terça-feira, 28 de setembro de 2010

Só no Brasil

Se alguém perguntar o que significa essa expressão que acabou de pronunciar, podem afirmar sem receio que é um bairro numa localidade brasileira. Portanto, quando pedirem sugestões sobre destinos de férias…

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Niedziela

Bloki O sol penetra pela cortina e levanta-me as pestanas ainda pesadas da preguiça causada pela noite anterior, não tenho vontade de acordar mas o próprio organismo já mostra sinais de satisfação pelas horas dormidas. Num primeiro instante calculo que sejam apenas 8:30 da manhã, terei madrugado sem necessidade nenhuma, e pego no telemóvel para conferir o meu palpite. Errei, dormi dez horas e já passa do meio-dia e meia hora. Estranho a ausência de companhia ao lado esquerdo porque tenho a certeza que havia lá alguém durante a noite, Espreguiço-me e começa o dilema de levantar-me ou não, a cama está boa mas o dia já vai alto e tenho de fazer alguma coisa para comer, uma guerra sem quartel entre o malandro e o faminto, cada qual com argumentos difíceis de contrariar.

O malandro vai levando a melhor quando ouço o domofon cochichar a chegada de alguém que conhece o código de entrada, prova que as minhas desconfianças eram fundadas e estava mesmo alguém do lado esquerdo da cama à noite. É ela quem chega com sacos de supermercado, radiosa como o sol matinal que convida a cidade a sair de casa, e que anuncia o pequeno-almoço porque temos de aproveitar os ovos cuja validade está prestes a expirar. Concordo sem resistência, ovinhos, meia baguete com manteiga e sumo de pêssego-uva parece uma excelente maneira de devolver saúde ao corpo. Após um formidável desjejum sento-me ao computador para conferir as últimas sugestões em termos de música de dança, propostas avançadas por dois ou três websites de referência que sempre consulto quando preciso de malhas novas que incendeiem as noites de Varsóvia. Sem pressas, ali deixo-me ficar até meio da tarde.

Depois um passeio ao outlet de Piaseczno, localidade a 7km a sul de Varsóvia – um dormitório – para espreitar o que terá chegado à loja da Soda, a minha marca preferida. As compras, pedaço fundamental da vida duma mulher, feitas em par acabam por ser mais divertidas e eficientes, não há problemas enquanto eu demoro na loja da Adidas porque a Mango é mesmo em frente. Com um casal de notas de zloty compra-se roupa da última tendência da moda, ficamos arranjadinhos e poupamos no orçamento porque lá em casa ninguém tem ajudas de custo nem subsídios nem contas pagas, a malta trabalha e pronto. Paga e cala.

Para rematar, um bacalhau com natas em casa de amigos e com amigos, uns mais recentes que outros mas em excelente atmosfera. Tal como me fizeram há quase três anos, passo o meu capital de experiência de vida nesta terra aos recém-chegados e tento junto com os meus amigos de cá desbloquear algumas situações e necessidades que aos desconhecedores parecem bichos de sete cabeças à primeira vista mas que são resolvidas graças à pureza da amizade que se cria e se alicerça a cada momento, a ajuda é grátis porque ao fim e ao cabo temos que ser uns para os outros. Curioso, reforçou-se o plantel de algarvios residentes em Varsóvia com a chegada da Ângela e pouco falta para fazermos a “Semana do Xarém” em Varsóvia!

Peladinha em Varsóvia Voltar a casa, fazer as malas e preparar mais um regresso a Faro, desta vez não tão satisfeito como das outras vezes (são burocracias que me levam a voar, não é o melhor motivo) contudo sempre satisfeito por voltar a ver os meus, por poder ver o mar em vez de bloki socialistas e finalmente por poder voltar a jogar futebol. Já sei que a pelada de segunda-feira foi transferida para o Liceu, chego mesmo a tempo. Guardem-me um colete!

