terça-feira, 30 de novembro de 2010

Inverno 2010 / 2011 – Os primeiros dias

Vista de casa Há mais de doze horas que tem caído neve, uma precipitação que cobriu toda a cidade e que não tem ar de que não vai parar nos próximos dias. A temperatura desceu para números perto dos –5º, a primeira vez que cai em valores negativos depois do verão, e veio acompanhado duma nevasca intensa prometendo mais descidas (até aos –18º na quinta-feira). Lembro-me que em 2009 nevou muito mais no outono do que neste ano e que essa neve precoce de então deu o mote para um inverno excepcionalmente longo e frio, gelado mesmo. Lembro-me também de ter passado muitos meses sem ter visto a cor do chão, sem ter calçado sapatos desportivos e de ter reforçado o stock de meias turcas. Lembro-me até de ter pensado em comprar “peúgos das raquetes” para servirem de meias de enchimento para aquecer melhor os pezinhos. Este ano a guerra já começou.

Acordei tarde como em todas as segundas-feiras, o relógio batia nas 11:00. Recuso trabalhar nas manhãs de segunda para que a entrada na semana de trabalho seja mais suave e simpática, assim posso progressivamente habituar-me ideia de ter de começar a dar ao cabedal, tenho tempo de ler os jornais e e-mails, dar um jeito à casa, fazer as compras necessárias para a semana e entrar em cena devagarinho. Começo a trabalhar às 15:00 e aí já estou bem desperto e capaz de dar o meu melhor a quem o espera mas há um coisa que sempre me incomoda seja a que horas fores – sair de casa.

 

Hoje puxei as cortinas e enquanto aquecia a água do café espreitei a manhã alta assustando-me com a brancura da rua, uma brancura tal que nem deixava ver marcas de pneus de automóveis. Imaginei o frio exterior que nem uma golfada de café com leite amainou e agradeci-me ter feito a barba ontem à noite porque não há sensação do que ir para a rua de cara recém-barbeada com este tempo, os flocos de neve que caem na pele parecem minúsculas brocas de diamante gelado que perfuram o rosto provocando dores lancinantes. Depois de concluídas as atividades descritas no parágrafo anterior tomei fôlego e saí para atacar a vida, levando logo uma estalada de ar frio quando despejei o lixo noTrês horas da tarde contentor do prédio e atolei os pés num poço de neve onde provavelmente acaba o passeio e começa o arruamento. Senti logo os vasos capilares dos dedos dos pés a queixarem-se, a contrairem-se, a reclamarem do desconforto e a levarem-me de volta para o quente edredão de penas que me consola à noite. Não pude voltar atrás e saí temerário patinhando entre buracos de neve traiçoeira e respirando pela boca para não queimar as narinas com o ar gélido que se respira. Entrei na estação do metro e retirei os dois capuzes dos casacos que tenho vestidos devido à agradável diferença de temperatura, é curioso que tenho vontade de despir os casacos apesar do temómetro da estação (e das carruagens) não subir para muito mais do que 10º ou 12º mas para quem vem de –4º até apetece pôr-se em mangas de camisa. Alguns funcionários da câmara munidos de grandes pás afastavam a neve suja das entradas para que as pessoas pudessem passar, outros lançavam sal-gema à mão para derreter o gelo, um sal-gema assassino que desgasta os sapatos e rói os pneus e o metal da parte de baixo dos automóveis, um mal necessário. O trânsito é pouco menos que impossível, a Sónia mandou-me uma mensagem dizendo que fez cem metros em uma hora numa das mais largas avenidas de Varsóvia. O meu carro está sossegadamente trancado na garagem e não o vou castigar com cruzeiros inúteis e prejudiciais pela lamaçal em que se tornaram as ruas da Cidade Capital quando consigo funcionar perfeitamente com os transportes públicos, certeiros e pontuais, sem filas nem gastos acrescidos. Via os limpa-neves a atirarem a neve para cima dos carros estacionados na berma das ruas, estalactites a pingarem das chapas de matrícula, e a jogar sal-gema para o asfalto e pensava que nem tão cedo o meu querido automóvel vai ver a luz do dia.

