sábado, 30 de outubro de 2010

Mara50na

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Diego Armando Maradona faz hoje 50 anos.

Um tributo ao melhor jogador de futebol de sempre que um dia, graças ao meu tio, vi jogar ao vivo em Nápoles. Parabéns, Pelusa, e obrigado pela magia!

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Já dizia o Pai Herodes…

Mão amiga e ótima cozinheira fez-me chegar a publicação “Mistérios da Vida Sexual” de A. de Bizando, um livro sobre “as leis que orientavam a felicidade sexual do homem e da mulher” do Portugal dos anos 70. Sendo a edição de 1971, ou seja, dois anos antes deste vosso humilde servo ver a luz do dia pela primeira vez, talvez seja curioso ver como era o papel dele e dela na cama do “Estado Novo”.

Desnecessária a analogia fácil de que pouco mudou porque antigamente era o “bota-de-elástico” quem fod… os portugueses enquanto agora temos os boys socialistas que nos fod…, este é um blogue de bons costumes e não enveredamos por aí, mas após aturada leitura em busca de elementos que pudesse usar nas minhas aulas – e escusado será dizer que nada encontrei – saquei esta pérola cujas ilações deixo à consideração do leitor. Ora, leia então o último parágrafo.

Sexo em Portugal

Posto isto, vou fazer a barba que hoje é sexta-feira.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Retalhos da vida de um Algarvio - 14

Um punhado de coisas que eu continuo sem entender, mesmo depois de estar cá a viver há mais de mil dias:

1. Eles implicam com as nossas horas de refeições, principalmente o jantar. Quase que nos pedem para não comermos tão tarde, que faz mal à saúde e que podemos ter enfartes. No entanto jogam-se para debaixo do duche vinte minutos depois de terem lambido uma arroba de golonka;

2. Há uma faixa esquerda em todas as ruas e em todas as estradas, às vezes até há mais que uma faixa da esquerda. Parece que os instrutores de condução polacos estagiaram todos no Reino Unido e que ensinam os seus compatriotas a escolherem a faixa da esquerda se quiserem circular a menor velocidade. Ao fazer sinais de luzes a um automobilista que pastava no lado esquerdo da estrada recebi sinal para usar a faixa da direita se quisesse pois estava livre;

3. As pessoas correm para os elétricos quando o sinal está verde para os peões. Se o sinal está verde para os peões é porque está vermelho para o elétrico, logo corram ou não corram o elétrico tem de esperar por eles, está parado e não vai a lado nenhum. Dispêndio estúpido de energia;

4 . O conceito de “Outono Dourado”, que não é mais que um eufemismo para a pior estação do ano. No outono começa a fazer frio, não temos mais dias de sol, não fazemos churrascos, constipamo-nos, chove, o mercúrcio roça os 0º, é pior do que no inverno porque no inverno já nos habituamos ao briol. As folhas que caem no chão são aborrecidas, sujam a rua e não têm piada nenhuma, não me lixem com essa imagem bucólica porque o que não falta aí são depressões nesta altura do ano.

5. Porque é que não se lavam? Lavem-se, meu! Sinceramente, lavem-se. A sério, vocês não têm consciência do sacrifício que é estar confinado numa carruagem de transporte público a levar com o vosso sovacum. Qual é afinal o vosso problema? Ainda nem chegamos ao inverno e já estão atascados em roupas, estão 7º e já andam de gorro e luvas… É por estar frio que não se lavam? É porque a água é cara ou porque custa a entrar na banheira? Então e no verão, qual é a desculpa para terem uma autêntica ETAR debaixo dos braços, a escorrerem suor viscoso que mais parece suco de peixe apodrecido, nem Olhão nos tempos áureos era tão fedorento? Tomem banho, pá! Não vos incomoda a marmelada que se forma debaixo dos braços, um gajo tem de arejar a sala antes de poder começar a trabalhar? Eu sei que vou lidar com pessoas, por isso não dispenso o desodorizante depois do duche matinal antes de sair de casa, porque é que vocês não fazem o mesmo?

Há aí alguém com respostas para isto?

terça-feira, 26 de outubro de 2010

A concubina

A notícia começou pequena como a nascente de um regato mas cedo cresceu e galgou terreno como se fosse um rio em torrente inevitável para a foz. Os rumores à boca-fechada não foram levados a sério enquanto podiam ter sido comentados e tudo se precipitou até ao confronto com facto consumado, uma coisa irreversível e sem volta a dar. Afinal, era mesmo verdade. A Ewa mudou-se para casa do namorado português.