sábado, 25 de setembro de 2010

I tylko Legia, Legia Warszawa!*

Já aqui foi mencionado que o Légia de Varsóvia, ou Legia Warszawa, é o clube de futebol mais popular da capital polaca, uma equipa que reboca uma autêntica legião de adeptos fanáticos aos estádios onde se desloca, principalmente quando joga na sua casa – o Estádio Wojska Polskiego. É o clube polaco da minha simpatia pois alguns dos meus amigos nutrem um sentimento muito forte pelo emblema wojskowy e sempre que falamos de futebol é a Legia que eles louvam e é a Legia que ocupa o lugar principal no coração deles. Começaram a contagiar-me com esse sentir e acabei por ficar simpatizante das cores branca e preta até porque me recordam do meu Farense q;)

Ora, um adepto que se preze vai ao estádio apoiar a sua equipa e se na sua equipa estiverem jogadores que entretanto foram conhecidos e que até se tornaram amigos – caso do brasileiro Bruno Mezenga aqui entrevistado pelo Kuba mai-lo vosso bloguista e do português Manú – mais imperiosaMezenga se torna a presença no estádio. Se somarmos a estas parcelas o fator adicional do Wojska Polskiego estar em vias de renovação e de se ter tornado, desde já, um estádio ao nível dos mais modernos estádios europeus, mais aliciante e obrigatória de torna a presença do adepto mesmo que seja português. Pois bem, ontem foi dia de Legia – Lech Poznań, a visita do campeão em título que vinha moralizado dum empate surpreendente contra a Juventus na casa da Velha Senhora a contar para a Liga Europa, um jogo que tinha de ser encarado sob um contexto especial de que faziam parte a fraca prestação da equipa no início de temporada, consequência da dificuldade em assimilar o contingente de estrangeiros que se juntaram ao plantel este ano, jogadores oriundos de diversas nacionalidades e mentalidades futebolísticas como argentinos, croatas, portugueses, brasileiros que pela primeira vez tomam contacto com a realidade da física liga polaca. O treinador da Legia, o ex-selecionador e campeão pelo rival Wisła Maciej Skorża estava no fio da navalha e as casas de apostas davam o seu despedimento como provável nas próximas jornadas, ingredientes suficientes para uma noite de grandes emoções.

 

Wojska Polskiego Convoquei a Ewa para o jogo e abalámos meia hora antes para enfrentar o trânsito e os problemas de estacionamento que com surpresa não encontrámos. A entrada no estádio processou-se rapida e eficazmente, os portões são muitos e largos pelo que os espetadores rapidamente entram para o interior do estádio onde os stewards indicam o lugar a ocupar. Cadeiras confortáveis e uma atmosfera de arrepiar. No topo sul, oposto onde me encontrava, a Żyleta, fação de adeptos mais apaixonados, dava espetáculo cobrindo integralmente a bancada de branco com coreografias de notável aspeto visual, os tiffosi da Legia a saltarem compassadamente ou a moverem-se dum lado para o outro, agitando os cachecóis ou batendo palmas em uníssono, um bailado de fé e amor ao clube que dava a impressão que as próprias estruturas do estádio se mexiam, uma demonstração ultra que não passa cartão às melhores claques italianas. Ao lado esquerdo, numa fatia perfeitamente definida pelo azul do Lech e pelo cordão da Brigada de Intervenção, os adeptos dos visitantes em cânticos fortes e assertivos provocavam a Cidade Capital e gozavam com o facto de a Legia ser o eterno candidato adiado ao título. A mole branca respondia chamando-os de “segunda categoria” e que “a nossa Legia é a melhor da Polónia”, o habitual em jogos entre grandes rivais.

Bancadas Oito minutos depois do apito inicial cai um balde de água fria nos legionisci sob a forma do golo do Lech apontado pelo bielorrusso Sergei Krivets que aproveitou as facilidades concedidas pela defesa local para inaugurar o marcador e colocar nuvens negras a pairar no nº3 da rua Łazienkowska. Após alguma hesitação da Legia as coisas começaram a equilibrar-se e chegaram ao empate à passagem do minuto 38 por intermédio de Kucharczyk, um produto da cantera que tem estado a aproveitar bem as oportunidades dadas pela ausência de avançados conceituados no plantel. Primeira explosão de alegria no estádio rapidamente neutralizada pela expulsão idiota do extremo esquerdo Rybus que derrubou desnecessariamente um defensor azul já depois de ter visto um cartão amarelo, faltavam quatro minutos para o intervalo que instalou uma atmosfera de apreensão ao chegar.

