sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Cosa Deles - 3

A Federação Polaca de Futebol (PZPN) já tem presidente e chama-se Grzegorz Lato, aquele que é considerado com o melhor futebolista polaco de sempre.

Poland_Lato_1978_L Lato é um exemplo do que se tem visto ao longo da Europa no que  diz respeito ao dirigismo desportivo, nomeadamente no futebol. Os antigos praticantes, apaixonados pelo jogo, decidem servir o desporto-rei através dos seus conhecimentos e experiências adquiridos ao longo de anos passados dentro das quatro linhas. Tal como Platini na UEFA ou Beckenbauer na Alemanha, Lato representa uma nova classe de dirigentes que não provêm das universidades de direito mas que saem direitinhos dos campos de futebol. Estes novos dirigentes penduram as chuteiras, tomam o seu duche, vestem a gravata e pegam na pasta dos documentos para ocuparem gabinetes decisórios e deliberarem sobre o futuro do futebol mundial.

Há muitas esperanças depositadas em Grzegorz Lato e os polacos esperem que ele brilhe à frente da Federação como o fez em 74 na Alemanha, quando se sagrou melhor marcador do Campeonato Mundial de Futebol. Há uma grande ilusão em torno do seu consulado pois pairam nuvens negras sobre a organização do Euro2012 devido à decisão do governo ucraniano em suspender os investimentos relacionados com o Torneio e a Polónia conta com o rigor do antigo jogador do Stal Mielec, considerado "de betão" por não ser influenciável. Lato contou com a maioria das associações distritais para ganhar as eleições e tratou de segurar Leo Beenakker como seleccionador no seu primeiro discurso como presidente eleito para que as especulações sobre a posição do holandês cessássem. Uma prova do seu carácter e um sinal de serenidade para que se trabalhe em paz.

2d1b417724301cb8c667c356f01b5a15,5,1 É uma nova página da história do futebol polaco, a devolução do  futebol aos futebolistas é um fenómeno global que verifica-se nas diversas latitudes da Europa. Em Portugal é com tristeza que verifico a incapacidade de regeneração dos dirigentes desportivos com a perpetuação das raposas que sempre denegriram a credibilidade da bola nacional. Vejo com optimismo a promoção de Rui Costa a administrador da sua SAD, espero o mesmo a Vítor Baía, tenho esperança que Paulo Sousa ou Luís Figo assumam um papel mais preponderante no seio da FPF. Basta de dirigismo sombrio e batoteiro, na Polónia já se aperceberam disso.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Próxima estação, Futuro

Mais de vinte anos depois do início da sua construção, o Metro de Varsóvia foi concluído. A cidade está agora ligada de Norte a Sul por uma longa linha que se estende por 23 km distribuídos por 21 estações (a construção de mais 2 estações está prevista para iniciar-se em 2009). Um sonho de muitos varsovianos foi tornado realidade durante o último Sábado, houve comemorações e festa em Młociny.

Muito se fala no problema do trânsito da capital polaca, uma dor de cabeça comum a muitas metrópoles mundiais mas que tem uma expressão mais significativa em Varsóvia devido à falta de estruturas de base capazes de aliviar o sofrimento dos automobilistas desvarsoviata cidade. O sistema de transportes públicos até funciona bem e consegue-se ir a qualquer ponto da cidade usando os eléctricos e autocarros, porém perde-se muito tempo em esperas e nas paragens. Ir até à margem direita do Wisła cansa só de pensar e para mim é um aborrecimento tremendo ter de visitar o baratíssimo outlet de Ursus no extremo oeste de Varsóvia. Faz falta mais metropolitano na cidade e até há planos que aguardm luz verde para que se tornem realidade.

Todavia a coisa não parece fácil, a burocracia ainda tem vestígios de ferrugem socialista e as decisões levam tempo a serem tomadas. Planeia-se a construção de mais duas pontes, uma a montante da Gdański para ligar as populosas freguesias de Bielany e Białołęka e outra a juzante da Siekierkowska para fazer a comunicação entre Wilanów e Wawer, desafogando assim parte do trânsito que é forçado a passar pelo centro. Estuda-se o traçado da 2ª linha do Metro que atravessará o rio, esperando-se assim que diminue a quantidade de pessoas nos transportes de superfície e consequentemente o número de carros a circular. Ao mesmo tempo procura-se solucionar o acesso dos passageiros do metropolitano à Estação Central que distam 400 desagradáveis (de Inverno) metros um do outro e também enriquecer a oferta de transportes na zona da Cidade Velha, Património Humanitário da Unesco que não tem paragens próximas.

