As coisas que começam mal dificilmente acabam bem, diz o povo na sua infinita sabedoria. Pois bem, o dia de hoje, o dia do regresso a Varsóvia começou mesmo muito mal e logo de madrugada com temporal e marés altas que fizeram com que o oceano tocasse a Ria em vários pontos ao loongo da Praia de Faro. Além do impacto ambiental que o fenómeno causa, cada vez mais o mar avança sobre o areal subtraíndo dunas ao importante cordão que segura a cidade e o aeroporto de Faro da força do Atlântico, há um série de situações desagradáveis. O mar traz para a estrada todo o tipo de plantas e paus, alaga completamente o asfalto tornando a rua intransitável e incapacitando os moradores de saírem ou entrarem na praia porque a GNR não autoriza, e faz bem em não autorizar porque qualquer carro pode ser abalroado por uma vaga mais forte que transponha a duna com consequências imprevisíveis. O impedimento da circulação automóvel é particularmente sentido quando temos de apanhar um táxi às 5:00 da manhã porque temos voo às 6:15 e o táxi não consegue chegar onde estamos. Não se consegue traduzir por palavras a angústia que é ter de caminhar 800m num cenário feio de lagoas de água salgada e tábuas lançadas para a estrada, sem muito espaço seco para pôr o pé e com duas malas a reboque mais o saco do notebook, vendo o mar entrar Ria dentro a cada 100m imaginando que a qualquer momento se levava com uma onda no toutiço, olhando para o relógio que andava mais depressa que nunca. Apanhei o táxi perto da estalagem e cheguei ao aeroporto com cinco minutos para a porta de embarque encerrar.
Mas embarquei não sem que tivesse de pagar 35 pazuzas por ter-me esquecido de pagar a mala de porão e de me terem ficado com o desodorizante em stick alegando que era líquido. Engraçado que em Estocolmo eu não tive de pagar a mala porque a funcionária não prestou atenção ao caso. Depois de arfar e bufar sentei-me suado no avião e fechei os olhos para passar pelas brasas, só que as aventuras ainda não tinham acabado. A voz do capitão informa que devido a uma avaria técnica a descolagem ficaria adiada por alguns instantes até à chegada duma equipa de engenheiros especialistas. Os engenheiros chegaram e deliberaram que aquela aeronave não estava em condições de partir e que todos os passageiros teriam de abandoná-la, troca de avião. Outro Boeing que é rebocado para o lugar do primeiro e toda a gente na rua, um processo que demorou uma hora.
A escala no curto aeroporto satélite de Estocolmo acabou por ser uma boa surpresa. Enquanto eu gozava uma massinha de camarão para recolocar algumas energias eis que o Chendo, antigo companheiro de equipa hoje radicado na capital sueca por ser funcionário duma companhia aérea, aparece vindo do nada e abanca-se à minha mesa. Abraços portugueses e sorrisos sonoros porque afinal o mundo é mesmo uma aldeia e porque entre Estocolmo e Varsóvia há apenas oitenta minutos de espaço, marcou-se imediatamente um fim de semana sueco, uma festa para celebrar a portugalidade das pessoas que tiveram Faro como berço mas que se espalham por essa Europa fora com a marca de bons profissionais e pessoas de valor. Vai ser giro ver as nossas namoradas a comunicar e assitir a um elo de ligação entre Polónia e Suécia tendo Portugal como denominador comum. Entretanto o embarque para a Polónia correu bem e agora que estou a 32.000 pés de altitude só uma tosse alérgica contraída numa vez em que saí desprevenido debaixo da cacimba algarvia me incomoda, no entanto esse incómodo não é suficiente para esfriar o ânimo que tenho por voltar a Varsóvia porque tenho muita vontade de contrariar o início deste artigo e também de descobrir o que a Cidade Capital tem reservado para mim nesta temporada 2010/11. O Futuro começa amanhã e eu sinto-me preparado, por isso… A mim, Varsóvia!
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