domingo, 26 de dezembro de 2010

Algarve Polar

Acreditem que é a mais pura verdade, em Faro eu sinto que não está frio e tremo de frio e em Varsóvia eu sinto que está frio mas não tenho frio.

Neste momento estou debaixo de mantas para me manter quente, lá fora estão 12ºC. Em Varsóvia estão –6 mas aposto que estaria de boxers e t-shirt a beber um Carolan’s on the rocks. Meus ricos aquecimento central, vidros duplos e paredes com isolamento, como eu tenho saudades vossas. Brrrrrrrrrr!

sábado, 25 de dezembro de 2010

O que é que a gente tá aqui fazendo? - 9

Bacalhau com grão Ilustres! Nanja eu através desta imagem incutir em vossas excelências o ciúme, a inveja ou o desgosto. Longe de mim despertar nas vossas pessoas injúrias e impropérios, não quero tampouco criar o atrito entre o leitor e esta modesta publicação, mas dá-me último prazer partilhar convosco esta ceia de Natal, retrato fiel de muitas mesas portuguesas para que mesas estrangeiras se sintam mais próximas de Portugal.

Repito, nanja eu através desta imagem incutir em vossas excelências o ensejo de gritar…

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

De volta ao (Faro) Natal

Boas Festas Entrava-se e sentia-se o aroma do bacalhau, da cozedura das batatas e das couves, ouviam-se as mulheres e o bater dos tachos, das colheres de pau, dos cristais com Porto. Mais perto da cozinha o cheiro dos fritos, o papel vegetal lambia o resto do óleo dos brinhóis e das empanadilhas, um ou dois pratos de sopa cobertos escondiam o arroz doce mas era o pernil de porco assado do dia seguinte que me cativava. Aos poucos chegavam mais pessoas, as garrafas empoeiradas de vinho mais velho do que eu sucediam-se, as estórias, os contos do avô que já a mãe sabia e que o neto há-de contar ao seu filho. Depois o vai-vem de louça, as mulheres que não se sentavam e comiam de esguelha sem tirarem o avental porque o comer estava ao lume, o render de guardanapos e talheres, maratona de frigideiras e detergentes, tinto do melhor até o Menino Jesus arfar de ânsias.

O quimo fazia-se a custo deitado no sofá a ver pela enésima vez o clássico de todos os natais, perfeito soporífero para uma digestão complicada até que algum adulto chegasse, perguntasse o título do filme e desse duas ou três gargalhadas de circunstância e caísse num pesado ressonar que abafava o trinar das panelas e mexericos no lava-louça. Propostas de filhozes e arroz-doce, uísque para os crescidos e mais sumo para os miúdos, injusto porque o álcool abre espaço no estômago enquanto o Sumol só o enchia ainda mais.

Um último olhar para os papéis dos embrulhos espalhados no chão, a alegria e excitação era sempre tão efémera, um punhado de horasEmpanadilha depois todos os presentes estavam descodificados e entendidos, uns exigiam estudo posterior enquanto outros passavam rapidamente à ação. Os mais velhos espadeiravam mais aguardentes mas o sono já conquistava as crianças, hora de voltar para casa atulhado de presentes, de comida e de amor. No dia seguinte pernil, cabidela, frigideiras e crapô – o jogo preferido das mulheres da minha família, quantas horas passavam aquelas criaturas agarradas aos baralhos até tarde da noite! – e música no coração e na televisão.

Amanhã não vai haver filhozes nem brinhóis porque a minha avó já não as faz, não vai haver contos porque o meu avô já não os conta, não vai haver aguardentes porque o meu tio já não as compra. Mas vai haver amor e é por isso que eu vou sair de Varsóvia amanhã às 6:00 para passar o Natal a Faro.

Amigo leitor, apesar de ser ateu quero que tenha um Natal com o amor que semeou e um Ano Novo à medida do que fez neste ano. Creio que não terá porque ficar melindrado com estes votos.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Dona Polónia e os Seus Vizinhos, vol. 2 - Bielorrússia

Sempre achei curiosa a excitação com que cada polaco fala da situação da Bielorrússia, a cólera que o tema inspira, a raiva interior que vem ao de cima quando se fala do país mas uma raiva que não é direcionada contra o povo bielorrusso. Afinal o que se passa com a Bielorrússia que tanto incomoda os polacos?

