Portugal, finais da década de 70. Tempos de palavras pesadas como ‘Revolução’, ‘Revisionismo’, ‘Censura’, ‘Insurreição’, ‘Reacionários’. Tempos de siglas sinistras como ‘MRPP’, ‘COPCON’, ‘SUV’, ‘PREC’, ‘LUAR’. Tempos de atentados bombistas, de assaltos a bancos, de murais de inspiração política, de partidos de esquerda maoísta, trotskista, guevarista, marxista e moderada, do 25 de abril e do 25 de novembro, de Eanes, Cunhal, Sá Carneiro, Otelo e Soares, movimentos militares e civis, burguesia e classe operária, capitalismo e proletariado.
No Portugal de brandos costumes que se conhece até custa a acreditar que houve casos de piratas do ar – o primeiro caso mundial de desvio de um voo comercial aconteceu em Portugal, a ‘Operação Vagô’. Porém era um Portugal efervescente aquele em que vivi no primeiro lustro de vida, daí que todos os nomes e acrónimos acima mencionados façam parte do meu imaginário, palavras que me fazem recuar aos tempos dos televisores a preto e branco, dos Citroën GS de 4 velocidades e das calças de boca de sino.
Todas essas memórias me assaltaram quando eu voltava para casa depois de ter ido uma grande superfície comercial comprar chinelos de piscina – não porque queira mandar umas braçadas mas porque tenho de proteger os pés nos balneários dos campos de futebol – e passei por um cruzamento onde estava esta placa, a placa que indica onde é a Rua dos Proletários.
Faz algum sentido na medida em que a dita rua fica na zona industrial de Żerań onde se encontram uma central termoelétrica, que fornece 40% da energia elétrica consumida em Varsóvia, e uma cimenteira mas batizar uma artéria como ‘Rua dos Proletários’ é uma daquelas coisas que só mesmo nesta terra. Ou se calhar também no Barreiro.