Já aqui foi mencionado que o Légia de Varsóvia, ou Legia Warszawa, é o clube de futebol mais popular da capital polaca, uma equipa que reboca uma autêntica legião de adeptos fanáticos aos estádios onde se desloca, principalmente quando joga na sua casa – o Estádio Wojska Polskiego. É o clube polaco da minha simpatia pois alguns dos meus amigos nutrem um sentimento muito forte pelo emblema wojskowy e sempre que falamos de futebol é a Legia que eles louvam e é a Legia que ocupa o lugar principal no coração deles. Começaram a contagiar-me com esse sentir e acabei por ficar simpatizante das cores branca e preta até porque me recordam do meu Farense q;)
Ora, um adepto que se preze vai ao estádio apoiar a sua equipa e se na sua equipa estiverem jogadores que entretanto foram conhecidos e que até se tornaram amigos – caso do brasileiro Bruno Mezenga aqui entrevistado pelo Kuba mai-lo vosso bloguista e do português Manú – mais imperiosa se torna a presença no estádio. Se somarmos a estas parcelas o fator adicional do Wojska Polskiego estar em vias de renovação e de se ter tornado, desde já, um estádio ao nível dos mais modernos estádios europeus, mais aliciante e obrigatória de torna a presença do adepto mesmo que seja português. Pois bem, ontem foi dia de Legia – Lech Poznań, a visita do campeão em título que vinha moralizado dum empate surpreendente contra a Juventus na casa da Velha Senhora a contar para a Liga Europa, um jogo que tinha de ser encarado sob um contexto especial de que faziam parte a fraca prestação da equipa no início de temporada, consequência da dificuldade em assimilar o contingente de estrangeiros que se juntaram ao plantel este ano, jogadores oriundos de diversas nacionalidades e mentalidades futebolísticas como argentinos, croatas, portugueses, brasileiros que pela primeira vez tomam contacto com a realidade da física liga polaca. O treinador da Legia, o ex-selecionador e campeão pelo rival Wisła Maciej Skorża estava no fio da navalha e as casas de apostas davam o seu despedimento como provável nas próximas jornadas, ingredientes suficientes para uma noite de grandes emoções.
Convoquei a Ewa para o jogo e abalámos meia hora antes para enfrentar o trânsito e os problemas de estacionamento que com surpresa não encontrámos. A entrada no estádio processou-se rapida e eficazmente, os portões são muitos e largos pelo que os espetadores rapidamente entram para o interior do estádio onde os stewards indicam o lugar a ocupar. Cadeiras confortáveis e uma atmosfera de arrepiar. No topo sul, oposto onde me encontrava, a Żyleta, fação de adeptos mais apaixonados, dava espetáculo cobrindo integralmente a bancada de branco com coreografias de notável aspeto visual, os tiffosi da Legia a saltarem compassadamente ou a moverem-se dum lado para o outro, agitando os cachecóis ou batendo palmas em uníssono, um bailado de fé e amor ao clube que dava a impressão que as próprias estruturas do estádio se mexiam, uma demonstração ultra que não passa cartão às melhores claques italianas. Ao lado esquerdo, numa fatia perfeitamente definida pelo azul do Lech e pelo cordão da Brigada de Intervenção, os adeptos dos visitantes em cânticos fortes e assertivos provocavam a Cidade Capital e gozavam com o facto de a Legia ser o eterno candidato adiado ao título. A mole branca respondia chamando-os de “segunda categoria” e que “a nossa Legia é a melhor da Polónia”, o habitual em jogos entre grandes rivais. Oito minutos depois do apito inicial cai um balde de água fria nos legionisci sob a forma do golo do Lech apontado pelo bielorrusso Sergei Krivets que aproveitou as facilidades concedidas pela defesa local para inaugurar o marcador e colocar nuvens negras a pairar no nº3 da rua Łazienkowska. Após alguma hesitação da Legia as coisas começaram a equilibrar-se e chegaram ao empate à passagem do minuto 38 por intermédio de Kucharczyk, um produto da cantera que tem estado a aproveitar bem as oportunidades dadas pela ausência de avançados conceituados no plantel. Primeira explosão de alegria no estádio rapidamente neutralizada pela expulsão idiota do extremo esquerdo Rybus que derrubou desnecessariamente um defensor azul já depois de ter visto um cartão amarelo, faltavam quatro minutos para o intervalo que instalou uma atmosfera de apreensão ao chegar. Na segunda parte o Lech foi para cima da equipa da casa, pressionando e empurrando a Legia para o seu último reduto. Os Wojskowy aguentaram o sufoco dos 15 minutos iniciais e paulatinamente foram equilibrando e virando a tendência do jogo através de incursões venenosas de contra-ataque alicerçadas na omnipresença do recém-empossado capitão Vrodljak que jogou por três, construindo e destruindo, um almirante no meio-campo da Legia. A brutal energia que vinha constantemente das bancadas levava os jogadores da Capital a acreditar que podiam marcar mas os contragolpes do Lech punham a defesa branca em constante alerta e viveu-se este ambiente de incerteza entre “matar e morrer” até ao minuto 88 quando o estádio veio abaixo. Livre no flanco esquerdo, Kiełbowicz lança uma bola tensa ao segundo poste onde surge no ar o criticado Bruno Mezenga que fixa o 2-1 final cabeceando de cima para baixo como mandam os almanaques e lançando Varsóvia às suas costas. Cinco minutos até ao apito final, cinco minutos de intensa, unânime e constante cantoria, cinco minutos de um apoio massivo e impressionante, 22.400 gargantas a chutar bolas para longe da área da Legia, cinco minutos para que o Wojska Polskiego se abraçasse e celebrasse a primeira vitória oficial no “novo” estádio enquanto os jogadores davam uma volta olímpica agradecendo o apoio ininterrupto dos seus aficionados e lançando camisolas para a Żyleta onde os ultras davam largas à sua louca alegria e agradeciam a prova de ambição e vontade dos seus jogadores. Duas horas depois do fim do jogo ainda se ouviam cânticos embriagados de apoio à Legia. Mesmo numa situação difícil na classificação os adeptos – este adepto português inclusive - continuam a acreditar na sua equipa e continuam a afirmar alto e em bom som para quem os quiser ouvir que “Nasza Legia najlepsza w Polsce jest!”, ou seja, “a nossa Legia é a melhor (equipa) da Polónia” * E apenas Légia, Légia de Varsóvia
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