Se há coisas que recompensam o meu trabalho é o poder conhecer a sociedade em que vivo e ainda ser pago para tal, é um luxo nestes tempos conversar com pessoas interessantes, conhecê-las e também a sua cultura, poder comparar a nossa vivência com a deles e constatar as tantas coisas que temos em comum. Falando hoje com a Karolina sobre festas de aniversário recordámos as nossas quando éramos pequeninos, quando tínhamos até 12 anos e rimos de coisas que nenhum de nós gostava e que aparentemente aconteciam tanto em Portugal como na Polónia.
O cenário é o mesmo, seja no país atlântico ou no báltico, um quarto com crianças transpiradas a brincarem com os brinquedos novos recebidos pelo aniversário ou a jogarem jogos de mesa como era comum nos 70 e 80. Nisto batem à porta, é a mãe que chama à sala porque o sr. Amândio veio dar os parabéns ao bebezinho, interrompe a partida renhida de matraquilhos ou faz um desconto de tempo no jogo do Espião que estava a correr tão bem. Impaciente e zangado com a intromissão, o aniversariante faz o especial favor de ir à sala dos adultos fumadores e consumidores daquela zurrapa abominável chamada uísque para ouvir palavras de circunstância mal amanhadas, palavras vindas duma pessoa com pouca vocação nem jeito para as dizer dirigidas a uma pessoa com pouca paciência nem vontade para as ouvir. Um protocolo chato e sem sal que só fazia sentido quando o intruja adulto se fazia acompanhar de mais um puto para as “coboiadas” no quarto, nem os presentes valiam a pena porque se houve quem tinha jeito para comprar prendas eram a minha irmã e o meu tio. Acabada a consternação dum adulto desconfortável e duma criança contrariada a normalidade seguia em grande algazarra com o crescido a puxar aliviadas fumaças entre abraços solidários dos bebedores o puto regressado à felicidade de marcar golos ou a comprar torres de Petróleo.
Outra peça: Na sala a mãe pega no telefone e liga à Elisabete que faz anos, ali leva uma boa mão-cheia de tempo e incomoda o rapaz que tem a certeza que há melhor altura para telefonar do que no preciso momento em que está a dar o Tom & Jerry. No meio dos resmungos infantis a progenitora tem a criminosa ideia de dizer “olha, espera aí que o meu filho quer dar-te um beijinho.” A criança aflige-se e arregala os olhos. “Não, eu não quero dar beijinho nenhum. Eu quero ver os bonecos!!!” A mãe volve perentória “Dá lá um beijinho à Beta que ela é tua amiga e hoje faz anos senão temos a burra nas couves”. Está errado! Ela não é minha amiga, ela não quer ser minha amiga como eu não quero ser amigo dela, é demasiado velha para que eu a queira como amiga e tem idade para ser minha mãe – aliás, tem a mesma idade da minha mãe – mas o último argumento colhe. Pega-se no telefone e “Tá? Elisabete? Olhe, beijinhos e parabéns.” Pronto, serviço feito, as mulheres satisfeitas e o petiz pronto a gozar o episódio de desenhos animados que entretanto acabou e que não pôde ser apreciado devido ao grasnar de aniversário. Vinte e quatro horas tem o dia e logo na hora do Granja é que ela se lembrou de telefonar!
Substituam-se os nomes dos jogos, dos personagens, do apresentador do programa infantil e temos uma situação comum num qualquer lar português ou polaco. Polónia e Portugal não estão perto apenas na enciclopédia.
3 comentários:
Por falar em coisas que já não acontecem há muitoooo tempo, por quem é que o amigo Misha vai torcer amanhã no grande Derby Algarvio?
"dérbis" é entre equipas da mesma cidade, este jogo é um "clássico".
respodendo à pergunta: portimonense, de caras!
Epa tou a ler isto do trabalho mas deu-me um daqueles momento de nostalgia das grandes.... Grandes momentos esses das jogatanas com o pessoal... o petroleo entao....
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