quinta-feira, 30 de junho de 2011

E continuo sem gostar de Łódż!

Łódż Voltei a Łódż para corrigir a terrível imagem que a cidade me deu aquando das minhas primeiras duas visitas, uma imagem assaz negativa potenciada pelo rosto velho e degradado da maioria dos prédios da segunda maior cidade da Polónia. Entrar em Łódż de automóvel, de comboio ou de avião pode pregar um susto aos menos avisados porque como já escrevi as estradas têm muitos buracos (o que não é um monopólio de Łódż) e as linhas de elétrico atravessam-se no meio da rua sem aviso nem sinal, a estação central de comboio Łódż Fabryczna desemboca num largo de casas e prédios em muito mau estado de conservação e o aeroporto da cidade parece um pardieiro por estar obsoleto e completamente fora dos parâmetros exigidos a um aeroporto internacional. Decididamente Łódż não oferece um bom cartão de visita aos seus visitantes.

Então porque voltei a esta terra que tanto difamo? Bem, porque mora lá uma comunidade de irredutíveis lusitanos já mais ou menos adaptados à decadência da antiga Manchester do Leste, epíteto que por si não é nenhum elogio, tanto me convidaram para uma segunda visita que acabei por aceitar e meter-me num comboio para ir ter com estes camaradas de diáspora, portugueses que aceitaram a diferença entre as suas soalheiras cidades natais e a medonha metrópole do centro da Polónia. Devia isto a este meus amigos, voltar à cidade e reconsiderar a má opinião que tenho da terra verificando a forma como eles se adaptaram e se integraram com facilidade. Eles tentaram no seu melhor, mostraram-me os melhores restaurantes e discotecas da cidade, passeámos pelas artérias mais movimentadas onde há centros comerciais a ferver de movimento, bebemos nos bares mais in do sítio (aqui uma chamada de atenção para a elevada qualidade de três lugares – Kaliska, Gossip e Bedroom) e até fomos rebocados à casa de simpáticos desconhecidos para desbaratar uísque com cola antes duma festa numa quinta nas saias da cidade em cuja guest-list fomos colocados de forma absolutamente imprevisível e rocambolesca cuja descrição não cabe nesta crónica.

Łódż é mais bonita à noite do que de dia, não porque a cidade se transforme mas porque os olhos de quem a vê vão mudando o filtro com o avançado das horas e também em função do desvio do foco, já não Rua Piotrkowska fixado nas paredes sujas e nos prédios devolutos mas nos neons e batons das casas de copos. Foi um prazer passear pelas esplanadas da rua Piotrkowska e descê-la até à castiça Praça da Liberdade, mesmo assim senti que Łódż é um lugar com ar diferente, como se algo forte esteja quase a rebentar. Não são rufias que provocam as pessoas, não é sensação de insegurança, é apenas uma espécia de eletricidade, de tensão que se sente na pele e em conversa com alguns polacos aprendi que há mesmo o conceito de Mentalidade Łódżiana, um quase permanente estado de rabugice, antipatia, má-disposição.

Compreendi por fim o leve desconforto que vivi em Łódż durante aquele fim de semana, a impressão que senti era causada por uma corrente psicológica emanada pelos habitantes da terra cujas vibrações penetram e afetam os seus visitantes. É difícil não acusar o toque duma terra tão depressiva como Łódż mas devo tirar o chapéu ao meu homónimo e cicerone que me exibiu as virtudes da cidade, mostrando postura e conforto no exercício dos conhecimentos e influências. Quase que apetece dizer que ele merece melhor que Łódż, tal como todos os portugueses que lá conheci.

Łódż é que parece merecer as pessoas que tem, mas enfim, isto até é capaz de ser uma opinião um bocadinho parcial. Ao cabo e ao resto já todos sabeis que eu não gosto de Łódż, não é?

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Noites brancas - 3

Varsóvia, um domingo de junho às dez da noite visto da minha varanda.

