sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Sexta à noite, nada para ninguém

Academia de Ciências À sexta-feira Varsóvia tem cara diferente, "é o primeiro dia do fim de semana", as gravatas e os blazers ficam nos roupeiros, os sapatos de pele dão lugar aos ténis - aos adidas como eles lhes chamam mesmo que sejam Nike ou Puma -, a barba não se corta, as saias são mais subidas deixando à vista aquela perna eslava trabalhada à plaina e a atitude é mais descontraída. Em suma, à sexta Varsóvia entrega-se ao relaxe, troca as horas extraordinárias no escritório por imperiais e bazucas de vodca com colegas e amigos, combina as jantas e as borgas ou vai às compras. Eu, (mal-)habituado a bulir 44 por semana, quatro delas na manhã de sábado, não sabia que isto não funcionava assim deste lado do muro e propunha reuniões às 16:00 ou 17:00 obtendo sempre negas com o mesmo argumento, que é sexta. Mas que diabo, lá por ser sexta não se trabalha?

Como em Roma se é romano também na Polónia se procura seguir os hábitos indígenas que mais lógicos pareçam, não sou daqueles que falam mal dos polacos por falar, que apontam os defeitos sem lhes reconhecer uma única virtude, que criticam as carências e insuficiências mas não reconhecem as qualidades e potencial. Para estar na Polónia sem ser exclusivamente entocado no seu casulo há que respeitar a cultura e os hábitos, assimilá-los como nossos e por isso deixei de trabalhar sexta à tarde para consagrar essa parte da semana a assuntos pessoais e a um cafezinho com a canalha em noite que eu não tenha que tocar nalguma festa. Hoje foi um desses dias de menor fulgor laboral mas como não posso abdicar totalmente de dar ao canelo, o meu vencimento é calculado em função das horas trabalhadas, tive de estar ao serviço até às 16:30 que é a altura em que habitualmente me preparo para iniciar o fim de semana. Recebo um sms da Universidade, a diretora quer falar comigo, a esta hora deste dia desta semana? O que será?

O caminho para as instalações da Universidade de Varsóvia é um primor, passear na garbosa rua Krakowskie Przedmieście e admirar os seus elegantes palacetes neoclássicos como o da Academia Polaca deUniversidade Ciências com Nicolau Copérnico a guardar a entrada junto do seu modelo heliocêntrico ou o da Academia Polaca de Belas Artes, a rua recém-pavimentada a granito, as igrejas de Santa Ana e a de Santa Cruz onde repousa numa urna o coração do virtuoso Chopin, a Residência Presidencial, o imponente Hotel Bristol, inúmeros documentos que provam a grandeza da Cidade Capital. Uma banda animava a rua com notas sopradas de jazz e atraía os passantes, do outro lado era um café-concerto que oferecia um piano aveludado, a arte e a cultura saíam de todos os lados, de todos os cantos. Num outro edifício grave, o do Instituto de Jornalismo e Ciências Políticas, alunos escreviam furiosamente inspirado por aquilo que dizia um senhor de microfone na mão e alheios à animação que se vivia do lado de fora da janela.

A conversa com a superior correu bem entre louvores – “tens feitio para isto, pá!” – e algumas recomendações para aperfeiçoamento da técnica de ensino chegando finalmente o momento de voltar a casa para acertar os papéis atrasados e atualizar correio pessoal. A cidade chama por mim, não quer que me vá embora, afinal é sexta-feira, tenta-me com montras de bares onde estão louras lindíssimas bebendo cerveja com xarope de amora por um palhinha e eu ainda demoro um pouco o passo, é uma visão belíssima, apelativa e apetece mesmo entrar para umas palavrinhas de circunstância. Mas não, o corpo pede repouso depois da atuação de ontem numa galeria de fotografia e torço o pescoço para a frente na direção do metropolitano.

Varsóvia é uma terra arriscada onde é fácil perdermos a cabeça e deitarmos a perder num minuto o que conquistámos numa vida, na mesma rua tem casas de folia com regabofe de primeira água e bueiros de esgoto a deitar fumo, imagem assustadora. Vim para casa, noite de pijama e portátil. Tenho trabalhos de casa para corrigir, jantar para fazer e um passatempo para cuidar. Neste último não posso faciitar porque a fasquia está elevadíssima como a imagem abaixo comprova q;)

Petroeuros

Amanhã logo vejo se bebo para esquecer ou para celebrar o Leão.

Sem comentários: