terça-feira, 29 de junho de 2010

Assim? Vão ao Figo!

Ok, esta é a quente, com algumas cervejas a bordo mas se não mando isto cá para fora não consigo dormir descansado. Portanto, estimado leitor, considere esta entrada com a importância que lhe aprouver.

Vão à merda!

Já fomos!Perder contra a Espanha não tem nada de mais para 193 países deste planeta mas para nós tem e muito por razões que se prendem com o passado histórico destes dois países e pela rivalidade que sempre se exalta nestas circunstâncias. Perder contra a Espanha é mau para Portugal porque aceitar que os nossos vizinhos (hermanos só na diplomacia, vejam lá se eles facilitam nos cursos de água dos rios quando há seca na Península Ibérica) são melhores que nós, embora tenham melhores individualidades, que têm melhor coletivo e melhor orientação técnica, digo, que não têm desorientação técnica é sempre difícil dum bom português admitir. Mas admite-se. Perder contra a Espanha é mau mas pode-se minimamente aceitar à luz destes argumentos: São melhores, pronto. Isto chega?

Talvez chegasse se não fosse acompanhado duma série de ajudas de custo perfeitamente incompreensíveis. Não ponho em causa a vontade dos jogadores em ganhar a partida mas quando temos um timoneiro que, a perder por um golo com meia hora de jogo pela frente, troca de médios defensivos e não arrisca um centímetro no ataque, isso em futebolês diz-se “entregar o ouro ao bandido”. Não tivemos presença na áreasim ou náo espanhola porque as bolas não chegaram lá em qualidade, quando Hugo Almeida saiu perdemos a única unidade de choque que podia discutir bolas com Puyol e Piqué, convidámos a Espanha a pressionar, apostámos nas corridas loucas de Ronaldo e Simão sozinhos contra o Mundo. Sofremos o golo (fora-de-jogo mas por uma unha negra) de Villa e a nossa equipa técnica resolve dar o golpe de asa: Para dar estratégia ao jogo ofensivo, Pedro Mendes por Pepe e para empurrar os espanhóis lá para trás, Liedson por Simão. Deco, mesmo de cadeira de rodas, era a única alternativa para pautar jogo e ficou a definhar no banco. “Ai, ele entrava e não jogava um caracol!” Possivelmente, mas nunca saberemos porque ele nem sequer teve hipóteses de fazer o que tem feito desde 2004. Mexer os cordelinhos do meio-campo português. Ficou sentado a ver a caravela naufragar, impotente, sabendo que ele podia ter uma bóia onde alguém se pudesse agarrar.

Não percebi. Ninguém percebeu. Mais uma vez cheguei à conclusão que não percebo nada de futebol porque sempre pensei que nuns oitavos de final de um campeonato do mundo de futebol, um jogo a eliminar, perder por 1 era igual a perder por 10 e que aguentar o 0-1 era o mesmo que levar 3 ou 4 na pá desde que procurássemos virar o jogo. A Inglaterra fê-lo contra a Alemanha e perdeu. É verdade, mas foi heróica, deu o litro, pôs a carne toda no assador mas as coisas não lhe correram de feição. Nada a criticar. Temos exemplos no nosso passado recente em que Portugal foi para cima de adversários teoricamente superiores como em 2000, em 2004 e 2006, nunca nos encolhemos e mostramos o nosso caráter, tentámos ser heróis e conseguimos. Fomos dignos, merecedores da nação que impulsionava a sua Seleção para o êxito que não foi alcançado mas cujo esforço não caiu em desgraça junto dos portugueses.

Hoje não se viu nada disso, vimos jogadores que queriam mas não podiam porque não conseguiam e porque não foram ajudados. Faltou o que faltava desde o início: Liderança e personalidade. Não temos um comandante dentro de campo (comparar Ronaldo a Figo é o mesmo que comparar Paris Hilton a Madonna) e fora do campo a coisa fia ainda mais fino, não há talento a ler o jogo, a intervir, a imprimir a nota de diferença que define os bons treinadores. Portugal foi um bando de bons rapazes abnegados mas incapazes de qualquer golpe de asa característico dos grandes futebolistas. Faltou-nos um Maniche ou um Costinha  porque não quero sequer tocar nos nomes de Rui Costa ou Figo.