Wawa 22.00

E depois ainda têm a distinta lata de nos perguntarem para que precisamos nós de persianas nas janelas…

sábado, 18 de junho de 2011

O sol e a rave

Não começa fácil o dia, depois de uma noite esticada quase até ao alvor devido ao aniversário do meu irmão John, um tipo bom como já não se fabricam. Não porque haja necessidade de grandes rescaldos de manhã seguinte, foram só duas ou três à saúde dele, mas porque tal me roubou um casal de horas de sono que são vitais para o meu chassi, carcaça que dá cada vez mais sinais de impertinência com o passar dos quilómetros. A iminente entrada nos "entas", mais avisada depois do John ter cumprido 39, é sentida cada vez com mais intensidade, no osso e no rosto, apesar duma genética simpática que ainda não se lembrou de semear grisalhos nem rugas, o que me dá um gabo tremendo quando a questão da idade é chamada à ordem. Mas o que tem de ser tem muita força e hoje ao fim de suadas três horas de sono eu já estava de pé a fazer um café com leite quádruplo para abanar os neurónios, água fria para despertar os sentidos e meter o organismo em sentido.

É sempre a mesma música no metropolitano, a malta ataca a carruagem à louca e disputam as cadeiras vazias como se cada lugar fosse um saco de farinha distribuído pela ONU no Darfur, eu abstenho-me de participar na contenda e aguento heroicamente a viagem mesmo com os meniscos a rangerem e os quadríceps a urrarem e observo a suave pressão psicológica que os mais velhos exercem sobre os mais novos para que estes lhe cedam o seu lugar - ficam de pé, em frente e a curta distância das pessoas e aproveitam os solavancos da carruagem para cutucar os passageiros de forma subtil convocando-lhes a atenção até que este se sintam incomodados bastante  que se levantem para a senhora agradecer sorridente o gesto como se fosse surpresa. Eu já aprendi a manha e quando me sinto mais preguiçoso faço-me de parvo e finjo que estou a dormir, fecho os olhos e podem vir para cima de mim com um pau que não me fazem tugir nem mugir.

Sexta é convencionalmente um dia casual nas empresas, o dia da semana em que as pessoas deixam normalmente o fato e a gravata em casa e vão trabalhar em roupas mais descontraídas ilustrando o estado de espírito das gentes. Aqui diz-se que “sexta-feira é o primeiro dia do fim de semana” e faz-se por isso, às vezes de forma um pouco exagerada como atesta as duas festas que me foram agendadas para o mesmo dia e que me fazem carregar a tralha – que não é leve - dum ponto para outro. Não é uma circunstância muito agradável principalmente se tivermos em consideração aqueles paupérrimos 180 minutos que passei na cama, decididamente não o melhor estágio para uma noite de som.


E realmente não foi. Dois locais transbordando de pessoas, o último um tremendo espaço ao ar livre na beira de um castelo situado no parque de Ujazdów, muita vontade de receber as batidas do sul associadas à muita vontade que o Sul tinha em lhas dar, pulos, muitos pulos e muitas garrafas de água bebidas, toalhas encharcadas do suor que o público arrancou ao DJ extraíram as últimas moléculas de energia que ainda havia a começaram a armadilhar o trabalho, os dedos contorciam-se de cãimbras quando os cursores rodavam, as pernas suplicavam por menos saltos e soltavam faíscas nervosas para acalmar o desempenho, todo um estado geral de iminente derrocada segurada por agrafos e palitos de fósforo mas as pessoas pediam mais e mais, assobiavam, batiam palmas, incentivavam a mais daquele estranho mas viciante ritmo que nunca se tinha ouvido em Varsóvia e exigiam mais potência e eu decidi dar-lhes o que eles pediam até que chegasse o (meu) fim.

O fim, esse, foi o que o leitor pode constatar na imagem em baixo. Estava eu já em modo tilt num palco de neons numa espiral autoconsumidora a dirigir uma multidão dançante quando chega um convidado ilustre, daqueles de pompa e salamaleques. Tinha chegado o Sr. Sol para dançar conosco e a rave explodiu de vez!

O Senhor Sol

Hoje não me levanto da cama.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Retalhos da vida de um Algarvio – 16

Swietokrzyska I Respira-se um ambiente diferente em Varsóvia desde o passado fim de semana. As obras da segunda linha do metropolitano chegaram a uma das principais ruas da cidade, por casualidade aquela onde passo maior parte do tempo de trabalho, e fecharam-na ao trânsito devido ao levantamento de asfalto, de calçada e aos trabalhos de perfuração que se vão iniciar em breve. Isso causa problemas de grande monta a quem tem de usar as ruas como via de transporte de e para o trabalho, seja de autocarro ou de automóvel, porque as alternativas não são muitas e estão sempre congestionadas. Esse vosso escriba não padece desse mal pois ele vive e trabalha a 5 minutos de estações de metro além de ter uma capacidade de lidar com problemas potencialmente frustrantes muito diferente dos polacos tendo assim a vida facilitada no que concerne a esse tipo de stresses.