Na segunda parte o Lech foi para cima da equipa da casa, pressionando e empurrando a Legia para o seu último reduto. Os Wojskowy aguentaram o sufoco dos 15 minutos iniciais e paulatinamente foram equilibrando e virando a tendência do jogo através de incursões venenosas de contra-ataque alicerçadas na omnipresença do recém-empossado capitão Vrodljak que jogou por três, construindo e destruindo, um almirante no meio-campo da Legia. A brutal energia que vinha constantemente das bancadas levava os jogadores da Capital a acreditar que podiam marcar mas os contragolpes do Lech punham a defesa branca em constante alerta e viveu-se este ambiente de incerteza entre “matar e morrer” até ao minuto 88 quando o estádio veio abaixo. 

Livre no flanco esquerdo, Kiełbowicz lança uma bola tensa ao segundo poste onde surge no ar o criticado Bruno Mezenga que fixa o 2-1 final cabeceando de cima para baixo como mandam os almanaques e lançandoExterior do estádio Varsóvia às suas costas. Cinco minutos até ao apito final, cinco minutos de intensa, unânime e constante cantoria, cinco minutos de um apoio massivo e impressionante, 22.400 gargantas a chutar bolas para longe da área da Legia, cinco minutos para que o Wojska Polskiego se abraçasse e celebrasse a primeira vitória oficial no “novo” estádio enquanto os jogadores davam uma volta olímpica agradecendo o apoio ininterrupto dos seus aficionados e lançando camisolas para a Żyleta onde os ultras davam largas à sua louca alegria e agradeciam a prova de ambição e vontade dos seus jogadores.

Duas horas depois do fim do jogo ainda se ouviam cânticos embriagados de apoio à Legia. Mesmo numa situação difícil na classificação os adeptos – este adepto português inclusive - continuam a acreditar na sua equipa e continuam a afirmar alto e em bom som para quem os quiser ouvir que “Nasza Legia najlepsza w Polsce jest!”, ou seja, “a nossa Legia é a melhor (equipa) da Polónia”

* E apenas Légia, Légia de Varsóvia

domingo, 19 de setembro de 2010

DJ PM Misha

Praia Latina No rescaldo duma grande noite de festa no Clube Muza, por onde terão passado cerca de 350 pessoas que pularam e dançaram ao som do vosso escriba – entre outros tocadores de discos - e que só acabou depois das 7:00 após um after-hours inesperado no Klubokawiarnia, o rescaldo e a análise fazem-se com 24 horas de distância para que as linhas não sejam escritas sob o cansaço natural de quem passou quase cinco horas numa cabine a dar música a Varsóvia. Dois episódios merecem ser registados por serem de todo inusuais e por terem marcado a diferença entre uma noite polaca e as noites portuguesas onde eu toquei:
  • . É complicado escolher uma música enquanto os clientes da casa trazem-te shots de vodca para beberem contigo, bebidas que não se deve recusar sob pena se perder a simpatia dos clientes, homens e mulheres satisfeitos e que querem agradecer ao DJ o bom momento que este lhes proporciona. O problema é que acertar a batida e o tempo de entrada duma música torna-se proporcionalmente mais problemático em função do que se emborca;
  • . Já nos cascos da festa chegou-se um polaco elegante com aspeto suspeito e perante o meu ar receoso (pensei que ele viesse dar fim da festa) aproximou-se e perguntou-me: “Tens o Americano?” Respondi-lhe que tinha a minha versão da música. Então ele pega numa nota de 20pln, dobra-a, coloca-a em cima da mesa de mistura e diz “Então toca-a a seguir”. Disse-lhe que não podia ser a seguir porque não dava tempo mas que seria a segunda seguinte, ele olhou-me com ar desaprovador, chegou a boca ao meu ouvido e sentenciou “Ok, mas tem de ser a seguir”. Quando a música começou a tocar ele e o grupo dele, eram três armários, olharam para mim e ratificaram a versão com leves abanos de cabeça. Senti-me um pouco prostituído mas feliz pela cabine continuar inteira.