União O caso-que-não-tem-razão-de-ser-mas-que-acabou-por-tal-se-tornar abalou os caboucos da Polónia tradicionalista, os setores mais conservadores numa sociedade profundamente católica e crente nas verdades absolutas que uma instituição obtusa teima em propagandear. Era terrível aceitar que um membro da família tinha cedido à tentação demoníaca de partilhar teto – Céus, esperamos que ao menos não durmam na mesma cama! – sem ser pelos sacramentais laços do casamento, encarar os vizinhos impolutos e bentos que nunca partiram um prato e carregar o pesado fardo da vergonha causada pela filha rebelde que desonrou o nome da família. Como ir ao supermercado? Como levar o neto ao parque infantil? Como não reparar que as amigas disfarçam as conversas com risos cínicos quando se entra no cabeleireiro? Como ignorar o desconforto da manicure que se torce toda para não tocar no tema. Como lidar com o ostracismo dos parentes?

- Oh, mas onde falhamos nós! Onde fracassamos na educação e formação da nossa pequerrucha, que nos abandonou para entregar a sua inocência e pureza (Yeah, sure… Ela tem é mais jogo que a Casa da Concubinato Sorte!) às mãos de um vil latino, esse crápula sarraceno que encantou a nossa princesa com a sua culpável languidez viperina. Porque somos castigados com esta penalidade tão cruel de não termos o apelido salvaguardado por uma rodela de metal, a descendência legitimada por um par de linhas lidas por um “comedor de bifes”*, a consciência limpa por umas dezenas de notas de conto depositadas numa conta episcopal? E viver com esta carga, com o peso de ter filha a viver em… até a palavra me custa a sair… em concubinato?!

Para que conste, eu e a Ewa passamos a viver em concubinato. Há que lhe chame “viver juntos”, outros optam por designar este estado como “coabitar” mas na Polónia, terra onde a Igreja tem tanta força que nem o próprio Vaticano consegue botar faladura, o termo é acusativo, perjorativo e negativo. Ela é a minha concubina, não creio que esteja incomodada com o rótulo.

E eu, o que é que eu sou?

Eu sou um gajo feliz da vida!

* O Anticristro – Friedrich Nietzsche

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Um dia daqueles, em que as coisas familiares que me rodeiam são poucas ou nenhumas.

Enquanto como uma sandes de almôndegas empresto um carregador de telemóvel a uma cubana que agradece dizendo “Deus te pague com um filho varão”.

Ontem vi o Sporting a dar uma mão-cheia ao mesmo tempo que mamava a sopa de grão (com um pedaço de costela de porco para dar sabor) que a minha namorada fez, hoje tenho de ir a uma festa africana depois de ver na televisão a Legia a jogar em Kielce e amanhã vou ter uma festa na minha casa com algumas 30 pessoas de pelo menos cinco nacionalidades diferentes.

Entretanto chegaram-me notícias de Faro, finalmente nasceu o Tiago Alves Barão depois duma gravidez de alguns 14 meses nas minhas contas.

Estão 6º na rua e eu ando de mangas curtas.

Tenho um número de fotocópias calculadas grosso modo entre as 600 e as 714518 para selecionar, organizar e distribuir.

Falta-me um danoninho para dar o estalo no aparelho. Qualquer coisa liguem à minha mãe, há quem tenha o número.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

E se em Portugal… ?

PiS Um homem foi hoje mortalmente atingido a tiro e outro esfaqueado após um ataque à sede regional do PiS, partido da direita-conservadora, situada em Łódż na Polónia Central, informaram hoje os média. Testemunhas oculares referiram que o agressor gritou "Morte a Kaczyński!" ao entrar no edifício referindo-se ao líder do partido da oposição PiS, Jarosław Kaczyński.
O atacante disparou sobre Marek Rosiak, 62 anos, assessor do eurodeputado Janusz Wojciechowski e feriu gravemente Paweł Kowalski, 39 anos, assistente do vice-presidente do partido Jaroslaw Jagiello, informou a rádio pública polaca citando a polícia. O agressor, um homem de 62 anos de idade da cidade de Częstochowa, foi rapidamente detido pelas autoridades e enfrenta agora acusações de homicídio qualificado.
Kaczyński disse aos repórteres que o ataque foi "o resultado da grande campanha de ódio que tem sido levada a cabo contra o partido." O responsável partidário referiu ainda que "Hoje o governo é totalmente responsável pela segurança de todos os nossos gabinetes e todos os nossos trabalhadores. Se alguém diz mais uma palavra de ódio contra nós, isso equivale a um convite para matar", acrescentou Kaczyński.

