terça-feira, 30 de junho de 2009

Não há condições

Trovoadas de morte, calor peganhento, cascatas de granizo salpicam a varanda, relâmpagos medonhos ignoram as minhas cortinas. Clarões assustadores entram-me pela sala adentro, riscos elétricos encadeiam-me, os trovões parece que me estão a dar uma descompostura, cada um dura 10 segundos, soam como aviões a passar no ar. Nem por todo o dinheiro do mundo eu sairia de casa agora!

Duas pessoas me ocorrem: O Mário, que mora num 16º andar paredes meias com o PKiN e quase a fazer cócegas aos relâmpagos, deve estar sentado na sala a fumar um cigarrinho e observando o reflexo dos raios no Marriot ou no meio duma partida de xadrez. A minha parceira Vera, que gosta tanto de trovoadas como eu, se estivesse aqui a esta hora já se tinha metido debaixo da cama.

Caiu uma bomba aqui no bairro! Fez-se de dia por um segundo e o sinal da TV Cabo foi ao ar. Vou tomar duche e meter-me na cama para ver se isto passa mais depressa. Puta que pariu esta merda de tempestade!!!

Verão na cidade

Gal MokAgora sim, já se sente o calor continental em cima do pelo. Ontem estiveram uns pegajosos 25ºC que me atiraram (e ao Paulo Soska) para uma esplanada perto da Rotunda onde nos foram servidas as Tyskies necessárias para sobrevivermos. Não se pode falar em canícula mas o quente que se sentiu ontem em Varsóvia lembra-me os fins de tarde em Sevilha e o bafo abrasador que nem o Guadalquivir arrefece, só as nuvens que se juntaram pelas 18:30 deram algum fresco à cidade.

Todavia não se pode pensar que esse fresco significa calma. Bem pelo contrário, é sinal duma grandessíssima carga de água que não demora mais que dez minutos até desabar. Pagámos as imperiais e desabelhámos cada um pelo seu lado antes que a tempestade nos caísse  em cima. Eu ainda tive de fazer umfoto movel (24) pequeno desvio à Galeria Mokotów, o que se transformou no meu maior pecado pois fiquei encharcado. Outra corrida até ao metropolitano e ao chegar a Natolin fui surpreendido pelo mais bonito fenómeno da natureza. O arco-íris que me saudava e anunciava que o pior já tinha passado.

Procurei o fim do arco-íris para saber do pote de ouro de que reza a lenda mas vi que o dito arco acabava em cima do Tesco de Kabaty. Como esse supermercado não era propriamente uma pajela de ouro e eu não estava com paciência para ir às compras virei o nariz para casa e corri para o duche antes que me constipasse.

Hoje o sol sorri para mim, goza comigo por causa de ontem. Eu não me posso zangar com ele, o sacana até é um tipo porreiro (quando quer).  Vou mas é pegar na toalha e estender-me na varanda enquanto ele está de bom humor, não é exatamente a Praia de Faro mas é o que há.

sábado, 27 de junho de 2009

Os Buraki que não Som Sistema

Este blogue pode ter muitos rótulos diferentes mas não quero que seja qualificado como sexista. Há muitas vertentes nas quais este espaço poderá ser tendencioso (na defesa incondicional do Sporting e do Algarve, seguramente) mas este não é um blogue de homem para homens e sim um blogue dum português a viver na Polónia para quem o quiser ler. Seguindo essa linha de pensamento, hoje decidir escrever sobre homens, homens polacos. Os Buraki.

buraki2 Burak, em polaco, significa beterraba. É isso mesmo, o saboroso tubérculo roxo do qual se extrai açúcar e com o qual se fazem saborosas sopas neste país. Não pretendo afirmar que os polacos se parecem com beterrabas, a minha intenção é explicar quem é que os polacos designam como buraki. Estou a falar daqueles sujeitos que vemos com frequência zanzando pelas ruas da Polónia, na cidade ou no campo, normalmente baixos e atarracados, pescoço como o Yekini, rostos circulares e avermelhados, lata de cerveja numa mão e cigarro noutra. É incontornável ver buraki à solta agora que o verão parece chegar a medo à Polónia; eles andam nos transportes públicos, estão nas esquinas das avenidas, vendem morangos e espargos ou cds piratas. Vestem um blusão hip-hop (há quem prefira uma t-shirt surrada da Lech) com capuz mesmo que esteja um calorzão danado, puxam até às axilas uns calções que mais parecem boxers, aplicam a meia branca da raquete esticando-a ao máximo para o joelho e rematam o trajo com o cúmulo da incoerência: sandálias ou botas desportivas. Perninhas ao léu, brancas e finas como alfinetes de linho, eis os buraki no seu esplendor.

