Comprar um carro faz parte dos meus planos num futuro a médio prazo, não porque seja fundamental para a minha vida profissional mas pela autonomia que tal permite. Ir onde quiser, com quem quiser e voltar quando quiser é mesmo muito bom! Às vezes, como ontem, estou na disco já um pouco cansado e com vontade e voltar para casa mas tenho de esperar até às 5 da manhã para apanhar o primeiro metro. As alternativas são o autocarro da noite, que demora quase uma hora a chegar a Natolin e que é frequentado sobretudo por bêbados arruaceiros, ou o táxi que me cobra os olhos da cara por uma corrida de 12 km. Estou a pensar fazer como o outro, perder o amor a um par de milhares de zlotys e enfeirar um Maluch por judiaria e também para estar mais á vontade em termos de deslocações. É precisamente uma deslocação a Poznań que serve de pano de fundo a este escrito, vou a caminho da capital da Wielkopolskie (Grande Polónia) e de comboio como manda a sapatilha.
"Navegar é preciso", disse Pompeu. Concordo incondicionalmente com esse pensamento e meti-me num comboio com a ilusão de conhecer mais uma cidade polaca, esta muito importante, e também de observar mais paisagens deste país. Viajar de comboio dá-nos uma perspectiva muito diferente das coisas, assistimos ao País real, passamos por localidades de nomes esquisitos como Żychlin, Sochaczew e Łowicz onde vemos os locais arando uma pequena parcela de terra que serve de horta pessoal. Apanhamos também pequenos ribeiros onde casais de namorados estendem cobertores no chão para fazerem piqueniques e senhores de idade tentam pescar uma carpa para o almoço do dia seguinte, recordamos o Trainspotting por vermos grupos de adolescentes bebendo latas de cerveja apoiados nos muros grafitados com as cores da Legia, o lema Duma stolicy pintado a verde, vermelho e branco, cores garridas que não inspiraram a equipa a fazer melhor que um 2º lugar (Tiago, para o ano limpamos o caneco!!). Chalés degradados e isolados no meio das agora verdejantes pradarias dão-me arrepios porque vendo-os tento imaginar como serão durante os meses frios e escuros de inverno, há apenas 2 ou 3 casas num raio de 700m e fevereiro deve ser medonho nestas terras. Aparecem os ogrodki, jardinzinhos privados que algumas pessoas têm nos fundos de casa e onde se sentam a apanhar o tímido sol de junho que não se decide a ficar de vez na Polónia. Alguns têm parabólica e pombais entre montes de feno, o contraste do luxo na modéstia. Os graffitis mudam de tema e rezam um indelicado Legia Kurwa que eu não apreciei, devem ter sido os parvos do Lech ou os cretinos do Widzew que escreveram essa barbaridade! Decididamente já não estamos na Mazóvia e a próxima estação confirma-o: Kutno.
Quando viajamos de comboio na Polónia não vemos montras, não vemos ruas bonitas ou prédios arranjados, não vemos escolas ou fontes. O comboio leva-nos às traseiras da Polónia, aos armazéns de distribuição do Tesco e da Biedronka, às antigas fábricas de qualquer coisa que hoje não passam de ruínas, aos prédios decrépitos onde os jovens encostam as bicicletas enquanto engolem latas de Żywiec, aos vazadouros de entulho que acumulam anos de desilusões e esperanças goradas, aos celeiros e estábulos de telha de zinco e tábuas soltas. O comboio leva-nos à Polónia funda que representa os caboucos do crescimento económico interessante, dos arranha-céus da Rondo ONZ, das raparigas excelentemente produzidas, do mercado emergente de que a Europa vai começando a ouvir.
Uma casinha mais tratada e a relva cortada rente denota o brio que alguém tem nas suas coisinhas, um pingo de harmonia entre tanta inospidade, um gesto que representa talvez a fé e crença em dias melhores que este povo manifesta e que me faz acreditar que um dia a Polónia se erguerá de vez e voltará a ser grandiosa como foi no passado. Oxalá eu esteja presente para viver o momento por dentro.
3 comentários:
Regra de ouro (que eu não cumpri) é que antes de comprares um carro, tenhas já um mecânico conhecido. Em Poznan não tinha nenhum em quem eu confiasse (só em Cracóvia é que uns amigos polacos me ajudaram bastante na reparação do bólide).
Bem, espero que o fdsemana em Poznan tenha sido bem passado. Muito boa terra essa!!
e essa é uma regra que também já me ensinaram e que vou procurar cumprir.
a minha vantagem é que conheço em varsóvia gente que faz parte dum tal fã-clube do maluch, eles sabem de sites onde se podem comprar peças (por exemplo, tambores de travão a 25pln) e onde reparar os automóveis.
já vi carrinhos aparentemente em bom estado à venda por 1200pln, n me parece muito dinheiro, mas tb já vi alguns por 200 e 300 paus q:)
acho que no próximo natal vou mimar-me!
Bom post Misha! A tal Polónia profunda e desconhecida dos turistas, interessante tema e paisagens que, desde há algum tempo a esta parte, observo a escorrerem nas janelas do meu carro, na auto-estrada A2 entre Łódź e Konin.
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