É mais uma segunda-feira e a oportunidade de fazermos o que não fizemos na semana anterior, de corrigir os erros cometidos ou de arranjar novos erros para cometer. Tal como a maioria das pessoas, não nutro especial carinho pela segunda-feira, não a acolho com particular entusiasmo nem a rechaço com antipatia. A segunda-feira vem como vêm todos os males da vida como a falta de vista, as dores de coluna ou as declarações públicas de Jorge Jesus, há que saber conviver com as coisas que são inevitáveis ou que não controlamos e ter a consciência de que elas não mudam por muito que queiramos. A segunda-feira é uma dessas coisas.
Tive de dobrar a cerviz e anuir à barbárie de me darem trabalhos logo às 8:00, uma altura do dia (da semana, da vida) em que escassas são as funções no meu organismo que estão em desempenho aceitável se excetuarmos aquelas consagradas à satisfação de necessidades primárias porque essas não carecem de vontade incutida para se cumprirem. Adiante que é para não avacalhar o texto. Lá tive de começar a dar ao stick às oito da matina porque a vida não se compadece com caprichos, a semana a ter início a umas obscenas 6:15, uma hora a que só me levantava para fazer xixi. "Só te faz é bem!" dirão os mais prosaicos, "pobre mocinho" pensarão os condescendentes, o bom do vosso blogueiro não tem outro remédio do que abandonar o leito quando o relógio bate à hora determinada e enfrentar o boi da vida com os olhos fixos nos cornos sendo que no inverno a tarefa é mais difícil devido às cornadas de frio ártico e escuridão e aos pios feios e mecânicos dos corvos e gralhas que me esventram os flancos, um acompanhamento perfeitamente dispensável que acrescenta dificuldade a uma vivência já de si árdua. Esta nova experiência tem-se revelado complicada devido às circunstâncias acima explicadas mas igualmente em virtude dum grande apego à cama transmitido pelos genes da família materna, nomeadamente pelo avô que era grande amigo de dormir e que passou esse gosto à filha, minha mãe, especialista em sonos recordes de 10 e 11 horas que por sua vez me transferiu tal afeição. Pode o leitor já imaginar o ferro que me trespassa as vísceras quando o maldito alarme ordena a minha alvorada, perscrutar o pátio para encontrar um centímetro quadrado sem neve que dê fôlego a uma manhã gelada, esquadrinhar o céu na esperança de apanhar um fio de sol que eu possa segurar como uma criança segura no balão que a faz sorrir e imaginar viagens a terras de águas de cristal e dunas cor de trigo.
Esta foi uma dessas segundas duras de roer e não apenas para a minha mediterrânica pessoa porque muitos polacos me confessaram que também sentiam a moleza atacar-lhes o apetite para a vida numa manhã que até correu tranquila e divertida mas que foi substituída por um pesadíssimo saco de sono que me caiu em cima depois das 13:00, fiquei molangueirão de tal maneira que não consegui conter o largo bocejo que tomou conta do meu rosto durante o resto do dia de trabalho até às 20:00, altura em que recolhi as fichas e bati a asa para casa não sem que antes ainda demorasse uma dezena de minutos a raspar a neve do pára-brisas e da capota e mais uma pausa no caminho para alimentar o carro a gasóleo. Voltei para casa arrastando um passo lento e custoso, sentei-me em frente ao computador batendo indolentemente este texto e agora que o concluí sinto um espasmo de felicidade a percorrer-me a espinha, não por me ter visto livre da companhia do meu amigo que está aí desse lado mas porque finalmente posso entregar este maço de ossos ao misericordioso Hipnos para que ele o restaure e para que consiga estar em condições de se erguer… daqui a seis horas e meia.
Eu também devo ser um bocado parvo, em vez de ir dormir ando aqui a escrever sobre o sono que tenho.
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