 

Encontramo-los isolados ou em manada, perfeitamente alheios ao mundo que acontece entretanto. Vivem na sua comunidade, pouco se misturam com a civilização e só interagem com a restante população quando estão bêbados e dizem disparates. Normalmente são inócuos e não admitem sequer virar o seu maciço pescoço quando passa uma garina a seu lado. Os buraki são, contudo, extremamente possessivos. Olhar para a dama de um burak é arranjar uma cena de porradaria de água à jarra e um ato de grande estupidez pois, regra geral, a acompanhante do burak é tão labrega quanto ele e não vale os ATP que gastamos ao movimentar o pescoço. Apesar da sua aparente pachorra, é prudente manter alguma distância destas criaturas pois podem sentir-se visados e atacar o transeunte.

Um burak não incomoda muita gente mas dois buraki já incomodam qualquer coisa. Nas discotecas eles tendem a arranburakjar sarilhos quando estão com um grão na asa e a melhor estratégia é ignorar as suas  provocações, mudando de sítio ou mesmo abandonando o local. Responder-lhes apenas os galvaniza e fá-los subir o grau de provocações até se entrar no capítulo do confronto físico, o seu elemento natural. O problema de andar à porrada com um burak, além da sua imensidão corporal, é que quanto mais um gajo lhe arreia mais ele quer levar. Para o burak não importa quem sai vitorioso da rixa, o importante é arranjar uma boa zaragata com cadeiras pelo ar e o caraças, mandar e levar uns sopapos na gorra enquanto a bófia não chega e as mulheres gritam histéricas.

Resquícios dum passado combatente, se calhar, ou pura e simplesmente desvios comportamentais. Os buraki lembram os rinocerontes: Paquidermes na maior parte das vezes bonacheirões mas imprevisíveis que tanto podem ignorar a turbolência em seu redor como investir contra o incauto. É preciso ter conta com esta gente se tivermos amor à pele.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Respect!

Tinha preparado outro texto para lançar hoje mas dois sucedimentos excecionais sobrepuseram-se ao devir natural das coisas. Desapareceram dois ícones da minha existência: Farrah Fawcett e Michael Jackson. Não vou fazer retrospetivas das suas carreiras nem tampouco escalpelizar as suas vidas, quero apenas fazer eco do meu espanto por constatar que as pessoas são efémeras e que somos realmente... nada.

Farrah Fawcett Farrah Facett, no tempo dos Anjos de Charlie, foi das primeiras ”gajas boas” que eu vi e que me despertou a queda que tenho para as louras. Não lhe apreciei qualquer dote artístico que não nego que tivesse mas a sua explosiva figura enchiam o imaginário de todo o adolescente dos 80s. Era impossível ficar indiferente à sua presença sensual e creio que muitos dos trintões a recordarão como uma das mulheres mais sexys das suas vidas.

Michael Jackson foi uma figura incontornável da pop internacional, Se  nos resumirmos apenas ao artista, é Michael Jacksonpacífico considerá-lo como um extraordinário compositor, cantor e sobretudo dançarino. Michael Jackson, o Elvis dos 90, marcou uma era e determinou novas balizas na cena musical com temas inesquecíveis, concertos memoráveis e álbuns que todo o apreciador de música obrigatoriamente tem nas suas coleções. É certo que teve as suas pancadas mas quem é apreciador da sua obra artística não a pode secundarizar em favor dos seus desvios psicológicos, tal como nenhum adepto de futebol resumirá Maradona apenas como um toxicodepente.

Ela com um cancro, ele com uma paragem cardíaca, faleceram durante o dia 25 de Junho rodeados dos melhores cuidados de saúde que o dinheiro pode comprar. Não foi suficiente.