A população rejubila com a conclusão da linha de metropolitano mas eu creio que novos e urgentes investimentos são mais necessários do que de celebrações. O Euro está à porta, há pessoas para transportar com ligeireza e o relógio não pára na contagem decrescente. É tempo de olhar em frente e fazer de Varsóvia a cidade moderna que ela efectivamente pretende ser.

Porque ao olhar para a foto de cima percebe-se que é impossível não se gostar de viver numa cidade assim.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Olfacto lamore... Conamore

Não é que seja sempre que o homem quer, como o Natal, mas às vezes acontece conhecer alguém na noite e proporcionar-se "mais qualquer coisa". Nesses momentos é conveniente estar precavido e tomar as devidas precauções para evitar consequências nefastas. Numa ida ao supermercado encontrei este exemplar:

condom0001

Sugestivo... q:D

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Legia mistrz!

Legia Varsóvia teve um fim de semana em grande. O sol que banhou a cidade acolheu os adeptos do futebol e inspirou os protagonistas do Legia - Wisła de Domingo para que realizássem uma excelente partida de bola. Tenhamos em consideração o nível do campeonato polaco e o termo "excelente jogo de futebol" terá um conceito diferente do que estamos habituados (apesar do que foi mostrado pelos 3 grandes portugueses na miserável prestação que tiveram na última jornada da Liga Sagres).

Dum lado, o Legia Warszawa. O clube mais representativo da capital polaca, fundado por alturas da 1ª Guerra Mundial, deve o seu nome a ter sido criado por soldados polacos da legião do marechal Piłsudski que combatiam junto à fronteira com a Ucrânia. Foi o clube apoiado pelo Exército seguindo uma prática que era comum nos países da Cortina de Ferro como comprova a designação do seu estádio - Stadion Wojska Polskiego (Estádio do Exército Polaco).

Do outro, o Wisła Kraków. A equipa principal da capital cultural da  Polónia, eterno rival do Legia, foi baptizada com o Wislanome do rio que atravessa a cidade e resulta da fusão de três clubes de Cracóvia por volta de 1907. Tem raízes na sociedade civil de Cracóvia e o seu estádio é o Stadion TS Wisła Kraków (Estádio do Wisła de Cracóvia).

A rivalidade entre os dois clubes é considerada como a maior entre os clubes polacos por serem as equipas melhor sucedidas nos últimos anos. Apesar de não serem os que mais campeonatos ganharam* , Legia e Wisła mobilizam multidões em torno dos seus jogos em virtude de possuírem os adeptos mais fanáticos do país. Cenas de violência em que os ultras dos dois clubes intervêm são frequentes e deu azo a que a UEFA expulsásse e suspendesse o Legia das competições europeias após os desacatos de 2007 na Lituânia. Cada um destes clubes tem dérbis locais com Polonia Warszawa e Cracovia Kraków respectivamente mas é quando os dois gigantes se encontram que o país pára em frente à TV.

O clássico de ontem juntou 8500 pessoas para assistirem ao vivo ao jogo. O Wisła entrou melhor e conseguiria abrir o marcador aos 34m por um dos gémeos Brożek. A reacção do Legia deu resultado 5m volvidos com o empate a ser alcançado por Grzelak. Na segunda metade houve muitas oportunidades desperdiçadas por ambas as equipas mas o zimbabweano Chinyama estabeleceria o resultado final aos 67m. Nos últimos 10 minutos deverão ter morrido muitos polacos de idade pois entre bolas ao poste e defesas impossíveis do guarda-redes do Legia, Mucha, que defendeu pelo menos 3 "golos", aposto que alguns corações não resistiram às emoções e apagaram-se de vez. Eu adorei este clássico e não fosse a dificuldade em arranjar bilhete e o tardio momento em que soube que ia haver jogaço, teria certamente assistido ao vivo até porque tenho amigos com bilhetes de época. Fica para o Legia - Lech Poznań, outro jogão que promete.

Varsóvia esfregou a barriga de satisfeita após o desafio e eu senti parte dessa satisfação. Trabalho em Varsóvia, pago os meus impostos em Varsóvia e apesar de não me sentir varsoviano (mais silesianscan0001o, não sei explicar bem porquê) tenho de escolher um clube de futebol neste país. Naturalmente Legia!

Varsóvia ganhou o clássico no Domingo e finalizou a linha de metropolitano, 24 anos depois de ter sido iniciada a sua construção. Disso falarei mais tarde, por agora ainda saboreio a vitória do meu novo clube.