Voltei tarde depois de ter mastigado uma supersandes com batata frita num bar americano enquanto assistia ao clássico espanhol na companhia de amigos polacos, canecas de litro e copinhos de vodca a cada golo culé, uma quase bebedeira no último metropolitano para Ursynów. A sensação conhecida de ter acabado bem um dia que foi quase todo recheado de impressões negativas. Assim é Varsóvia, põe-te à prova durante o dia todo para no fim do mesmo dar-te um rebuçadinho que te faz querer mais dela no dia seguinte.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Deve e não haver

Renda de casa + aquecimento central: 2900pln

Pneus de inverno: 800pln

Multa por um estúpido estacionamento em local proibido e consequente reboque: 500pln

Bilhete Faro – Varsóvia – Faro: 1100pln

Renda da casa de Faro + despesas de água, gás e luz (porque ficou desocupada em Novembro): 1300pln

Total: 6600pln

Este ano vai tudo corrido a globos de neve e ímanes de frigorífico!

domingo, 28 de novembro de 2010

Lei anti-tabaco

Comentário do Juanjo, um dos poucos espanhóis que curto, à entrada duma discoteca em Varsóvia.

- Agora já não cheira a tabaco, cheira a sovaco.

E tem razão.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Eles não sabem porque o fazem

Ainda que não seja a natureza deste blogue, por vezes fazem-se incursões em campos mais profundos e académicos que resultam em análises sociológicas. Vamos à estória introdutória.

Há uma semana ia sendo envolvido numa zaragata a propósito do meu automóvel ter sido rebocado, refira-se que justamente, e por um polaco ter passado à minha frente na fila para apresentar os documentos e resgatar o carro. Estava com o John e a Ewa e quando me apercebi que o indivíduo ia aproveitar a falta de jeito da minha namorada para reivindicar a posição para antecipar-se pulei da cadeira e disse que estávamos primeiro logo secundado pelo meu brother John. Entre a apatia do segurança e o “caguei para vocês” do polaco este entrou mesmo no gabinete apesar dos nossos protestos, o que me levou a irromper esquadra adentro e reclamar que fosse atendido perante atónitos polícias polacos. A ação não teve o fim pretendido porque um dos agentes da autoridade convidou-me a sair com o argumento de que “esse não era um assunto da conta dele e que não devia ser resolvido naquele gabinete”. O polaco olhava para mim com cara triunfante e eu, azul de raiva, ainda fui a caminho dele e dando-lhe duas palmadas nas costas avisei-o de que “nós já conversamos lá fora”. Saí para esperar a minha vez e sentei-me na sala de espera notando o espanto das pessoas que também aguardavam serem atendidas e reparei que a Ewa estava muito nervosa, obviamente porque não havia previsto a minha reação, a típica reação dum latino quando se sente injustiçado. O John acalmou-me dizendo que seria melhor não fazermos fitas e eu concordei também para que a rapariga parasse de gaguejar. O engraçado foi a seguir quando o dito cujo polaco sai da gaiola e olha a medo para nós, eu já caminhando de um lado para o outro para não o ter de encarar, o John abre o dicionário de palavrões em inglês e levanta-se a caminho dele. Prenunciei uma cena de porrada à antiga porque o meu amigo estava muito irado, o segurança paralisado de surpresa, as pessoas que esperavam a sua vez chocadas e de boca aberta e o polaco teve de sair em passo apressado antes que fosse lamber asfalto. Vá lá que o meu colega disse que era melhor não fazermos estrilho… Passou.

No dia seguinte, estou na fila do supermercado para pagar as compras quando entra um homem no mesmo corredor em sentido contrário. A senhora da caixa avisa que é proibido entrar por ali mas ele abana a cabeça, murmura qualquer coisa e segue caminho ante o espanto dos presentes. Tive prestes a ir atrás dele, pegar-lhe pelo cachaço e pô-lo na rua mas, se o segurança que é pago para isso não o fez, eu também não me ia armar em defensor da moral e bons costumes, deixei-o seguir a rir-me da estupidez dele.