Desde que perdeu as eleições presidencial no verão para o candidato do centro-direita Bronisław Komorowski, Kaczynski abandonou todas as restrições de retórica para com os seus adversários políticos e ideológicos e tem usado uma linguagem forte e agressiva para os criticar. Ele tem repetidamente culpado o Governo por não fazer o suficiente para garantir a investigação completa do acidente aéreo que matou 96 pessoas, incluindo o seu irmão gémeo, o presidente Lech Kaczyński. Os comentários de Kaczyński são classificados por Sławomir Neumann, um destacado membro do partido do Governo PO, de "aproveitamento da situação para fins políticos” e "muito perigosos, porque inflamam e incitam as pessoas” , em entrevista à TVN24 e citado pela Bloomberg.

Ouvi um psicólogo explicar que este acto se deveu à incapacidade do indivíduo poder demonstrar pessoalmente o seu descontentamento aos políticos que, no seu entender, estão a prejudicar a Polónia e a sua imagem no exterior.

Lembrei-me agora da frase que o “Bom Gigante” disse há 24 anos.

Enfarte enlatado

E se misturarmos Viagra com Guaraná, o que é que obtemos?

Viagurá

Quinze anos de farmácia e nunca me apercebi que isto vinha a caminho…

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Tugas na Polónia em Łódż (não gosto de Łódż!)

image Para que conste, não gosto de Łódż. Que fique inequivocamente esclarecido que não gosto de Łódż, pronto. É uma cidade velha, sombria, num palavra – feia. Admiro a coragem das pessoas que escolheram essa terra para viverem mas mais depressa encarava a possibilidade de regressar a Faro do que ter de me mudar para Łódż, cidade que me faz lembrar os arredores de Sosnowiec, outra terra cuja imagem deve ter inspirado Dante. As ruas acidentadas que são provação constante aos braços de suspensão dos automóveis não são, infelizmente, um exclusivo desta cidade mas uma linha de elétrico cruzar-se com a rodovia sem qualquer tipo de sinalização ou aviso luminoso é de bradar aos céus! Os carros têm de circular nas mesmas vias que os autocarros e adivinhar as intenções dos motoristas porque em caso de acidente o automobilista nunca tem razão, a faixa da esquerda é propriedade privada dos condutores mais lentos… Não gosto de Łódż.

Ontem fui lá devido a um encontro de portugueses participantes no Forum de Portugueses na Polónia do qual muito honradamente sou moderador, um encontro já falado há muito tempo mas que nunca tinha passado do papel de intenções. Devido à persistência de alguns, o encontro acabou mesmo por se realizar no centro comercial lá do sítio, o Manufaktura, à volta de mesas de cafés. Reconhecer os “Portugueses na Polónia” podia ser uma situação algo constrangedora, chegar assim do nada, pensar “será que são estes?” mas ao virar da esquina as coisas ficaram claras porque a mancha morena destacava-se no meio das louras que se sentavam diante deles. Facilmente localizados, os portugueses não enganam pois têm cortes de cabelo que só se faz em Portugal, usam blusas e calçam sapatos que só se vendem em Portugal e até se sentam como só se sentam em esplanadas de Portugal. Obviamente, namoram ou casaram-se com raparigas que… não há em Portugal :) Apresentações feitas a conversa rolou fácil entre pessoas que já se relacionavam há muito através da blogosfera, casos do Ricardo, do Daniel e do Rui, gente com muitos anos de Polónia e com experiências e dicas importantes para quem chegou há menos tempo, alguns até seguidores deste modesto pasquim cibernético. Contaram-se estórias daquelas que só quem vive neste país acredita, explicaram-se expectativas, falou-se de planos, trocaram-se pontos de vista e impressões sobre a vida dos tugas no fim da Europa.

Confirmei a boa impressão que tinha destes portugueses cujas vidas venho acompanhando há algum tempo, portugueses estabilizados e integrados numa sociedade muito peculiar de critério estreito e que seleciona severamente aqueles que nela triunfam. Torço para o sucesso desses e daqueles que há pouco chegaram à Polónia, um sucesso que não se augura fácil mas que também não é impossível pois parece-me uma questão de tempo até estes “tugas na Polónia” deixarem a sua marca indelével em Łódż e no País.

