Tesco de Piastów, arredores de Varsóvia, nas compras para a festa de passagem de ano.
Lá o que esta gente come...
A saga dum filho de Faro na Polónia (em Bielany, no norte de Varsóvia) - desde 2007
Regresso… a casa? Mas, Faro não é “casa”? Voltar a casa significa voltar a Varsóvia ou voltar a Faro?
É realmente um sentimento ambíguo, este. Não consigo definir com clareza esse conceito de “casa”. Casa será onde temos a família e os amigos do berço ou onde moramos e pagamos impostos? Casa será onde se respira a nossa herança ancestral ou onde funcionamos no dia-a-dia? Casa é o quê, onde nos sentamos para comer o nosso prato favorito com a família ou onde nos sentamos para comer o prato que nós mesmos preparámos?
Casa, para mim, é um pouco de tudo. É a Ria Formosa, braço de mar que entra pelo sapal adentro, que me inspira o rumo e onde me reencontro a chapinhar em puto. É subir as escadas do metro Świętokrzyska e cumprimentar o PKiN embora ele esteja sempre enevoado e ignore esse pequeno português que teima em lhe dar os bons-dias. É o beijinho da velha tia e o sorriso rasgado da mãe somados à formidável panela de feijão com massa ou com o sublime pargo assado no forno. É a karkówka grelhada com legumes congelados que satisfaz o estômago congelado do algarvio que nadou entre -15ºC para chegar a casa. É minis, charros e poker até às 4:30 da manhã com inigualáveis amigos, gente feita duma massa que não existe mais. É o verde-mar dos olhos da Ewa que sorriem felizes quando encaixam nos meus. É a viciante peladinha no Liceu nas noites de segunda-feira onde um gajo cospe a ceia de Natal, os 12 pastéis de nata dos últimos dias (verdade! 12-doze-12 numa semana), o tabaco, o álcool, o plasma e alma a fugir atrás duma bola (ainda faço a diferença, mesmo com 36 anos. Ah pois é, bebé!). É a noite do Klubo, do Opera, do Enklawa, do Organza, do Mono, do Tygmunt.
Vinha a sair do meu prédio quando ouço uma voz a chamar:
- Eh rapaz, que pressa é essa?
Era o meu Domofon, o aparelhinho onde digito o código que me permite entrar no condomínio. Às vezes o tipo mete conversa comigo, ele passa o tempo todo à porta do condomínio e até é um gajo porreiro mas eu pouco cartão lhe passo porque estou sempre apressado quando entro ou saio de casa. Desta vez parei para lhe dar dois dedos de cavaco.
- Épa, tu já sabes como isto é. Um gajo tem de ir atrás dele, o dinheiro não cresce no chão. Aliás, com a camada de gelo e neve batida que há no chão acho que nem ervas daninhas crescem.
- Bah! – exclamou aborrecido o aparelho. – Isto não é nada, havias de ver o que foi há 3 anos. Uma semana seguida com –30º C, isso sim! Esses é que foram os tempos áureos do inverno.
Aí arregalei os olhos e ataquei-o:
- Tu não regulas bem, com certeza. O frio atacou-te o chip! Então, tu estás com um palmo de neve no toutiço e ainda achas que devíamos ter mais frio?
- Não, pá! Estava a meter-me contigo porque andas aí todo encurvado e atascado em roupas, pareces uma cebola de tanta camada que levas. Mas tu também és um bocado totó, não vestes ceroulas nem enfias o gorro e depois vais ganir para a televisão polaca dizendo que o tempo está horrível e que no Algarve por esta altura está toda a gente a banhos.
- Não senhor, eu não disse isso. O que disse foi que no meu país não tínhamos este clima e que o dia estava horrível, e isto é alguma mentira?
A geringonça aceitou:
- É verdade. Mas tu já sabias ao que vinhas quando decidiste vir para a Polónia, não sabias?
- Sim, mais ou menos. Sabia que era frio no inverno mas temperaturas negativas em Portugal só experimentei uma vez quando vinha a conduzir entre Lisboa e Faro e encostei em Santana da Serra com –1º C para fazer xixi.