Cada um que reflita à sua maneira, eu recordo o importante contributo deles na minha formação e desejo que descansem em paz.

domingo, 21 de junho de 2009

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Verde veneno

Um gajo nunca pode dizer que está bem na vida. Ontem rebolei a rir ouvindo as primeiras declarações de Jorge Jesus no seu novo emprego - “em primeiro lugar quero saudar todos os sócios e associados do slb” – e previ uma temporada de grande gozo assistindo à competição de calinadas que Jesus e Vieira irão decerto protagonizar. Antevi mesmo a atitude de Rui Costa ao pôr o seu lugar à disposição por não corresponder ao perfil traçado pela direção encarnada, demasiado educado e culto, um violino que desafina numa orquestra de bombos. Brindei à temporada de enormidades que serão proferidas desde as bandas do Colombo e concordei que agora sim, eles tinham acertado no perfil do treinador. Jorge Jesus e o seu discurso só podem encaixar naquele clube.

Ria eu com estas barbaridades do circo da Luz quando através do fontesegura me chegaram as imagens do eventual equipamento alternativo do Sporting para a época 09/10. Perdi logo a vontade de rir.

alternativo1

Moss! Qué isto, mã? Alvalade à noite vai ser só óculos de soldar. Quem foi que aprovou este equipamento, o Stevie Wonder?

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Táxi!

Os habitantes de Varsóvia estão satisfeitos com a notícia de que a segunda linha do metropolitano já foi adjudicada, salvo erro a um grupo italiano. De facto, a expansão da linha de transporte subterrâneo faz muita falta à cidade nomeadamente para que o acesso à margem direita do Wisła não seja um sacrifício ou para que os bairros de Ursus e Włochy não fiquem tão longe quanto o que parecem hoje. É verdade que é um pouco chato ir a Praga mas também é verdade que nenhum ponto da cidade fica a mais de cinco minutos duma paragem de autocarro / elétrico e é igualmente verdade que há uma data de táxis em todas as esquinas prontos a transportar as pessoas para os seus destinos.

taxiEu desloco-me habitualmente de metro e regulo a minha ida controlando os horários dos comboios, sei que o último comboio da noite para casa é às 0:10 (3:00 aos fins de semana) e que o primeiro parte às 5:15, assim tento orientar as minhas coisas para ter sempre transporte de e para casa. Ontem foi uma noite especial pois o meu brother polaco John fez anos e celebrámos no WTF, noite de enchiladas, burritos e sacos de asas de cerveja para regar o seu aniversário. Eu ia olhando para o relógio para ver se a festa duraria até ao último metropolitano e percebi que não era de metro que eu iria para casa. A Ewa também tinha o último comboio para Piastów às 23:55 e não via jeitos de apanhá-lo a horas pois o povo estava divertido, cantava e bebia e seria uma pena abandonar tão alegre festa.

Tive esperança que alguém tivésse carro e que nos pudésse dar boleia mas toda a gente deixou as rodas em casa para poderem beber á vontade, ia tudo de táxi para casa. Sucede que os carros de praça existentes naquela zona foram todos absorvidos pelos clientes do restaurante e eu fiquei apeado. Já a Ewa queria andar dois quarteirões para procurar outros táxis quando me lembrei dos Grosik, um serviço de táxis meio manhoso mas muito eficiente.

Os Grosik são carros particulares que fazem serviços de táxi sem o serem. Não são automóveis modernos (depende, uma vez apanhei um BMW kitado, escape aberto, rebaixado, com neons azuis no interior que conduzia a 100000km/h e a bombar trance em altos berros), não sãopreço confortáveis mas custam 30 a 40% menos que os táxis oficiais. Têm preços tabelados e eu sei exatamente quanto levam por uma corrida do centro a Natolin. Liguei para a operadora que me reconheceu através do número do telemóvel (pan Nuno?), pedi o carro na morada tal, propuseram-me 7 minutos de espera e à hora marcada (pontualidade é uma característica surpreendente dos transportes públicos em Varsóvia) lá estava uma Passat à espera para me levar a casa.

Existe também outro serviço a que chamam NightDrivers, uma empresa a quem podemos recorrer quando estamos demasiado cansados para conduzir a casa. Chegam dois condutores num carro, um dos condutores pega no nosso carro e conduz-nos a casa, depois segue no segundo carro para outro serviço. Não é nada mal pensado, livra-nos de eventuais problemas com a polícia e não nos obriga a deixar o bote em cascos de rolha. Portanto aqui fica o meu conselho, o Grosik. Bom, barato e estamos em casa em menos de nada - e com um pouco de sorte vamos montados num KITT polaco.

terça-feira, 16 de junho de 2009

O Tempo

God has made Poland in 42 hours. On the first 40 hours, He has created the Polish women and all the beautiful Polish landscape.... On the last 2, with a very bad mood, tired and with stomachache, He has decided about the weather, language and for last, He made the Polish guys.