Łódż? Como diz a Ewa, é muito smutna (triste). Já mencionei que não gosto de Łódż?

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Os que vão, os que ficam e os que chegam

Stare Miasto Importa informar os menos avisados de que a vida dum português na Polónia não é propriamente um constante mar de rosas por estar rodeado de mulheres belas e simpáticas, por vezes a vida neste país transforma-se num teste de resistência às capacidades de cada um adaptar-se a um ambiente muito distinto daquele em que nasceu e cresceu. Não são raros os portugueses que abandonam este país por não se conseguirem moldar às muitas coisas incómodas que há na Polónia: A rijeza do clima, a mentalidade inflexível dos polacos, a comida (para alguns), uma série de situações que podem levar o português a sentir as dentadas do bichinho saudade com mais força, fazer as malas e regressar a Portugal. Infelizmente isso vai acontecendo por cá. A Rita cansou-se disto ao fim de uma mão-cheia de anos, a Sónia está a tratar da mudança para Cracóvia e o grupo fantástico que se criou há 3 anos leva assim um rombo razoável.

Para outros, felizmente, a coisa não é assim tão dramática e vão-se dando passos calmos mas seguros no sentido da adaptação total ao meio ambiente polaco. Eu decidi partilhar telhado com a minha comadre, oEstádio visto da Cidade Velha Mário vai dar o nó em Janeiro, o John – meu irmão varsoviano – atinou com uma linda polaca e parece felicíssimo (com aquele avião todo o português ficaria felicíssimo!), o Gonçalo chegou há semanas e parece ser um puto fixe e a coisa assim vai rolando, amparamo-nos uns aos outros nos momentos de maior aflição e somos uns para os outros como tem de ser. Há quem diga que no outono todos os portugueses se acalmam e arranjam namorada, dizem que é para se manterem aquecidos durante o rigoroso inverno continental e que a loucura regressa com o degelo (e a minissaia) primaveril.

Não escondo que o tempo tem influência indisfarçável sobre o humor e comportamento dos portugueses que aqui residem, não é fácil passar metade do ano abaixo de 0ºC (já se prevêem –3 para as 7:00 de amanhã) e compreendo, não deixando de lamentar, a decisão daqueles mais chegados que me abandonam. Desejo-lhes saúde e sorte, talvez o dobro que eu desejo a mim próprio porque mal ou bem estou satisfeito com as coisas que tenho e que estou a construir. A Stare Miasto ainda me encanta sempre que lá vou e já se nota o novo Estádio Nacional a ganhar forma por trás do rio, símbolo duma Varsóvia pujante que se está a construir a cada dia que passa.

É a tal coisa, Marinho. Varsóvia não é para meninos.

domingo, 10 de outubro de 2010

O Regresso, mais um como todos

As coisas que começam mal dificilmente acabam bem, diz o povo na sua infinita sabedoria. Pois bem, o dia de hoje, o dia do regresso a Varsóvia começou mesmo muito mal e logo de madrugada com temporal e marés altas que fizeram com que o oceano tocasse a Ria em vários pontos ao loongo da Praia de Faro. Além do impacto ambiental que o fenómeno causa, cada vez mais o mar avança sobre o areal subtraíndo dunas ao importante cordão que segura a cidade e o aeroporto de Faro da força do Atlântico, há um série de situações desagradáveis. O mar traz para a estrada todo o tipo de plantas e paus, alaga completamente o asfalto tornando a rua intransitável e incapacitando os moradores de saírem ou entrarem na praia porque a GNR não autoriza, e faz bem em não autorizar porque qualquer carro pode ser abalroado por uma vaga mais forte que transponha a duna com consequências imprevisíveis. O impedimento da circulação automóvel é particularmente sentido quando temos de apanhar um táxi às 5:00 da manhã porque temos voo às 6:15 e o táxi não consegue chegar onde estamos. Não se consegue traduzir por palavras a angústia que é ter de caminhar 800m num cenário feio de lagoas de água salgada e tábuas lançadas para a estrada, sem muito espaço seco para pôr o pé e com duas malas a reboque mais o saco do notebook, vendo o mar entrar Ria dentro a cada 100m imaginando que a qualquer momento se levava com uma onda no toutiço, olhando para o relógio que andava mais depressa que nunca. Apanhei o táxi perto da estalagem e cheguei ao aeroporto com cinco minutos para a porta de embarque encerrar.