BielorrússiaA Bielorrússia é um país situado a leste da fronteira de 418km que partilha com a Polónia e tem como curiosidade ser o maior país europeu sem costa marítima, é 1,5 vezes mais pequeno que a terra de João Paulo II, tem quatro vezes menos habitantes e difere também no tipo de Governo exercido – em oposição à República Parlamentarista da Polónia vigora uma República Presidencialista na qual Aleksander Lukashenko quer, manda e pode. Aqui reside a incomodidade que todos os polacos sentem ao abordar o tema Bielorrússia porque Lukashenko é uma figura abominada a ocidente de Brest devido à sua política de aproximação ao Kremlin com o fim de criar uma comunidade de cooperação política e estratégica à imagem da extinta CEI, coisa que naturalmente perturba Varsóvia, e é frequentemente acusado de perseguição e repressão permanentes contra os seus opositores e de privar o povo bielorrusso de liberdade. De facto a Bielorrússia é o último país comunista da Europa e mantém um conceito débil de democracia sobre a sua população com a mão de ferro de Lukashenko a controlar a internet (os proprietário de cibercafés têm de reportar à polícia o acesso a sítios de contestação ao regime ou antigovernamentais), a economia local e a ditar a norma pelo qual o País se orienta desde a sua independência em 1991.

Na Polónia são comuns as manifestações de apoio ao subjugado (no entendimento polaco) povo irmão bielorrusso, a Polónia interpreta o papel do irmão mais velho que se libertou do pai tirano, pulou a cerca e emigrou para a ilha do capitalismo próspero e da liberdade enquanto aAleksander Lukashenko coitada Bielorrússia ainda pena às mãos dum tio (Lukashenko) ainda pior do que o pai (Moscovo). Há concertos anuais sob o tema “Solidariedade com a Bielorrússia” que se realizam no fim do inverno nos quais participam músicos de ambos os países e onde individualidades polacas e bielorrussas discursam apelando à comunidade internacional que olhem para o problema da violação dos direitos humanos e da falta de liberdade naquele país. A Polónia lança constantes apelos à condenação do regime de Lukashenko que apelida de “ditadura” e não perde uma oportunidade para demonstrar o total repúdio pelo Governo de Minsk como prova a manifestação realizada ontem frente à embaixada da Bielorrússia em Varsóvia em protesto contra a brutal reação da força policial da capital bielorrussa que carregou violentamente sobre os opositores de Lukashenko para os dissuadir de contestarem os resultados das eleições presidenciais do último domingo, as quais ganhou com quase 80% dos votos.

Aleksander Lukashenko exibiu a sua inflexibilidade que patenteia há 16 anos, desde que assumiu o poder, com a ordem de prisão de sete dos seus nove adversários na última corrida ao Palácio Presidencial junto com quase 600 manifestantes. A Polónia pede sanções contra Minsk e todos os polacos olham com pena para os seus ex-companheiros de desgraça soviética sem nada poder fazer a não ser sensibilizar o resto do mundo para a situação em que a Bielorrússia se encontra. Os bielorrussos, entalados entre a opressão do regime e a inexistência de perspetivas melhores, tentam levar a coisa como podem fazendo alusões engraçadas aos tempos de mudança que tanto anseiam e vão dizendo como no cartaz abaixo que “é tempo de mudar o pneu careca”, subtil analogia à mudança de pneus obrigatória nos países do leste europeu por alturas do inverno e a calvície do seu “líder não querido”. Ao menos são espirituosos, os bielorrussos. É o que lhes vai valendo.

Pneus carecas

PS – Tenho um plano de um dia ir a Minsk só com o John. Se não aparecer a boiar no rio Svislach prometo contar as minhas impressões.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O Natal dos Animais

Faltam cinco dias para o Natal e começou o tradicional desfile de hipocrisias e falsas moralidades que a quadra desperta nas pessoas e que me enoja. O meu e-mail já está a ser habitado pelas habituais mensagens de paz e amor, uma paz e um amor que toda a gente distribui, toda a gente apregoa mas quase nenhuma gente pratica. Mensagens enviadas a pessoas que não se contacta há anos porque nunca houve motivos para tal, para gente que praticamente não conhecemos, que passamos meses, anos, vidas sem dizer ágiua-vai e de repente surge um e-mail com uma fotografia de uma menina afegã que perdeu uma perna na guerra e um voto de feliz Natal apenso. Aqui está a hipocrisia da coisa, dizer aos outros para fazerem sem que se preocupem em praticá-lo.

