Há a sensivelmente 30km para norte de Varsóvia um lugar que me faz lembrar um ponto do Algarve. O Lago Zegrzyński, local de romaria dos varsovianos nos fins de semana de céu morno e limpo, sugere-me uma Quinta do Lago em versão lacustre pelo tremendo potencial turístico que encerra. Estamos a falar de um lago enorme a 45mins da Cidade Capital que tem três importantes povoações nas suas margens (Nieporęt foi a que visitei num domingo) e parece ser um núcleo de desportos aquáticos a concluir pelo número de stands de barcos no caminho para lá.
O lado de Nieporęt pareceu sossegado com três ou quatro restaurantes a servir a clientela, pessoas que passeavam vagarosamente nas margens do lago, sem pressas, como se a maioria delas não conhecesse outro ritmo - hipótese altamente improvável pelas matrículas de Varsóvia que invadiram a localidade. Apesar de que a água estivesse ainda congelada, pelo menos na superfície, algumas dezenas de corajosos decidiram passear mais longe no lago, tiravam fotos, namorados observavam a paisagem desde um seguro cais, o algarvio filmava enquanto construía num canto imaginário um bar de praia com puffs e rede de vólei, festas de mojitos e caipiras até de manhã num tremendo sunset ou fogareiros de peixe e febras, carteado até de manhãzinha. Sonhar não custa, dizia eu.
Um ano e dois meses depois voltei ao mesmo lago mas a outra margem e com outro clima. Aproveitando os quentes feriados de maio (mercúrios na casa dos 28 graus) carreguei o automóvel com acendalhas, carvão e carne e fiz-me ao caminho com a Ewa, o John, a Tynia e a Kasia para uma visita estival ao mesmo lugar, desta vez no lado de Białobrzegi, com medo de levar com uma seita de polacos mal comportados em cima mas curioso para saber o quão seria diferente aquele lugar em dias de sol. E foi uma maravilha! Companhia do melhor, carnagem assada na grelha até ter avonde, sol do bastante como se estivéssemos à beira-ria, praia de areia clara para bater uma sorna de hora e meia depois do almoço e até um temerário banho de rio para fazer juz ao lema do meu tio João - Saber como é para contar como foi. Nada que se compare a uma tarde de mar e peitada na Praia de Faro mas bem bom dadas as circunstâncias porque um homem tem de saber adaptar-se ao meio em que vive, ser tolerante e aceitar as diferenças em vez de se tornar bicho do mato e meter defeitos em tudo sob pena de nunca estar bem em lado nenhum.
É uma questão de atitude perante a vida, uma postura que sempre fiz questão de adotar, respeitar o que o meu país adotivo tem para me dar com todas as suas potencialidades e limitações. É claro que uma tarde no lago não tem nada a ver com uma tarde de Algarve mas para quem está a 3200km de Faro serve para matar as saudades. É como se abrisse uma lata de sardinhas pensando em peixe assado, não é a mesma coisa mas é o que há e haver alguma coisa para enganar a maldita já é muito bom.
Sem comentários:
Enviar um comentário