Eu também gostei e não escondo que gostava de fazer mais perninhas em part-time com esta atividade, vamos ver o que o futuro me trará nesta vertente.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Przysposobienie Obronne – ou Como se Prepara uma Nação para o que Der e Vier

Defesa Civil Este é o simpático nome duma disciplina que faz parte do currículo escolar do ensino secundário na Polónia fazendo-se tradução em português como Noções de Defesa. Estas aulas consistem em conteúdos de defesa civil, como reagir em diferentes tipos de ameaça (ataque aéreo, invasão inimiga), casos de catástrofe natural e primeiros socorros entre outros temas. Ao ouvir falar deste assunto pela primeira vez pensei que estivessem a gozar comigo pois achei que matéria desta só devia figurar nos sistemas de ensino de regimes fundamentalistas islâmicos ou nas escolas israelitas, mas não. É na Europa contemporânea, é na Polónia que crianças e adolescentes estudam esta disciplina na escola.

A Gosia, minha flatmate, contou-me que aprendeu a diferenciar as diversas cores que simbolizam os estados de alerta e a interpretar os alarmes sonoros, o que significa uma sirene constante e uma sirene alternada. Também me falou de aulas sobre os diferentes tipos de armas e de lições práticas de tiro, das conferências sobre Direito Internacional que ela teve de assistir e das noções de topografia e como manusear uma máscara anti-gás em caso de ataque químico. Estou a falar duma rapariga que é o exemplo acabado da delicadeza e beleza polaca, uma mulher docemente feminina que se assusta sempre que tem de carregar numa tecla do telecomando para mudar de canal, a última pessoa no mundo que imaginava empunhar um revólver.

Confirmei com outras pessoas que esta disciplina conta efetivamente na ementa escolar bem como a de Noções de Vida em Família que se debruça sobre a vida do casal e dá importantes informações para a vida adulta como o uso de contracetivos, educação sexual e educação cívica.

Se em relação à primeira disciplina os comentários que poderei fazer são de espanto perante a total inexistência desse tipo informações nas escolas portuguesas – na verdade nunca de tal precisámos mas vamos precisando de Noções de Defesa Contra Pedófilos, Corruptos, Ladrões, Políticos e Toda a Canalha Que Corrói Portugal e Continua Impune – compreendendo porém a necessidade de tal disciplina existir devido ao contexto sócio-político da Polónia, a segunda cadeira já me inspira um sorriso irónico por constatar que na Polónia, um país teoricamente menos desenvolvido que Portugal, já se ensinam os adolescentes a usarem preservativos e a tomarem a pílula há décadas, já se ensinam as crianças como se defenderem há anos, já se preparam os seus cidadãos para as ameaças externas há tempos.

Em Portugal? Enrabam-se crianças, clama-se candidamente inocência e indignam-se quando são provados factos. Mas caga nisso, o “glórias” foi campeão…

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Era assim ou não era?

Se há coisas que recompensam o meu trabalho é o poder conhecer a sociedade em que vivo e ainda ser pago para tal, é um luxo nestes tempos conversar com pessoas interessantes, conhecê-las e também a sua cultura, poder comparar a nossa vivência com a deles e constatar as tantas coisas que temos em comum. Falando hoje com a Karolina sobre festas de aniversário recordámos as nossas quando éramos pequeninos, quando tínhamos até 12 anos e rimos de coisas que nenhum de nós gostava e que aparentemente aconteciam tanto em Portugal como na Polónia.