- Hahahaha! – riu o Domofon. – És mesmo tolinho. –1º? Com essa temperatura a malta vai para o Las Kabacki assar salsichas em mangas de camisa, o que é que tu julgas? Tu não estás consciente, o inverno polaco é tão severo que há 60 anos, quando a Polónia foi ocupada pelos soviéticos, houve uma senhora que ao saber que a sua cidade então passou a fazer parte da União Soviética exclamou: “Graças a Deus, já não suportava outro daqueles invernos polacos!”.
- E isso é suposto animar-me? – desabafei.
- Não, é suposto avisar-te que isto é apenas o começo.
- O começo? Estão –16º C e tu dizes que isto é apenas o começo?! Ó Domofon, não me lixes com essa conversa! Então isto pode descer até onde, aos –50º C?
- Calma, isto também não é a Sibéria! Mas vai pondo as barbinhas de molho… aliás, nem faças a barba até voltares a Faro pelo Natal porque este domingo baixa dos –20º C. Protege as orelinhas, não te esqueças do cachecol e das luvas e não te armes em latino engatatão com o teu gel. Mete o gorro e deixa-te de cenas.
Depois desta última frase eu olhei para ele de cima a baixo, fitei o fundo da minha rua absolutamente coberto de branco, subi a gola do sobretudo, respirei para as palmas das mãos e terminei:
- Bom, amigo, obrigado pelos conselhos. Vou ver se sobrevivo, aparentemente não vai ser fácil.
- De nada, companheiro. Já não és o primeiro estrangeiro que eu vejo a penar com o frio e sinto-me na obrigação de alertar as pessoas para o que aí vem. Quando precisares, dispõe.Afundei a cabeça nos ombros e toquei para o metropolitano enquanto pensava com os meus botões: “Será que o gajo tem mesmo razão ou está a gozar comigo?”
Numa cerimónia ontem realizada na Praça Mykhailivska na capital da Ucrânia, Kiev, presidida por individualidades como o dirigente-máximo da UEFA, Michel Platini, a primeiro-ministro e o presidente ucraniano, Yulia Tymoshenko e Victor Yushchenko respetivamente e acompanhado pelos presidentes das federações de futebol polacas e ucranianas, Grzegorz Lato e Grigoriy Surkis, foi revelado o logotipo do Campeonato Europeu de Futebol 2012. Uma fusão de vários temas inspirado nas Wycinanki, trabalhos realizados em papel colorido recortados em motivos florais e folclóricos característicos da faixa territorial que compreende o Leste e Sueste da Polónia, o sul da Bielorrúsia e a parte mais ocidental da Ucrânia, e as cores das bandeiras dos dois países: Branco e vermelho na Polónia, amarelo e azul pela Ucrânia. Nem de propósito, o logo é autoria de portugueses.
Gostei muito da ideia e achei-a muito feliz, a combinação surtiu numa figura que junta tradição com evolução e acredito que se tornará numa imagem muito útil para a divulgação do evento e dos países organizadores. Varsóvia aparentemente também gostou do logotipo a julgar pela iluminação alusiva ao tema apontada ao Palácio da Cultura e pelos fogos de artifício lançados desde o mesmo edifício.
Numa altura em que voltam a surgir desconfianças sobre a possibilidade de polacos e ucranianos terem as coisas preparadas a tempo – a UEFA confirmou Gdańsk, Poznań, Wrocław e Varsóvia como cidades-sede na Polónia, ao passo que na Ucrânia apenas Kiev está confirmada aguardando-se decisões sobre Donetsk, Lviv e Kharkiv - a apresentação do Euro2012 é mais um passo na direção certa e um sinal de que as coisas estão a seguir os trâmites corretos. Etapa a etapa, o Euro2012 torna-se cada vez mais real e o próximo capítulo terá lugar ainda este mês: Saber se se confirmam as cidades ucranianas ou se a Polónia estenderá o seu Euro a Cracóvia e Chorzów.
Cada vez mais cheira a futebol na Polónia, mal posso esperar pelo meu segundo Euro vivido por dentro!!