Hoje, em conversa com a Marta, tirei uma conclusão. Os polacos são naturalmente transgressores, é uma herança dos tempos de ocupação que viveram desde quase sempre. A Polónia esteve sempre envolvida em conflitos e ficou sem autonomia ou independência durante muito tempo, foi ocupada, partilhada, apagada do mapa, disposta a bel-prazer da Alemanha, Áustria, União Soviética entre outras potências invasoras. As leis que os polacos eram obrigados a cumprir não tinham sido redigidas por iguais mas sim pelo inimigo, ora leis nazis, ora socialistas, ora fosse de quem fosse. Neste contexto, prevaricar era um ato de heroísmo, transgredir um sinal de insurreição e infringir era um gesto de irreverência contra o regime. Impunha-se violar a lei, perverter, desvirtuar o que tinha sido infligido pelos maus da fita como prova de que o espírito e a alma da “Águia Branca” não se vergaria às sevícias. Desobedecer era uma ação de orgulho, uma causa e essa atitude foi transportada para os dias de hoje.

Explica muitas coisas mas não as tornam aceitáveis aos meus olhos, não fiquem surpreendidos se um dos próximos artigos versar sobre a minha primeira briga na Polónia. Ainda por cima agora que já se sente o inverno às portas de Varsóvia.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A verdade, acima de tudo

żurek A verdade pode ser dita de muitas maneiras e nem sempre da forma mais agradável. Há verdades que custam a ouvir e outras que custam a sentir, até há verdades que são conhecidas mas que ditas sob um ponto de vista diferente até parecem mentira. Esta introdução serve para mostrar mais uma vertente da vida na Polónia, a gastronomia polaca num prisma diferente.

Convidei os meus alunos do primeiro semestre, alunos de nível básico mas que já estudaram espanhol, a imaginarem-se como donos dum futuro restaurante polaco no Algarve e que compusessem a ementa, necessariamente com especialidades dos seus países. Que o menu contivesse gołąbki, szarlotka, żurek, golonka e outros petiscos típicos da Polónia mas que todos esses pratos fossem explicados na língua de Camões para que o cliente português compreendesse as opções e comgolonka preços eu euros mas simpáticos porque a situação em Faro está dez vezes pior do que em Varsóvia. Entregaram-se com entusiasmo à tarefa e o resultado traduziu-se em três excelentes cardápios referentes aos restaurantes “Quatro Noites”, “Pequena Polónia” e “A Águia Branca”. Em cada um constavam pelo menos três sopas, três pratos de peixe, três pratos de carne e três sobremesas. As propostas foram apresentadas com solenidade, destaco algumas:

- Sopa branca de salsicha e ovo em caldo de água e fermento;
- Caldo de frango com massa;

- Joelho de porco marinado em ervas e cozinhado em cerveja;
- Carpa cozida com batatas fritas;
- Couve azeda com carne e cogumelos;
- Arenque em gelatina.

Digamos que há várias maneiras de se dizer o que é verdade mas apresentar a gastronomia polaca desta forma aos portugueses não será a melhor maneira de conquistá-los. Se a minha opinião valer de alguma coisa aprovo todas estas sugestões menos o peixe com gelatina, esse é daqueles pratos que nunca comi mas não gosto. O resto? Delicioso!

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Tiririca à la polonaise

 

Enviaram-me este artigo desde Portugal.

Szczolek A cantora polaca Sara May, um celebridade nos jornais do país, distribuiu cartazes em que aparece de biquini provocante, espreguiçada na areia, como parte da sua campanha eleitoral para um assento na Câmara Municipal de Varsóvia nas eleições de 21 de Novembro.

Vários dos cartazes - http://www.saramay.pl/blog.html - serão vistos no bairro de Bemowo, em Varsóvia, com o slogan «linda, independente, competente».

«Os feitos contam, não as palavras, por isso não vou prometer nada. Eu vivo em Bemowo, em Varsóvia», escreveu May - cujo verdadeiro nome é Katarzyna Szczołek – no seu site em inglês, acrescentando que iria tentar tornar a cidade um lugar melhor para se viver.

Utilizadores de Internet que fizeram comentários sobre os cartazes de May em vários sites não estavam interessados nas opiniões dela sobre política, preferindo manter amplos debates sobre o quanto a fotografia dela tinha sido melhorada digitalmente.