O cenário é o mesmo, seja no país atlântico ou no báltico, um quarto com crianças transpiradas a brincarem com os brinquedos novos recebidos pelo aniversário ou a jogarem jogos de mesa como era comum nos 70 e 80. Nisto batem à porta, é a mãe que chama à sala porque o sr. Amândio veio dar os parabéns ao bebezinho, interrompe a partida renhida de matraquilhos ou faz um desconto de tempo no jogo do Espião que estava a correr tão bem. Impaciente e zangado com a intromissão, o aniversariante faz o especial favor de ir à sala dos adultos fumadores e consumidores daquela zurrapa abominável chamada uísque para ouvir palavras de circunstância mal amanhadas, palavras vindas duma pessoa com pouca vocação nem jeito para as dizer dirigidas a uma pessoa com pouca paciência nem vontade para as ouvir. Um protocolo chato e sem sal que só fazia sentido quando o intruja adulto se fazia acompanhar de mais um puto para as “coboiadas” no quarto, nem os presentes valiam a pena porque se houve quem tinha jeito para comprar prendas eram a minha irmã e o meu tio. Acabada a consternação dum adulto desconfortável e duma criança contrariada a normalidade seguia em grande algazarra com o crescido a puxar aliviadas fumaças entre abraços solidários dos bebedores o puto regressado à felicidade de marcar golos ou a comprar torres de Petróleo.

Outra peça: Na sala a mãe pega no telefone e liga à Elisabete que faz anos, ali leva uma boa mão-cheia de tempo e incomoda o rapaz que tem a certeza que há melhor altura para telefonar do que no preciso momento em que está a dar o Tom & Jerry. No meio dos resmungos infantis a progenitora tem a criminosa ideia de dizer “olha, espera aí que o meu filho quer dar-te um beijinho.” A criança aflige-se e arregala os olhos. “Não, eu não quero dar beijinho nenhum. Eu quero ver os bonecos!!!” A mãe volve perentória “Dá lá um beijinho à Beta que ela é tua amiga e hoje faz anos senão temos a burra nas couves”. Está errado! Ela não é minha amiga, ela não quer ser minha amiga como eu não quero ser amigo dela, é demasiado velha para que eu a queira como amiga e tem idade para ser minha mãe – aliás, tem a mesma idade da minha mãe – mas o último argumento colhe. Pega-se no telefone e “Tá? Elisabete? Olhe, beijinhos e parabéns.” Pronto, serviço feito, as mulheres satisfeitas e o petiz pronto a gozar o episódio de desenhos animados que entretanto acabou e que não pôde ser apreciado devido ao grasnar de aniversário. Vinte e quatro horas tem o dia e logo na hora do Granja é que ela se lembrou de telefonar!

Substituam-se os nomes dos jogos, dos personagens, do apresentador do programa infantil e temos uma situação comum num qualquer lar português ou polaco. Polónia e Portugal não estão perto apenas na enciclopédia.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Mas porque carga de água…

… é que o cortador de relva do condomínio tem de começar o seu trabalho logo às 8:00 da manhã?!

Tortura

sábado, 11 de setembro de 2010

Acontece

Jasna Por motivos de ordem burocrática vou ter de regressar a Faro daqui a duas semanas, o que não sendo aborrecido – nem pouco mais ou menos – também não vem na altura mais adequada tendo em conta o período de escassez de receitas que sempre vivo no verão.

No verão, escrevi, que em Varsóvia só o é cronologicamente porque meteorologicamente há muito que o sol abandonou a Europa de Leste… digo, a Europa Central (aqui não se pode dizer que a Polónia faz parte da Europa de Leste porque “isso é os ucranianos e os bielorrussos”, para todos os efeitos a Polónia é Europa Central) como os pássaros migrantes que voam para sul em busca de melhores temperaturas e de sóis mais generosos. O sol polaco é avarento e pouco calor dá ao seu país, já fez as malas e partiu para outras paragens deixando Varsóvia entregue às antipáticas nuvens que cobrem por completo o céu piorando o humor das pessoas devido à impiedosa chuva que delas cai.