À medida que vamos ganhando idade também vamos mudando as nossas conceções de vida, coisas que antes se afiguravam negligenciáveis vão ganhando preponderância e fatores que eram prioritários tornaram-se secundários. Quando era puto não ligava muito à comida e comer era um aborrecimento, não porque tivesse maus talentos culinários na família – muito pelo contrário – mas porque não valorizava o que se pode extrair de um bom prato. Admirava o meu tio ao vê-lo passar uma tarde inteira a dissecar pormenorizadamente um pires de moelas ou a raspar todas as fibras duma cabeça de pargo assada, a minúcia e a paciência com que ele se entregava à tarefa deixava-me perplexo e a pensar como alguém pode “perder” tanto tempo às voltas com um pedaço de carne que, afinal, só servia para encher o baú.
Entretanto o puto cresceu e criou um certo gosto pelo ato de comer, adquiriu hábitos como o de passar por casa do avô Luís sempre que ele preparava o seu célebre feijão guisado – as panelas quase que eram desinfetadas com as fatias de pão caseiro com as quais eu limpava o rebordo do tacho, não sobrava uma gota de caldo. A minha mãe, embora boa cozinheira, não herdou o jeito para tachos que a minha avó tinha e a prova disso foi um infame feijão com massa que ela preparou e que meteu os homens da casa todos a lutar selvaticamente às 4:00 da manhã pela única sanita do lar. No entanto, louve-se a carninha de vaca à jardineira dela que é uma especialidade (uma no cravo e outra na ferradura, vou passar o Natal a casa e se eu não componho o ramalhete quando chegar como chavelhos).
Ora, eu e o meu compadre Paulo Soska juntamo-nos de vez em quando para atacarmos comida polaca em doses polacas, a sexta-feira começa a ser o dia de eleição para jantarmos os dois e vamos escolhendo as cantinas que mais nos convêm. Hoje foi dia de panados e salsichas servidos com a inevitável couve fermentada (ia escrever couve podre), batata frita e um casal de Tyskies para empurrar. Antes, como entrada, pão de centeio com banha. O desabafo saíu:
- Ah, porra que na nossa terra não temos disto!
Pois não. Na nossa terra esta refeição que em Varsóvia, capital europeia, custou menos de €8.00 a cada um em dinheiro “português”, nunca custaria menos de €15.00 em Faro. Ou seja, o dobro!
Enchi a barriguinha e toquei para casa, 500 metros até ao metropolitano para ajudar a desmoer as couves. Entro na Plac Zbawiciela e noto uns floquinhos de neve a precipitarem-se lentamente nos carris húmidos do elétrico, estão 0º e cheira a Polónia por toda a parte, as cafetarias estão cheias de bebedores de chá. Passo por duas louras divertidas que mexem nos telemóveis, elas levantam a cabeça e sorriem para mim, eu cumprimento-as e sigo caminho pensando "será da barba de uma semana?"
Obrigado e igualmente, Nenehehehehehehehehehehehehehehe!!!!
Em cada polaco reside um agricultor, o apego à natureza é natural num país onde 1/3 da sua área é floresta pura. A Polónia não sofreu a partilha de terras para cultivo como nos outros países socialistas e a sua herança verde mantém-se intocável sendo alvo de constantes atenções por parte dos seus habitantes. Muitos polacos têm o seu ogródek, um género de pequena horta familiar instalada muitas vezes em pleno centro urbano onde as pessoas constroem pequenas cabanas que servem de retiro de fim-de-semana ou casas de férias para aqueles que não têm posses para as passar fora das suas cidades e para os reformados do setor primário, apesar de se estar a tornar popular entre pessoas mais endinheiradas. Estas hortinhas são legais e funcionam ao abrigo duma lei que as classifica como “instalações de utilidade pública para satisfazer as carências de lazer, recreio e outras necessidades sociais da comunidade local”, concretamente a obtenção de alimentos e frutas a preços mais compatíveis com os seus rendimentos. Alguns polacos mais abastados construíram a sua działka numa floresta fora da cidade, junto dos milhentos lagos do país ou até perto do mar e lá passam momentos de tranquilidade bem juntos da natureza. Eu conheci uma dessas działkas e confesso que fiquei espantado com o tamanho do terreno, da casa e com a sensação de isolamento que se sente naqueles locais.