Eu não gosto de receber pps de aleijadinhos a pedir esmolas, de velhotas a carregar pesados fardos de paus, de crianças famintas com abutres na peugada, com adolescentes a escreverem as suas lições na terra do chão duma sala de aula improvisada algures no sudoeste asiático ou de cães com três patas e sem dono que dormem ao relento das ruas de Ulan Bator. Não gosto de as receber não porque ignore os problemas que tais desafortunados têm mas porque normalmente partem de pessoas que nem por um minuto dos 364 dias restantes do ano se preocuparam com tais anónimos. Pedem que nós reenviemos as mensagens, que propaguemos a palavra do amor e da amizade, dizem que se nós não as remetermos tal quer dizer que não prezamos os nossos amigos, que eles nada significam para nós, que somos uns misantropos e avarentos, que merecemos arder no Inferno como pena pela nossa má-disposição.

Que metam as mensagens no cu! Sim, muito franca e diretamente, que enfiem esses e-mails parvos no orelhudo! Pratiquem o bem todos os dias, amem ou detestem genuina e incondicionavelmente todos os dias e tenham demonstrações práticas e visíveis dessa bondade e desse amor todos os dias. Sejam autênticos! Aqueles que enviam votos funestos de boas-festas, os tartufos arautos da solidariedade que fazem “forward” dos e-mails sem tampouco refletirem por um segundo no conteúdo dos mesmos (se calhar é pedir demais às suas limitadas capacidades intelectuais), os animais que pensam expiar as suas patifarias através dum clique fortuito não merecem sequer um “reply” de feliz ano novo.

O que merecem? Dó. E menor.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Por falar em frio…

A leste, nada de novo. Seja com neve ou com chuva, ao sol ou de noite a vergonha continua.

Desta vez o alvo é Sousa Cintra, um sportinguista que construíu o melhor plantel do Sporting de que há memória. Um presidente que trouxe para o clube “activos” como Valckx, Balakov, Naybet, Marco Aurélio, Juskowiak e que os aliou aos bem portugueses Cadete, Paulo Torres, Figo, Nélson, Peixe, Oceano, Paulo Sousa, Capucho e Pacheco para formar uma equipa de futebol que empolgava os adeptos, mobilizava-os para os estádios e entretia a massa associativa. O Sporting de hoje é um clube falido financeira, desportiva e ideologicamente. O Sporting não entretem, não diverte, não dá prazer. Sentar-se em frente da televisão para assistir a um jogo do Sporting é um ato de masoquismo, de penitência, um gesto que só se faz porque se acredita que o Clube é maior do que as pessoas que o gerem. Ninguém vai a Alvalade convencido que irá assistir a um bom jogo de futebol, a uma boa prestação da sua equipa (a não ser que seja adepto da equipa visitante) ou a uma boa exibição dos jogadores sportinguistas. Já não há ninguém que acredite neste Sporting, nos seus talentos nem em nenhum dos componentes da estrutura do futebol.

Coelhinho O Sporting acabou como o conhecíamos, como eu e os meus colegas de Liceu o conheceram. Aquele Sporting vivo e vibrante faleceu, aquele Sporting que entusiasmava, que nos fazia acreditar sempre mesmo depois da derrota já não existe e reside apenas na memória dos que retêm a imagem duma equipa que nos fazia sonhar, um Sporting alegre que nos fazia poupar o dinheiro do lanche durante um mês para os bilhetes do comboio e do dérbi. Ver um jogo do Sporting presentemente, para mim, é sofrer, é como assistir a um filme de terror, como se me arrancassem as unhas e barrassem a ponta dos dedos com sal a seguir, é uma tortura, um aperto que dá no coração. Dá vontade de chorar, de mudar de canal, de passar a ferro.

Não me venham com a conversa demagógica que os verdadeiros sportinguistas estão com a equipa pois quando os verdadeiros sportinguistas se pronunciam são vexados com a ameaça de uns quaisquer “papéis”. Mais vale fazer como a Fiorentina, acabar e começar de novo, de fresco, sem vícios mas com verdadeiros sportinguistas no leme.

Tens razão, Zé. Isto é uma palhaçada!

