quarta-feira, 28 de maio de 2008

O que era doce... acabou-se


Depois de ter arreado a bagagem em casa no regresso a Varsóvia e de abrir uma latinha de Tyskie fresca, estico-me no sofá de braços atrás do pescoço, encho o peito de ar polaco e reflicto nos meus últimos 10 dias. Que percebo?
  1. Que todos se queixam da situação das suas vidas profissionais. A subida dos preços dos combustíveis e consequente subida dos preços dos alimentos constrói filas de 30min nas bombas de Ayamonte entre outras situações inacreditáveis;
  2. Que o clima está efectivamente a mudar. A uma semana de Junho só gozei uma mísera manhã de sol. Noutros tempos, por esta altura a maltinha já tinha apanhado escaldões e a magana já estava montada há 15 dias para bater a peitada da ordem;
  3. Que "haja o que hajar", felizmente mantém-se o bom hábito de socializar em torno dum pires de ervilhanas ou dum prato de biqueirões salgadinhos para que as minis ajudem a conversa. As tardes de Rogerinho com o Pedrão e a ponta final com o Luís Norte no Largo da Palmeira forraram-me o palato com temperos da minha terra. Referência também para um cafezinho inesperado e feliz com a Maria João (tanto que recordámos e tanto que ficou por falar) e para a pajela de carne assada que mamei com o Cachola na casa do Nelson na Amendoeira a custas dos meus ex-colegas lampiões;
  4. Que afinal não estou tão pesado assim e que ainda duro 120 minutos de peladas graves no sintético do Liceu, marcando golos. Cheirar aquelas paredes de novo fez-me recuar aos tempos da Associação de Estudantes e dos derbies Sporting-Benfica de há anos atrás e recordar os tempos em que esta nobre Escola era o meu principado. Talvez por isso tenha esquecido o peso dos 34 e tenha corrido que nem um desalmado na briga pelo repolho;
  5. Que as polacas são realmente mais interessante que as portuguesas... e de longe;
  6. Que a família está bem e recomenda-se;
  7. Que para animar uma festa, é o Cascão e mais 10! Entre a despedida de solteiro e o casamento do João foram 300 e tal horas de rir à pala do sacana;
  8. Que apesar do intenso sabor a frustração que partilho com o Giga, Fava, Toni, Cartaxo e etc., a época do Sporting foi bem boa se atendermos à frieza dos números;
  9. Que vou estudar a hipótese de instalar o MEO para Varsóvia;
  10. Que gosto imenso da minha terra e da minha região mas não vi efectivas razões para desistir deste desafio e regressar definitivamente à base a curto prazo. Um dia, certamente, mas não em breve.

E muito menos da maneira em que encontrei o País.

domingo, 25 de maio de 2008

É de seguidinha

A Sandra e o João casaram no sábado e foi uma barrigada de rir com aquela pandilha.

O meu fígado é que não está com o mesmo humor, 7 carraspanas em 7 dias dá cabo da paciência a qualquer órgão. Felizmente (para o meu fígado... digo, isca) estarei de regresso a Varsóvia no decorrer desta semana.

Isto se me deixarem.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Na Polónia sê polaco - 3

Estou entregue ao relaxe por terras Algarvias mas passo muito tempo a recordar episódios quase surreais da minha experiência polaca para contar aos meus amigos. A última que relembrei passou-se um dia antes da minha partida para Faro.

Fui a uma loja da Plus pedir roaming e a autorização para enviar MMS porque essas opções não vêm disponibilizadas de origem nos cartões SIM. Uma carinha laroca dá-me as boas-vindas à loja e prontifica-se a ajudar-me. Contente por ter tão lindo rosto focado nas minhas necessidades, passo a explicar que o telefone e o software não são polacos mas como o cartão é... tal e coiso, preciso de roaming porque vou viajar... por aí fora, és toda gira... cala-te Nuno e trata do cartão.

"Então o senhor quer ter roaming activado no seu telefone, certo?
- Certo, e MMS também para poder enviar fotos para outras redes.
- Muito bem. Entao eu vou activar o seu roaming e o sr. fica com este código para activar o MMS quando quiser.
- Mas a menina não poder fazer já as duas operações?
- Não. Só pode activar uma de cada vez. Quando activar o MMS desactivará o roaming.
- A sério?! Mas porquê?
- Não sei. Mas se quiser reactivar o roaming desactivará o MMS.
- Mas que jeitos?!?
- Não sei. É como é..."

