Há 20 anos atrás vivíamos no tempo da Guerra Fria iniciada depois do fim da 2ª Guerra Mundial, sob permanente ameaça dum conflito nuclear entre as duas superpotências da altura, URSS e EUA, que prometiam destruírem-se mutuamente e arrastarem o resto do planeta devido a imensas questões políticas como a Crise dos Mísseis em Cuba. Guerras como a da Coreia, o Vietname e o Afeganistão polarizaram o mundo entre Pacto de Varsóvia e NATO e cada um dos beligerantes tentava expandir a sua esfera de influência em todos os continentes. A Europa estava dividida entre Ocidente e Leste – onde a Polónia se encontrava.
- Invasão do Afeganistão por parte da URSS e resposta dos EUA armando e treinando os Mujahidin (futuros Talibã);
- Venda de armas a Saddam Hussein em plena guerra Irão – Iraque;
- Guerra das Estrelas, a corrida espacial;
- Eleição de Margaret Thatcher como primeira-ministro britânica, duramente conservadora e ferozmente agressiva para com Moscovo.
Entretanto o regime soviético dava mostras de alguma incapacidade de lidar com as insurreições que se sucediam nas suas repúblicas satélite além de que a baixa produtividade dos seus trabalhadores aliados aos elevados gastos duma gigantesca máquina burocrática e militar corroíam irremediavelmente o seu condenado sistema económico. Moscovo não conseguia intervir por ter moeda fraca, o PIB era metade do dos EUA, todas as decisões estratégicas e sociais era emperradas pela burocracia e perdia-se tempo na tomada de decisões. Para piorar o cenário deu-se o desastre na central nuclear ucraniana de Chernobyl que libertou 400X mais radioatividade do que a bomba de Hiroshima e destruiu por completo a colheita de cereais desse ano (note-se que os cereais constituíam a principal exportação soviética nesse tempo), aniquilando importantes receitas financeiras para o Kremlin. Em meados da década de 80 os países da Cortina de Ferro começam a reagir contra a repressão soviética, a Hungria, Checoslováquia e Bulgária negociavam eleições livre enquanto na Roménia perseguia-se Ceaucescu para matar de vez o comunismo naquele país. Na Polónia, o Solidariedade não dava tréguas ao enfraquecido governo do general Jaruzełski contando com a oficiosa colaboração do Vaticano na pessoa do compatriota Karol Wojtyła e alcançava uma importante vitória na mesa-redonda de 89, o primeiro
passo duma irreversível caminhada para a democracia na Polónia.Inspirados pela sublevação dos países orientais e pelas dramáticas e constantes tentativas de êxodo da RDA, os países bálticos (Lituânia, Letónia e Estónia) reivindicaram independência da URSS, Wałęsa foi indigitado Presidente da República e Mikhail Gorbachov agarrava-se desesperadamente às novas políticas de Perestroika e Glasnost para salvar o decrépito regime tendo apenas conseguindo-se salvar dum golpe de estado. A RDA preparava a normalização de relações diplomáticas com a vizinha RFA quando se deu “O Erro de Schabowski”, uma gafe que mudou o mundo.
20 anos depois, Wałęsa foi convidado para empurrar as peças que simbolizam o desmoronar do comunismo na Europa e é de elementar justiça que ele tenha sido escolhido para tão simbólico gesto porque, apesar de já não ter qualquer protagonismo na política moderna da Polónia, a Europa e o País não o esquece como o eletricista tenaz que ousou enfrentar o gigante soviético e que tirou a sua nação do jugo comunista que a asfixiava. A Polónia orgulha-se do papel relevante que dois homens polacos tiveram na redefinição do mapa político mundial, um papel de verdadeiro protagonismo em oposição ao imbecil estrelato que um cretino tentou reclamar.
É a tal coisa, enquanto uns têm motivos para se sentarem no Muro e não o fazem outros saltam por detrás dele para que alguém os note. Também por isso continuamos pequeninos.
1 comentário:
Concordo com a tua crónica sobre um dos momentos marcantes da história recente no mundo. O muro caíu e por causa disso estamos nós por cá a viver.
Waleza tem todo o mérito e crédito que os livros, média e história lhe dão. Acho que por vezes exagerado mas mesmo assim ele foi dos políticos que mais contribuiu. Obviamente os Americanos têm de ser contados nesta história e todo o mundo ocidental. Não esqueçamos Gorabachev. O toque final para a queda desse pedaço de engenharia soviético foi graças ao regime que se achava ja perdido no meio de uma guerra economica que levava grande desvantagem.
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