Estamos orfãos. Orfãos de qualidade, de comando, de rumo. Substituimos a “Geração de Ouro” pela “Geração dos Brincos de Ouro” e não temos ninguém que ponha a casa em ordem porque continua a haver porcaria para ser varrida. Perdão, corrijo. Porcaria houve há 17 anos atrás, agora há merda que nem com um Nilfisk se dá limpa.

E por falar nisso. Vão à merda, pá (menos o Fábio Coentrão e o Eduardo)! Assim não há quem vos possa apoiar.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

El D10s

Muitas pessoas já me perguntaram qual é o meu palpite para a seleção que vai ganhar o Mundial provavelmente à espera que eu diga “Óbvio, Portugal!” Não é esse o caso, já aqui escrevi que concordo com Mourinho quando ele diz que “nem com Ronaldo a 1000 à hora”. O meu desejo é que Portugal ganhe mas a minha fé cai na Argentina e aqui eles ficam em choque:

- Argentina?! Não apoias o Brasil?

Pelusa Eu nasci em 1973 e por esse motivo a minha adolescência foi passada nos 80s, as minha primeiras recordações futebolísticas foram os golos do Jordão e do Manuel Fernandes, as defesas do Dasaev e as fintas do Maradona. Cresci a ver o Pelusa a mudar os conceitos de futebol, a dar uma nova dimensão à camisa 10 e tive o privilégio de ver Maradona jogar ao vivo em San Paolo na mítica tarde dos 100 dólares de Ivkovic. Nos anos 80 (ou em época alguma) não houve ninguém como Diego Armando, nenhum jogador cativava as atenções como ele. Lembro-me que passávamos as tardes a jogar à bola na Escola do Carmo e a certa altura alguém gritava para parar o jogo porque “ia dar a Argentina” e corríamos todos para casa da minha avó ou para outra casa próxima para ver El Diez fazer coisas diabólicas com a Adidas Azteca. O jogo da fase de grupos contra a Coreia do Sul, os quartos de final contra a Inglaterra onde Diego decidiu com a mão, qual coelho maroto pulando frente a um atónito Shilton, e com o , onde contornou com maestria metade da Velha Albion, a meia-final contra a Bélgica onde fez um golo de inigualável classe até dinamitar os antipáticos alemães numa final de sonho. Sim, ele enterrou-se na droga. Sim, ele foi um mau exemplo para os desportistas e para os jovens. Sim, ele deu-se com a Camorra napolitana. Mas Maradona é daquelas pessoas a quem tudo perdoamos devido aos fabulosos momentos de deleite e magia que nos proporcionou com a bola nos pés. Ver Maradona jogar futebol era como ver Jerry Lee Lewis a tocar rock 'n roll no piano, Picasso a pintar Guernica ou Shakespeare a escrever Hamlet. Pessoa também era alcoólico, Toulouse-Lautrec morreu de sífilis e nem por isso deixaram de ser grandes na sua arte.

Mas isso sou eu que sou um adepto do futebol romântico, dos 4-3 em vez do 1-0, que gosta mais dos jogadores que “mandam flores” do que os que “racham lenha”, que nunca vai preferir um Gattuso a um Del Piero. Também por isso não gosto do futebol musculado e demasiado rigoroso da Alemanha, não há ali pontinha de criatividade nem improviso. Parece uma máquina a jogar a diesel, sempre em velocidade de cruzeiro e a cumprir um plano destinado a aniquilar o adversário numEl Entrenador determinado momento e que marca golos com a frieza de quem dá um tiro na nuca dum inimigo. Tal como não vou muito à bola com o cinismo italiano, um futebol sem graça, defensivo e que espreita o erro adversário com inusitada eficácia. Gostei da Itália há quatro anos quando derrotaram os insuportáveis franceses, outro ódio de estimação, e nem vale a pena falar do pó que tenho aos espanhóis se bem que estes tenham a atenuante de jogar um futebol positivo, alegre e bonito, voltado para o golo e para o espetáculo.