Tenho falhado com as minhas obrigações no blogue, tal se deve à extraordinária carga de trabalho que tenho tido em virtude das minhas novas funções na escola onde trabalho e que exigem muitas horas (às vezes 10) em frente dum monitor. Tal implica que eu não tenha vontade nenhuma de me sentar em frente ao computador quando regresso a casa, só me apetece engolir qualquer coisa de comestível, ver as últimas do meu país e atirar com o saco de ossos para o cama. Lamento a falta de assiduidade mas ultimamente não tem havido vagar para a escrita.
Porém as nuvens carregadas do trabalho que choveu em cima de mim nas pretéritas semanas vão dando lugar a uns raios de descanso e de mais tempo para as minhas coisas, vejo sinais de calmaria e antecipo uma atualização do blogue a curto/médio prazo. Como aperitivo, partilho convosco uma estória da vida real.
Teste de Português, 5º semestre. Para praticar as estruturas do Conjuntivo e Infinitivo Pessoal, pedi aos meus alunos que escrevessem votos para o excelso sr. professor que fez anos no sábado. Resposta ortograficamente perfeita da Magda:
”Senhor professor, muitas felicidades. Que sejas feliz, sempre contente e que tenhas uma vida fácil e fantástica! Que as raparigas sejam sempre jovens e bonitas, que a cerveja seja sempre fria e que o Sporting ganhe sempre! :)”
De 0 a 20, esta miúda vai ter 32! q:D
No meu tempo de militante da Juve Leo Algarve nós fazíamos disto, catávamos cachecóis dos adversários e queimávamo-los na vedação do estádio para provocar os adeptos dos rivais. Esta imagem do derby da Trójmiasto* jogado entre o Arka de Gdynia e o Lechia de Gdańsk na passada quarta-feira reavivou-me essas memórias.
Esta gente não é flor que se cheire q:D
* Trójmiasto (Tri-cidade) é o nome dado à grande área metropolitana contínua que compreende as cidades de Gdynia, Sopot e Gdańsk no norte da Polónia.Há um constante processo de adaptação para quem viveu toda a vida numa cidadezinha à beira-mar e se mudou para uma grande capital europeia, por exemplo o conceito de distância que agora é absolutamente diferente. Antigamente eu caminhava 15 minutos e já me queixava que o meu destino ficava muito longe e agora se tiver de andar os mesmos 15 minutos dobro apenas dois quarteirões, coisa pouca, vizinhanças. Ontem conduzi de Natolin a Bemowo, 32 minutos bem contados que na minha terra davam para atravessar 3 concelhos e que em Varsóvia não chegou para passar mais de 5 freguesias. Depois de contornar a Rotunda ONZ, o coração financeiro da cidade entrei em Wola.
Sair do bairro de Ursynów e entrar em Wola pode ser um choque para quem não está habituado aos contrastes de Varsóvia porque Ursynów é uma zona predominantemente residencial onde os blocos de apartamentos construídos a partir de 1989 constituem a paisagem até à zona sul da cidade, onde o betão dá lugar ao verde do Parque Natoliński e à Floresta de Kabaty. Ursynów tem 1/4 da sua população com menos de 18 anos de idade, é um área modernizada pelo metropolitano e pela importantes artérias Puławska e KEN por onde imensos varsovianos passam no seu dia-a-dia. Pouca gente trabalha aqui mas milhares aqui vieram morar devido ao preço baixo das casas e às modernas comodidades com que os apartamentos foram dotados. Um bairro que só em 20 anos conseguiu acomodar quase 150.000 almas nas suas casas.
