segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Há três dias que não tomo banho de água doce

Aliás, que não tomava porque entretanto tive de tratar disso. Já tinha o cabelo feito em palha de aço.

Vista da janela do quartoApesar de serem férias de trabalho devido a uma delicada situação familiar, as férias deste verão têm sido ricas em muitos eventos típicos da comunidade. Como o leitor já sabe se acompanhar o blogue há algum tempo, eu evito todas as festas sazonais do botox e do bicarbonato porque não acho piada nenhuma àquilo. Malta às cotoveladas só para ver rapazes e raparigas célebres, fortunas de tempo a esperar por uma nesga de bar para pagar uma obscenidade por uma imperial ou uma caipira. Festas do botox e do bicarbonato também as tenho em Varsóvia onde as raparigas célebres locais dão ratadas de beleza às tugas, essas sim que valem a pena presenciar e passar um período de sauna para ter  a oportunidade de examinar mais de perto as verdadeiras composições genéticas que são os seus abençoados corpinhos. Portanto, sobre as festas da pulseira estamos conversados.

Quase nascido e criado na Ria, casa de família na Praia de Faro há mais de 35 anos, é nessa praia que assento arraiais durante as férias de verão e dali (ou daqui porque é na Praia de Faro que escrevo estas linhas) não saio a não ser que seja por uma muito boa razão – Sudoeste, Farense, Columbus Boat Party, Sporting. Outros vizinhos de praia organizam pantagruélicas jantaradas que se estendem noite dentro e que muitas vezes terminam dentro de água, banhos de mar às 3, 4 ou 5 da matina como aconteceu na sexta à noite na casa do Nuno. 13 pessoas à mesa para contrariar a superstição, dezenas de espetadas de frango com bacon e ananás, quilos de limas, gelo e açúcar amarelo a prognosticar um tsunami de caipirinhas (foram feitas mais de cem, seguramente), um frigorífico lotado de minis, muita conversa de bola e o epílogo apoteótico de esperar pelo sol na costa de geleiras e toalha. Uma comunhão perfeita de elementos humanos e naturais, a lua gorda e curiosa a iluminar o mar tépido, a cerveja fresca a passar pelas mãos dos amigos do peito e a jorrar. Regresso a casa num profundo estado ébrio sem paciência para remover o salitre, força apenas para lavar os dentes e desmaiar na cama.

Dia seguinte iniciado como o habitual banho de bons-dias à hora do almoço, o aperitivo e as primeiras notícias do dia à do Fava, uma tarde inteira de praia sob um sol que há anos não torrava assim em agosto, arrastar as pernas até à esplanada para um par de imperiais de fim de dia, picar qualquer coisa enquanto se vê o Grande Amor a despachar mais um adversário (os deuses devem estar loucos!), celebrar a vitória com mais cervejame e pezinhos de rock n’roll (a buba dá pra tudo) num dos quiosques da praia que tem música ao vivo, outra desgraceira consumada ainda por cima amplificada pela ideia maligna do Toni às 3:00 quando os concertos terminaram: Butes dar um mergulho? Três homens e duas mulheres em pelota a chapinhar na água que nem um bando de patos perdidos, de novo voltar para casa bezano, de novo demasiado impertinente para tomar duche.

O último dia da aventura começou como os acima descritos mas teve uma cambiante a meio da tarde, o Farense – Aves no Estádio de S. Luís e eu nunca falho quando o Farense joga em Faro. Só por isso passei o chassi por baixo do duche e permiti algum champô no desesperado couro cabeludo. Fui à bola, jantei com as altas cúpulas do clube para discutir o jogo e à meia-noite, quando já estava a imaginar uma noite descansada, eis que a Iryna com uma mensagem me desvia para uma festa de anos num bar da Praia. Não consigo dizer não àquele par de olhos cor de mel, aos cabelos áureos, as linhas da escola eslava, por isso acabei por aceitar os shots de tequila que ela me propôs mesmo que isso me custasse uma arruaça intestinal a meio da noite. Sacrifícios necessários para poder assistir ao sorriso dela, o caminho para o êxito nunca foi fácil.