Mas são espanhóis e tal como nenhum polaco quer a vitória alemã neste Mundial, eu também não desejo que a taça voe para Madrid porque a capital espanhola não é uma grande cidade no meu conceito. Uma cidade para ser digna do título tem de ter um rio tal como Londres tem o Tâmisa, Paris tem o Sena, Varsóvia tem o Vístula, Praga tem o Moldava, o Porto tem o Douro e Faro – ainda melhor! – tem uma Ria em vez dum Rio. Madrid? Chamar rio ao córrego que por lá passa é uma afronta aos rios que acima mencionei. Portanto, se a Taça do Mundo não puder ir para Lisboa como eu quero e desejo divulgo já o meu favorito. Que vá para o rio La Plata, para Buenos Aires, para a Argentina, para Maradona!

PS – Y se no les gusta, que la chupen! q:D

terça-feira, 22 de junho de 2010

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Eleições Presidenciais 2010

Palácio Presidencial Num ambiente especial devido aos acontecimentos do passado dia 10 de Abril, realizaram-se ontem eleições presidenciais na Polónia cujos resultados obrigam à realização de uma segunda volta na medida em que nenhum dos candidatos conseguiu mais de 50% da votação. O candidato da Direita moderada Bronisław Komorowski alcançou 41,5% enquanto o conservador Jarosław Kaczyński, irmão gémeo do falecido ex-presidente Lech Kaczyński, obteve 36,5%. Outros candidatos ficaram-se por percentagens substantivamente mais baixas como o comunista Napieralski com 13,7% tendo os restantes candidatos ficado com votações residuais abaixo dos 2,5%.

Há várias formas de interpretar estes resultados e na minha opinião a Polónia corre o risco de ver Kaczyński ganhar esta eleição. Escrevo “corre o risco” porque é conhecida a sua forma de estar na política pelo seu passado como primeiro-ministro, um homem anti-europeísta de políticas fraturantes e discurso endurecido. A Polónia urbana não gosta(va) dos Kaczyński – já aqui escrevi sobre a hipocrisia dos povos que endeusam os mortos que antes invetivavam enquanto vivos – mas estranhamente foi o candidato do PiS que teve melhores resultados em voivodias do leste da Polónia como a Mazóvia e a sua capital Varsóvia, Łódż e Pequena Polónia (Cracóvia)  enquanto Komorowski e a sua PO ganhou no ocidente polaco e em distritos como a Grande Polónia (Poznań), Silésia (Katowice) e Pomerânia (Gdańsk).

A chave da vitória na segunda volta, a disputar a 4 de Julho, parece ser as possíveis alianças que se desenham no horizonte. Komorowski pode ter uma ajuda da esquerda que representa um eleitorado na ordem dos 15% para fazer frente à multidão de partidos nacionalistas, tradicionalistas, estadistas, conservadores agrários (!), conservadores liberais e conservadores católicos que se preparam para cerrar fileiras num combate político que vai durar duas semanas e cujo desfecho influenciará a vida e o destino do 9º país mais populado da Europa. Como não sou polaco e não posso votar, não faço segredo do meu desejo: Que ganhe Komorowski! 

sábado, 19 de junho de 2010

José Saramago 1922 - 2010

José Saramago Só soube da notícia hoje e fiquei muito consternado com a morte de José Saramago, um homem que sempre admirei devido à sua irreverência e desassombro das suas opiniões. Para mim um homem é aquilo que faz e não aquilo que diz ser e José Saramago não se limitou a ser um escritor de excelência mas uma daquelas pessoas que não têm medo de ousar, talvez tenha sido essa ousadia que lhe cerceou o reconhecimento entre os seus. Os brandos costumes portugueses não gostam de personagens de moto próprio e cientes da sua grandeza por isso não gostaram de Saramago tal como não gostam de Mourinho, a corrente do nacional porreirismo nunca foi compatível com a falta de vocação de Saramago para os amens que o Portugal cristão gosta de dar para cumprir o azedo “Pátria, Deus e Família”, os desalinhados incomodam e há sempre um pequeno Sousa Lara perturbado a espingardar no que pode ir contra o dogma sem se aperceber que o devir da história se encarrega justamente de imortalizar estes vultos por muito que o boneco estrebuche ou que ralhe, como se pudesse comparar a dimensão de um Nobel com um comum mortal.

