quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Uma Algarvia na Polónia



Finalmente, depois de muitas hesitações, a minha mãe resolveu visitar a Polónia. Sempre lhe fez confusão a duração da viagem, quatro horas dentro dum avião para ela equivale a quatro anos para o mortal comum, mas como eu e a Lena íamos no mesmo voo a tortura foi menos dolorosa. Descolámos às 23:30, cruzámos a Europa durante a madrugada e aterrámos em Varsóvia perto das 5:00. Contrariando a minha dificuldade em adormecer em transportes consegui dormitar umas horas, tal não era a sonolência, e quando acordei olhei para os lados vi a minha namorada a dormir que nem uma pedra, porém quando virei a cabeça para a direita lá estava a minha estoica mãe de olho mais aberto que o mocho da anedota.

- Então, não dormiste? - Perguntei ao que ela acenou negativamente. Já ter entrado na aeronave tinha sido um progresso, tranquilizar-se ao ponto de passar pelas brasas a bordo será o passo seguinte.

Depois de duas semanas na Cidade Capital a minha mãe pôde desmistificar algumas ideias que possivelmente teria, pelo menos sabe agora que o verão em Varsóvia pode ser tão ou mais quente do que em Faro, que a minha casa não oferece risco de congelamento durante os rigorosos invernos polacos, que as imperiais nesta terra podem ser de litro, que o carrinho que era do nosso tio João continua estimado e bem tratado. Fascinou-se com os corvos e as gralhas, aves repulsivas na minha opinião mas exóticas para quem não convive com elas, agradou-lhe a largura e limpeza das avenidas, a imponência dos monumentos, a vitalidade da Cidade Velha, o tamanho das doses nos restaurantes. No dia do aniversário, a Lena levou-a a um restaurante grego onde às sextas se dança em cima das mesas depois do jantar e quando lá cheguei encontrei-as num pé de baile felizes da vida com dois mojitos semi-bebidos na mesa ao lado. Eu vinha cansado depois do treino e por isso contive-me na dança mas a cota respondia com vigor às solicitações da polaca, pulando e girando até que o gás se me acabou e dei por finda a rebaldaria quando o relógio caminhava para as duas da matina.

Tive o prazer de cozinhar para a minha mãe, obviamente com a ajuda inestimável da Bimby que surpreendeu pela praticidade – Para fazer um bacalhau à Zé do Pipo tinha de sujar alguns três tachos e aqui só se usa um aparelho – disse. Conheceu alguns dos meus amigos, foi ver um jogo do Inter, passeou pela cidade, provou pierogi e panquecas de batata, viu como se fazem pastéis de bacalhau em Varsóvia (cortesia do amigo Costa do Portucale) serenou ao fim de quase nove anos de incógnita e compreendeu porque gosto tanto de cá viver.

A próxima batalha vai ser trazê-la cá no inverno, não para que ela tirite de frio nem para provar a horrível cerveja quente, mas por causa da neve. É que para nós algarvios, a neve e o nevar é uma coisa de filmes de televisão. Eu estreei-me na neve quando já tinha 28 anos, a minha mãe viu neve em Faro quando tinha 5 ou 6, eu vi nevar pela primeira vez numa noite de novembro em Varsóvia, a minha mãe ainda não viu nevar. Pode ser que, agora que ela já conhece o caminho, seja mais fácil de convencê-la a embarcar.

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