A contar de trás para a frente

O que pode um emigrante escrever nesta altura do ano que não soe a lugar-comum? Pouco ou quase nada. Não quero escrever novamente sobre o frio e a neve porque esse é uma matéria recorrente e também porque terei muitos dias pela frente com tais condições para poder desenvolver o assunto. Também não quero ir pelo tema fácil das expetativa que o Natal transporta, o regresso a Faro, as comidas caseiras, os abraços amigos, não porque não os valorize mas porque é um tanto déja-vu nesta quadra. Tampouco vou lamentar o preço das coisas, a facada que cada prenda representa para o orçamento, prendas compradas com gosto mas com sacrifício porque os preços parece que sobem exageradamente quando se aproxima o Natal.

Um algarvo na Polónia em Dezembro só pensa em ligações aereas comportáveis para poder trincar bacalhau e filhoses na companhia dos seus. Eu não sou exceção e rejubilo com a antevisão duma mesa farta de petiscos nacionais à minha espera na Praia de Faro, antecedido duma sublime almoçarada entre um plantel de luxo reunido em casa amiga, o salto habitual à do Rogério para as minis natalinas com os compinchas de

sempre, uma furtiva e clandestina incursão a Olhão para comer um arroz de marisco à do Amador onde nós temos de desviar o marisco para encontrar um bago de arroz.

Entretanto cá andamos submersos em frio, –12º hoje para manter a firmeza, até a pele estala!

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Piątek

A sexta-feira acorda com o ruído ténue dos flocos de neve no parapeito da janela, flocos que pedem desculpa por levantarem-me tão cedo da cama numa manhã ruim para sair de casa. São 6:20 e o dia vai começar quer se queira, quer não.

Carris do elétrico A imagem que tenho da minha varanda parece alterada com o Photoshop, uma palete com três cores – azul, branco e cinzento – que desinspira e retira a pouca coragem que há para pôr o corpo debaixo do duche. A custo a coisa acontece, o café aquece, parte-se o pão e barra-se com queijo para a combustão gástrica imprescindível antes de sair de casa. Tudo feito a câmara lenta, as meias, compor a franja, dar o nó nos atilhos, calçar as luvas. À porta do prédio a preparação psicológica para a chapada de ar frio que devo apanhar, bem pior do que esperava porque está vento, a neve não cai do céu – voa do chão, o piso escorrega e procuro não me enervar porque sei que não me serve de nada. Abalo para o metropolitano enfiado num casacão e de orelhas geladas perguntando-me se não teria sido melhor abdicar do gel em prol dum gorro.

Na estação do metro devem estar 5º, até me sinto abafado em contraste com os –5º que estão na rua – uma diferença de 10 graus que é reposta logo na mudança para o elétrico. De novo as ruas aflitas de frio e as pessoas caminhando apressadamente de capuccino na mão, centenas de almas por metro quadrado e nem uma palavra se ouve no ar porque está toda a gente a pensar no regresso a casa que só vai suceder daqui a 8 / 9 horas. Sofrem por antecipação, é escusado mas não os condeno porque lá no fundo também tenho essa sensação.

Agora sento-me no quentinho do escritório e ponho-me a pensar no que tenho para fazer antes das férias natalícias, das coisas que tenho de deixar orientadas. Ainda são umas quantas porque ainda faltam 15 dias para o avião, tempo de menos para umas coisas mas tempo demais para outras. Planeio o dia e toda a concentração resvala para um único evento: Hoje vou tocar pela primeira vez na margem leste de Varsóvia, um clube em Praga com clientes necessariamente diferentes dos do Centro. Já estou a pensar no check-sound, na seleção, nas passagens, nos efeitos, ainda tenho oito horas de trabalho pela frente mas só tenho bpm na minha cabeça.

Que vou fazer? Partir aquela merda toda! Só pode.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Pé-ze(i)ro

O que é um “pé-frio”?

A definição clássica e a definição desportiva.

Lei anti-tabaco II

Proibido fumar Com a entrada em vigor da nova lei que proíbe fumar em locais públicos têm surgido reações provenientes de diferentes quadrantes da sociedade polaca, o que tem sido pano para mangas em termos de assuntos de discussão em todos os contextos. Uma escola de línguas é um terreno propício para o debate de ideias sobre este assunto, apresentação de argumentos e pontos de vista.

Duas das minhas melhores alunas defenderam a tese de que a lei é estúpida e que segrega os fumadores da população colocando-lhe o rótulo de marginais, bandidos e elementos prejudiciais à saúde social. O fumador é agora visto como um delinquente que se envenena e que quer rebocar os outros para a sua espiral de auto-destruição e rejeitam a conotação negativa que o seu prazer pessoal acarreta. Na ótica delas, fumar é um ato de socialização e não um crime de lesa-humanidade, algo que pode e deve ser feito obviamente sob as elementares regras de respeito pelo próximo mas nunca uma arma de arremesso para os fundamentalistas do vigor físico acusarem os prevaricadores.

