sexta-feira, 11 de julho de 2008

Saber ter idade é um arte

Numa destas tardes sentei-me com a Iza num banco do Pole Mokotowskie, um dos muitos parques de Varsóvia. Um calor do caraças puxou-me para a sombra de onde pude ver crianças chapinhando no grande lago artificial do jardim, alguns namorados alambazando-se indeferentes à reprovação das avozinhas, jovens branquíssimos de jeans e tronco nu bebendo meios-litros de cerveja de empreitada, ancas perfeitas saltitando ao ritmo do jogging ou rebolando em cima dos selins das bicicletas que cruzavam os caminhos do parque.

A minha comadre lia uma revista e já quase que me corria o fiozinho de baba revelador dum sono profundo quando um casal velhinho perguntou-nos se podiam sentar-se no "nosso" banco. Automaticamente ajeitei-me para que coubéssemos todos e compus a t-shirt para que os novos vizinhos não estranhássem a minha falta de cuidado na escolha de roupa. Sentei-me como deve ser e os velhotes sacaram dum transistor do tempo do Brejnev e dum saquinho com miolos de pão. A senhora lançou ao chão algumas bolas de pão e dezenas de pombos e pardais vindos do nada acamparam à nossa frente.
O radinho lembrou-me Alvalade antigo nos relatos do Rui Almeida da Antena 1, não pude deixar de sorrir ao ver aquela peça de história que me fez recordar os idos de 80. Perguntei-me se alguma vez chegaria aquela idade e, se o conseguisse, se seria aquele o meu retrato. Sacudi esses pensamentos da cabeça, enchi os pulmões do ar quente e seco daquela tarde e senti os velhinhos levantarem-se. Olhei para eles e eles cumprimentaram-nos:

"Obrigado pela hospitalidade", disse o senhor, tocando na aba do seu chapéu antes de seguirem vagarosamente o seu caminho por entre os arbustros e árvores.

Sim, é assim que eu quero ser se chegar a velho.

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