A minha comadre lia uma revista e já quase que me corria o fiozinho de baba revelador dum sono profundo quando um casal velhinho perguntou-nos se podiam sentar-se no "nosso" banco. Automaticamente ajeitei-me para que coubéssemos todos e compus a t-shirt para que os novos vizinhos não estranhássem a minha falta de cuidado na escolha de roupa. Sentei-me como deve ser e os velhotes sacaram dum transistor do tempo do Brejnev e dum saquinho com miolos de pão. A senhora lançou ao chão algumas bolas de pão e dezenas de pombos e pardais vindos do nada acamparam à nossa frente.
O radinho lembrou-me Alvalade antigo nos relatos do Rui Almeida da Antena 1, não pude deixar de sorrir ao ver aquela peça de história que me fez recordar os idos de 80. Perguntei-me se alguma vez chegaria aquela idade e, se o conseguisse, se seria aquele o meu retrato. Sacudi esses pensamentos da cabeça, enchi os pulmões do ar quente e seco daquela tarde e senti os velhinhos levantarem-se. Olhei para eles e eles cumprimentaram-nos:
"Obrigado pela hospitalidade", disse o senhor, tocando na aba do seu chapéu antes de seguirem vagarosamente o seu caminho por entre os arbustros e árvores.
Sim, é assim que eu quero ser se chegar a velho.
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