Não vou escrever nada para homenagear José Saramago porque isso seria o mesmo que compor uma música para prestar tributo a Mozart. Curvo-me apenas perante o Homem que engrandeceu a Língua Portuguesa como poucos, levou o nome de Portugal às sete partidas do Mundo e que nunca deixou de pensar pela sua própria cabeça. Isso é de poucos.

Mestre, obrigado por ter sido português.

terça-feira, 15 de junho de 2010

E os burros somos nós?

“Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana; e não estou seguro sobre a infinitude do universo.” Albert Einstein

Queria não escrever sobre o Mundial mas após a pobre exibição que Portugal protagonizou esta tarde penso que devo publicar algumas reflexões, a ver se os leitores concordam:

  1. Mourinho tem razão quando diz que “nem com Ronaldo a 1000 à hora. Porque Ronaldo não está de facto nem a 50 à hora e porque Ronaldo não está / é jogador de equipa, Contei duas ou três vezes em que insistiu no lance individual perdendo a bola quando tinha companheiros melhor colocados para dar seguimento à jogada;
  2. “Queiroz é pior selecionador do que Domenech” e não sou eu que o digo, é um polaco meu amigo. O professor pode ser muito bom a organizar gabinetes, a preencher folhas de Excel, a planificar sucessivas reestruturações mas de bola… pouco percebe. Não é intuitivo, não sabe ler, não tem modelo, não intervém. É nulo, inoperante e ineficaz nas mexidas na equipa e qualquer Jorge Jesus dá-lhe 10 a 0 no banco. Riade e Lisboa foram produto da “Geração de Ouro”, aquela equipa jogando em piloto automático como Humberto Coelho a pôs em 2000 dava bailes a toda a gente;
  3. Não temos agressividade, não atacamos a bola, não ganhamos a primeira, segunda nem a terceira bola. Por incrível que pareça jogámos no erro da Costa do Marfim, trocando infinitamente a bola à entrada do meio campo enquanto os marfineses defendiam com 11 elementos a 2/3 metros atrás da divisória. Deco não se mexia, Meireles também não, Pedro Mendes não sabe nem é suposto construir, Danny não se viu, Ronaldo queria engolir a bola. Sobrava o Levezinho no meio de 3 ou 4 elefantes com mais meio metro de altura (e largura) que ele. A solução? Barranaços de Bruno Alves para o peito dos defesas africanos, não conseguimos criar uma tabela, um envolvimento, uma desmarcação nem um desequilíbrio;
  4. Isso porque não temos um criador, um pensador de jogo. Deco está a milhas do que nos habituou (e agora de azia com Queiroz), Tiago entrou bem mas não é pão nem bolo. As alas não existiram, a bola foi trocada 300 e tal vezes entre Bruno Alves e Ricardo Carvalho até o primeiro esticar na frente para coisa nenhuma;
  5. Esticar na frente onde não havia o 1,93m de Hugo Almeida para dar luta aos latagões africanos, o pobre Liedson é que tinha a obrigação de ganhar as bolas de cabeça, rabear atrás deles e meter a menina lá dentro. Em vez do panzer português, a cinco minutos do fim, entrou o jogador mais entrosado, mais familiarizado, mais rotinado, preparado e adequado para mudar o rumo do jogo: Ruben Amorim.

Mas calma, leitor, que há uma justificação do desaire: A proteção do Drogba! O Professor Carlos Queiroz declarou que o avançado que jogou 25 minutos a meio gás, quase parado, usou um acessório que causou a não-vitória de Portugal.

