sábado, 10 de maio de 2008

Hau, Grande Chefe Raspa-Pilas!

Incansável e sempre disponível no cuidado prestado à minha casa, tornou-se amigo íntimo depois de ser o nosso médico. Peça indispensável nas nossas reuniões e festas familiares, o convite era enderaçado à sua pessoa mas extensível à sua amável família pois a João e a Natacha já faziam parte do plantel das brincadeiras de aniversário e eram companheiras de jogos nas tardes estivais da Manta Rota. Muitas vezes fui convidado a título individual, enquanto miúdo, para jantar na sua casa pelo simples prazer que a minha companhia lhe dava ou para desbravar um novo jogo de ZX Spectrum, fenómeno que descobri por seu intermédio pois foi ele quem me apresentou ao mundos dos microcomputadores. Já adulto fui muitas vezes em seu socorro sempre que o seu PC resolvia pregar-lhe uma peça, orgulhoso por ser digno da sua confiança e por poder retribuir os favores inestimáveis que ele me prestou desde sempre.

Quando aceitei o desafio polaco ele foi dos primeiros a incentivar-me e disponibilizou-se para o que fosse necessário, desinteressadamente, apenas em nome da amizade e respeito que unia-nos. Sempre uma palavra amiga, um conselho experiente, nunca paternalista dado que não era o papel dele nem sua intenção. Sempre foi o irmão mais velho, pessoa que me dava prazer interpelar no MSN para conversar e dar-lhe a conhecer as últimas peripécias polacas na expectativa de mais uma indicação ou uma dica. Uma voz ponderada que ouvia com satisfação por saber que era a voz duma experiência factual e sabida. Os seus escritos eram lidos por mim com admiração, tentando aprender a escrever com a crítica fabulada que ele utilizava, tratando os problemas do País num tom pedagógico que camuflava a corrosão do seu raciocínio.

Calou-se essa voz. A notícia do seu falecimento deixou-me estarrecido por provar que efectivamente só as pessoas boas desaparecem precocemente do nosso convívio. Tanto que eu ainda tinha para ler dele, tanto que ainda tinha de ouvir dele, tanto que ainda tinha de aprender com ele e já não vou poder fazê-lo. E agora, quem me dá a dica quando precisar?

Morreu o dr. António Belchior, ficámos todos mais pobres. Faro, porque perde um médico competente (um médico a sério, não um "doutor") juntamente com um crítico atento e cáustico das injustiças que nos poluem. Eu, porque perco um Amigo e um guia para esta dura estrada que é a Vida.

Fica aqui o testemunho da profunda admiração e respeito que nutro por este grande ser humano que foi o António. O seu legado de bondade e coerência será mais uma batuta a pautar a minha existência, penso ser a melhor homenagem que lhe posso prestar.

Um beijinho especial para a João e para a Natacha. Eu também me sinto órfão.

António - Foi porreiro, pá!

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