Tenho opinião pouco formada neste tema, não posso confirmar o slogan da menina – apenas discordar com o “linda” - desconheço a obra artística da rapariga em causa e a visita que fiz ao site dela confirmou as suspeitas de que não estarei interessado em conhecer. O ar dela é o típico das mulheres polacas que tostam debaixo do solário porque alguém lhes disse que ter a pele em tons de cor-de-laranja é sinal de beleza, tem aparência de bimba pirosa sublinhado pelo uso de jóias na praia, sinal pimba inequívoco. Além disso Bemowo fica a 10km do Centro de Varsóvia, onde trabalho, e a 25 de Ursynów que é onde vivo, só vou a Bemowo para jogar futebol às quartas e aos domingos e ainda não prestei atenção aos cartazes de propaganda política.

Mas… para alguém que perdeu toda a fé nos políticos da sua própria terra, o surgimento desta catraia não deixa de ser uma espécie de lufadaJoão Bolacha de ar fresco que me leva a acreditar cada vez mais no lema “vote nas  putas porque temos votado nos filhos delas e não tem dado resultado” especialmente depois do cúmulo do ridículo e da incrível falta de pudor da minha região se ter lembrado de desenterrar o “João Bolacha” para cabeça de lista do PS nas últimas eleições legislativas. Alguns podem encarar a Kasia Szczołek e o Tiririca como uma falta de respeito para com as Instituições sendo que a política é uma coisa para se levar a sério. 

E o que é que os políticos têm feito até agora, não tem sido gozar com eleitorado?

sábado, 13 de novembro de 2010

Azia

Azia Diz-se na minha terra e não sem razão que “um homem doente é pior do que uma mulher grávida” frisando o total estado de vulnerabilidade em que um homem mergulha quando algo lhe abala a saúde. Este homem que vos escreve caiu anteontem à cama fustigado por uma colossal azia sem razão aparente, não houve copofonia na noite anterior nem excessos gastronómicos, provavelmente um bichinho que pairava no ar e que resolver contaminar o sistema. A indisposição gástrica nem causou vómitos mas gerou logo ondas de pânico e pavor, dores insuportáveis e loas à morte que se avizinhava, a reação típica dum homem doente, logo incapaz. Entra em campo a mulher, a curandeira que tem como missão recuperar o macho moribundo através dos seus conhecimentos seculares, mezinhas da bisavó, tirar as dores lancinantes que ela nem calcula, o sofrimento, a atrocidade que ela não sabe nem sonha.

No meu tempo, a minha mãe cozinhava caldos insonsos de arroz e frango cozido separadamente e alimentava-me com essa mistela até que o equilíbrio gastro-intestinal fosse reposto contribuindo desse modo para repulsa que ainda hoje sinto por canja. A associação é inevitável. se estou doente como canja, canja é a comida da doença, só como canja quando estou doente, não quero canja porque é sinal de que estou doente. Como na Polónia a canja é uma sopa comum e que até é prato principal em muitos almoços familiares de domingo preparei-me para o Rosoł que a Ewa ia preparar e avisei-a que…

- Não quero canja, isso dá-me ânsias e disso já tenho de sobra.

- Mas eu posso fazer-te uma canjinha ou outra sopinha assim.

- Não, obrigado. Eu não quero sopa.

- Então come groselhas negras, a minha mãe come-as sempre quando está mal do estômago com um copinho de vodca e…

Aqui tive de interromper.

- Escuta bem o que o Nuno te diz. O Nuno não tem organismo eslavo como vocês, o Nuno não come groselhas negras porque não há disso na terra dele, o Nuno trata os problemas de estômago com Coca-Cola e domperidona (trazida de Faro) como manda a lei. Obrigado pela preocupação mas eu tenho os meus próprios remédios (e puxei dos galões). Afinal, em 15 anos de farmácia devo ter aprendido qualquer coisinha.

E a conversa ficou-se por aqui porque ela viu que eu começava a ficar impertinente e não há nada pior que aturar um homem doente et pour cause rabugento. Pegou nela e foi visitar os pais, eu estendi-me a custo no sofá onde passei a tarde a assistir a reposições aborrecidas do House, Ossos e Family Guy. Dormitei entre gemidos, cercado pelos estúpidos pensamentos que me assaltam sempre que estou nestes fados: “Nunca mais como batatas fritas de pacote, canja não, canja não!” Três horas depois regressa ela com tachos atafulhados de comida.

