha a pena visitar. Os varsovianos* também não se ralam muito com a inexistência do "centro" de Varsóvia porquanto cada bairro onde moram ou trabalham poderá ser considerado o "centro" nas suas opiniões: Para os jovens que vêm ganhar dinheiro para a Capital, o centro poderá ser Kabaty ou Żoliborz; para a enorme comunidade vietnamita o centro é definitivamente o pequeno bairro de Gocław, na margem direita do Wisła; para mim é entre a Rotunda e a Chmielna (a única rua pedonal de Varsóvia) se bem que more em Mokotów.

Reparando nos edifícios constata-se o dilema em que os arquitectos do pós-guerra se encontraram para tentar definir a traça polaca ao reconstruir a sua Capital. Os monumentais edifícios de linhas realistas dos soviéticos contrasta com arranha-céus de cunho americano. Prédios decadentes aninham tabacarias escondidas enquanto no outro lado do passeio labora uma popular escola de línguas. Os Porsches, Audis, Mercedes, BMWs aceleram selvaticamente em ruas esburacadas e engarrafadas, a estrutura da cidade não acompanhou o súbito progresso e asfixia em trânsito constantemente por falta de desenvolvimento da sua rede viária. As mulheres saem impecavelmente vestidas e competem no metropolitano pelo título de "mais vistosa", o que é um regalo para este maravilhado escriba.

A arte é pesada, os monumentos são todos relativos a vítimas das guerras, desaparecidos, mártires. Varsóvia é a cidade de todos os mortos, fantasmas, soldados desconhecidos. Os judeus, o "ghetto", o sacrifício é recordado a cada esquina.

É uma cidade que esmaga pelos contrastes e pelo cru realismo da sua função: Varsóvia é para as pessoas trabalharem. Lentamente surge um movimento cultural que procura imitar Berlim através da realização de concertos rock (brevemente vêm cá o Seal, Lou Reed e Santana) e as múltiplas salas de teatro patrocinadas pelos socialistas têm sempre em cartaz boas peças para o público, peças a que procurarei assistir mesmo que não domine o idioma na perfeição (se é que alguma vez o farei).

A encruzilhada em que Varsóvia se encontra pode ser difícil de suportar para o menos avisado, o ritmo é elevado e a exigência é constante. O luxo a par da miséria humana, o fausto vizinho da pobreza, o brilho estival substituto da melancolia do Inverno, os parques intensamente verdes a picotar o cinzento dos prédios decrépitos. Varsóvia é hard-core, só falta mesmo uma prainha para ser ideal.

Recomendo visitá-la para quem quiser sentir-se vivo pelo menos uma vez na vida.


* Escrevi varsovianos em itálico porque o conceito de "natural de Varsóvia" é muito vago. Ninguém nasceu e vive(u) em Varsóvia há mais de 60 anos, quando muito haverá uma geração de pessoas filhas de polacos que entretanto estabeleceram-se na Capital. A cidade tem 2.000.000 pessoas, apenas 10% nasceram cá.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Noites brancas - 2



Varsóvia, 19-06-08 - 9:50 da noite

O Euro visto da Polónia - 6

Ainda estou a recuperar da desilusão que foi este campeonato europeu porque foi efectivamente uma desilusão na medida em que ficou a sensação que poderíamos ter feito muito melhor. Mais uma vez não conseguimos dar o golpe de asa e marcarmos posição perante uma equipa melhor que nós. Falta-nos algo mais em termos de estatuto (diria classe) para que possamos atingir algo que fique para a história, algo que não fossem as vitórias contra Azerbaijão, Finlândia e por aí fora. Na verdade nunca conseguimos vencer uma selecção de topo (França, Itália, Alemanha) e fomos sempre batidos nos momentos da verdade contra estas equipas (meias-finais do mundial06, 3º/4º lugares, euro08). Vitórias contra a Espanha e Holanda são boas mas insuficientes uma vez que a Espanha há muito que nada ganha e a Holanda passou por uma crise de valores. A goleada de Alvalade e vitória frente à Rússia no nosso Euro foram interessantes mas os russos não podem ser considerados uma selecção de primeiro plano. Sobram as vitórias contra a Inglaterra que realmente são saborosas mas normais uma vez que os últimos confrontos têm sido favoráveis às nossas cores devido à melhor valia técnica dos jogadores portugueses e à rigidez tática britânica, aliada a uma falta de qualidade efectiva dos futebolistas ingleses.

