Finalmente, depois
de muitas hesitações, a minha mãe resolveu visitar a Polónia. Sempre lhe fez
confusão a duração da viagem, quatro horas dentro dum avião para ela equivale a
quatro anos para o mortal comum, mas como eu e a Lena íamos no mesmo voo a
tortura foi menos dolorosa. Descolámos às 23:30, cruzámos a Europa durante a
madrugada e aterrámos em Varsóvia perto das 5:00. Contrariando a minha
dificuldade em adormecer em transportes consegui dormitar umas horas, tal não
era a sonolência, e quando acordei olhei para os lados vi a minha namorada a
dormir que nem uma pedra, porém quando virei a cabeça para a direita lá estava
a minha estoica mãe de olho mais aberto que o mocho da anedota.
- Então,
não dormiste? - Perguntei ao que ela acenou negativamente. Já ter entrado na
aeronave tinha sido um progresso, tranquilizar-se ao ponto de passar pelas
brasas a bordo será o passo seguinte.
Depois de duas
semanas na Cidade Capital a minha mãe pôde desmistificar algumas ideias que
possivelmente teria, pelo menos sabe agora que o verão em Varsóvia pode ser tão
ou mais quente do que em Faro, que a minha casa não oferece risco de
congelamento durante os rigorosos invernos polacos, que as imperiais nesta terra
podem ser de litro, que o carrinho que era do nosso tio João continua estimado
e bem tratado. Fascinou-se com os corvos e as gralhas, aves repulsivas na minha
opinião mas exóticas para quem não convive com elas, agradou-lhe a largura e
limpeza das avenidas, a imponência dos monumentos, a vitalidade da Cidade
Velha, o tamanho das doses nos restaurantes. No dia do aniversário, a Lena
levou-a a um restaurante grego onde às sextas se dança em cima das mesas depois do jantar
e quando lá cheguei encontrei-as num pé de baile felizes da vida com dois
mojitos semi-bebidos na mesa ao lado. Eu vinha cansado depois do treino e por
isso contive-me na dança mas a cota respondia com vigor às solicitações da
polaca, pulando e girando até que o gás se me acabou e dei por finda a rebaldaria
quando o relógio caminhava para as duas da matina.
Tive o prazer de
cozinhar para a minha mãe, obviamente com a ajuda inestimável da Bimby que
surpreendeu pela praticidade – Para fazer um bacalhau à Zé do Pipo tinha de
sujar alguns três tachos e aqui só se usa um aparelho – disse. Conheceu alguns
dos meus amigos, foi ver um jogo do Inter, passeou pela cidade, provou pierogi
e panquecas de batata, viu como se fazem pastéis de bacalhau em Varsóvia (cortesia do amigo Costa do Portucale) serenou ao fim de quase nove anos de incógnita e
compreendeu porque gosto tanto de cá viver.

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