Varsóvia vive também tempos de alteração não apenas climática mas também urbanística, parece que as obras relativas ao Euro2012 arrancaram em grande velocidade e a cidade transformou-se numa gigante obra metropolitana onde o melhoramento do piso das ruas é o prato principal como aqui ilustro nesta imagem obtida na rua EmiliiEmilii Plater Plater, artéria muito importante da Cidade Capital por percorrer o quarteirão onde se localizam a Estação Central, O centro comercial Złote Tarasy, o hotel Intercontinental e a Sala Kongresowa. Também a construção de novos arruamentos tem protagonismo nestas obras, o novo acesso ao aeroporto paralelo à rua Marynarska vai desafogar um pouco o complicado trânsito do bairro empresarial de Służewiec e permite caminhos alternativos para chegar a Okęcie. Por trás do rio vê-se o Estádio Nacional a ganhar forma a ritmo compassado, a segunda linha do metropolitano que vai ligar as duas margens do rio entre Powiśle e o Estádio vai arrancar neste trimestre (até já me faz pensar em comprar casa em Białołęka), Varsóvia muda a cada minuto que passa e eu sinto-me honrado por poder testemunhar a metamorfose da cidade, vai ser melhor viver cá daqui a dois anos.

Karts A chuva cai e o calor hoje não vai passar dos 18º, em Faro prevê-se 31º. Procuro não dar importância a isso para não me enervar, já me basta o jogo esta noite e uma festa posterior (dependendo do resultado) onde se irá jogar uma cartada importante no meu projeto de DJ nesta terra. Ao pensar nisso estranhamente a neura alivia-se, em Faro está mais calor mas é em Varsóvia que as coisas acontecem, como uma corrida de karts em plena Praça Trzech Krzyży em pleno centro económico da Capital. E tantas são as coisas que (me) acontecem nesta cidade…

sábado, 4 de setembro de 2010

Onde é que está o capital?*

A Polónia foi o único membro da União Europeia a evitar a recessão em 2009 e um dos poucos países da União a recuperar da grande crise que assolou o mundo, um facto que não é despiciendo uma vez que Alemanha, França, Itália, Reino Unido, Espanha, Holanda e Polónia representam cerca de 80 por cento do PIB nominal da UE e 85 por cento do da Zona Euro. Para que o leitor tenha uma ideia mais clara, as previsões de crescimento do PIB para Portugal são de 0,9% para 2010 / 2011, a média europeia está calculada em 1,4% e a Polónia tem valores projetados pelo Banco Central Europeu na ordem dos 2,6%. Estes valores foram obtidos através duma política de enfraquecimento do zloty, para mal dos meus pecados que sou sempre esfolado quando vou à Zona Euro, para estimular as exportações polacas das quais 25% vão direitinhas para a sua vizinha Alemanha. Esta foi uma jogada que teve origem na desaceleração da economia alemã, como os alemães passaram a compram menos desvalorizou-se a moeda para contrariar a tendência. Sofrem aqueles, como eu, que ganham em zlotys mas gastam em euros particularmente nas férias. Como mercado emergente a Polónia também encerra grandes fortunas pessoais, algumas das quais dou conta neste artigo.

O homem mais rico da Polónia chama-se Jan Kulczyk, tem 60 anos e é dono da Kulczyk Holding, uma empresa com sede em Varsóvia e escritórios em Londres, Kiev, Luxemburgo e no Dubai. Tem uma riqueza avaliada em €1.800.000.000, quase dois mil milhões de euros acumulados em negócios na área dos combustíveis, cervejeiras e automóveis sendo que a sua empresa lidera os importadores e concessionários das marcas Skoda, VW, Porsche e Audi na Polónia.

Segue-se na lista Zygmunt Solorz-Żak que aos 54 anos dedica-se a gerir as suas empresas de produção de eletricidade após ter ganho muito dos seus €1.500.000.000 com a criação e desenvolvimento do canal televisivo Polsat, o único canal televisivo polaco que opera 24 horas por dia.

Fecha o pódio dos polacos mais ricos Leszek Czarnecki, 48 anos, com uma fortuna na casa dos mil milhões de euros alcançados através dos seus negócios na banca e nos interesses do ramo imobiliário na Roménia, Bielorrússia, Ucrânia e Rússia. Czarnecki lançou há três anos uma fundação sem fins lucrativos para ajudar crianças e adolescentes em risco.