Visto bem, até nem fizémos campanhas por aí além. Sempre beneficiados pela sorte ao calharem-nos grupos da baba, quer seja nas qualificações quer nas fases finais, Portugal teve tudo para ganhar nestes 2 anos o que nunca ganhou nem ganhará em 200. Em 2004 tínhamos tudo a nosso favor e não conseguimos derrotar a merda da Grécia (em dois jogos, mais os amigáveis) na final do nosso campeonato, jogada em nossa casa, com toda a conjuntura a nosso favor. Em 2006 o Brasil não existiu, a Argentina foi-se cedo, precisavamos de mostrar que realmente éramos bons... e perdemos.

Provavelmente não somos tão bons quanto imaginamos. Provavelmente somos apenas uma equipa assim-assim, um Vit. Guimarães da Europa que de vez em quando faz cócegas aos Grandes mas que nunca chegará ao cume. É essa a nossa sina, de termos jogadores do caraças mas nunca ganharmos um caneco? E se a Espanha ganha a taça este ano, que moral é a nossa? Puxei pela Itália por causa do colega Filippo e foram baldeados, agora sou da Rússia. Que se charingue!

Ontem fui almoçar num local diferente e enquanto escolhia a salada para acompanhar o panado passei os olhos por uma mensagem subliminar escrita por um qualquer vendedor de comidas polacas que traduz o meu estado de espírito.



Que comece já o campeonato português, este Euro foi para dar ao gato.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Konieć

Vou fazer de conta que não espumei de raiva ao ver os 3 estúpidos golos que derrotaram Portugal. Vou fingir que o Pepe e o Bosingwa conseguiram neutralizar o Podolski (o Jorge Costa tinha-lhe arreado uma puta duma fruta que voltava o polaco do avesso!) e evitar que ele corresse 50 metros antes dele cruzar para o golo dum alemão que também apareceu vindo do nada. Vou esquecer que toda a defesa desmaiou no golo do Klose num ataque de azelhice colectiva. Vou imaginar que aquela saca de cimento a que chamam guarda-redes (e que tal naturalizar o Boruc? Eu dou uma ajuda de bom grado!) ficou onde devia ter ficado com os olhos bem abertos e que, mesmo sendo ilegal, o lance do Ballack não deu em nada.

Vou fazer de conta que nada disto se passou e talvez consiga dormir descansado esta noite, porque ontem foi mau demais.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Esquece lá isso...

Mil vezes isto aconteceu-me. Um diálogo em inglês entre a minha pessoa e um(a) polaco(a).

- Então, Nuno, és de onde?
- Sou português. Sou de Portugal.
- Ah, e é bonito lá em português?
- Er... O país é Portugal, chama-se Portugal.
- Claro, desculpa. Quando é que português joga no Europeu, é esta semana?
- Escuta, português é a língua que se fala no meu país que é Portugal. Percebes?
- Percebo. E é difícil aprender Portugal? Porque português parece um país tão lindo...

Vou começar a dizer que sou algarvio, pior resultado não dará certamente.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

O Euro visto da Polónia - 5

Quero fugir à tentação de aplicar um "eu não vos disse?..." condescendente e fixar-me no que importa reter do nosso jogo contra a Suíça.