Então está bem. Podemos continuar sem atitude e sem audácia, sem uma estratégia coerente com os jogadores que temos, podemos continuar a preparar um Saltillo africano em perfeita tranquilidade, podemos seguir desconhecendo a verdadeira história do afastamento de Nani que mais nenhum dos nossos adversários jogará de proteção no braço e vamos ganhar fácil.

É extraordinário o ridículo em que algumas pessoas caem…

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Alpinismo Urbano

Cheguei cansadinho a casa, já perto das dez da noite, entrei no elevador e comecei a ler o anúncio que a Administração do Condomínio afixou.

 

aviso

Exmos. Srs., chamamos a vossa atenção para o facto que nos dias 10 e 11, blá blá blá, não abram portas nem janelas.

 

Consegui imaginar o motivo que me obrigava a fechar as minhas janelas que dão para a rua Lasek Brzozowy mas entretanto o olho fugiu-me para este trecho.

aviso estranho

E concluí:

- Afinal eles não vão lavar a fronte do edifício, vão treinar a equipa polaca de alpinismo na fachada do meu prédio. Pronto, estou mais descansado…

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Polónia Submersa não somente pela água da chuva

SNC00086De novo as mortes que chegam a quase 30, de novo os desalojados que sobem a mais de 30.000, de novo os prejuízos e de novo uma onda que vai percorrer o Vístula até chegar a Varsóvia durante a madrugada de quarta-feira. A capital prepara-se para uma nova vaga de cheias apesar de não ter chovido nos últimos três dias e de se terem registado agradáveis temperaturas nunca baixando dos 20º nem mesmo após o pôr-do-sol. Na margem leste do rio, a Obrona Cywilna (Proteção Civil) encerrou as avenidas marginais e protegeu as construções mais  próximas com sacos de areia em forma de dique na tentativa de suster as águas que se prevêm galguem o leito do Vístula. O Jardim Zoológico, que visitei no passado domingo, foi alvo de particular atenção em virtude das medidas para evitar o stress que os animais sofreram com as mudanças de local durante as inundações do passado mês. Eu procedi à limpeza da minha adega após a loucura da semana passada e passei um bom tempo a varrer o carvão que caíu dum saco que apodreceu devido ao metro de água que por lá esteve, espero não ter de repetir o mesmo fado até porque os elevadores ainda não funcionam e fazer seis andares a pé duas ou três vezes por dia não faz parte da minha ideia de exercício físico.

A Polónia sofre com as cheias e com os elevados danos que fizeram o primeiro-ministro Donald Tusk deslocar-se às localidades mais afetadas para testemunhar in loco o sucedido, mas sofre também com a sua seleção de futebol, ausente do Mundial da África do Sul, e que serviu de parceiro à preparação da Espanha, equipa que alagou a congénere polaca enfiando seis secos. Não fiquei contente com isso porque desejo o sucesso da Polónia e não me satisfaço se os outros cabrones ganharem alguma coisa, como não fiquei satisfeito com a notícia da lesão de Nani que me parece uma estória muito mal contada.

Mas está sol, depois de amanhã vou a Faro bater uma peitada e a malta quer é disso!

terça-feira, 8 de junho de 2010

Só Para (não) Contrariar

Gosto de escrever em contra-ciclo, de ir contra as correntes generalizadas de opinião, de encontrar virtudes onde todos vêem defeitos ou qualidades onde só se descobrem falhas. Gosto de ver o outro lado da moeda, de ir para cima quando toda a gente desce, de transformar as verdades absolutas à luz da dialética. Gosto de rir entre sorumbáticos, de calar no meio do ruído, de vestir cores berrantes enquanto todos andam de cinzento. Gosto de me sentir o flamingo no meio das gralhas ou o Fiat 600 no meio dos Mustangs, o rapper que atua no Scala ou o maestro que pauta os zés-pereiras, o esquimó que aterra em Freetown ou o algarvio no sopé do Palácio da Cultura.