- Olha, a minha mãe ficou preocupada contigo e mandou estes escalopes panados, couve-flor cozida e um franguinho assado no forno. Não sei se gostas mas pronto, espero que te faça bem.

Só consegui mordiscar um escalope perto da meia-noite, quando me senti com forças e apetite suficientes para abrir a porta do frigorífico. Os escalopes estavam uma delícia, a couve-flor dispensei-a à herbívora cá de casa e no dia seguinte estava em grande forma.

Moral da história: A integração da cultura adotiva naquela que trazemos do berço dá bons resultados, a prova está que eu nunca curei problemas de estômago com panados… mas resulta! q:)

PS – Acresce o facto da mãe da minha da namorada gostar de mim. Isso sempre sucedeu, as mães delas sempre gostaram mais de mim do que as suas filhas. Ainda estou para perceber porquê.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

O Fanfarrão e (o) Parvo

Ontem, em declarações à Rádio Renascença, um notório adepto sportinguista – e notório não quer necessariamente notável – regalava-se publicamente com o resultado do clássico do Dragão dizendo-se “desportivamente contente” por ver o clube de Carnide, apelidado de “fanfarrão”, “em aflições”. Ao ler o artigo não consegui deixar de sentir pena de todos os Leões que não se reconhecem neste tipo de declarações próprias de quem não tem sucessos próprios para festejar e que se contenta com o fracasso alheio. Eu não sou desses, vibro com o meu Sporting e não pestanejo com a derrota dos outros. Assisti ao jogo na companhia de ferrenhos encarnados e não senti particular alegria pelo resultado final tendo sempre o cuidado de frisar que a minha guerra seria na noite seguinte.

Parvo Este imbecil, que por infelicidade ou nabice diretiva ocupa destacada posição na hierarquia leonina, veio vexar mais uma vez a nação sportinguista com frases idiotas que vincularam o Sporting na medida em que por força do cargo que tem não pode distanciar a sua posição pessoal com a do Clube. Gozou com a desgraça dos adversários sem olhar para os seus, falou antes do tempo das ramelas dos outros sem lavar primeiro os seus próprios olhos, precipitou-se pela enésima vez e expôs o Sporting a mais um ridículo para o qual bastava a tristonha campanha da equipa de futebol. Já não é a primeira vez que este cretino diz patacoadas e envergonha o Sporting, realmente somos um clube especialista em criarmos os nossos próprios coveiros e de quando em vez surge um qualquer Rogério, Sérgio, Aguiar ou JEB a reclamar espaço de mediatismo com afirmações tontas que põem o país inteiro a rir deles, de nós.

Eu já tenho calos no cu como o macaco e sabia mais que bem que não íamos aproveitar o desaire de um dos competidores diretos porque o Sporting falha sempre nestes momentos, mas sempre sempre sempre! Saí do trabalho com 70m de jogo a ganhar por 2-0 e no caminho para casa o Vitória virou o jogo para 2-3, quando cheguei a casa estava o António Simões a dizer “que a expulsão do Maniche tinha sido determinante para a recuperação vimaranense”. Surpreso, eu? Nada disso, apenas o Sporting no seu melhor. Tal como esse pateta do nosso presidente da Assembléia Geral que sempre que abre a boca asneia. Mas burro velho não aprende lições e ele saberá contornar a figura triste que protagonizou com mais uma dose de excelente retórica, tivesse o Sporting futebolistas como tem oradores e até a Libertadores ganhávamos.

Entretanto, por favor metam um chinelo na boca desse gajo para ver se ele não nos enterra ainda mais!

sábado, 6 de novembro de 2010

Tu sabes que vives num país estranho…

… quando estás parado no semáforo atrás dum carro cuja marca nunca tinhas visto.

Tata

Segundo apurei, esta marca foi proibida de ser comercializada em vários países europeus por ter falhado muitos dos parâmetros de segurança.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Dos gatos por lebre e de como as mesas mais modestas às vezes consolam os mais exigentes

862largeEstavam 16º na rua, fazia sol e eu lembrava-me que no ano passado por esta altura já tinha caído um nevão sobre Varsóvia. Lembrava-se também dum jogo de apuramento para o Mundial 2010 entra a Polónia e a República Checa disputado em Chorzów num campo em que não se viam as marcações e que foi duramente vaporizado por incessante neve. Este outono ainda não nos brindou com tal desagradável situação e tem feito sol, coisa incomum, por isso fomos passear.

