O visitante masculino menos avisado que se apanha em qualquer cidade polaca ver-se-á em palpos de aranha para dominar as hormonas que automaticamente reagem à impressionante quantidade de miúdas bonitas que se encontram por cá. É um desfile de moda constante e apetece sentar num banco e fazer figura de velhinho observando o vai-e-vem das pernas esbeltas, dos cabelos dourados, dos olhos felinos, dos lábios que fazem as maiores barbaridades neste idioma calamitoso parecerem poesia. Eu até já tinha reparado que há uma abundância de chavalinhas entre os 25 / 27 anos comparado com trintonas ou quarentonas que parecem não serem tantas. Pus-me a pensar e a estudar no motivo que podia levar a que tal acontecesse e cheguei às conclusões que passo a publicar.
Há 27 anos atrás estávamos em 1982, tempo em que o regime socialista imperava na Polónia. Eram os tempos das filas de senha em riste para comprar pão ou papel higiénico, da Lei Marcial que o sinistro Jaruzełski decretara numa fria manhã de Dezembro do ano transato, das detenções arbitrárias dos membros do entretanto ilegalizado Solidarność, do massacre dos mineiros em Katowice. A Lei Marcial encerrou as fronteiras da Polónia, fechou os seus aeroportos e condicionou o acesso às suas cidades mais importantes. As linhas telefónicas foram desligadas, o correio sujeito a censura, as organizações independentes ilegalizadas e as aulas em escolas e universidades suspensas. Milhares de soldados patrulhavam as ruas montados em tanques e jipes militares. Uma semana de trabalho de seis dias foi imposta, os media, as fábricas, os portos, as unidades de saúde, minas, estações de comboio e centrais elétricas foram postas sob administração do exército e os seus funcionários obrigados a cumprir as indicações dos militares sob pena de enfrentarem um Tribunal Militar que era tudo menos imparcial. Foi imposto um recolher obrigatório às 22:00 que obrigava as pessoas a apagar as luzes de suas casas pouco depois.
É fácil perceber que quase tudo estava vedado ao povo e que pouco havia para fazer num sombrio inverno polaco. As famílias tinham que ficar em casa na penumbra, sem contactar umas com as outras, sós e receosas. Do mal o menos, a polícia respeitava a privacidade das pessoas, não entrava dentro de suas casas e não invadia a sua intimidade. Sobravam eles, marido e mulher, o Jan e a Anna, sem culpa de terem nascido longe da paz. Tinham-se um ao outro, amavam-se e a isso se entregavam naquelas noites frias e escuras de 82. Então e se eu vos disser que a culpa do baby-boom de 83/84 também tem a ver com o futebol?
Verão de 82 - O Mundial do Naranjito. Boniek, Młynarczyk, Buncol, Żmuda e Lato rings a bell? Imaginem-se polacos oprimidos e tristonhos que tinham naqueles 90 minutos a oportunidade única numa semana inteira de poder sorrir e dar uns tragos de vodca que não fossem para esquecer as agruras e embebedar a angústia. Imaginem-se agarrados às poucas TVs a preto e branco e extravasar sentimentos enquanto os vossos patrícios estão no Ocidente a encantar e dar-vos ilusão e esperança. Recordem a fantástica campanha protagonizada pela Reprezentacja e que só foi travada pela cínica Itália de Paolo Rossi. Agora pensem nas horas seguintes ao final dos jogos, de novo a neve, de novo o escuro, de novo o recolher.
A Polónia ganhou, o Jan e a Anna estão contentes. 25 anos depois o resultado é o que se vê, eu também estou contente (e agradecido) por eles.
13 de Dezembro de 1981. O gereral Jaruzełski decreta a Lei Marcial em direto na TV
3 comentários:
É bem verdade o que dizes, está provado que nesses anos houve mesmo um boom na natalidade.
que pena que as fornadas vindas dos tempos do Salazar e do Eusébio não tenham dado grande resultado ;)
luís,
há muito boa gente em paris, frankfurt e caracas que não concorda contigo. mas eu concordo plenamente!
mvs,
e quem pode dizer que não há um nexo de casualidade? imagina o cenário... tudo encaixa, até o jan na anna q:) bjinhos
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