Voltei a Łódż para corrigir a terrível imagem que a cidade me deu aquando das minhas primeiras duas visitas, uma imagem assaz negativa potenciada pelo rosto velho e degradado da maioria dos prédios da segunda maior cidade da Polónia. Entrar em Łódż de automóvel, de comboio ou de avião pode pregar um susto aos menos avisados porque como já escrevi as estradas têm muitos buracos (o que não é um monopólio de Łódż) e as linhas de elétrico atravessam-se no meio da rua sem aviso nem sinal, a estação central de comboio Łódż Fabryczna desemboca num largo de casas e prédios em muito mau estado de conservação e o aeroporto da cidade parece um pardieiro por estar obsoleto e completamente fora dos parâmetros exigidos a um aeroporto internacional. Decididamente Łódż não oferece um bom cartão de visita aos seus visitantes.
Então porque voltei a esta terra que tanto difamo? Bem, porque mora lá uma comunidade de irredutíveis lusitanos já mais ou menos adaptados à decadência da antiga Manchester do Leste, epíteto que por si não é nenhum elogio, tanto me convidaram para uma segunda visita que acabei por aceitar e meter-me num comboio para ir ter com estes camaradas de diáspora, portugueses que aceitaram a diferença entre as suas soalheiras cidades natais e a medonha metrópole do centro da Polónia. Devia isto a este meus amigos, voltar à cidade e reconsiderar a má opinião que tenho da terra verificando a forma como eles se adaptaram e se integraram com facilidade. Eles tentaram no seu melhor, mostraram-me os melhores restaurantes e discotecas da cidade, passeámos pelas artérias mais movimentadas onde há centros comerciais a ferver de movimento, bebemos nos bares mais in do sítio (aqui uma chamada de atenção para a elevada qualidade de três lugares – Kaliska, Gossip e Bedroom) e até fomos rebocados à casa de simpáticos desconhecidos para desbaratar uísque com cola antes duma festa numa quinta nas saias da cidade em cuja guest-list fomos colocados de forma absolutamente imprevisível e rocambolesca cuja descrição não cabe nesta crónica.Łódż é mais bonita à noite do que de dia, não porque a cidade se transforme mas porque os olhos de quem a vê vão mudando o filtro com o avançado das horas e também em função do desvio do foco, já não fixado nas paredes sujas e nos prédios devolutos mas nos neons e batons das casas de copos. Foi um prazer passear pelas esplanadas da rua Piotrkowska e descê-la até à castiça Praça da Liberdade, mesmo assim senti que Łódż é um lugar com ar diferente, como se algo forte esteja quase a rebentar. Não são rufias que provocam as pessoas, não é sensação de insegurança, é apenas uma espécia de eletricidade, de tensão que se sente na pele e em conversa com alguns polacos aprendi que há mesmo o conceito de Mentalidade Łódżiana, um quase permanente estado de rabugice, antipatia, má-disposição.
Compreendi por fim o leve desconforto que vivi em Łódż durante aquele fim de semana, a impressão que senti era causada por uma corrente psicológica emanada pelos habitantes da terra cujas vibrações penetram e afetam os seus visitantes. É difícil não acusar o toque duma terra tão depressiva como Łódż mas devo tirar o chapéu ao meu homónimo e cicerone que me exibiu as virtudes da cidade, mostrando postura e conforto no exercício dos conhecimentos e influências. Quase que apetece dizer que ele merece melhor que Łódż, tal como todos os portugueses que lá conheci.
Łódż é que parece merecer as pessoas que tem, mas enfim, isto até é capaz de ser uma opinião um bocadinho parcial. Ao cabo e ao resto já todos sabeis que eu não gosto de Łódż, não é?
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