Tá um stress armado nesta terra por causa do tempo que não é brinquedo. Chove chuva e protestos, o raio da água que não pára de cair, a porra do sol que se esqueceu desta terra e que brilha tanto na nossa onde está tão quentinho e solarengo... Eis o que me apraz declarar.

tempo

A Polónia tem más condições atmosféricas, sempre as teve e sempre as há-de ter. Na Polónia o clima é mau, sempre foi e sempre há-de ser. A primavera e verão polacos sempre foram ruins comparados com os de Portugal (não menciono os do Algarve para não piorar ainda mais), sempre foram e sempre hão-de ser. Hão-de sempre haver temperaturas negativas no inverno polaco, há-de sempre chover na primavera polaca, há-de sempre haver trovoadas tremendas no verão polaco e há-de sempre haver vento polar no outono polaco. Na Polónia faz frio, ponto final parágrafo.

Esbaforir-se a lutar ou ralhar com este estado de coisas é perfeitamente escusado e um investimento de neurónios a fundo perdido. Amigos, este país é frio como o camano e em nada se parece com o nosso. Aceitem, é o melhor remédio e viverão mais contentes. Eu já me estou absolutamente borrifando para o clima, por mais que implique isto não vai mudar, assim como assim quando nós viémos para cá já sabíamos o que isto ia ser.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Wielkopolskie - A Grande Polónia

wielkopolskie Comprar um carro faz parte dos meus planos num futuro a médio prazo, não porque seja fundamental para a minha vida profissional mas pela autonomia que tal permite. Ir onde quiser, com quem quiser e voltar quando quiser é mesmo muito bom! Às vezes, como ontem, estou na disco já um pouco cansado e com vontade e voltar para casa mas tenho de esperar até às 5 da manhã para apanhar o primeiro metro. As alternativas são o autocarro da noite, que demora quase uma hora a chegar a Natolin e que é frequentado sobretudo por bêbados arruaceiros, ou o táxi que me cobra os olhos da cara por uma corrida de 12 km. Estou a pensar fazer como o outro, perder o amor a um par de milhares de zlotys e enfeirar um Maluch por judiaria e também para estar mais á vontade em termos de deslocações. É precisamente uma deslocação a Poznań que serve de pano de fundo a este escrito, vou a caminho da capital da Wielkopolskie (Grande Polónia) e de comboio como manda a sapatilha.

"Navegar é preciso", disse Pompeu. Concordo incondicionalmente com esse pensamento e meti-me num comboio com a ilusão de conhecer mais uma cidade polaca, esta muito importante, e também de observar mais paisagens deste país. Viajar de comboio dá-nos uma perspectiva muito diferente das coisas, assistimos ao País real, passamos por localidades de nomes esquisitos como Żychlin, Sochaczew e Łowicz onde vemos os  locais arando uma pequena parcela de terra que serve de horta pessoal. Apanhamos também pequenos ribeiros onde casais de namorados estendem cobertores no chão para fazerem piqueniques e senhores de idade tentam pescar uma carpa para o almoço do dia seguinte, recordamos o mapa_polska_wielkopolskieTrainspotting por vermos grupos de adolescentes bebendo latas de cerveja apoiados nos muros grafitados com as cores da Legia, o lema Duma stolicy pintado a verde, vermelho e branco, cores garridas que não inspiraram a equipa a fazer melhor que um 2º lugar (Tiago, para o ano limpamos o caneco!!). Chalés degradados e isolados no meio das agora verdejantes pradarias dão-me arrepios porque vendo-os tento imaginar como serão durante os meses frios e escuros de inverno, há apenas 2 ou 3 casas num raio de 700m e fevereiro deve ser medonho nestas terras. Aparecem os ogrodki, jardinzinhos privados que algumas pessoas têm nos fundos de casa e onde se sentam a apanhar o tímido sol de junho que não se decide a ficar de vez na Polónia. Alguns têm parabólica e pombais entre montes de feno, o contraste do luxo na modéstia. Os graffitis mudam de tema e rezam um indelicado Legia Kurwa que eu não apreciei, devem ter sido os parvos do Lech ou os cretinos do Widzew que escreveram essa barbaridade! Decididamente já não estamos na Mazóvia e a próxima estação confirma-o: Kutno.