 

* Os recordistas de campeonatos ganhos na Polónia são os silesianos Ruch Chórzow e Górnik Zabrze com 14 títulos cada enquanto o Wisła tem 11 e o Legia 8. Chórzow e Zabrze estão uma para a outra como Lisboa e a Amadora, lá a rivalidade também é de meter medo.

domingo, 26 de outubro de 2008

A Aldeia da Roupa Negra

Mudou a hora mas parece que felizmente o tempo não mudou. O meu termómetro de janela regista uns simpáticos 14º C e o sol desafia-me brincalhão para que eu o visite lá fora, ele quer falar comigo. Fui dar-lhe dois dedos de conversa na varanda e enquanto regava a trepadeira ele falou-me de bola, contou-me que o Porto tinha perdido (bem e apesar das ajudas) com o Leixões. Rimos os dois da desgraça portista e expliquei-lhe que não tinha visto o jogo porque pensei que fossem favas contadas e preferi ver o recém-puxado Saw 4 uma vez que vou assistir ao 5º filme da série na terça-feira e precisava de estar actualizado com as peripécias do Jigsaw.

Concordámos que a alegria vai durar pouco já que o Sporting vai trazer certamente mais um camião do Ikea português e os índios do outro lado da rua não deverão facilitar, assim decidi que nem vale a pena comprar tabaco e tentar anular os nervos logo à partida. No meio do meu paleio com o astro-rei este sugere-me que estenda a roupa lavada a secar e promete-me que vai portar-se bem durante o dia de hoje. Meio desconfiado aceito a proposta, abro o varal e vou buscar a roupa á máquina.

Ainda de pijama, olho para o parque onde os putos brincam. Atiram areia uns aos outros enquanto sobem escorregas e penduram-se em gaiolas, outros correm a esmo porque têm de esgotar as energias próprias de quem é novo. Recordo que tenho jogo ao fim da tarde (campeonato distrital para empresas) e tenho de ter a roupa da bola seca até às 19:00, volto a tratar da roupa e volto a irritar-me com uma situação que me acontece sempre que lavo roupa preta ou escura.

Deve ser da água de Varsóvia, cada vez que a tiro da máquina a roupa vem cheia de pelinhos e pequenas poeiras dando a impressão que a roupa sai mais suja do que quando entrou. Está cheirosa, macia 26102008(001)mas carregada de sujidadezinhas que me marafam até à medula. Obrigam-me a sacanear para cima e para baixo com o rolo de papel adesivo para remover todas essas partículas, é um stress quando passo a ferro por ter de fazer dois trabalhos em vez de um apenas e metem-me a pensar que não devo comprar roupa preta na Polónia.

Mas como, se o tom escuro é o que se mais usa - e se vende - nesta terra? Lá terei de enfeirar uns trapinhos quando for a Faro pelo Natal.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

É só uma, é rápido

Às vezes um gajo diz à pomba: "Vou só beber uma ou duas com os moços, venho cedo para casa". Aqui na Polónia o conceito é bem diferente.

24102008(001)

Sim, a Tyskie é a minha preferida e não apenas por razões sentimentais q;)

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

É o Leão!

Numa noite qualquer da época 93/94, o SLB recebeu o Sporting na Luz. Na sequência dum canto marcado na esquerda, Figo eleva-se entre os adversários e cabeceia para o golo inaugural desse dérbi. Punho direito no ar, a raiva transbordante, a explosão emocional, o abraço colectivo, um nome gritado em uníssono: Cherba!

Hoje vi-o no Jornal da Tarde da RTP1 de cachecol verde e branco ao pescoço e recuei 15 anos no tempo. Lembrei o extraordinário golo que marcou ao Beira-Mar em Alvalade, as arrancadas com que ajudou a URSS a dizimar a Espanha no S. Luís em 1991, a magia que emprestava a um meio-campo composto por ele próprio, Peixe, o já referido Figo e o mago Balakov. Os tempos em que ser do Sporting era uma ilusão e um orgulho que sobrepunha-se aos insucessos do Leão.

Revi o Cherba na televisão, cachecol verde e branco ao pescoço e a falar português cherbakov3correctamente. Senti o entusiasmo que ele nutre pelo Sporting, tal e qual a paixão visceral que os sportinguistas alimentam pelo seu Clube. Revi-me nele, um adepto afastado das suas cores mas com um coração que sofre como nunca rogando vitórias. O Cherba não sabe por quem há de puxar, se pelo Shakthar onde nasceu e cresceu ou se pelo Sporting onde se fez homem e cujos valores aprendeu a amar.