Mas embarquei não sem que tivesse de pagar 35 pazuzas por ter-me esquecido de pagar a mala de porão e de me terem ficado com o desodorizante em stick alegando que era líquido. Engraçado que em Estocolmo eu não tive de pagar a mala porque a funcionária não prestou atenção ao caso. Depois de arfar e bufar sentei-me suado no avião e fechei os olhos para passar pelas brasas, só que as aventuras ainda não tinham acabado. A voz do capitão informa que devido a uma avaria técnica a descolagem ficaria adiada por alguns instantes até à chegada duma equipa de engenheiros especialistas. Os engenheiros chegaram e deliberaram que aquela aeronave não estava em condições de partir e que todos os passageiros teriam de abandoná-la, troca de avião. Outro Boeing que é rebocado para o lugar do primeiro e toda a gente na rua, um processo que demorou uma hora.

A escala no curto aeroporto satélite de Estocolmo acabou por ser uma boa surpresa. Enquanto eu gozava uma massinha de camarão para recolocar algumas energias eis que o Chendo, antigo companheiro de equipa hoje radicado na capital sueca por ser funcionário duma companhia aérea, aparece vindo do nada e abanca-se à minha mesa. Abraços portugueses e sorrisos sonoros porque afinal o mundo é mesmo uma aldeia e porque entre Estocolmo e Varsóvia há apenas oitenta minutos de espaço, marcou-se imediatamente um fim de semana sueco, uma festa para celebrar a portugalidade das pessoas que tiveram Faro como berço mas que se espalham por essa Europa fora com a marca de bons profissionais e pessoas de valor. Vai ser giro ver as nossas namoradas a comunicar e assitir a um elo de ligação entre Polónia e Suécia tendo Portugal como denominador comum.

Entretanto o embarque para a Polónia correu bem e agora que estou a 32.000 pés de altitude só uma tosse alérgica contraída numa vez em que saí desprevenido debaixo da cacimba algarvia me incomoda, no entanto esse incómodo não é suficiente para esfriar o ânimo que tenho por voltar a Varsóvia porque tenho muita vontade de contrariar o início deste artigo e também de descobrir o que a Cidade Capital tem reservado para mim nesta temporada 2010/11. O Futuro começa amanhã e eu sinto-me preparado, por isso… A mim, Varsóvia!

sábado, 9 de outubro de 2010

Até logo!

À noite a chuva caía impiedosa na areia da Praia, castigava os poucos carros que por lá passavam como se punisse pelo atrevimento. O mar revoltava-se e ameaçava transpor as dunas para encontrar a Ria do outro lado da praia, ondas enormes rebentavam na costa a meia dúzia de passos da estrada. No restaurante, porém, batiam-se copos de cerveja e davam-se vivas aos golos da seleção que resolveu mostrar ao mundo que realmente sabem jogar futebol e que (agora já) querem ir ao Euro2012. Mais um jantar entre amigos, a conversa saborosa cozinhada no lume duma amizade antiga, daquelas amizades que nunca se avaliam nem prestam contas.

Questões burocráticas trouxeram-me a Faro e os amigos logo se juntaram para repetidas patuscadas, coisas a que nenhum português consegue dizer “não”. Foram duas semanas de intenso trabalho e constante atenção para as tarefas principais mas também duas semanas de desgaste hepático causadas pelas sucessivas carraspanas que os amigos proporcionaram. É inevitável, quando se junta a vontade com o querer tudo acontece com naturalidade associado ao contexto das celebrações da tal amizade e companheirismo.

Agora é tempo de fazer malas e regressar a Varsóvia onde me espera outro tipo de vida, uma vida diferente mas igualmente interessante. Não vou contar com o rugir das vagas atlânticas a embalarem-me à noite nem com o aroma dos carapaus assados ao almoço mas há toda uma cidade (e um par de esplendorosos olhos verdes) da qual sinto tremenda falta e que me dá coisas imprescindíveis para que eu consiga apreciar o verdadeiro valor que tem voltar a Faro. É fundamental que eu volte a Varsóvia para gozar totalmente Faro bem como é essencial que eu venha a Faro para valorizar a experiência tremenda que é viver naquela metrópole polaca.