É preciso ter estofo para morar em Wola, para encarar a sua
O dia de trabalho acaba, uma aula privada com uma doce miúda de cabelos de trigo e olhos esmeralda, lábios que me fazem estremecer na cadeira à medida que ela os morde enquanto pensa na palavra ou na pronúncia correta. Beberrico a água que ela me serviu para afastar as reflexões insidiosas que me impedem de me concentrar exclusivamente no trabalho mas não é fácil, o decote dela convida à imaginação e da mesa da sala ao quarto é um segundo à velocidade do pensamento. Voltamos aos pretéritos e pronomes, coisas mais prosaicas do que a líbido que paira e se cheira no ar mas ela teima, ajeita a franja com três dedos e espreita-me por entre uma madeixa rebelde que insiste em tapar-lhe a vista direita. É o fenómeno da cenoura à frente do burro e eu procuro não fazer figura de quadrúpede mantendo-me firme (e quase hirto) no meu posto docente, ela compõe o cabelo para trás da orelha, eu peço mais água e já não consigo disfarçar o desconforto.
Respiro fundo ao sair de casa dela e sento-me no elétrico que pára perto do velódromo de Varsóvia, o Wyścigi Konne. A cidade parece-me mais dormente agora do que durante todo o dia, um dia que pareceu durar uma semana e que vai sendo cada vez mais pequeno enquanto caminhamos para dezembro e para o inverno. As pessoas queixam-se do tempo e do frio mas eu não tenho problemas desses, quem diz que faz frio na Polónia nunca experimentou Faro em fevereiro pois decerto que se o tivesse feito sairia para a rua de corpinho gentil como este vosso escriba tem feito desde que regressou do Sul. Um homem está sentado, adormecido num dos assentos da carruagem quase vazia, o elétrico é uma perfeita alegoria do que me pareceu Varsóvia este dia: amorfa, insossa, apagada. “É culpa do tempo”, dizem eles, desta baixa pressão atmosférica que acinzenta as pessoas e embolora os cérebros. É capaz de ser verdade, eu dormi algumas 10 horas de ontem para hoje e sinto-me sonolento como se tivesse feito uma direta.
Sento-me em Wilanowska à espera do metro e começo a listar as coisas que tenho de ir comprar ao Tesco. Café, leite, carnes, arroz. Não fico muito contente quando me lembro que ainda ando com o saco do computador às costas e que vou ter de arcar com o peso das compras mais o portátil ao lombo, que raio de vida esta que me obriga a estes sacrifícios! Ao fazer contas à vida e às compras sou interrompido por uma voz morna e mansa, uma voz cor de trigo e esmeralda que ternamente me atropela os pensamentos e começa uma pergunta suave:
”Como se diz em português…?” Há 20 anos atrás vivíamos no tempo da Guerra Fria iniciada depois do fim da 2ª Guerra Mundial, sob permanente ameaça dum conflito nuclear entre as duas superpotências da altura, URSS e EUA, que prometiam destruírem-se mutuamente e arrastarem o resto do planeta devido a imensas questões políticas como a Crise dos Mísseis em Cuba. Guerras como a da Coreia, o Vietname e o Afeganistão polarizaram o mundo entre Pacto de Varsóvia e NATO e cada um dos beligerantes tentava expandir a sua esfera de influência em todos os continentes. A Europa estava dividida entre Ocidente e Leste – onde a Polónia se encontrava.
Entretanto o regime soviético dava mostras de alguma incapacidade de lidar com as insurreições que se sucediam nas suas repúblicas satélite além de que a baixa produtividade dos seus trabalhadores aliados aos elevados gastos duma gigantesca máquina burocrática e militar corroíam irremediavelmente o seu condenado sistema económico. Moscovo não conseguia intervir por ter moeda fraca, o PIB era metade do dos EUA, todas as decisões estratégicas e sociais era emperradas pela burocracia e perdia-se tempo na tomada de decisões. Para piorar o cenário deu-se o desastre na central nuclear ucraniana de Chernobyl que libertou 400X mais radioatividade do que a bomba de Hiroshima e destruiu por completo a colheita de cereais desse ano (note-se que os cereais constituíam a principal exportação soviética nesse tempo), aniquilando importantes receitas financeiras para o Kremlin. Em meados da década de 80 os países da Cortina de Ferro começam a reagir contra a repressão soviética, a Hungria, Checoslováquia e Bulgária negociavam eleições livre enquanto na Roménia perseguia-se Ceaucescu para matar de vez o comunismo naquele país. Na Polónia, o Solidariedade não dava tréguas ao enfraquecido governo do general Jaruzełski contando com a oficiosa colaboração do Vaticano na pessoa do compatriota Karol Wojtyła e alcançava uma importante vitória na mesa-redonda de 89, o primeiro
passo duma irreversível caminhada para a democracia na Polónia.Inspirados pela sublevação dos países orientais e pelas dramáticas e constantes tentativas de êxodo da RDA, os países bálticos (Lituânia, Letónia e Estónia) reivindicaram independência da URSS, Wałęsa foi indigitado Presidente da República e Mikhail Gorbachov agarrava-se desesperadamente às novas políticas de Perestroika e Glasnost para salvar o decrépito regime tendo apenas conseguindo-se salvar dum golpe de estado. A RDA preparava a normalização de relações diplomáticas com a vizinha RFA quando se deu “O Erro de Schabowski”, uma gafe que mudou o mundo.