Ao ver o Cherba de cachecol verde e branco ao pescoço e ao ouvi-lo falar do Sporting com tanto amor regresso 15 anos no tempo e junto-me à maralha da Escola do Carmo e do Largo da Caganita para ver jogar o meu clube, rir com eles, chorar com eles pelo meu, deles, nosso clube.

Força, grande Cherba! Força, grande Sporting! Vence por nós!

edit: És o maior, Levezinho! q:D

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Postais da Polónia - 7

A herança histórica na capital da Polónia é muito importante, tem um peso significativo no dia-a-dia dos varsovianos e que é recordada em cada esquina. Nas freguesias centrais de Varsóvia (Wola, Mokotów. Ochota, Śródmieście) cruzamo-nos com muitos monumentos, placas de memória que contam um pouco da história sofrida 01092008desta cidade, pedaços de sangue polaco vertido âs mãos dos seus invasores, tempos de ferro, fogo e pólvora que dizimou a identidade do seu povo.

Começa por incomodar a profusão de pequenas recordações implantadas nas paredes de alguns edifícios ou em recantos de praças em pleno coração de Varsõvia. No cruzamento entre duas das principais artérias da capital, Marszałkowska e Świętokrzyska, o mármore indica o local onde as tropas de Hitler assassinaram 40 pessoas a 2 de Agosto de 1944. Um resto de muro em Wola assinala o preciso ponto onde outros 40 polacos foram mortos pelos nazis a 11 de Dezembro de 1943. Estes monumentos repetem-se em vários pontos da cidade e narram constantemente os episódios dramáticos desta cidade na primeira metade dos anos 40.

O incómodo causado ao assistir a tantos testemunhos de morte dilui-se à medida que a Polónia se entranha na carne, que nos habituamos ao país, que nos sentimos mais como um deles. Como diriam numa posta passada, é a aculturação que nos faz ver essa realidade com outros olhos e a sentir um pouco as atrocidades que foram feitas a este povo.

Por m26082008uitas carências que possa ter nas suas infraestruturas, por  muito atraso que possa registar no seu desenvolvimento, por muito rijo que seja o clima e a índole da sua gente, tire-se o chapéu à firmeza da Polónia e Varsóvia em particular. Sofreram sevícias, sofreram um quase genocídio, sofreram expropriações e subtracções no seu território mas souberam sempre manter a sua cultura, resiliência, idioma e esperança. É essa esperança que me move nesta cidade, a esperança que eu seja infectado pela permanente capacidade de renovação de Varsóvia.

Zobaczymy.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

200 + 1

06082008(002) 200 postas e um ano depois, parei para pensar e reflectir no que tem sido a minha vida neste país. Todas as diferenças que tenho sentido e registado neste espaço devem concerteza ter modificado a minha maneira de ser nalgum aspecto, não devo ser seguramente a mesma pessoa que era quando saí de Faro porque um ano a viver sob regras e num ambiente completamente distinto do habitat natural deverão modificar algumas coisas no ser. Sentei-me num café e passei para o papel as pequenas mudanças que, sinto, fizeram de mim um algarvio semi-polaquizado. Eis 10 delas:

  1. Já começo a falar com sotaque varsoviano, a inflectir o fim das orações. A cada meia duzia de palavras empurro a entoação final das palavras para cima ao estilo dos contos infantis. Às vezes ouço-me e pareço que sou de V. R. Sto António;
  2. Cumprimento homens e mulheres com apertos de mão, estou mesmo a ver que ao chegar à terra vou estender o braço para saudar as meninas e levar com um "tás parvo?" nos queixos. Beijinhos precisam-se, tenho de sair mais à noite;
  3. Abro portas de edifícios e elevadores para que entrem todos primeiro que eu. Os gajos são brutos que nem um pneu nos transportes públicos mas desfazem-se em protocolo quando há uma porta no caminho ou quando um velhinho chega-se perto no autocarro;
  4. Como junk-food que me pelo. McCaca, Kebabs, KFC, zapiekankas e outras merraças quejandas são aspiradas rapidamente nas deslocações entre os locais de trabalho. Ao menos a cola é light, o gesto de expiação num pecado constante ou a pequena nuance de saúde nesta cruzada diária a caminho do cancro de estômago;
  5. Faço a comida na sala. Quase todos os apartamentos em Varsóvia têm kitchenette e o meu segue a regra. Vá lá que o exaustor é potente e aspira os aromas dos pierogis;
  6. Alterei o conceito de "frio". Agora só me queixo abaixo dos 4ºC em vez dos 12ºC que me faziam resmugar em Faro. O ar é seco nestas latitudes e isso faz com que se aguentem melhor as baixas temperaturas;
  7. Bebo café. Nunca fui adepto da bica, nunca bebi café com leite ao pequeno-almoço, sempre fui menino de UCAL ou sumo de fruta mas cá mamo com cada cisterna de cafeína a meio da tarde que atá assusta. No Inverno é absolutamente necessãrio um balde de latte para dar estrica e suportar a escuridão das 16:30;
  8. Não abro a boca para concordar com as pessoas. Na Polónia é habitual, em conversação e mesmo ao telefone, abanar a cabeça em sinal afirmativo com um hum-hum de conformidade com o que dizemos em vez do típico sim, sim português. É esquisito porque parece que estamos a poupar palavras mas acaba por entrar nos nossos hábitos;
  9. Ando mais rápido. O relógio é implacável nesta terra, as distâncias são maiores mas o tempo nem por isso. A corrida entre metropolitano, elétrico e autocarro fez-se parte dum quotidiano nada habituado a estes stresses. Os dias são maiores e o ritmo é sempre elevado, Varsóvia não dá tréguas aos menos capazes;
  10. Esqueci-me de quanto vale o Euro. Tantas vezes a fazer as contas em zlotys, a adquirir produtos em zlotys, a ganhar o salário em zlotys, a comprar bilhetes de avião em zlotys, a pensar em zlotys quase que não me lembro das notas de euro. Vejo as notícias na tv e tenho de gastar algum tempo a traduzir euros em zlotys, um destrouxo;

200 postas e um ano depois creio que não sou o mesmo homem que 06072008(007) abalou de Faro em 2007. Estarei diferente nalguns aspectos, decerto, mas acredito que sinto-me bem preparado para enfrentar este país todos os dias. Mais crescido, mais apto, melhor.

Estranho esta mistura de definições, sou um algarvio adorando Varsóvia e que se sente silesiano. Que salganhada que aqui vai!

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Portugal 0-0 Albânia

Inenarrável!

A "Geração de Ouro" acaba de ser substituída pela geração dos "Brincos de Ouro". - Simõesonov aqui.

Tá bem, pronto.

Começou o novo ano lectivo, novos estudantes, novas motivações para aprender português. Uma balbúrdia na escola, alunos irrequietos pela excitação própria duma nova etapa no seu processo educativo. A turma senta-se, os olhos polacos brilhantes de curiosidade anseiam pelo tom latino que por fim se faz ouvir na sala. Sorrisos abrem-se ao primeiro "boa tarde" das suas vidas. Pergunto à Agata:

- Porque é que estás aqui a aprender português?
- Porque sei que nesta escola há portugueses de verdade e a mim encantam-me os portugueses.

A mim encanta-me o meu trabalho q:D

terça-feira, 14 de outubro de 2008

O que é que a gente tá aqui fazendo? - 2

Soletraram-me esta palavra pelo telefone e pediram-me para pronunciá-la:

 

Źdźbło

 

Opa, isto também já é gozar com um gajo! E depois não querem que se pergunte...

domingo, 12 de outubro de 2008

A propósito de pastéis de nata

Neste fim-de-semana reuniu-se a comunidade de portugueses de Varsóvia em torno da mesa do restaurante português cá do burgo. Um menu bem nacional onde não faltaram pastéis de bacalhau de entrada, croquetes, camarão, sardinhitas e mais umas iguarias para sentirmo-nos mais em casa durante a noite de sábado. Foi uma janta tipicamente tuga a começar pela algazarra que se fez à mesa, matei saudades das petiscadas de praia ou na casa do Baranito, onde se começa a fazer o jantar às 21:00, sentamo-nos à mesa às 23:00, rimos à gargalhada já perdidos à meia-noite e a ramona põe fim à festa às 2:00. Ali não houve polícia para controlar o ruído mas às 1:30 ainda se enchiam balões de whisky para acompanhar a troca de impressões natural entre portugueses com diferentes experiências de vida nesta cidade.