- Onde vamos?

- Vamos comer uma pizza na Cidade Velha.

Assim se decidiu, uma voltinha pela parte antiga da Cidade Capital para arejar o espírito e aliviar o corpo depois duma semana árdua de trabalho e dum fim de semana pleno de obrigações familiares. O restaurante escolhido foi uma extravagância, um dos mais renomados da cidade, propriedade do expoente máximo da gastronomia varsoviana – Magda Gessler. A Trattoria Gessler na praça central, um restaurante magnificamente decorado e muito acolhedor, foi o escolhido para um almoço tardio de feriado. Salada de frango para ela, gnocci de 3 queijos para ele porque a pizza já tinha sido esquecida, pedidos apontados em voz alta e desadequadamente forte para o ambiente intimista que a sala de comer pedia, pratos teoricamente simples e de fácil confeção. Escrevo teoricamente simples porque os ditos pratos demoraram 40 minutos a chegarem à nossa mesa, um tempo de espera inaceitável para uma casa que se gaba de estar mencionada nas publicações do género. Decidi esperar apenas cinco minutos mais e zarpar porta fora quando a dois minutos do fim chegaram os pratos, atirados como se fossem o pão e laranjas dos prisioneiros, uma salada bisonha e 22 grãos de fécula de batata postos no fundo dum prato e regados por um molho instantâneo da Maggi que de queijo só devia ter o aroma. Comemos a custo e porque tínhamos fome. O empregado da voz bruta passou pela mesa para recolher os pratos e quis saber se tínhamos gostado, eu respondi em tom de provocação: “Quer a resposta standard ou a resposta sincera?” Ele não percebeu e trouxe o terminal do pagamento por cartão não sem que antes tivesse acrescentado à mão 10% de gorjeta totalmente imerecida, o papel comprovativo do pagamento saiu amarrotado. A sorte foi que a Ewa prontificou-se a pagar senão eu tinha ignorado a gorjeta e pago apenas aquilo que me puseram à frente.

Seguimos em busca do contentamento que aquele almoço miserável nos tinha roubado e deu-me uma ideia luminosa, experimentar um botequim old-school na esquina duma rua ali perto, uma tasca onde jovens e velhos polacos se inclinam para dispararem tiros de vodca e picarem pequenas porções de petiscos nacionais. O menu é lacónico, tem menos de meia Gzikdúzia de pratos de comida, todos a 8pln e uma oferta de dez ou doze bebidas todas a 4pln. Ao todo não há mais que 15 possibilidades a dois preços. Pedimos gzik, batata cozida partida em quatro servida com queijo fresco rudemente temperado com cebolinho, tomate e salsa, sal e pimenta a gosto, um prato que não satisfará nenhum paladar sofisticado, confecionado numa taberna que não ganhará nenhum louvor Michelin mas que ganhou de goleada à casa da D. Magda em termos de simpatia e competência no atendimento. O Przekąski Zakąszki com o inefável sr. Roman na batuta, recria o ambiente espartano da PRL (República Popular da Polónia) com ementas curtas e é ponto de encontro de muitos polacos de diferentes gerações que ali começam a noite de copos ou que ali procuram afagar o estômago mas sempre recebidos com cordialidade e atendidos com respeito. Senti-me mais desejado naquela casa humilde do que no palacete da Senhora Dona e isso, para mim, faz toda a diferença.

É evidente que não volto a pôr os pés naquele antro de má-educação a que chamam pomposamente de Trattoria Bellini Magda Gessler porque para o que cobraram exijo o mínimo de boas maneiras e de profissionalismo no atendimento ao cliente. Já esta taberninha de canto na Rua Krakowskie Przedmieście ganhou um fã, no próximo fim de semana vou lá voltar para provar o resto das especialidades. Ainda por cima está aberto 24/7!

Prefiro a simplicidade das coisas genuínas do que a superficialidade das coisas artificiais, é o que vem da minha raiz e é assim que eu fui educado. Os meus avós tinham galinhas no centro de Faro e os meus tios, embora não faltasse dinheiro, sempre comeram da panela. Enquanto assim me mantiver só me enfiam o barrete uma vez.