Pela primeira vez em muitos, muitos anos abanquei-me em frente à televisão com vontade de ver um dérbi, com confiança que íamos fazer boa figura, certo que o Leão ia ser dignificado. Assim foi, os sportinguistas podem dormir descansados que temos um grupo de profissionais, jogadores, treinadores e dirigentes, que encarnam os valores do Sporting. Bravos e abnegados, com uma estratégia e um pensamento seguro, os jogadores leoninos demonstraram capacidade para discutir o resultado em qualquer momento do jogo e isso é uma coisa que não se via na equipa do Sporting há muito temmpo. Atitude e personalidade, como tem de ser sempre.
É óbvio que não há motivos de festa porque perdemos e o conceito de "vitória moral" não colhe na minha conceção, um jogo de futebol é para ganhar nem que sejam as peladas que faço ao domingo, mas tenho a clara noção que não deixámos de ganhar por sortilégios da bola e não por gritante inferioridade psicológica ou défice de qualidade como acontecia num passado recente. A magana é que não quis nada conosco só entre Schaars, Elias e Capel contei quatro ou cinco flagrantes oportunidades de golo daquelas que, se concretizadas, podem mudar uma partida do dia para a noite. Não aproveitámos e o nosso adversário, mais experiente e mecanizado nos seus processos, aproveitou o nosso esbanjamento.
Por isso fica a imagem que temos um projetinho de equipa bem interessante e que sendo devidamente adubada e regada esta equipa do Sporting pode ainda dar que falar num futuro muito próximo a contrastar com a carestia exibicional que se arrastava pelos relvados portugueses há meio ano, oxalá lhes dêem tempo e sossego para se prepararem.
A polémica? Sinceramente não percebi a historieta em torno da tal caixa de segurança uma vez que é uma estrutura que está em voga nos principais estádios europeus e o conceito em si parece-me positivo porque sei o que passam os adeptos sportinguistas visitantes em dia de dérbi e é precisamente por saber o que passam esses adeptos (empurrados à entrada, espremidos por uma porta minúscula onde cabe meia pessoa e comprimidos em espaços manifestamente insuficientes) que compreendo a reação deles que originou o fogo na bancada da Luz. Compreender não significa aplaudir, acho que aquilo não se faz seja na Luz ou noutro estádio qualquer, mas recordo que as vozes que agora criticam o comportamento de alguns fãs leoninos pertencem ao mesmo clube que aqueles que incendiaram cadeiras em Alvalade velho há umas épocas atrás, não têm direito nenhum em armar-se em virgens ofendidas. Isto de uma pessoa só notar as ramelas dos outros tem mais que se lhe diga, por essas e por outras deviam era ter tento na língua e vergonha na cara, não fizemos nada que nunca nos tivessem feito e nós nunca matámos ninguém.