Confirmei uma idéia que já trazia desde a última jantarada que presenciei, no final do ano passado; a de que há principalmente três tipos de portugueses em Varsóvia (não sei se o padrão estende-se pelo resto do país), a saber:

  1. Os estudantes de Erasmus - Vêm para a Polónia para passar uns meses, se calhar um anito. Provavelmente aprenderão alguma coisa mas dedicam-se fundamentalmente a coleccionar louras (cervejas e miúdas) e a curtir o mais possível até apanharem o avião de volta para o Atlântico porque aqui faz um frio do caraças no Inverno. Não têm problemas de ambientação pois a sua permanência é temporária e a incompreensão do idioma polaco não os aflige. Na dúvida no supermercado, qualquer pizza congelada faz o jeito e a Coca-Cola é universal;
  2. Os quadros superiores do Millennium e Biedronka - Vêm para a Polónia com interessantes incentivos salariais (leia-se bagalhuço) para que a deslocação valha a pena, o que lhes reduz imenso o choque que a transição Portugal-Polónia origina. Pouco se sabe desta comunidade pois são muito fechados em si próprios, quase não convivem com os restantes portugueses e, segundo relatos de tugas cá emigrados há anos, nem demonstram interesse em tal;
  3. Os "outros" - Vêm para a Polónia por causa da namorada, duma oferta de trabalho, dum desafio novo, duma prova às suas capacidades ou pela louca atracção pelo desconhecido. Uns partem cedo, vencidos pela pressão criada por tanta diferença, outros acabam por ficar, atraídos pela mesma diferença. Fazem pela vida, pagam impostos, telefonam-se, encontram-se, vêm a bola juntos, socializam, contam os zlotys para o infantário dos filhos... que são portugueses.

Aqui é que tá o busílis. Os portugueses de Varsóvia que têm filhos portugueses dizem-se abandonados pelas entidades oficiais no que toca à educação das suas crianças. Não há notícias nem programas preparados pela Embaixada Portuguesa (ou pelo Instituto Camões, ou... whoever) para o ensino da língua portuguesa aos descendentes de portugueses na Polónia. Um patrício nesta cidade que tenha um filho em idade escolar obriga-se a inscrevê-lo numa escola internacional, pagando o esperado balúrdio, para que a passagem da realidade portuguesa para a polaca não seja tão drástica. Não há ensino de português para as crianças portuguesas em Varsóvia (haverá noutras cidades da Polónia?) e não se consegue arranjar um "Magalhães" por nenhum canal. Como é que as crianças portuguesas de Varsóvia aprenderão português? Quem lhes ensinará a gloriosa História de Portugal? Quem lhes transmitirá os valores da nossa Pátria? Como entenderão o sentir Português?

O Paulo disse-me que "a malta anda aqui a patinar e eles tão convencidos que por sermos emigrantes tamos cheios de papel". Acabo por concordar com ele, estou cá há um ano e recebi apenas um sinal de vida da Embaixada: um convite para as celebrações do 10 de Junho. O Presidente da República esteve cá e eu só soube pela comunicação social. Há um certo descontentamento na forma como os organismos oficiais do Estado português acompanham estes emigrantes, isso nota-se na forma como eles, emigrantes, desprezam os actuais corpos diplomáticos (os anteriores tinham boa imagem, dialogantes e preocupados segundo me contaram). A distância não pode ser desculpa pois se aparecem milhões de escudos em investimento no solo polaco também deverá haver um gesto de reconhecimento para quem trabalha na sombra em prol da reputação portuguesa na Polónia. Os "outros" levantam o cu da cama às 6:00 da manhã e levam com neve no focinho para que o nosso país seja dignificado através do seu trabalho, das suas aptidões, das suas qualificações e talento. Cada um desses anónimos portugueses é a imagem da sua Nação e reflecte todo um povo a cada momento, é uma grande responsabilidade ser-se português neste país e isso não tem sido devidamente realçado e protegido por quem de direito.

Portugal na Polónia não é só pastéis de nata.

 

ps - Tenho recebido ecos de insatisfação sobre a inexistência dos referidos pastéis nas Biedronka além-Varsóvia. Meus amigos, lamento imenso mas não sei o que vos dizer. Não sei se Varsóvia foi o tubo de ensaio para que se decidisse sobre a comercialização do produto à escala nacional. Sei que aqui os sacanas dos pastéis foram varridos do mapa e que quem eventualmente encontra uma loja com os ditos cujos guarda segredo e não se chiba. Fui ver o Suécia - Portugal a casa da Sónia, ela tinha alguns 30 de sobremesa mas não contou onde os comprou. O pastel tá má caro có pitrol, dieb! Butes fazer um lóbi?

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Cosa Deles - 2

Foi criada uma Comissão Independente para gerir os destinos da PZPN até às eleições agendadas para 30 de Outubro. Salvam-se assim uma data de faces:

  • A da Polónia, que demonstra seriedade e intransigência, varrendo a sua "porcaria" da Federação sem ter de geri-la directamente, o que faria soar alarmes em Nyon e Zurique;
  • A da FIFA, que deixará cair a ameaça de atribuir derrota por 0-3 nos próximos compromissos da selecção polaca (Rep. Checa e Eslováquia);
  • A do Comité Organizador do Euro 2012, que tenta passar a imagem de capacidade e confiança de que todos os prazos e objectivos serão respeitados.

