Eu não gosto de receber pps de aleijadinhos a pedir esmolas, de velhotas a carregar pesados fardos de paus, de crianças famintas com abutres na peugada, com adolescentes a escreverem as suas lições na terra do chão duma sala de aula improvisada algures no sudoeste asiático ou de cães com três patas e sem dono que dormem ao relento das ruas de Ulan Bator. Não gosto de as receber não porque ignore os problemas que tais desafortunados têm mas porque normalmente partem de pessoas que nem por um minuto dos 364 dias restantes do ano se preocuparam com tais anónimos. Pedem que nós reenviemos as mensagens, que propaguemos a palavra do amor e da amizade, dizem que se nós não as remetermos tal quer dizer que não prezamos os nossos amigos, que eles nada significam para nós, que somos uns misantropos e avarentos, que merecemos arder no Inferno como pena pela nossa má-disposição.
Que metam as mensagens no cu! Sim, muito franca e diretamente, que enfiem esses e-mails parvos no orelhudo! Pratiquem o bem todos os dias, amem ou detestem genuina e incondicionavelmente todos os dias e tenham demonstrações práticas e visíveis dessa bondade e desse amor todos os dias. Sejam autênticos! Aqueles que enviam votos funestos de boas-festas, os tartufos arautos da solidariedade que fazem “forward” dos e-mails sem tampouco refletirem por um segundo no conteúdo dos mesmos (se calhar é pedir demais às suas limitadas capacidades intelectuais), os animais que pensam expiar as suas patifarias através dum clique fortuito não merecem sequer um “reply” de feliz ano novo.
O que merecem? Dó. E menor.
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