Perante isto, o simpático sorriso da cachopa e sabendo de antemão que não vale a pena pedir por um golpe de improviso ou desenrascanço à tuga, amonchei o burrinho, agradeci a simpatia com o roaming activado e abandonei a loja perguntando-me como será o serviço ao cliente na Bielorrúsia...

sexta-feira, 16 de maio de 2008

O blogue foi a banhos

Aterro em Faro amanhã. As minhas impressões sobre a Polónia ficam, deste modo, interrompidas por 10 dias.

Tenham paciência mas já precisava deste período de relaxe. Agora vão ser dias de peitada, minis e petiscadas. Nem só de polacas vive (este) homem q;)

Do zobaczenia (até logo)!

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Montanhas Polacas - Parte II

Fui remoendo a azia potenciada pelas péssimas estradas que finalmente levaram-nos ao nosso destino. Como se as dificuldades não bastássem, o GPS não está actualizado e as estradas e montanha na Polónia, como em todo o lado, são estreitinhas. Caminhitos que passam despercebidos aos satélites que vigiam e reportam a jornada destas 5 almas quase (de)penadas. Foi a duras penas e depois de muito penar que chegámos à pousada reservada em Ząb. As primeiras impressões foram de pouco caso pois o cansaço e o adiantado da hora não permitiram grandes análises, tempo houve apenas para enfeirar um par de latas de cerveja na loja de serviço à pousada (aberta 24h/dia!) e cair duro na cama para tentar esquecer a desgraça do dia anterior.
A manhã seguinte trouxe uma surpresa agradável para mim. Como animal da praia que sou, paisagens de montanha nunca foram a minha especialidade daí que tenha ficado admirado com a grandeza da vista que tinha diante de mim. Montes altos cobertos de nuvens, vales verdes profundos em cujas encostas pastavam tranquilamente cabras e ovelhas, chalés típicos de montanha que apenas havia visto em catálogos de viagens ou filmes. Uma envolvência absolutamente diferente da que estou habituado. Não resisti ao apelo da Natureza e meti-me vale abaixo com uma latinha de cerveja numa mão e a câmara de video na outra para registar aquela paisagem de outro mundo. Regressei a tiritar de frio pois o clima de altitude é coisa para que não tenho defesas, o orvalho matinal gelou a ervinha em que pisava e o pulmão ressentiu-se de 7 meses de inactividade.


Após um potente pequeno-almoço subimos mais um pouco até à Gubałówka, montanha com 1123 m de altitude. Parámos para gozar a vista sobre as cidades de Nowy Targ e Zakopane, terrinhas no sopé da cordilheira Tatry que podemos ver na foto acima. Andámos aos encontrões numa espécie de trenó que desliza colina abaixo fazendo lembrar escorregas aquáticos e descemos para Zakopane num teleférico aberto depois de ter gamado uma caneca de chocolate quente só pelo puro prazer de dar uma banhada q;) Estas actividades prolongaram-se pela manhã inteira até às 15:00h. Terei andado certamente 10 km entre o estacionamento e a aldeia de bares, restaurantes e casas de artigos típicos da montanha que se instalou no cume da Gubałówka. Começava a maçar-me de tanto andar.

A fome já apertava mas da estação do teleférico até à cidade ainda tínhamos 5 km de caminhada para fazer. Ao chegarmos a Zakopane já eram quase 16:00, eu estava capaz de comer um alce da fome que tinha e acelerei o passo quando disseram-me que a rua do comércio ficava a seguir ao viaduto que nos cobria. Virei ansiosamente à direita na esperança de encontrar uma rua de esplanadas e restaurantes e encontrei... o mercado de Bombaim!

Centenas, talvez milhares de pequenas bancas de tudo e mais alguma coisa oferecem um leque variado de artigos, desde pantufas em pele a queijos montanheses como os que estão expostos na foto à esquerda. Uma feira organizada para receber as 250.000 pessoas que passaram os feriados de Maio numa cidade em que moram apenas 25.000. É obra.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Vergonha é de cão

Sábado aterro em Faro para uma potente despedida de solteiro. Vai ser muito bom rever os amigos, jogar uma pelada com eles, bater peitada na praia, jantas mil e uma final de Taça logo no dia seguinte em casa do Giga para viver as emoções da bola tuga de que tantas saudades tenho.