A decisão agradou a Sepp Blatter. O líder da FIFA acolheu com "satisfação contida" as notícias sobre o consenso alcançado em Varsóvia e aguarda que tudo volte à normalidade no seio da Federação Polaca de Futebol. Porém, um porta-voz da UEFA - William Gaillard - reagiu afirmando que "perdeu-se muito tempo com esta questão em vez de se atalhar caminho na organização do torneio". O mesmo responsável adianta que "fizémos tudo o possível para dar à Polónia e Ucrânia os meios necessários para cumprirem o assinado em Abril de 2007 mas estamos desiludidos com os progressos apresentados"poland1

Na minha opinião, a Polónia levou com um pau de dois bicos: Por um lado tinha de investir tempo e fundo para sanear os dirigentes fajutos que lhe minavam a PZPN. Por outro, corria riscos de relacionamento com FIFA e UEFA ao ter de interferir no funcionamento da Federação. Foi uma situação de escolher entre dois males, as consequências negativas eram aguardadas e inevitáveis.

Agora Varsóvia já conta com o apoio das instituições que superintendem o futebol europeu e mundial nesta matéria, talvez seja (sinceramente espero que sim) este o empurrão que precisava para afastar de vez as nuvens negras da desconfiança geral e montar um espectáculo que surpreenda o mundo. Eu incluído.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Venha mais um!

A minha vida é como se me batessem com ela - Fernando Pessoa

O Outono traz sempre cores diferentes. O verde vivo do Verão é substituído pelo dourado das folhas caducas e o azul do céu torna-se cinzento para que a chuva miudinha possa cair sem surpresa. A temperatura desce consideravelmente e passam-se estes primeiros dias sempre com sono. É altura de tirar a roupa mais quente da arrecadação e guardar t-shirts e calções.

O Outono marca o final da minha estação preferida, o Verão de todas as loucuras e festas, de todas as extravasões de energia, das hormonas em flor, das baterias carregadas de dia para estourar de noite. Este foi o meu primeiro Verão sem mar, sem prai29062008a, sem peitada, sem moços à do Vitinha / Fava nem no Columbus, um Verão muito diferente mas igualmente intenso que recordarei com muita satisfação. O Verão de Varsóvia tem encantos inimagináveis que escondem-se na sombra dum piquenique no Saski e exibem-se quando me estendo na relva do Łazienki  ao ouvir um soberbo Chopin tocado ao vivo. Torci o nariz ao ouvir que a época estival na capital polaca poderia ser interessante, julguei inconcebível a idéia dum Verão sem areia nem água salgada, sem minis nem bikinis. Planeei mil itinerários para fugir à secura de Varsóvia e regressar a banhos de sol algarvios mas, por ordens do destino, fiquei por cá. E em boa hora.

Agora relembro as noites de cerveja no Frascati a ver Portugal no Euro2008, as maratonas do Klubo que terminavam num amanhecer em Ursus, Filtry ou Nowolipki, os violentos pés-de-água que ensopavam o povo que não tinha por onde fugir depois de serem apanhados pela costumeira tempestade das 18:00, os gelados lambidos com demasiada sofreguidão por estarem demasiado perto das05092008 minissaias demasiado curtas das polacas demasiado perfeitas, os passeios de bicicleta por Praga e Wilanów, as festas em Powiśle à beira-rio, o mar louro na noite de Varsóvia.

Foi um Verão altamente numa cidade altamente. Se puxar a cassette mais atrás recordo que perto das 0:00 do dia 7 de Outubro de 2007 eu cruzava a fronteira germano-polaca em Görlitz / Zgorzelec, chegava por fim ao país que me adoptaria (pelo menos) um ano.

É Outono. Recordo o Verão e o último ano. Foi altamente e espero que assim continue.

domingo, 5 de outubro de 2008

5 de Outubro

Hoje é dia da República. Dia de lembrar Portugal, de recordar o País e as coisas portuguesas. Dia de lembrar os dias habituais na terrinha, tal como os acontecimentos habituais.