 

Hoje já entrei em contagem decrescente para o retorno a Varsóvia, cidade da qual já sinto falta. Tenho saudades da minha casa lá, do meu carro, dos hambúrgeres dominicais, das alvas pernas a passarem na rua Chmiełna, dos neons do Platinium, do meu lugar cativo no Pepsi Arena, dos amigos. Tenho saudades de Varsóvia, claro, mas tenho já saudades deste verão e destas férias. E por isso vacilo.

Esta reentrada não vai ser fácil…

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Praia de Faro, 25º dentro de água

Praia de Faro à noite Repete-se o sentimento por esta altura, um misto de sensações que vai desde a nostalgia de mais um verão cálido algarvio que vai ficar pelas costas, a cidade capital que me espera com indiferença aparente mas roída de saudades por dentro passando pela revisão de todas as coisas pessoais e de família que devia tratar, papéis para regularizar e outros para conferir. Passa-se o mês em revista, vê-se o que foi feito e o que há para fazer, sacode-se o sal do cabelo, mete-se umas garrafinhas de azeite na mala que isso em Varsóvia anda ao preço do ouro, chouriças e milho para fazer xarém e arranca o emigrante de volta à terra do trabalho. Uma imagem um bocado cliché mas verdadeira resultado do apego que o português tem às suas coisinhas e à inexistência de tais artigos onde vive, pena que não se possa levar amêijoas e postas de corvina na bagagem.

Nesta altura do ano faço a minha pré-época, vejo quais as perspetivas de trabalho, as propostas e projetos que me esperam até ao próximo verão. Faço-o em função do ano letivo e de outras ocupações que preenchem o horário semanal, decido para onde me viro e ataco o trabalho revigorado pela carga de sol que trago do Algarve, contente por rever os amigos e os queridos (e queridas) que ficaram em Varsóvia.

Este ano a pré-época é diferente de todas as anteriores, os acontecimentos recentes a nível pessoal fazem-me reconsiderar o planoVarsóvia à noite de vida na Polónia e as confusões familiares não me deixam partir de consciência totalmente tranquila. Muitos pensamentos se cruzam e  influenciam a decisão final, que não é fácil porque é provavelmente o único momento nestes quase seis anos de vida fora no qual pondero seriamente a possibilidade de regressar a Faro. Trata-se no fundo de escolher entre dois males, hipotecar muito em Faro para continuar a ganhar em Varsóvia ou salvar o que tenho em Faro perdendo (se calhar para sempre) o que tenho em Varsóvia.

Haja luz para ajudar a decidir. Honestamente, banhos de mar a 22º à meia-noite com o Jotinha seguidos de tertúlias de bola com o Marguilho e o Soneca até às 2:00 da manhã puxam decididamente a corda para um dos lados.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Por que eu adoro ser algarvio 2

Ilha da Culatra, ponto do país onde se consome mais cerveja ‘Sagres’ per capita, lugar onde só se vende dois tipos de líquidos – a dita ‘Sagres’, a ‘Super Bock’ é repudiada, e café. Um grupo entra num café, integrado no grupo vai um quequinho cuja origem não revelo mas que será óbvia para o leitor. Todos pedem cerveja, diálogo entre o empregado de mesa e o referido cliente:

 

C – Um Iced Tea, por favor.

(silêncio no café, o empregado de mesa perplexo com o pedido)

E – Ice Tea?! E de que sabor?

C – De manga.

(o empregado, pronúncia típica dos marítimos de Olhão)

E – Atão e quer de manga curta ou manga comprida?

(o café vem abaixo com as gargalhadas, o cliente corrige envergonhadamente o pedido)

C – Uma imperial…

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Por que eu adoro ser algarvio

Diálogo num restaurante conhecido de Faro entre uma cliente e um funcionário. Ela típica turista de agosto, insuportável pronúncia alfacinha, petulância a escorrer por cada madeixa oxigenada. Ele filho de Faro, a escola toda, a língua afiada como o sabre dum samurai:

(diálogo transcrito com as pronúncias pessoais dos intervenientes)

- Então e que páixe táim?

- Temos sardinhas, carapaus, sargues, doradas, pêxe-espada, rbales, atum, raia e crvina.

- Ah… Mas só tem essas qualidades de páixe?

- Bem, realmente vocês no oceanário têm mais.

- (silêncio a digerir a resposta) Hmmm… pode ser sardinhas.

Algarvio devia ser nacionalidade, adoro a minha malta!!