Quando viajamos de comboio na Polónia não vemos montras, não vemos ruas bonitas ou prédios arranjados, não vemos escolas ou fontes. O comboio leva-nos às traseiras da Polónia, aos armazéns de distribuição do Tesco e da Biedronka, às antigas fábricas de qualquer coisa que hoje não passam de ruínas, aos prédios decrépitos onde os jovens encostam as bicicletas enquanto engolem latas de Żywiec, aos vazadouros de entulho que acumulam anos de desilusões e esperanças goradas, aos celeiros e estábulos de telha de zinco e tábuas soltas. O comboio leva-nos à Polónia funda que representa os caboucos do crescimento económico interessante, dos arranha-céus da Rondo ONZ, das raparigas excelentemente produzidas, do mercado emergente de que a Europa vai começando a ouvir.

Uma casinha mais tratada e a relva cortada rente denota o brio que alguém tem nas suas coisinhas, um pingo de harmonia entre tanta inospidade, um gesto que representa talvez a fé e crença em dias melhores que este povo manifesta e que me faz acreditar que um dia a Polónia se erguerá de vez e voltará a ser grandiosa como foi no passado. Oxalá eu esteja presente para viver o momento por dentro.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Portugal!

Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades Portuguesas. Dia de celebrar a portugalidade e o Sentir Português. Dia de reflectir e pensar o País. Segue-se um mote:

terça-feira, 9 de junho de 2009

Eu sou eu e estou no que é meu!

Wiecha 1 São quatro da tarde, tenho uma hora para matar até à próxima aula e sento-me nas traseiras da Galeria Centrum para lanchar. Terça-feira é um dia terrível para mim porque começa às 7:00 e termina depois das 20:30 sem pausa para almoçar porque as deslocações são longas e demoram muito tempo. Passei por um Carrefour, comprei folhados de salsicha e uma minipizza, um pacote de litro de leite do dia, vi uma polaquinha bonita num banco e sentei-me ao lado dela a reparar no mundo.

Reparo nas meninas adolescentes com meias de pele de leopardo que fumam ruidosamente e nos skaters que estão com elas, exibem as suas manobras como um ritual de corte que me faz lembrar o arrulho dos pombos. Por entre eles passam outros adolescentes montados em BMX rebaixadas, bonés e calças rasgados e All-Stars fluorescentes. As meninas abrem passagem, sentam-se nos bancos, apontam, comentam e desmancham-se nas gargalhadas que os seus piercings amplificam enquanto sacodem as suas madeixas roxas ou cor de laranja.

Começo a ouvir o som dum rebanho a aproximar-se de mim, chocalhos que soam compassadamente por trás das coluna de pessoas que aparece de dentro do centro comercial. Uma rapariga de cabelos cor de gema passa-me uma razia na sua bicicleta, quase que babo o leite e cuspo o folhado. Ao meu lado senta-se um homem de meia-idade desdentado e de braços tatuados, abre a sua velha mochila e retira um panado qualquer que começa a trincar entre meia dúzia de palavrões grunhidos numa voz enegrecida pela nicotina. Os chocalhos estão mais próximos e passam três espécies de skinheads polacos de botas da tropa e calças militares. São magros como um etíope, falam alto mas são uns tísicos! Rio-me deles ao imaginá-los à tacada com os skins tugas no Largo Camões no 10 de Junho e pensei "moss, a Juve Leo varria-vos enquanto o diabo esfrega um olho!" Eles olham para mim, eu desvio para as BMX e dou mais uma golada no leite para evitar comentários e eles afastam-se provavelmente pensando que eu sou um boiola copo-de-leite qualquer. Melhor assim.