A título de curiosidade registe-se os €312.000.000 e a 10ª posição desta tabela do excêntrico Józef Wojciechowski, um personagem pouco consensual na vida polaca, proprietário da construtora J.W. Constructions e do KS Polonia Warszawa, clube de futebol da capital polaca agora treinado pelo conhecido Jose Mari Bakero. O logo da J.W. Constructions está em todos os distritos de Varsóvia pois talvez seja a empresa mais ativa na cidade no seu segmento, tendo porém péssima reputação e sendo sintomaticamente alcunhada de J.W Destructions. Wojciechowski já investiu largas quantias no Polonia reforçando inclusivamemte a equipa com o conceituado atacante Smolarek mas o seu temperamento irascível e comportamento desbragado aliada à má qualidade das casas desgastam-lhe a imagem granjeando-lhe inimizades.

Este é o retrato de alguns Belmiros e Amorins polacos. Para efeitos de comparação, o português mais rico do mundo tinha em julho deste ano uma riqueza avaliada em cerca de €2.100.000.000.

* Título duma música de 1983, vejam bem as coisas de que me vou lembrar…

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Postais da Polónia - 14

Rabinhos Estacionar o carro no centro de Varsóvia é uma tarefa complicada na medida em que os lugares são sempre poucos e a Straż Miejska (Polícia Municipal) anda sempre atrás dos prevaricadores munida de máquina fotográfica para documentar as infrações dos automobilistas, algo que ainda não experimentei pois apesar de já gozar de rodas para me poder deslocar à vontade não as uso dentro da cidade devido ao muito trânsito que sempre há, principalmente no decorrer desta semana em que a chuva não tem parado de cair, e porque não se justifica levar o carro para o Centro uma vez que moro a 7 mins do metro e trabalho a 5.

Mas um dia destes tive de transportar coisas pesadas entre casa e a escola e o carrinho deu-me jeito, lá o levei, parei-o por duas horas e quando voltei para o apanhar já o tinha infestado de panfletos, os panfletos que qualquer automobilista recebe quando pára o seu carro no Centro nem que seja por 3 minutos. Estes panfletos são distribuídos maciçamente por um enxame de pessoas que dinamitam todas as ruas da Baixa de Varsóvia a toque deste papel, panfletos que publicitam massagens eróticas ou que oferecem um serviço de “mulheres ao domicílio”, dezenas de mulheres disponíveis à distância de uma chamada telefónica que, asseguram, será atendida 24 horas por dia. Dorotas, Kasias, Dominikas e Magdas à discrição. É virtualmente impossível evitar estes flyers porque eles espetam-nos no pára-brisas, na janela do condutor, na janela traseira se lá houver escova e não têm problemas em acumular três ou quatro na mesma escova desde que seja por cima da “marca” concorrente.

O bem anunciado são normalmente rabos polacos femininos bem torneados, de cores e texturas diferentes, uns mais celulíticos e outros mais esfoliados. A curiosidade reside no facto de apenas serem exibidos as aparelhagens traseiras sem que se analise a frente do produto, não sabemos se a qualidade do rabiosque tem um rosto a condizer ou se é um daqueles casos de “uma universidade atrás e um museu à frente”. Também não temos qualquer informação sobre o tamanho da copa do soutien para saber se enchemos a mão ou se temos de ir de lupa à la Sherlock para encontrar a grainha da uva, com o devido respeito para aqueles que preferem peitos microscópicos (se tal gente houver). Pior, não sabemos se a Ola é uma Ola de verdade ou um Olo que nos saca dum inesperado às de paus escondido entre o papel de embrulho quando nos preparamos para fazer um poker de damas apesar da propaganda salientar justamente que são NAPRAWDĘ AUTENTYCZNE DZIEWCZYNY - 100% (raparigas realmente 100% autênticas).

Este serviço – frise-se, nunca por mim requisitado – acaba por ser um tiro no escuro por só termos acesso a metade da informação e sempre corremos o risco de não ficarmos inteiramente satisfeitos sem a prerrogativa de vermos o graveto devolvido, pagas e calas. Acho escusado embarcar no engodo, para aventuras desta natureza prefiro encabrecer-me no Enklawa até acordar num T1 da periferia e ter de sair à inglês do apartamento por não me lembrar como fui parar à casa da rapariga tatuada que está ao lado.