Por causa do trânsito e do stress o meu primeiro encontro do dia agendado para as 8:00 vai começar às oito e meia, a mensagem com o alarme de atraso apareceu já eu estava quase à boca do prédio mas não levei a mal, é da maneira que me posso sentar e deitar um olhar tranquilo para a cidade como tanto gosto de fazer, observando as moles de gente que regurgitam dos transportes públicos, passos apressados em direção aos escritórios, aos gabinetes, às repartições e secretárias. As portas giratórias depositam funcionários em ritmo alucinante e não se consegue estabelecer um padrão, temos rapazes de auscultadores coloridos e sapatos elegantes que entram no edifício a consultar blackberries, homens rudes de pólo azul claro e calças padrão-exército numa demonstração de total ignorância sobre as mais básicas regras de critério ao vestir, outros de calças aos quadrados e ténis Adidas verdes musgo, outro atentado à iris humana, e senhores mais sóbrios de trajo clássico, o fato bem assente nos ombros e gravata adequada ao padrão. Parece que quanto mais velhos são os polacos melhor se vestem, ou o problema é que os polacos mais jovens desaprenderam a vestir-se?

Entretanto recebo outra mensagem, faltam cinco minutos para a hora combinada e sinto o pânico no outro lado da linha porque o trânsito está pavoroso. Eu, pelo contrário, estou confortável no sofá do hall do edifício de escritórios onde o ar condicionado me protege do bafo quente da rua e digo-lhe que não se afobe. Mas cedo aborreço-me da paisagem, vouSwietokrzyska II para o exterior do prédio e desço aos parcialmente renovados túneis da Estação Central para me divertir a ver o enxame de pessoas que por lá caminha, dá-me um gozo muito grande assistir à pressa das pessoas enquanto exibo a minha obscena tranquilidade, muitos olham para mim quase que ofendidos, insultados por alguém se sentir tão descansado numa manhã de terça-feira onde toda a gente anda à cabeçada. Porém eu sigo na minha, um homem raro de óculos escuros e gel no cabelo, estático como um cartaz publicitário, corpo estranho no meio do granel, serenidade que contrasta com a tensão que se sente no ar daqueles túneis dos quais não se podem colher imagens sob risco de levar uns tabefes de um dos seguranças barrigudos que vigiam as galerias e continuo a olhar para dentro das lojas, a ver a taxa de câmbio do zloty, as manchetes dos jornais, as filas para o café, o leva-e-traz dos elétricos e comboios suburbanos que continuam a entornar pessoas tonteadas pelo ritmo imposto pelo de comer e de vestir, ainda por cima com metade das ruas do Centro cortadas ao trânsito.

Faz-se quase nove horas e eu volto para o hall do prédio, a hora está reservada e só acaba quando chegar ao fim, por isso sento-me de novo e puxo do notebook para registar estes instantes matinais. Assim que começo a escrever estas linhas entra uma incrível morena de olhos claros encaixada num estreito fato preto, saia curta a tapar a porção superior das suas pernas desprovidas de meias e imediatamente a minha vista se volta para ela, ajusto o zoom e regalo-me com a imagem, com a graciosidade das linhas, um tratado de ergonomia, um primor! Ela vem e senta-se ao meu lado, delicada e feminina, ajusta a saia às simétricas e delgadas nádegas quando se baixa para o sofá, eu absorvo-lhe o breu dos cabelos, com a ideia tiro-lhe a pouca roupa que ela traz e mergulho na água de colónia que ela terá estrategicamente vaporizado na sua nuca. Tiro o telemóvel e escrevo ao meu parceiro de reunião para não ter pressa, está um trânsito terrível e não vale a pena perder a cabeça com coisas que não podemos resolver, não é verdade?