O rebanho aparece cantando e rindo, são membros do Hare Krishna e  passam pelos skaters e pelas pitas acenando-lhes, batendo nos seus tambores e chocalhando as suas campainhas entre uma ladainha simpática mas incompreensível. Eu ataco o segundo folhado de salsicha com medo de que eles venham fazer a sua roda ritual perto de mim, hoje não tenho pachorra para movimentos pacifistas e para gente alegre by default. Tive sorte, a comitiva dos budistas cresceu porque as pitas e os putos dos skates aderiram à festa a cantar e pular sarcasticamente mas Wiecha 2plantaram-se ao lado do polaco tatuado e sem dentes que espalha "kurwas" na atmosfera à medida que massaja o seu panado com as gengivas e encara aquele grupo de pessoas estranhamente contentes. 3 punks de muito mau aspeto cravam tabaco à miúda que está sentada ao pé de mim, sinto-me entre uma panela e uma frigideira, dum lado chove e do outro faz vento. A qualquer momento os loucos dos chocalhos viram-se para mim, ou o polaco desdentado, ou os punks do tabaco, os putos das BMX vêm fazer cavalinhos para cima de mim, as pitas hão-de grasnar-me aos ouvidos, todos me vão notar menos a miúda gira. É uma questão de tempo até repararem em mim, moicano latino, olho castanho, um pacote de leite, ténis Le Coq, saco do portátil a tiracolo, anel no indicador direito, calça rasgada no joelho, um alvo fácil. Agora é tarde demais e não posso bater em retirada senão caem-me em cima que nem cães a um osso, por isso vou comendo mansamente a minipizza procurando ruminar o mais silencioso possível e não mexendo no leite.

O calor avaga e sopra a brisa avisadora, vem lá chuva. O céu em Włochy não augura nada de bom e não dou mais que 5 minutos para que pingue. Arroto, o estômago já está cheio mas ainda há meia minipizza para dar cabo e o polaco fita-me candidatando-se aos restos como se me lesse os pensamentos. Começa a chover e o Hare Krishna debanda abanando os seus guizos rua abaixo indiferentes à precipitação. As pitas acabam com o cacarejar estridente e fogem para os Pizza Hut e KFC vizinhos, os punks sentam-se noutros bancos mais distantes fumando e bebendo de empreitada, o velho tatuado lambe os dedos e o plástico onde o panado estava envolvido e prepara a sua trouxa para abalar, a mocinha ao meu lado levanta-se e vai a caminho do namorado que entretanto chegou.

Eu? Eu aceito a chuva com um sorriso despreocupado e desfruto do meu querido leite. Lembro-me do Fábio, do Artur e do Zé Gato. O mundo mudou muito, meus velhos, mas eu ainda sou eu e estou no que já vai sendo meu.

domingo, 7 de junho de 2009

É proibido kagańcu na relva!

Não é preciso ser um douto em polaco para entender o alcance deste aviso:

caganço

"Psy" significa cães, o resto dá para perceber e bem :)

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Incorrigíveis

Eu não sou racista... mas esta gente não tem remédio. Matem-se todos uns aos outros com o raio que os parta!

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Na Polónia sê Polaco - 7

bandejaQuem faz as suas compras na Polónia já passou por esta situação. Quando estamos na caixa e vamos pagar a depesa depositamos o dinheiro ou o cartão na mão da operadora de caixa e deixamos o braço estendido à espera do troco ou dos talões do pagamento automático. Não raras vezes ficamos de pata esticada enquanto a senhora, normalmente de idade, joga a demasia para um pires situado junto ao leitor de códigos de barras e agradece-nos meio contrariada.

É uma das tais diferenças culturais que se encontram neste país, enquanto em Portugal é de bom tom pousar o dinheiro na mão das pessoas, aqui quanto menos toque físico houver melhor. Não se toca em nada nem em ninguém, o contacto visual é pouco ou nenhum e só as mais simpáticas olham para nós para perguntar se temos a karta rodzinka, o cartão que dá descontos em determinados produtos.

Já me habituei a entornar as notas e esperar que o sobejo aterre no mesmo pratinho mas passei muitas vergonhas de mão aberta à espera do cacau enquanto a velhota da caixa batia com as moedas no tabuleiro e olhava para mim à espera que eu batesse a asa. É interessante verificar como um gesto que demonstra delicadeza e cortesia no meu país é tomado como um comportamento bizarro nesta terra. Tá bem, pronto.

terça-feira, 2 de junho de 2009

De como a Lei Marcial e o Boniek têm a ver com as polacas jeitosas que vejo todos os dias

Não há dia sem que eu seja fustigado pela minha pandilha para que escreva mais sobre as miúdas polacas, como se o que escrevo não é suficiente. Creio que está na altura de dissertar um pouco sobre a temática d' "A Polaca", quero dizer, as polacas extraordinariamente atraentes que pululam nas ruas de Varsóvia e não só.