Espectador distante mas atento, tenho seguido com interesse os apitos finais do nosso futebol e a sensação que tudo "isto" me dá é... pena. Tenho muita pena que uma coisa tão bonita como é o futebol esteja a ser estragado por tanta gente que de bola nada percebe. Só quem viveu os problemas do interior dum balneário é que sabe o que é o futebol; Só quem passou noites e dias à chuva e vento, treinando afincadamente para ganhar lugar na equipa ao Domingo é que sabe o que é o futebol; Só quem escondeu a dor dos ossos torcidos e músculos moídos para que a equipa não vacilásse é que sabe quem é o futebol; Só quem chorou uma descida ou beijou um título é que sabe o que é o futebol; Só quem fica em casa de azia quando perde ou enche o peito e sai à rua de perna arqueada quando ganha é que sabe o que é o futebol.

Porque sinceramente, coisas como estas, estas e estas pouco têm a ver com futebol. Têm a ver com a falta de pudor e impunidade das pessoas, com a justiça-fantoche que existe em Portugal, com a corrupção implementada em todas as instâncias e em todos os Poderes (jurídico e executivo, por exemplo) do País. Isso sim, mas com a bola que salta na relva... pouco ou nada.

Tão-se redondamente cagando para a nossa conversa, essa é que é essa...

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Montanhas Polacas - parte I

O 1 de Maio é naturalmente feriado na Polónia. O dia 3 de Maio também é mas por motivos diferentes. Celebra-se nesse dia a Constituição da Polónia, a mais antiga constituição europeia e a segunda mais antiga no Mundo. Juntando o Dia do Trabalhador ao Dia da Constituição temos 2 feriados salpicados por uma 6ª feira de ponte, mini-férias que os polacos aproveitam para desabelhar para os lagos da Mazúria ou para as montanhas do sul do País. Eu fui rebocado para as montanhas e esta é a primeira parte da minha aventura.

Aventura que era suposto começar de carro logo em Varsóvia mas como o bote da Iza ainda está em reparações tivémos de percorrer de comboio o trajecto entre a capital polaca e Tychy. Um americano, um italiano, um algarvio e duas polacas chegaram à Silésia onde um almoço em casa dos simpaticíssimos pais da Iza aconchegaram os estômagos meio debilitados da festa da noite anterior. 2:30 horas de comboio não massacraram muito o chassi e ainda bem que assim foi pois os 144 km que nos separavam de Ząb seriam penosos, tendo em conta a péssima condição das estradas polacas. Atacámos, pois, o caminho em direcção à Oświęcim dos infames campos de concentração nazi e parámos ao fim de 2 horas em Wadowice, terra de João Paulo II para abastecermo-nos de Kremówki, uma especialidade de pastelaria que fazia as delícias do Sumo Pontífice.

Papámos a papa do Papa e pusémo-nos a mexer, lenta, lenta, lenta e lentinhamente. Apenas em alguns troços consegui engatar a 4ª mudança porque a espessura do trânsito não permitia velocidades acima de 40 km/h. Esgotámos as músicas, jogos, entretenhas para passar o tempo, trinta por uma linha para enganar o relógio que registava a demora desesperante. A páginas tantas abre-se uma fresta de caminho, meto-lhe a 5ª e consigo dar-lhe um pouco de gás. Mal esboçava alegria pelo facto e uma mancha amarela fluorescente surge no horizonte. Encosta o bote, Policja! Saca dos documentos, assopra o pífaro, "o senhor vinha a 90km/h numa zona onde o limite é 50."

"Ai tal e coiso, porque andamos há horas na estrada, porque agora é que deu para acelerar um pouquinho. O shô guarda tá a ver? Vamos aqui descansadinhos prás montanhas, é tudo gente pacata, malta do bem, veja lá isso..."

Debalde. O crápula do bófia ainda fez a fineza de não me multar por ter a Autorização Temporária de Residência expirada (desde Fevereiro. Nunca mais eu me tinha lembrado de tal coisa!). Uivou algumas coisas desagradáveis num polaco que consegui perceber, tratou-nos por tu (se algum agente de autoridade nos tratásse por "tu" em Portugal o festival que não seria) e passou-me um belo dum mandat de 300 paus para que aprendesse a conduzir mais devagar.