Jogamos mal, é verdade. Nani muito "jogador da bola" e pouco "futebolista", Miguel sem gás, Postiga só, Quaresma complicativo, Veloso distraído (United? Milan? Sporting?), pouco vinho português para desenjoar do chocolate suíço. Estes tiveram mais vontade de ganhar do que nós e não venham com a tese da descompressão e desmotivação porque se jogar uma partida do Europeu pela selecção do País não é razão suficiente para se sentir motivado... então não sei o que será preciso para motivar os jogadores. Mostraram que não podemos contar com eles em caso de necessidade e isso foi muito mau para eles, em primeiro lugar, depois para a própria equipa e treinador e em última instância para a massa adepta que precisa de ter um substituto à altura dum Deco ou Ronaldo desinspirados.

Há jogadores que realmente só rendem se espicaçados a partir do banco e Quaresma é um caso flagrante. Não me lembro do cigano ter jogado bem a titular da equipa das quinas, só depois de envenenado por estar sentadinho é que ele entra para partir a louça, à mustang.

E depois veio o que se esperava, o habitual rebuçadinho para a equipa da casa à imagem do jogo Áustria-Polónia. O penalti de Meira é uma invenção do tamanho da cabeçorra do vizinho amiguinho Konrad só comparável à respectiva falta de vista ao não ver duas reguadas dadas em Nani na 1ª parte e descobrir um fora-de-jogo no golo de Postiga. Scolari afirmou que "normalmente a vitória seria da Suíça", ele sabia mais que bem da gatunagem austríaca que estava encomendada. Faz-me lembrar o mundial de 2000 onde a Coréia foi descaradamente levada ao colo pelas arbitragens até à meia-final.

Por algum motivo esse campeonato do mundo não é recordado entre os adeptos, ninguém dele fala. Acredito que tal não se repetirá este ano e que tenhamos motivos para recordar com satisfação este Europeu, se os árbitros deixarem-se de patetices e se a Alemanha (para já) permitir.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

O Euro visto da Polónia - 4

Um país de luto. A Polónia não acredita no que lhe aconteceu ao 93º minuto do jogo disputado ontem em Viena e eu também não, para falar com honestidade.

Referir a justeza ou não do resultado é falar do menos relevante duma partida de futebol. Desde quando que ganha quem merece? Por acaso Portugal mereceu ganhar em Estugarda quando o Carlão enfiou um barranaço na gaveta do Schumacher? A Polónia podia estar a chupar 3 batatas tranquilamente logo aos 20 minutos se não fosse o Boruc salvar a Pátria. Um comentador televisivo célebre no mundo inteiro, Zbigniew Boniek, dizia "o resultado até agora é Áustria 0 - Boruc 0", portanto a questão da justeza do resultado não é posta aqui em consideração.

Assinalar um penalti daqueles é mandar o futebol à merda. Se todos os lances iguais fossem sancionados haveria um concerto de apito em cada jogo com alguns 20 penaltis em cada desafio. Último minuto do prolongamento, vislumbrar uma falta em que todos se agarram é de um excesso de zelo estúpido e desnecessário. Queriam dar um rebuçadinho à equipa da casa, provavelmente também Portugal vai ser pressionado por jogar contra a Suíça no Domingo.

A Polónia pouco joga, é verdade. A defesa nem no distritalão algarvio calçaria, o meio-campo é inerte e pouco criativo (o Roger mexe bem na chicha mas anda a passo), o ataque vive dos raids de Smolarek como bem sentimos na nossa pele na qualificação. Mas a fraca qualidade das equipas não pode ser razão para que se as prejudiquem como o sr. Howard Webb fez. Por via das dúvidas, a Scotland Yard já pôs protecção policial na casa do juíz britânico porque os polacos não são flores que se cheirem e têm razão para andar marafados.