segunda-feira, 13 de junho de 2011

A Cosa Nostra. Sim, a verdadeira Mafia polaca

Kielbasa morto Como já anteriormente escrevi, nos anos 90 vigoravam na Polónia dois grupos adversários de crime organizado ambos sedeados em localidades nas imediações de Varsóvia: Pruszków e Wołomin. Ambas as organizações dedicavam-se a atividades como extorsão de dinheiro em troca de proteção ao negócio, contrabando de bebidas alcoólicas, falsificação de moeda, tráfico de droga, produção de anfetaminas sendo que o gangue de Pruszków ainda somava sequestros e assassinatos por encomenda no seu menu de ofertas. Eram grupos bastante violentos que foram responsáveis por um número considerável de homicídios na década de 90 inclusivé a morte do General Marek Papała, um chefe de polícia de Varsóvia cujo assassinato permanece como o mais grave crime por resolver na Polónia devido à complexidade do processo e aos nomes envolvidos suspeitando-se que altas patentes do Governo se tivessem relacionado com o submundo do crime e com antigos membros da polícia secreta do regime comunista.

As mafias de Pruszków e Wołomin eram, no entanto, muito queridas entre alguns setores da sociedade civil e os vizinhos gostavam muito de terem mafiosos no seu bairro porque tal era garantia de segurança e de qualidade de vida. Um amigo meu que mora em Pruszków contou-me que conheceu um deles e que o sujeito era bastante simpático e prestável, ajudando qualquer vizinho que tivesse uma solicitação. Supõe-se que “mexia os seus cordelinhos” e que no fim do dia ou da semana o pedido do vizinho, fosse ou não legal, estava atendido. Viver perto de um membro de gangue significava que não havia assaltos, a propriedade privada era respeitada e as pessoas podiam circular tranquilas na rua porque estas eram pesadamente vigiadas pelos seguranças do grupo. Apesar de todo o aparato de vigilância o referido mafioso conhecido do meu amigo acabou por ser morto por um rival em fevereiro de 1996 com 35 anos.

Muitos destes criminosos emergiram com a transição da Polónia para um regime democrático com a abertura de casas de câmbio ou casinos ilegais, outros já tinham ganho algum dinheiro com ocupações ilícitas na Alemanha como roubos de automóveis e falsificação de documentos e regressaram ao país aquando da mudança de regime aproveitando as facilidades que a jovem e frágil democracia polaca dava aosCarro de mafioso morto oportunistas. Instalaram-se uns e outros com negócios legais onde faziam a sua lavagem de dinheiro, abriram restaurantes e galerias de arte, stands de automóveis de luxo, editoras de música. Um dos cabecilhas do gangue de Pruszków é indicado como o maior precursor e promotor do género disco-polo e era proprietário duma superdiscoteca na costa do Báltico considerada à data um dois maiores pontos de diversão de todo o país. De pequenos negócios de fachada rapidamente passaram para os crimes às claras, o tráfico de cocaína e heroína, a produção de anfetaminas – a maior fábrica de anfetaminas da Europa era propriedade dum membro do grupo de Wołomin até a Polícia a ter liquidado em 1995. Pessoas eram coagidas, tributos eram colhidos, os tentáculos das duas organizações sufocavam a Polónia e ninguém conseguia abrir um estaminé no país sem que pagasse o dízimo a um dos clãs senão mesmo aos dois.

Entretanto a rivalidade aguçou-se porque começou a não haver mercado suficiente para os dois grupos, as primeiras fricções surgiram e rapidamente eclodiram problemas graves entre Pruszków e Wołomin, cidades separadas geograficamente por 40km com Varsóvia no meio. A escalada de violência agravou-se e começaram os atentados a membros de uns e outros, alguns falhados mas muitos concretizados como o responsável pela fábrica de anfetaminas acima mencionada que foi executado em 1998 com uma rajada de metralhadora à porta duma pastelaria em Praga Sul ou o chefe do bando de Pruszków que foi assassinado em 1999 em Zakopane por um elemento de Wołomin quando regressava ao hotel depois de uma tarde de esqui. Neste ponto já a polícia polaca tinha as suas investigações num ponto avançado e enquanto muitos mafiosos se matavam entre eles, célebres tiroteios em restaurantes varsovianos à boa maneira dos gangues americanos nos anos 20, as autoridades também foram prendendo outros que sobravam contando também com o depoimento de alguns arrependidos que ajudaram a desmantelar as quadrilhas.