20 anos depois, Wałęsa foi convidado para empurrar as peças que simbolizam o desmoronar do comunismo na Europa e é de elementar justiça que ele tenha sido escolhido para tão simbólico gesto porque, apesar de já não ter qualquer protagonismo na política moderna da Polónia, a Europa e o País não o esquece como o eletricista tenaz que ousou enfrentar o gigante soviético e que tirou a sua nação do jugo comunista que a asfixiava. A Polónia orgulha-se do papel relevante que dois homens polacos tiveram na redefinição do mapa político mundial, um papel de verdadeiro protagonismo em oposição ao imbecil estrelato que um cretino tentou reclamar.
É a tal coisa, enquanto uns têm motivos para se sentarem no Muro e não o fazem outros saltam por detrás dele para que alguém os note. Também por isso continuamos pequeninos.Uma hora antes do apito inicial estava um português sentado numa banca de comidas dentro das instalações do estádio a bater-se com um prato de plástico onde repousavam uma karkówka (febra de porco), um pãozinho, um pepino de conserva e dois borrifos de mostarda e ketchup, tudo adquirido pelo simpático preço de 10 paus. Depois de morfar entrei no Wojska Polskiego que está em obras de ampliação. Por tal razão apenas a tribuna dos lugares cativos – cerca de 6000 lugares - está disponível para o público e estava integralmente preenchida com adeptos dos “militares”. Entre eles, o tal português de cachecol negro “wojskowy” ao pescoço que tiritava com os 0º que fustigavam a capital polaca nesse princípio de noite.
A instalação sonora debitava sons incompatíveis com um jogo de futebol, principalmente um jogo com espectadores tão especiais com os “Legia Warszawa”. Talvez para acalmar os instintos violentos dos adeptos, o DJ tocava Roxy Music e Dire Straits a som médio, quase adormecendo o público. Surgiram os primeiros aplausos, tímidos, quando Mucha subiu ao relvado para iniciar o seu aquecimento. O guarda-redes eslovaco da Legia arrancou os primeiros aplausos das bancadas que subiram de tom 10 mins depois quando os jogadores de campo apareceram, mais aplausos e o primeiro ensaio de cânticos na noite. Eu desesperava por um cigarro para combater o frio mas decidi não comprar tabaco até ao fim do ano e ripei a rijeza orando para que o jogo fosse digno do meu sofrimento. Os jogadores recolheram ao balneário e finalmente o speaker do estádio mostrou serviço informando os espectadores dos resultados dos outros jogos da jornada, o Wisła já tinha ganho na sexta, o Lech fez 1-0 cedo e fechou a loja conservando a vantagem até ao final, a Legia tinha mesmo de ganhar para não comprometer as suas aspirações. Após a constituição das equipas o público levantou-se em tifo para saudar um hino que entretanto soou, um hino a Varsóvia que foi cantado por todas as almas que estavam no estádio e que cobriu a bancada do vermelho, branco, verde e preto dos cachecóis da Legia. Momento arrepiante, a paixão do futebol no seu esplendor. Junto à vedação havia polícias de choque mascarados de colete à prova de balas e capacetes com visores que me fizeram perguntar se estaria nalguma manifestação contra o G8 em vez dum jogo de futebol.
