sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Piątek

A sexta-feira acorda com o ruído ténue dos flocos de neve no parapeito da janela, flocos que pedem desculpa por levantarem-me tão cedo da cama numa manhã ruim para sair de casa. São 6:20 e o dia vai começar quer se queira, quer não.

Carris do elétrico A imagem que tenho da minha varanda parece alterada com o Photoshop, uma palete com três cores – azul, branco e cinzento – que desinspira e retira a pouca coragem que há para pôr o corpo debaixo do duche. A custo a coisa acontece, o café aquece, parte-se o pão e barra-se com queijo para a combustão gástrica imprescindível antes de sair de casa. Tudo feito a câmara lenta, as meias, compor a franja, dar o nó nos atilhos, calçar as luvas. À porta do prédio a preparação psicológica para a chapada de ar frio que devo apanhar, bem pior do que esperava porque está vento, a neve não cai do céu – voa do chão, o piso escorrega e procuro não me enervar porque sei que não me serve de nada. Abalo para o metropolitano enfiado num casacão e de orelhas geladas perguntando-me se não teria sido melhor abdicar do gel em prol dum gorro.

Na estação do metro devem estar 5º, até me sinto abafado em contraste com os –5º que estão na rua – uma diferença de 10 graus que é reposta logo na mudança para o elétrico. De novo as ruas aflitas de frio e as pessoas caminhando apressadamente de capuccino na mão, centenas de almas por metro quadrado e nem uma palavra se ouve no ar porque está toda a gente a pensar no regresso a casa que só vai suceder daqui a 8 / 9 horas. Sofrem por antecipação, é escusado mas não os condeno porque lá no fundo também tenho essa sensação.

Agora sento-me no quentinho do escritório e ponho-me a pensar no que tenho para fazer antes das férias natalícias, das coisas que tenho de deixar orientadas. Ainda são umas quantas porque ainda faltam 15 dias para o avião, tempo de menos para umas coisas mas tempo demais para outras. Planeio o dia e toda a concentração resvala para um único evento: Hoje vou tocar pela primeira vez na margem leste de Varsóvia, um clube em Praga com clientes necessariamente diferentes dos do Centro. Já estou a pensar no check-sound, na seleção, nas passagens, nos efeitos, ainda tenho oito horas de trabalho pela frente mas só tenho bpm na minha cabeça.

Que vou fazer? Partir aquela merda toda! Só pode.

1 comentário:

Geraldo Geraldes disse...

Até porque sendo em Praga, se não partires aquela merda toda, pode haver maior probabilidade de te partirem a ti :)