Hoje as mafias de Pruszków e Wołomin estão adormecidas, não totalmente aniquiladas pois pelo menos em Pruszków ainda se vêem automóveis de alta cilindrada de vidros completamente negros a circularem nas ruas e há um certo culto e admiração por parte dos mais jovens, divididos entre a falta de oportunidades de trabalho e consequente desemprego e a monotonia de dias iguais entregues ao álcool e à vadiagem. Em Varsóvia são leves os traços desses tempos, um dos meus amigalhaços é representante duma conhecida cadeia de lojas de bijuteria e acessórios para senhoras e recusou energicamente a pálida abordagem que lhe foi feita quando quis abrir um espaço no centro da capital, não sendo mais incomodado desde esse ponto. A vigilância policial é apertada e dos tempos do crime organizado à moda polaca já só sobram as estórias. No entanto não deixei de apanhar um enorme susto quando apanhei esta imagem no elétrico perto da Rotunda q:)

Mafiosos italianos

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Mentes dementes

Estrumpfes

A propósito desta notícia quero apontar mais algumas situações, péssimos exemplos criados pelas malignas indústrias de desenhos animados que contribuiram para que a minha geração seja a mais desequilibrada psico e motoramente da humanidade:

- O Popeye fumava interminavelmente, cancros de boca, esófago e pulmão eram zero. Devia de ser dos espinafres;
- E a namorada dele, a Olívia Palito? Não era anoréxica? E o bebezinho, o Sweet Pea, afinal era filho de quem?;

- Por falar em filhos, os personagens da Disney não tinham filhos, eram só sobrinhos dos quais ninguém conhecia a mãe nem pai. Além disso nenhum deles usava calças sem ser o Pateta e o Horácio mas todos usavam luvas. A Clara de Ovos, essa galdéria, até andava nua;

- Na aldeia do Astérix todos comiam javali, ninguém tinha uma dieta equilibrada nem se preocupavam com isso;
- A Betty Boop não era um apelo claro e explícito à promiscuidade e à infidelidade? Uma desavergonhada, sempre a bambolear-se em frente dos homens casados, por menos disso houve uma balbúrdia do caraças em Bragança, saíram as honradas mulheres de família à rua a protestar que as prostitutas brasileiras da cidade eram mais bonitas e mais atraentes que elas. Que vontade de rir!!!
- O Tom e o Jerry personificavam a luta entre o povo forte e bruto e o povo pequeno mas esperto num claro apelo à resistência das minorias até derrubarem a maioria opressora;
- A Alice comia cogumelos alucinogéneos e conheceu uma lagarta que fumava (ganza).

Isto (a demência de certas pessoas) está cada vez pior…

terça-feira, 7 de junho de 2011

Os polacos e a sua propensão para fazerem filas

Fila para vodcaJá aqui se escreveu que muitos polacos gostam de um bom confronto físico, de uma boa cena de pancada, de qualquer pretexto que seja para puxarem da culatra e andarem ao banano uns com os outros. Não há muito tempo presenciei uma cena engraçada à porta de um restaurante, vinha eu e os meus companheiros Gravata e Pedra a sair do Lemon e vimos uma zaragata entre dois tipos completamente engalfinhados no chão com murros, pontapés e estalo a voarem generosamente. Enrolaram-se à batatada e ali andavam protegidos por um capanga que não deixava ninguém se intrometer, os táxis não podiam circular e a passagem para o outro lado da rua estava interrompida porque a luta devia continuar, qualquer pessoa que se aproximasse da bulha era logo repelida pelo tal fortalhão e assim não houve remédio senão deixá-los até que se cansassem de andar à bofetada. Por fim pararam e começaram numa aparente conversa de tréguas, encolheres de ombros como que a justificar tomadas de posição, gestos curtos a acompanhar as palavras e logo o rebentamento de nova sessão de tabefes e murros, cabeças enfiadas contra capôs de carros e eu a dar de frosques antes que a pancadaria se generalizasse e eu fosse contabilizado como dano colateral.

Mas o que muitos polacos também gostam é de uma fila, não importa onde nem porquê mas uma fila é um apelo irresistível para os polacos como um rabinho de criança para um padre católico. Basta aFila em Wrocław 1983 visão de um punhado de pessoas a agruparem-se enfileirados para imediatamente se juntarem mais e mais sem que cuidem qual a natureza da fila, para que se destina porque com certeza há alguma coisa interessante no princípio da fila. Se perguntar a algum dos elementos da fila “Olhe, desculpe. Esta fila é para quê?” é possível que receba um “Não sei” como resposta mas é uma fila, há que respeitar o apelo e pronto. Toca de perfilar e de preferência a respirar no cangote do vizinho da frente.