É tempo de voltar a casa… até que eu venha a casa de novo.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

República Portuguesa – 100 anos

O Artur telefona-me e diz: “Morreu o Afonso!”. Lamento muitíssimo o sucedido porque o Afonso, apesar de não ser das minhas relações mais próximas, era um cota porreiro, muito porreiro até. Comunista até ao osso, era crente e verdadeiro praticante sendo não raras as vezes que rebentava com a reforma em sacos de camarão que levava para o restaurante do Rogério para que este o cozesse e desse a possibilidade do Afonso reunir os seus companheiros em torno dum pires de conversa mais uns pedacinhos de queijo e presunto com minis e risos. O Afonso era pintor, morreu pobre mas deu muito aos seus amigos. Recordo que ele zangava-se comigo por não aceitar a imperial que ele me queria pagar mesmo explicando-lhe que tinha treino e que não devia beber. “Então bebe um sumo, uma cola, uma merda qualquer que eu pago”. Grande Afonso, não levava um tostão para casa porque partilhava tudo com a sua malta. Tínhamos de o obrigar a aceitar quando lhe queríamos pagar a bifana, ofendia-se e dizia que “onde peço pago!” Imediatamente a exclamação do Artur: “Coitadinho, já morreu”. Aqui eu discordei dele.

Mas porque é que temos sempre esta parva tendência para sentirmos pena dos que morreram mesmo que tenham sido grandes sacanas (o que não é o caso)? Eu não acho o Afonso coitadinho só porque tenha morrido, pelo contrário, considero que nós é que somos coitadinhos porque ficamos cá a penar e a sofrer dia após dia, cada vez com mais privações e manifestações incríveis de injustiça a que assistimos impotentes. Coitadinho do Afonso? Então nós que cá andamos temos que levar com palhaços que ganham mais de 700 contos por mês dizerem que precisam de uma cantina aberta à noite para que não passem fome, somos o quê? Ouvirmos este pulha que aufere 7,5 ordenados mínimos a reclamar que ganha pouco e que tem de ir à Sopa dos Pobres dos Deputados faz de nós o quê? Nós, que gramamos com um Governo de Pinóquios que se contradiz diariamente, que engana o povo, que carrega nos impostos, que é forte com os fracos e fraco com os fortes, somos o quê? O povo que teoricamente escolheu os seus representantes no Parlamento, direito consagrado faz hoje exatamente 100 anos, e que vê os seus deputados, aqueles que prometeram zelar pelas suas necessidades, mandarem promessas eleitorais às malvas assim que sentam o cu na Assembleia da República é o quê?

O Afonso não é um coitado. Aliás, eu sei perfeitamente que ele foi para um sítio onde come o seu camaranito descansado, os dedos descascados dos vapores das tintas e verniz, ri-se de nós e já não tem de aturar esta cáfila que nos “governa”.

O que é que isto tem a ver com a Polónia? Apesar de nem sempre ser por ideias que eu defendo, o caso da cruz é um exemplo ilustrativo, os polacos quando se sentem prejudicados manifestam-se, saem à rua, abraçam a causa com a alma e demonstram a sua insatisfação de forma inequívoca aos seus políticos. Respeito-os muito por isso e gostava que os portugueses tivessem menos brandos costumes, que enfiassem dois ou três penaltis de vodca e que fossem gritar umas verdades aos nossos parlamentares para que eles percebessem que se a monarquia caíu há 100 anos não foi para ser substituída por uma coisa ainda pior. Para isto era preferível o D. Duarte Pio, sempre é uma figura carismática e tem uma voz divertida.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Para cá do Vascão mandam os que cá estão

Enquanto o país luta contra as intempéries, instaura estados de alerta laranjas e amarelos, barrica ruas, calafeta avenidas e desimpede sarjetas nós aqui no Algarve, no tal Algarve que só é lembrado pelo resto de Portugal quando as rameiras mediáticas resolvem infestá-lo, o tal Algarve que é constantemente sodomizado pelo Governo Central por não receber um quinhão justo da fortuna que o seu turismo produz, o tal Algarve que tem composições e linhas ferroviárias do tempo de D. Carlos e que vê a única via rodoviária transversal capaz de servir os interesses da região ameaçado de portagens… Esse tal Algarve está na Praia, a almoçar, a fazer canoagem ou a surfar.

Podemos não ter as rugas de expressão apagadas com peelings, beiços amplificados com botox, dentes lavados com lixívia para aparecer melhor na TV mas temos uma terra linda verdadeiramente encantada pela Natureza e um clima que nos afaga o espírito sete meses por ano. Isso nunca conseguirão mudar, nem que se matem a redigir leis sufocantes para a nossa região. O Algarve continuará a ser, apesar do mal que lhe têm feito, a coisa mais linda que este país tem.

Está a chover, aí? Temos pena!

Praia