Varsóvia transpira com o calor da primavera húmida que paira no ar, as tempestades de meia-hora que ensopam os incautos, os dentes-de-leão que atazanam os alérgicos. Estão 26ºC mas os 73% de humidade potenciam a temperatura, o sol nasce às 4:15 e põe-se às 20:55 dando apenas sete horas de noite. Temos sol 17 horas por dia e zero segundos de saudades do inverno.

Mas o meu contra-ciclo tem os seus limites. No dia em que alguém se começar a queixar do calor, juro pela minha saúde que esfrego a seguinte imagem nas ventas do sujeito em causa!

Inverno

domingo, 6 de junho de 2010

Na Polónia sê Polaco - 10

Nesta última sexta organizei uma festa de aniversário-surpresa para a minha comadre, tive de puxar o lustro ao polaco para convidar os amigos dela que só falam neste idioma encriptado mas consegui reunir à mesma mesa a interessante cifra de uma dúzia de polacos mais outros tantos portugueses para celebrar a efeméride. Publicidade propositada, o jantar foi nas novas instalações do Portucale (abraço ao Chefe Costa que continua a ser o maior!) que são muito agradáveis e que dispõe agora duma facilidade que antes não tinham: Uma esplanada que me fez salivar só de pensar nos jogos do Mundial que começa JÁ DAQUI A  UMA SEMANA!!!

Um jantar de aniversário perfeitamente normal e dentro dos padrões portugueses de celebrações do tipo, mesa decorada a rigor, pratos de nomes exóticos para uns mas o trivial para os outros, o bom serviço a que um português está habituado quando se senta à mesa no seu país. Alguns dos convidados polacos admiraram-se com tanta sofisticação e começaram a pensar que toda aquela pompa e o trabalho que tive em contactar as pessoas e organizar a logística só podia ser sinal de que eu iria pedi-la em casamento e começaram a conjeturar tudo e mais alguma coisa. Enquanto os tugas derretiam garrafas de tinto e esmigalhavam o excelente Naco na Pedra (bacalhau no forno aqui para o ja), os convidados eslavos picavam coisas poucas devido ao adiantado da hora –21:30 é demasiado tarde para eles “jantarem” e escrevo “jantarem” entre aspas porque chá e torradas não é o meu conceito de jantar – e porque estavam ansiosos pelo grande momento. Um ou outro pediram um peixinho ou salada de polvo mas nada que se comparasse às grandes pratadas de calorias que os selvagens portugueses devoravam entre gargalhadas de boca cheia de onde voavam brócolos e feijão frade como resultado de mais uma anedota porca. Engraçado foi também ver os comportamentos pós-jantar com os polacos… melhor, as polacas saindo para fumar o seu cigarrinho depois de mascarem meia dúzia de batatinhas e os lusitanos heroicamente agrafados à cadeira bocechando os pedaços de carne dos dentes com Dão e perguntando pelas sobremesas enquanto jogavam um olho manhoso às ancas louras que passavam por eles.

Eu só soube desta situação no dia seguinte depois de termos ido para a boîte do costume. Achei curiosa a reação dos amigos da Ewa que, vendo mesa decorada a rigor e um número significativo de convidados, logo supuseram que era o momento da aliança e da revelação. Nenhum português pensou nisso muito menos o autor destas linhas, regista-se mais um caso curioso de diferenças culturais ou a falta de hábito que os polacos têm de confraternizar com amigos em torno de uma mesa de um bom restaurante. Comer fora, para nós, é uma coisa ritual. Comer fora, para eles, pode significar casório. Tenho de pensar melhor na próxima vez que quiser jantar fora com os amigos da minha Maria :)

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Varsóvia submersa

Um pé de água de dimensões bíblicas caiu sobre Varsóvia inundando várias zonas do distrito de Ursynów onde habito, situação que se passou enquanto estive no cinema, ou seja, numa questão de hora e meia.

