O caso-que-não-tem-razão-de-ser-mas-que-acabou-por-tal-se-tornar abalou os caboucos da Polónia tradicionalista, os setores mais conservadores numa sociedade profundamente católica e crente nas verdades absolutas que uma instituição obtusa teima em propagandear. Era terrível aceitar que um membro da família tinha cedido à tentação demoníaca de partilhar teto – Céus, esperamos que ao menos não durmam na mesma cama! – sem ser pelos sacramentais laços do casamento, encarar os vizinhos impolutos e bentos que nunca partiram um prato e carregar o pesado fardo da vergonha causada pela filha rebelde que desonrou o nome da família. Como ir ao supermercado? Como levar o neto ao parque infantil? Como não reparar que as amigas disfarçam as conversas com risos cínicos quando se entra no cabeleireiro? Como ignorar o desconforto da manicure que se torce toda para não tocar no tema. Como lidar com o ostracismo dos parentes?
- Oh, mas onde falhamos nós! Onde fracassamos na educação e formação da nossa pequerrucha, que nos abandonou para entregar a sua inocência e pureza (Yeah, sure… Ela tem é mais jogo que a Casa da Sorte!) às mãos de um vil latino, esse crápula sarraceno que encantou a nossa princesa com a sua culpável languidez viperina. Porque somos castigados com esta penalidade tão cruel de não termos o apelido salvaguardado por uma rodela de metal, a descendência legitimada por um par de linhas lidas por um “comedor de bifes”*, a consciência limpa por umas dezenas de notas de conto depositadas numa conta episcopal? E viver com esta carga, com o peso de ter filha a viver em… até a palavra me custa a sair… em concubinato?!
Para que conste, eu e a Ewa passamos a viver em concubinato. Há que lhe chame “viver juntos”, outros optam por designar este estado como “coabitar” mas na Polónia, terra onde a Igreja tem tanta força que nem o próprio Vaticano consegue botar faladura, o termo é acusativo, perjorativo e negativo. Ela é a minha concubina, não creio que esteja incomodada com o rótulo.
E eu, o que é que eu sou?
Eu sou um gajo feliz da vida!
5 comentários:
Amigo Misha...
A Ewita se nao aprendeu vai ter de aprender a assobiar para o lado quando as pessoas falam falam e apontam. Essa e das coisas que na Polonia nao me cabe na cabeca.
Eu tou-me nas tintas do que pensam de mim ou do que dizem. Um gajo tem de viver a vida. Criticos haverao sempre de manha ate a noite... mas se passarmos a vida a ouvi-los tamos tramados. Olha por exemplo o Ze Mourinho no Real ja tinha ido para outro lado.
Ela que mande os velhos do Restelo dar um passeio ate onde quiserem e voces tratem mas e de serem felizes.
Boa sorte
Witam w Polsce.
Vivi em "concubinato" uns três anos, sempre com a sombra do "mas é casar não é?", mas isso faz parte do folclore. Mesmo tendo casado pelo civil ainda há quem considere este tipo de casamento como nada, não é a sério. Tem mesmo de ser na igreja, com um padre e com os sacramentos todos feitos. Podem esperar sentados.
No entanto compreendo que por vezes esta questão do casamento religioso seja a "questão de vida ou de morte" em muitas relações.
Alguém vai ter sempre de dar o braço a torcer.
Another one bites the dust.
A minha "sorte" é que ela não faz questão de se casar pela igreja ou pelo registro. Eu já estou escaldado duma relação que acabou porque tinha sido obrigado a casar e pela igreja e não me ia meter noutra igual. Aliás, isso foi uma das cláusulas do contrato, se me pisarem os calos mando tudo bardamerda.
Vamos com calma que Roma e Pavia não foram feitas num dia, eu levei nove meses para nascer e nasci perfeitinho.
Seus porcos, seus sujos, seus irresponsáveis, seus filhos do demo!
A Ewa e o Adão continuam a dar que falar por terras polacas!
Najlepsze życzenia! :)
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