A Legia Warszawa vai ter um belo estádio logo que as obras se concluam, as bancadas novas já se assemelham com uma moderna estrutura de dois anéis, camarotes na zona intermédia e com dois topos verticais e incisivos que têm todas as condições para se tornarem um pesadelo para os guarda-redes das equipas adversárias,permitindo que o público esteja bem perto do relvado. Não sei se esse mesmo público desfrutará dos jogos com tanta intensidade como a que dedicaram aos insultos à ITI, a empresa proprietária do Clube que mantém más relações com os adeptos devido à errática política desportiva, principal responsável pelos pálidos resultados desportivos da Legia como consequência dum progressivo desinvestimento na equipa de futebol. No meio dos insultos, golo da Legia que passou quase despercebido ante o coro de palavrões que grassava da bancada contra a ITI e contra as forças da ordem que puseram na rua à força um adepto que constantemente as provocava. Os insultos foram baixando de tom à medida que o jogo avançava no tempo, o 2º golo de Mięcel marcado ainda na 1ª parte acabou por serenar os ânimos, até ao apito final registou-se uma tímida reação do Ruch e trocas de bola a meio-campo “wojskowy” para evitar suspresas.
Após os 90 minutos a instalação sonora não funcionou mais, nem o speaker anunciou o resultado final ou o jogo seguinte nem uma peça de música se fez ouvir. A multidão abandonou ordeiramente o estádio fumando e rindo, comentando uma ou outra incidência mas sem grandes manifestações de alegria. À passagem pelas tendas de venda de salsicha, uma menina da Królewskie passou um olhar vazio pela fila de homens que saíam do estádio. Uma voz imperativa levantou-se: “Tańcz, kobieto!” (Dança, mulher!) Os homens riram mas logo calaram o riso ao ver o incrível aparato policial que tinha sido montado no perímetro do Wojska Polskiego. Polícia de intervenção suficiente para uma cimeira americano-árabe, uma coisa colossal que eventualmente terá garantido o regresso de todas as pessoas a casa sem grandes problemas.
Aconselharam-me que rezasse à minha integridade física, chamaram-me louco por ir à bola em Varsóvia, disseram-me que ia levar com garrafas na cabeça, desenharam-me cenários de batalhas campais, escaramuças graves, guerrilha urbana. Nada disso aconteceu e o que presenciei foi tão somente uma demonstração de paião pelo futebol, de fervor clubístico exacerbado pelos últimos maus resultados do Clube, um amor por um emblema que se vê em todos os estádios de todas as ligas em todos os países do mundo. Varsóvia não é exceção e num jogo chave para as aspirações das duas equipas, um jogo considerado de alto risco, de vida ou de morte e outros dramáticos chavões, a única coisa que eu vi acontecer naquele estádio foi… futebol e eu hei-de lá voltar.
Enquanto assisto choroso à “belenensização” do meu Sporting patrocinada pelos incapazes e incompetentes dirigentes leoninos, desenho o meu mundo de treinadores.
Os outros com Jorge Jesus. Um treinador de copo de três e escarro no chão, unhaca no nariz e Nossa Senhora de Fátima na mesa de cabeceira, Renault 5 e Tony Carreira, a ganhar e a dar abadas a toda a gente.
O Sporting com Manuel Machado. Um treinador de discurso erudito e apurado, colarinho engomado e gravata de seda, BMW e Andrea Bocelli, a jogar porcamente e a perder com o Jagiellonia Białystok.
Nunca foi fácil ser do Sporting, mas hoje em dia a tarefa é só para missionários!
Depois da bonança vem a tempestade. Traduzindo, depois de três meses no ripanço de papo para o ar começa a labuta fera do dia-a-dia, o ter de esgravatar oportunidades para comer porque ele não cresce do chão, ir progressivamente engatando mudanças porque o ritmo de Faro não se iguala à vertigem de Varsóvia. Pouco a pouco a passada alarga-se, os dias vão tenho menos horas, as distâncias crescem e o redemoinho do trabalho trata de colocar-me no estado de máxima atividade. É um mundo que separa a tranquilidade de Faro e a voragem de Varsóvia, incomparável.