Fiquei possesso, com vontade de mandar o polícia polaco para a santíssima mãe dele mas como não conheço a senhora passei o volante à Iza e fiz o resto do caminho praguejando contra o bofe, as estradas, o GPS, a puta da montanha longe como os cornos e que não se compara com uma caracolada de Maio na esplanada de praia do Vitinha, a moça que me criticava por guiar depressa (ora, não irás à merda com essa conversa?!) e mais a catrefada de dinheiro que já tinha gasto entre multas, comidas e gasóleo sem sequer ainda ter chegado ao destino.

Ainda por cima, o ganso escreveu o meu nome todo mal!

sábado, 10 de maio de 2008

Hau, Grande Chefe Raspa-Pilas!

Incansável e sempre disponível no cuidado prestado à minha casa, tornou-se amigo íntimo depois de ser o nosso médico. Peça indispensável nas nossas reuniões e festas familiares, o convite era enderaçado à sua pessoa mas extensível à sua amável família pois a João e a Natacha já faziam parte do plantel das brincadeiras de aniversário e eram companheiras de jogos nas tardes estivais da Manta Rota. Muitas vezes fui convidado a título individual, enquanto miúdo, para jantar na sua casa pelo simples prazer que a minha companhia lhe dava ou para desbravar um novo jogo de ZX Spectrum, fenómeno que descobri por seu intermédio pois foi ele quem me apresentou ao mundos dos microcomputadores. Já adulto fui muitas vezes em seu socorro sempre que o seu PC resolvia pregar-lhe uma peça, orgulhoso por ser digno da sua confiança e por poder retribuir os favores inestimáveis que ele me prestou desde sempre.

Quando aceitei o desafio polaco ele foi dos primeiros a incentivar-me e disponibilizou-se para o que fosse necessário, desinteressadamente, apenas em nome da amizade e respeito que unia-nos. Sempre uma palavra amiga, um conselho experiente, nunca paternalista dado que não era o papel dele nem sua intenção. Sempre foi o irmão mais velho, pessoa que me dava prazer interpelar no MSN para conversar e dar-lhe a conhecer as últimas peripécias polacas na expectativa de mais uma indicação ou uma dica. Uma voz ponderada que ouvia com satisfação por saber que era a voz duma experiência factual e sabida. Os seus escritos eram lidos por mim com admiração, tentando aprender a escrever com a crítica fabulada que ele utilizava, tratando os problemas do País num tom pedagógico que camuflava a corrosão do seu raciocínio.

Calou-se essa voz. A notícia do seu falecimento deixou-me estarrecido por provar que efectivamente só as pessoas boas desaparecem precocemente do nosso convívio. Tanto que eu ainda tinha para ler dele, tanto que ainda tinha de ouvir dele, tanto que ainda tinha de aprender com ele e já não vou poder fazê-lo. E agora, quem me dá a dica quando precisar?

Morreu o dr. António Belchior, ficámos todos mais pobres. Faro, porque perde um médico competente (um médico a sério, não um "doutor") juntamente com um crítico atento e cáustico das injustiças que nos poluem. Eu, porque perco um Amigo e um guia para esta dura estrada que é a Vida.

Fica aqui o testemunho da profunda admiração e respeito que nutro por este grande ser humano que foi o António. O seu legado de bondade e coerência será mais uma batuta a pautar a minha existência, penso ser a melhor homenagem que lhe posso prestar.

Um beijinho especial para a João e para a Natacha. Eu também me sinto órfão.

António - Foi porreiro, pá!

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Boavi... agem

Ouvi dizer que o Boavista desceu de divisão devido às coacções e subornos que fazia aos árbitros.
É caso para perguntar: "Cadê os outros?!"

fis d'Olhão esfregando as manitas na expectativa...

terça-feira, 6 de maio de 2008

Nie mam czasu - não tenho tempo

Tenho imensas coisas para contar mas pouco tempo para fazê-lo. Estamos em período de testes escolares, mais o fim do mês e a proximidade duma viagem a Faro consomem-me todo o dia. Assim que o cinto afrouxar trarei novidades para este espaço.

Posso adiantar que o sol brilha como nunca e as coisas encarrilam-se devagarinho mas comunicar é que... não está fácil!