A questão das filas pode ser explicada no contexto da antiga República Popular da Polónia onde havia escassez de bens de consumo, poucas lojas havia e poucos produtos tinham, então as lojas que tinham produtos construíam longas filas de pessoas que esperavam a sua vez para ver o que podiam comprar. Às vezes só depois de entrar na loja é que o cliente sabia ao que podia aceder, se ia comprar papel higiénico, carne ou pão. As pessoas faziam filas pela esperança de receber alguma coisa no fim da procissão, não se sabia bem o quê mas como tudo fazia falta nada era recusado. As filas tinham a sua organização interna ditada Fila para papel higiénico pelos veteranos, normalmente os primeiros chegados ao local, que constituíam um komitet de receção e acompanhamento ao calouro da fila, presidentes e vices que compunham uma lista de nomes devidamente ordenados e a respetiva ordem de acesso. Como os tempos eram duros, as listas tinham um número quase infindável de nomes e muitas vezes não fazia sentido adicionar mais pessoas a uma lista já de si infinita, então o komitet começava uma nova lista que era uma “lista de espera para aceder à lista da fila”, traduzindo, uma pré-triagem de nomes que aguardavam a vez de se meterem ao frio e à neve numa fila enorme para uma loja onde iriam comprar não o que precisassem mas o que essa loja tivesse. Vestígios desses tempos ainda se vêem nas Universidades onde os alunos têm de esperar horrores para uma consulta com os seus orientadores, um dos casos que ouvi foi de uma rapariga que aguardou dois meses até ter direito a uma hora de audiência. Ela fez parte da lista-ante-lista e cumpriu diligentemente todos os passos até chegar à meta com a paciência que as coisas inevitáveis exigem.

Então não se espante se vir uma fila no meio do nada quando visitar a Polónia. Provavelmente não há-de haver nada de jeito na origem mas isso só se sabe depois de subirmos todos os degraus da labiríntica hierarquia que o komitet entretanto elaborou.

domingo, 5 de junho de 2011

Eleições Legislativas – A Frase

Não tenho qualquer intenção em ocupar qualquer cargo político nos próximos tempos – José Sócrates

É como se Vale e Azevedo se afirmasse indisponível para funções no dirigismo desportivo português.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Uma coisa não quer necessariamente dizer a mesma coisa

Estudare necessarius est Às vezes podemos meter-nos em sarilhos sem darmos por ela, na melhor das intenções, especialmente num país cujo idioma é muito diferente daquele do país natal mas que ainda assim tem palavras que se assemelham. O problema é quando essas palavras têm significados completamente diferentes e causam situações ambíguas ou embaraçosas quando usadas em contextos inadequados. Vejamos os seguintes casos de conversas entre portugueses e polacos em língua portuguesa:

PT – E então, vamos beber uma cervejinha esta noite ou não?

PL – Pode ser, a que horas?

PT – Ainda não sei, vou combinar com uns amigos e depois aviso-te.

Aqui já o polaco pensa “Mau… Temos a burra nas couves!” porque julga que o vamos enganar. O verbo combinar em português não tem nada a ver com o kombinować polaco, este significa algo como “orquestrar a coisa movendo influências ou puxando cordelinhos para lucrar à custa da perda alheia, conspirar”. Então o nosso amigo polaco vai talvez pensar que eu vou juntar um gangue português para fazer alguma coisa no sentido de prejudicá-lo de alguma forma quando a nossa intenção é bem mais pacífica e sem qualquer kombinator envolvido. Vamos agora ver outra situação divertida:

PL – Bom dia! Onde vais?

PT – Vou para a empresa.

PL – Às oito e meia da manhã?!

Claro que sim, porque essa é uma boa hora para se ir trabalhar. No entanto impreza em polaco quer dizer “festa, farra, borga” e ir para a festa às oito da matina não é propriamente uma coisa saudável de se fazer, quando muito continuar a festa numa casa de fim-de-linha. Os polacos não dizem “sair com os amigos” mas sim “ir para a festa” mesmo que não haja nenhuma festa especial. É a borga, a desbunda, o fandelir que tem a ver com tudo menos com o ambiente de trabalho duma empresa. Por sorte e para facilitar as coisas em polaco também existe a palavra firma que é tal e qual como em português, assim já dá para clarificar as coisas.