O visitante masculino menos avisado que se apanha em qualquer cidade polaca ver-se-á em palpos de aranha para dominar as hormonas que automaticamente reagem à impressionante quantidade de miúdas bonitas que se encontram por cá. É um desfile de moda constante e apetece sentar num banco e fazer figura de velhinho observando o vai-e-vem das pernas esbeltas, dos cabelos dourados, dos olhos felinos, dos lábios que fazem as maiores barbaridades neste idioma calamitoso parecerem poesia. Eu até já tinha reparado que há uma abundância de chavalinhas entre os 25 / 27 anos comparado com trintonas ou quarentonas que parecem não serem tantas. Pus-me a pensar e a estudar no motivo que podia levar a que tal acontecesse e cheguei às conclusões que passo a publicar.

Há 27 anos atrás estávamos em 1982, tempo em que o regime socialista imperava na Polónia. Eram os tempos das filas de senha em riste parasenhas de racionalização comprar pão ou papel higiénico, da Lei Marcial que o sinistro Jaruzełski decretara numa fria manhã de Dezembro do ano transato, das detenções arbitrárias dos membros do entretanto ilegalizado Solidarność, do massacre dos mineiros em Katowice. A Lei Marcial encerrou as fronteiras da Polónia, fechou os seus aeroportos e condicionou o acesso às suas cidades mais importantes. As linhas telefónicas foram desligadas, o correio sujeito a censura, as organizações independentes ilegalizadas e as aulas em escolas e universidades suspensas. Milhares de soldados patrulhavam as ruas montados em tanques e jipes militares. Uma semana de trabalho de seis dias foi imposta, os media, as fábricas, os portos, as unidades de saúde, minas, estações de comboio e centrais elétricas foram postas sob administração do exército e os seus funcionários obrigados a cumprir as indicações dos militares sob pena de enfrentarem um Tribunal Militar que era tudo menos imparcial. Foi imposto um recolher obrigatório às 22:00 que obrigava as pessoas a apagar as luzes de suas casas pouco depois.

 

É fácil perceber que quase tudo estava vedado ao povo e que pouco havia para fazer num sombrio inverno polaco. As famílias tinham que ficar em casa na penumbra, sem contactar umas com as outras, sós e receosas. Do mal o menos, a polícia respeitava a privacidade das pessoas, não entrava dentro de suas casas e não invadia a sua intimidade. Sobravam eles, marido e mulher, o Jan e a Anna, sem culpa de terem nascido longe da paz. Tinham-se um ao outro, amavam-se e a isso se entregavam naquelas noites frias e escuras de 82. Então e se eu vos disser que a culpa do baby-boom de 83/84 também tem a ver com o futebol?

ZbigniewBoniek Verão de 82 - O Mundial do Naranjito. Boniek, Młynarczyk, Buncol, Żmuda e Lato rings a bell? Imaginem-se polacos oprimidos e tristonhos que tinham naqueles 90 minutos a oportunidade única numa semana inteira de poder sorrir e dar uns tragos de vodca que não fossem para esquecer as agruras e embebedar a angústia. Imaginem-se agarrados às poucas TVs a preto e branco e extravasar sentimentos enquanto os vossos patrícios estão no Ocidente a encantar e dar-vos ilusão e esperança. Recordem a fantástica campanha protagonizada pela Reprezentacja e que só foi travada pela cínica Itália de Paolo Rossi. Agora pensem nas horas seguintes ao final dos jogos, de novo a neve, de novo o escuro, de novo o recolher.

A Polónia ganhou, o Jan e a Anna estão contentes. 25 anos depois o resultado é o que se vê, eu também estou contente (e agradecido) por eles.

13 de Dezembro de 1981. O gereral Jaruzełski decreta a Lei Marcial em direto na TV

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Este estado de ansiedade

Praia de Faro - conquilhas, peitada, minis, fios dentais, peixe assado, suor, Zé Maria, o reflexo das luzes do aeroporto na Ria.


Ilha do Farol - entremeadas, maresia, espreguiçar na rede, sangria, rir, sol, a Ria.


Faro - a doca, o Columbus, o liceu, o Largo de S. Pedro, palmeiras, o sangue, a malta, a Rua de Sto. António, a Ria.

Às vezes tenho saudades de mim.

FaroHoje9

Comecei a contagem decrescente. D –40.