Chuva1O estranho céu apocalíptico que parecia cair sobre a cidade aliado ao aviso de que a estação de metropolitano de Imielin (uma antes da minha) estava fechada não fazia prever uma situação destas. A chuva era miudinha e não adivinhava a imensa lagoa em que a baixa de Ursynów, especialmente a minha rua, se tornou com a água a subir à altura de meio metro, tive de andar com água pelo joelho umas boas dezenas de metros pisando o que me parecia ser ramos de árvores até chegar ao portão do condomínio. Os autocarros circulam muito devagar porque o rio em que a rua se tornos quase lhes cobre as rodas, o nível de água da garagem estará decididamente pela minha cintura, muitos carros ficaram avariados e com o seu interior danificado pela água e os que se salvaram das garagens entraram nos parques infantis temporariamente transformados em parques de estacionamento.

Este é o resultado da mais recente tempestade na capital polaca, uma situação habitual nos meses mais quentes do ano mas não com a fenomenal dimensão de hoje. Não se tinha visto tal calamidade quando o Vístula cresceu e alagou as zonas mais próximas, muito menos em Ursynów que fica a 8km do rio. Alguns voos previstos para aterrarem em Varsóvia foram desviados para aeroportos vizinhos como Berlim. As sirenes dos bombeiros e da Obrona Cywilna dão conta do problema que têm em mãos que, pelos vistos, vai durar a noite toda. Aquela água que tenho ali aos pés de casa não tem ar de que vai dali para outro lugar tão cedo, ainda por cima recomeçou a chover.

Abaixo o leitor poderá ter uma amostra do que foi este princípio de noite no sul de Varsóvia, as minhas desculpas pela fraca qualidade da imagem.

Postais da Polónia - 13

Gueto 1 Algumas artérias de Varsóvia ainda exibem traços do “Gueto de Varsóvia”, uma estrutura edificada pelos nazis durante a ocupação da II Guerra Mundial para conter e isolar a população judaica da capital polaca com a intenção de progressivamente exterminar a comunidade judaica espalhada pela Europa Central, que existiu entre 1939 e 1943 até à sua desativação e destruição ordenada por Adolf Hitler.

O “Gueto” foi palco de histórias de atrocidades que chocam qualquer pessoa, lá foram encerrados centenas de milhar de judeus (chegou a ter uma população de quase 400.000 pessoas, o equivalente a um terço de toda Varsóvia) que eram constantemente perseguidos, abatidos repentinamente, roubados, deportados para os campos de concentração e permanentemente controlados pelos soldados alemães. O “Gueto” funcionava como um depósito de mão-de-obra escrava para as fábricas alemãs onde grassava a fome e doenças epidémicas tendo, porém, uma assinalável atividade secreta no campo cultural como concertos de música clássica (muitos músicos e artistas de excelência estavam retidos no “Gueto”), exposições de arte, peças de teatro e até publicações de jornais em três línguas – polaco, iídiche e hebreu.

A maioria dos habitantes do “Gueto” acabou os seus dias gaseada nos campos de concentração nazis, grande parte em 1942 quando Berlim decidiu a sua expulsão para lugares como Treblinka e Auschwitz. O “Gueto” foi também o berço duma revolta que inspirou a “Insurreição de Varsóvia” tendo os seus habitantes, sentindo que a hora final estava a chegar, preferido morrer a lutar enquanto tivessem forças do que numa câmara de gás. Depois do esmagamento da revolta, Hitler ordenou a destruição total do “Gueto”.

Na Varsóvia contemporânea há vários sinais dessa estrutura que são mais visíveis nos distritos de Wola e Śródmieście. AsGueto e Progresso imagens aqui  publicadas foram captadas a 100 metros de uma estação de metropolitano, a 150m de um McDonald’s, a 400m do mais sofisticado centro comercial da cidade e a 1 minuto do coração financeiro da capital onde estão erguidos os edifícios que fazer de Varsóvia a quarta cidade mais alta da Europa. Há sempre uma placa ou um memorial que nos faz recordar a história, Varsóvia recorda-a em cada metro para que as pessoas saibam o preço que a cidade teve de pagar para ser a grande metrópole que é hoje. O “Gueto” foi uma parcela dessa fatura.