Como habitualmente, perdemos. Vou cancelar a TV Cabo.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Na Polónia sê Polaco - 4

Tenho procurado seguir os hábitos polacos em relação à alimentação. É claro que não posso esperar encontrar facilmente uma cataplana ou um cozido à portuguesa em Varsóvia mas ontem os olhos quase que me saltaram das órbitas ao ver isto:

02102008

Pastéis de nata, produzidos segundo a secular tradição portuguesa, carinhosamente preparados e embalados em solo pátrio e prontos para serem cozinhados no forno de casa. Seis unidades pelo irrisório preço de 2.99 pln (menos de 1 Euro) estão à sua espera no Pingo Doce... digo, na Biedronka.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Cosa Deles

500px-PZPN_-_logo_svg Uma notícia que causaria um terramoto em Portugal passou quase despercebida à população da Polónia: A Federação Polaca de Futebol (PZPN) foi suspensa por supeita de irregularidades graves no seu funcionamento, leia-se corrupção.

 

Tentarei desmontar esta novela por ter constatado que o tema até tem sido acompanhado com algum interesse em Portugal.

Oficialmente o motivo para a exoneração da cúpula directiva do futebol polaco é a "insatisfação com os resultados obtidos pelas medidas anti-corrupção aplicadas pela Federação" Não vem de ontem esta suspeição que paira sobre os dirigentes do futebol polaco - recordo o escândalo que atirou vários clubes da Ekstraklasa para as divisões inferiores, incluíndo o campeão em título Zaglębie Lubin. A intervenção das instâncias superiores no futebol serviu para mostrar à saciedade que o Estado estava atento e que puniria os prevaricadores sem diferentes pesos ou medidas. O povo ficou de pé atrás e pagou para ver, agora sabe-se o resultado.

Estas tricas não despertam muita atenção entre a opinão pública polaca, o futebol não lhes prende a atenção e o desinteresse pelo Euro2012 é geral. Os media não fazem grande eco dos preparativos. Todos duvidam da capacidade dos seus dirigentes e governantes e consideram que a atribuição do certame, mais que uma oportunidade de mostrar ao planeta a capacidade organizativa da Polónia, foi um presente envenenado que apenas servirá para expôr ao mundo as fragilidades e carências do país. Platini já demonstrou desagrado pelos atrasos que as obras assinalam mas continua a acreditar no espírito empreendedor dos polacos. Eu duvido disso e começo a ter algumas reservas acerca do defnitivo pais que acolherá o Euro2012, apesar dos apelos à serenidade por parte do administrador interino da Federação Polaca e das garantias de que os planos estão a ser seguidos com naturalidade.

O problema tem de ser visto à luz da realidade política e social da Polónia, um povo que nada tinha e que apanha-se com dinheiro dum momento para o outro. O esbanjamento e a ostentação em contraste marcado e contínuo com a miséria e indigência é postal de visita diário na cidade de Varsóvia, é só decalcar esta realidade para o cenário das grandes provas desportivas mundiais como é o caso do campeonato europeu de futebol. A Polónia não tem dinheiro, não tem infra-estruturas, não tem hábito de realizar eventos "ocidentais" nem a cultura do empreendorismo público. Esta coisa do "Euro Polónia-Ucrânia "é muito mais individualizada, focada maioritariamente no lucro e riqueza pessoal e aperfeiçoada pelos apetitosos subsídios que certamente a UEFA estará a injectar no erário do evento para que não tenha de corar ao emendar a mão e dar a orgRTR1ORCDanização do campeonato a outro país. A tentação é fácil, o controle pouco, a consequência óbvia. Eu, pessoalmente, estou há dez meses a tentar descobrir o organismo que supervisiona o processo de organização do Europeu (só para enviar um CVzinho) e não consigo driblar as paredes altas das cunhas que envolvem o sistema. Perfilam-se candidatos às eleições de 30 de Outubro e todos fazem da luta anti-corrupção a sua bandeira: Boniek e Lato, colegas na grande campanha polaca em 82 no Mundial da Espanha, são adversários nesta corrida. Eles representam os "homens do futebol" em oposição aos outros dois candidatos, Kręcina e Jagodziński, apontados como próximos do aparelho político.

Naturalmente que a FIFA e UEFA - cegas, surdas mas infelizmente não mudas - apoiam a sua filiada e rejeitam qualquer intervenção do Governo polaco nesta matéria, reconhecendo a direção demitida como válida e vigente. Varsóvia não desarma e acusa a PZPN de usar a organização do Euro2012 como escudo para manterem-se em funções e continuarem com a pouca-vergonha. Os resultados deste braço-de-ferro são imprevisíveis mas adianto um cenário altamente provável:

Cansados das convulsões na Ucrânia e da lentidão de processos da Polónia, a UEFA surpreende e manda o Europeu para outro lado.
Já vi isso mais longe.

Não perca os próximos capítulos!