Também salientam as vantagens que a “proibição” trouxe tornando os fumadores mais próximos, mais solidários, com um denominador comum que os acerca. O fumador é assim um ser mais sociável e que partilha a sua causa com outros iguais, conversam uns com os outros quando seAntifumo encontram nas salas de fumo. Há uma causa comum entre os fumadores, uma reciprocidade de sentimentos que só quem fuma é que compreende e assim os fumadores ficaram um povo mais coeso e unido em torno da sua ideia. Os espaços exíguos, as gaiolas em que as áreas de fumo se tornaram expõe os animais fumadores aos olhos reprovadores dos que não fumam, dos “saudaveizinhos”, para a ostracização. As crianças apontam admiradas para os chimpanzés fumegantes que se acotovelam nas suas jaulas para darem umas passas, as mães abanam a cabeça reprovamentes e dizem que “aqueles senhores estão doentes”. Antigamente via-se o Cary Grant e o John Travolta cheios de petróleo no cabelo fumando atraíndo as fêmeas como sinal de virilidade, hoje em dia é o “não fumo!” que se tornou trendy. Mae West, Marlene Dietrich e Olivia Newton-John (sim, grandes influências do Grease) provocavam ereções masculinas com as suas baforadas, hoje diz-se que “beijar uma mulher que fuma é o mesmo que lamber um cinzeiro” (cá para mim, o Macário nunca lambeu nada de jeito…). Rematam com a inatacável teoria que fumar alimenta as relações interpessoais ao facilitar o contacto verbal, membros duma minoria votada pelos ostracistas a um purgatório constante até que venha o cancro redentor que os condene às penas eternas, castigo justo pelo consumo de tabaco e pela poluição insuportável a que sujeitaram o planeta.

Antifumo2 Eu rio-me da histeria que todas as medidas despertam neste país. São as cruzes, os acidentes de avião, as leis anti-tabaco, as gripes gástricas de que só ouvi falar aqui, o resmungo constante sobre o frio como se a Polónia experimentasse ares polares pela primeira vez, o fim do mundo em cuecas quando alguém espirra. Prova disso foi a descontração ignorante com que acendi um cigarro no Wojska Polskiego antes do Legia – Arka sem que ninguém me repreendesse. Que cada um coma a sua massinha e o mundo será um lugar melhor para se viver, estão preocupados em enjaular os fumadores mas ninguém dá conta dos bêbados que dormem na rua nem da caca de cão que os porcos dos donos não apanham.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

XXXVII

O meu quarto “aniversário polaco” foi mais tranquilo que os anteriores e vários fatores contribuiram para essa acalmia, desde logo o estado civil que é diferente e sugere menos arruaça, mas também as muitas prioridades pessoais e profissionais que canalizaram para si fundos que à partida estariam destinados a uma festa de arromba. O tempo é de planificação do futuro, um futuro que parece ter contornos diferentes a partir de janeiro.

Este foi mais um período de reflexão do que de festa rija, meti um tempo para meditar no que tem sido a minha postura neste país, nos resultados que obtive até agora e tentei tirar conclusões, se estaria no bom caminho, se teria desperdiçado tempo em coisas inúteis ou se devia tê-lo melhor investido. É difícil peceber quando estamos a ir na direção errada e às vezes precisamos de sinais que nos orientem, alguns surgiram no decorrer deste ano mas penso que o meu 37º ano de vida foi bem vivido quer em termos de diversão quer no plano das responsabilidades de trabalho. Creio que me aconteceram mais coisas boas do que más e que não me poderei queixar, por isso resolvi reduzir a dimensão da festa, chamar aqueles que são a minha família em Varsóvia e fazer uma festa em tom mais íntimo, sem grande barulho nem manifestações espampanantes, tranquilo.

Foi bom porque é sempre bom quando temos os nossos amigos conosco, as pessoas que melhor queremos. Cumpri 37 anos na presença deles e espero para o ano soprar 38 na companhia dos mesmos mas, se possível, com mais três ou quatro munines da minha terra para mandar uns barranaços da mesa e gritar “camano!” Enfim, quase 120 parabéns que recebi no FaceBook também são uma forma de sentir o seu carinho e soube-me muito bem.

Obrigado, maltinha! Para o ano há mais se tudo correr bem q:)