Não. Não sou polaco para andar a defendê-los mas trabalho e ganho o meu dinheiro neste país, o país deles, daí que fico lixado quando os vejo tristes porque fizeram-lhes mal. Tomara nós termos o guarda-redes deles.
PS - Terminou agora o Holanda-França, já tenho um candidato à vitória na Final.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

quarta-feira, 11 de junho de 2008

O Euro visto da Polónia - 3

Ganhámos e qualificámo-nos. Apesar da grande simpatia que tenho pela Rep. Checa (o Baranito e o Guiné sabem porquê) não passei cartão aos laços afectivos que me ligam a Praga e saboreei a vitória (muito mais) tranquila sobre os checos. Um Deco melhor, um Nuno Gomes mais apoiado, um Bosingwa desequilibrador e um Petit de ferro venceram checos feios e viris fazendo jus ao chavão "gabrielalvelino" de que a força da técnica sobrepõe-se à técnica da força.

Numa esplanada fantástica de Varsóvia, no meio dum parque em plena cidade e rodeado de polacos curiosos ao ver estes pássaros exóticos - os tugas- assistindo a um jogo de futebol, senti-me como no Jardim das Pirâmides, no ecrán gigante de Faro. Faltou o Toni para cantar abraçado a mim mas ri com o golo porfiado de Deco, o valente pastilho do Ronaldo e com a finalização de classe dos dois prodígios de Alcochete (por muita dor de corno que isso possa causar). Porém... não posso dizer que ponho o meu dinheiro como Portugal vai à Final do Europeu.

Deco ainda não dura 70', Ronaldo tem sempre 3 oponentes de roda dele, o nosso defesa-esquerdo é uma invenção que surgiu após a evidente inexistência crónica de talentos para aquela posição (Melga: quer queiras, quer não o Rui Jorge foi o melhorzinho dos últimos 20 anos) e por último: Ricardo.

Os arrepios continuam e só espero que se continue a resolver do meio-campo para a frente porque cada bola bombeada para a nossa área são 2 anos de vida que perco.

Enfim, amanhã jogam Polónia e Áustria e tenho de afiar a goela. Um gajo, aqui, tem de dar uma no cravo outra na ferradura.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Dia de... bola!

Camões, poeta zarolho,
Grande vate português.
Via mais com um só olho
Do que tu com esses três.


Hoje é Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades Portuguesas. Procurei explicar o sentido deste dia aos meus alunos mas eles não perceberam porque temos tantos "Dias de" como feriados nacionais, perguntando-me se o 25 de Abril, o 5 de Outubro e o 1 de Dezembro não eram suficientes para exaltar a pátria. Tentei justificá-los com datas que realmente foram importantes para o país mas não os convenci totalmente, eles dizem que têm efemérides mais relevantes e próximas no tempo e que não há dias suficientes no calendário para celebrá-los. Não entrei em polémicas e até escusei-me a comentar a gaffe do nosso Presidente quando este referiu-se (certamente por infeliz acaso) ao ignóbil "Dia da Raça" fascista, isso daria pano para um semestre inteiro de mangas.


Quando ia encerrar o tema perguntaram-me o que iria fazer para comemorar o Dia de Portugal. Contei-lhes que, apesar de alguns dos meus amigos portugueses terem sido convidados para as celebrações oficiais na Embaixada em Varsóvia, não recebi qualquer convocatória e que não tencionava aparecer à socapa só para mamar pastéis de bacalhau e bazar de fininho. Também porque tinha outro desígnio português para cumprir: Torcer fervorosamente contra a Grécia e contra o seu irritante anti-futebol.


Está a resultar. Ganda cacau do Ibrahimović, nossa!!


domingo, 8 de junho de 2008

O Euro visto da Polónia - 2

Se a Polónia sempre teve motivos para lamentar a opção de Podolski em se naturalizar alemão, neste domingo teve dois motivos para aumentar ainda mais a tristeza com a escolha do atacante. O jogador do Bayern de Munique fez dois golos no seu 50º jogo pela Mannschaft, golos que respeitosamente não festejou, e deu aos germânicos a vitória por 2 a 0 na estréia das equipas no Euro.

Eu até tinha uma fé secreta na "zebra" e imaginava uma segunda-feira de sorrisos se a Polónia ganhásse o jogo mas a diferença entre as duas equipas é enorme e os alemães não deram hipóteses aos bravos mas inócuos polacos.

Vi o jogo num écran gigante montado em Pole Mokotowskie, um dos parques de Varsóvia, rodeado de polacos entusiastas e ruidosos. Notei que, comparados conosco, eles prestam menos atenção às incidências do jogo preferindo puxarem uns pelos outros com cânticos e cerveja. Vi muitos de costas voltadas para o écran incentivando os outros espectadores como se a verdadeira razão daquele ajuntamento de pessoas fosse a cantoria e não a bola.

Duas grandes barracas da defensiva polaca destruiram o sonho deste país, ainda não foi desta que a Polónia ganhou à Alemanha em futebol. Ao menos o Kubica triunfou no Canadá, a sua primeira vitória da carreira.

Nem só de bola vivem os polacos, ainda bem para eles.

O Euro visto da Polónia - 1

Levantaram-se vozes defensoras da pureza rácica da nossa selecção quando o Deco estreou-se na equipa depois de naturalizar-se português, "Aqui d'El Rei" na vez de Pepe, anunciou-se o fim da humanidade depois de Makukula estrear-se de quinas ao peito e ter-se-ão ouvido reclamações indignadas por Bosingwa ter rendido Miguel na qualidade de melhor lateral direito português.

Gostaria de saber se todos esses verborreicos estúpidos não vibraram com este momento:





As minhas opiniões sobre as imbecilidades tácticas de Scolari* guardo-as para mim, ficava aqui o resto da tarde.

* Tirar Nuno Gomes e permitir a subida dos centrais turcos, convidando-os para um crescendo anímico perfeitamente dispensável pois tínhamos o joguinho mais que controlado;

Manter Deco em campo quando o jogador (já) não se mexia, não acertava um drible, não metia uma bola a 2/3 metros;

Reinventar Ronaldo como avançado-centro perdendo o óptimo ala que temos por troca com um sofrível dianteiro. Ronaldo de costas para a baliza é menos 50% do jogador;

Trocar Simão por Meireles abdicando completamente de levar a bola à baliza da Turquia a não ser pelos raids de Ronaldo... e este também é de carne e osso;

Mas o Felipão tem uma sorte do caraças, a Senhora do Caravaggio não o abandona. Felizmente.

sábado, 7 de junho de 2008

Portugal! Portugal! Portugal!


Hoje joga a "equipa de todos nós". Não me aguento com os nervos! Há uma festa de anos, uma portuguesa aqui em Varsóvia. Vamos ver o jogo na casa dela. Não me aguento com os nervos! Os turcos são charingados, pá...
Há cerveja? Há tabaco? O que é que eu quero comer? Moss, mas eu quero lá jantar! Não me aguento com os nervos. E se o Ricardo dá uma casa das dele? E se lixam o Ronaldo? E se o Deco não se mexer? Não me aguento com os nervos!

Hoje joga Portugal. Em Genéve, em Faro, em Varsóvia, no mundo.


Hoje joga a selecção e eu (já) não me aguento com os nervos!

sexta-feira, 6 de junho de 2008

JVP, cerveja, metropolitano, justiça que tarda mas não falha

Presenciei os 3-6 ao vivo em Alvalade numa longínqua mas indelével noite de Março de 94. O (finalmente) enterrado estádio antigo foi palco da maior humilhação que sofri em todas as vertentes da minha vida, causada por um João Pinto possuído por um espírito qualquer que dinamitou as francas hipóteses que tínhamos de ultrapassar o eterno rival e instalarmo-nos no 1º lugar. Recordo a fabulosa equipa que o Sporting tinha nesse ano, de todas as que conheci talvez apenas inferior à do título de 2002.

Lemajic

Nélson
Valckx
Vujacic
Paulo Torres

Paulo Sousa
Capucho
Figo
Balakov

Cadete
Iorda

Penso que esta equipa estará para os sportinguistas como o Brasil de 82 ou a Holanda de 74 estarão para os adeptos em geral - apesar de não ter ganho terá sido a melhor equipa dos últimos anos. Estes 11 mais Costinha, Marco Aurélio, Peixe, Filipe, Pacheco, Jusko & Cia. passeavam classe nos estádios portugueses exibindo grande qualidade de futebol onde quer que as camisolas verde-e-brancas fossem vistas. Uma coisa destoava no meio de todo este luxo: O patrocinador da equipa.




Realmente os homens sabem que branco é branco e preto é preto. Bem negra foi essa noite de 94 mas mais negros ainda me parecem os horizontes de outros, algum dia a mamagem teria de acabar.


PS - Agora é que vi bem. 10% ?!?

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Retalhos da vida dum Algarvio - Parte 7

À boca da estação do metro na Baixa de Varsóvia há sempre um daqueles grupos de música andina a tocar o seu repertório, caracterizados a rigor tal e qual aqueles que faziam (e se calhar ainda fazem) as suas actuações em frente à Zara na Rua de Sto. António em Faro.

Tenho muitas perguntas sobre estes grupos: Nunca soube de onde raios são estes índios - se peruanos ou bolivianos ou whatever - ou se existe mais que uma formação da mesma companhia que percorrem os 4 cantos do Mundo como os Stomp ou os Cirque du Soleil. Ponho mesmo a hipótese de que estes músicos (desconheço o nome oficial, para mim sempre foram erróneamente os "mexicanos") sejam parte duma corporação multinacional que tem vários franchisings espalhados por toda a parte. Há o grupo que bate Portugal, 2 ou 3 em Espanha, um outro no Benelux e pelos vistos resolveram apostar também no mercado polaco, à imagem de tantas outras empresas.

Lá passei pelos ditos índios que pulavam e sopravam nas flautas ao som duma melodia que imediatamente captou a minha atenção e me deteve por instantes. Apurei o ouvido e descasquei-me a rir em frente deles quando decifrei a música por trás dos arranjos e acordes sul-americanos.




Atão os gajos não tavam vendendo Verde Vinho por lebre? Acho que ainda agora eles devem estar parados pensando no tipo que entrou na estação às gargalhadas e apontando para eles. Com que então, música andina? Anda já, mó!

PS - Passe a piada do episódio e a eventual pieguice com que possam catalogar as seguintes linhas, quando cheguei a casa e pus a música tocar não pude evitar lágrimas de saudade da grande terra que é Portugal. Quando estamos longe de casa ficamos mais sensíveis a estas coisas, ou será da idade...

segunda-feira, 2 de junho de 2008

É mel!

Varsóvia transpira. 27º nesta altura do calendário não é muito habitual nestas paragens, o mercúrio costuma acusar valores mais modestos e toda a gente surpreende-se com a vaga de calor que assola esta fatia do continente. Ontem houve um churrasco na casa duma colega brasileira para ajudar a enganar a realidade, carninha na grelha e cervejinha gelada conferiu um ar mais familiar ao fim-de-semana bem quente que se fez sentir. O espanto é maior se me lembrar da miséria de tempo que apanhei em Faro na semana passada onde só pude apanhar sol na manhã de 5ª feira. No Algarve vesti malha, na Polónia ando de manga curta.

As minhas segundas-feiras são sempre corridas a velocidade reduzida. Venho do fim-de-semana, a vontade de trabalhar é pouca ou nenhuma assim que trato de levar o dia sem abusar da energia, trabalhando no máximo 5 horas muito espaçadas e com bate-papo à mistura nas esplanadas da cidade. Hoje não foi excepção e por volta das 16:00 abanquei na rua à conversa com um colega, planeando uma festa de aniversário que está próxima e escolhendo o local para visualisar o primeiro jogo de Portugal no Euro 2008.

A conversa foi curta, nada ficou combinado, pouco se conversou. O ar está seco, custa quase a respirar e a abrir os olhos. O pescoço rígido, os gestos quietos, a fala suspensa, a boca abre-se para ajudar a respirar. Não, não foi por causa da temperatura elevada. O nosso incómodo é outro...




É "desmasiado"!