A readaptação não foi feita com calma ou por etapas, Varsóvia não tem tempo para formalidades e exige que as pessoas funcionem imediatamente. Nesta primeira semana pós-verão pouco tempo tenho tido longe do portátil, 5 ou 6 horas por dia incinerando a íris por fazer planos e programas, projetos que dependem da minha assinatura e não tem havido muito vagar para olhar para a cidade, perguntar-lhe como passou o verão sem mim, saber da novidades, das pessoas, das coisas que fazem parte da nossa vida. Varsóvia não se deve sentir muito sensibilizada com a minha curiosidade e, por isso, não deve ter vontade de responder às perguntas que tenho para lhe fazer. Lá segue ela grisalha e nublada, zangada com tudo e com todos mas sempre com aquele porte garboso próprio duma grande senhora do leste europeu.
Varsóvia nunca me perguntou se eu tinha feito boa viagem ou como tinha sido o meu verão, não se se por ciúme do meu bronzeado algarvio ou se por não ter simplesmente tempo para essas simpatias hipócritas. Varsóvia viu-me chegar, olhou-me por cima dos óculos, apertou-me formalmente a mão, mandou-me regressar ao trabalho porque as pessoas estavam à minha espera e mergulhou na papelada que furiosamente assinava na sua secretária. Ao sair do seu gabinete notei que Varsóvia levantou a cabeça para ver-me sair, talvez satisfeita com o meu regresso ou apenas para me tirar as medidas ao cabedal como mulher polaca que é. Olhei pelo reflexo dum vidro e vi o sorriso dela, um sorriso traçado do fundo da Aleje Jerozolimskie que revela o seu estado de espírito. Ela está contente, e eu também.
E eis que surge a neve e o correspondente coro de ais e loas ao frio e mau tempo que resolver abancar na Polónia antes de tempo. A malta já sai à rua atarracada em casacões, sobretudos, gorros e luvas, maldiz-se o clima, manda-se vir contra tudo e mais alguma coisa, culpa-se a crise económica mundial, o Tratado de Lisboa e os vietnamitas das roupas baratas como responsáveis pelas miseráveis condições climáticas da Polónia. Tempo de depressões, desesperos, frustrações e suicídios.
Anda aí o povo todo doido por causa do que esta gaja fez. A ironia de quem tem um país exemplarmente devastado pela corrupção e crime violento a olhar para os defeitos de um outro, ou os eternos complexos entre o colonizado e a antiga metrópole.
Tem a importância que tem. Para mim, nenhuma. Se ainda fosse um dinamarquês ou um alemão a fazerem pouco de nós…
Regressei a Varsóvia. Está a chover e não tenho internet. Dão descida da temperatura até aos 7ºC para amanhã.
Se solto o mar que não trago no peito,
se largo a brisa e o sol insatisfeito,
se deixo a Ria a chorar no seu leito,
se perco a areia que quer o meu estar.
Se solto as ondas de sal contrafeito,
se largo as estrelas com quem me deito,
se deixo a cidade que me fez o jeito,
se perco a raíz que criou o meu ser.
Se venho do puro, belo e perfeito,
se saio de onde sabe bem viver,
e vou para onde o céu não sabe brilhar.
Se tudo faço com pleno pensar,
é porque sei que em ti quero crescer.
Pois eis-me!, Varsóvia. Dá-te ao respeito.
Um leitor classificou o post anterior de “choradeira atroz” por eu me sentir num estado de pré-depressão, antevendo a escuridão que me aguarda nas ruas da capital polaca e os cabazes de frio que serão distribuídos diariamente nos próximos cento e tal dias. Escreve também o referido leitor que daqui por uns dias vou desatar a cantar odes a Varsóvia por não conseguir viver longe dela e que afinal de contas concluo que Varsóvia é a cidade da minha vida com a qual me irei casar e blablabla.
Outra leitora refere o sussurro das folhas, o cheiro da chuva, o ar fresco (chama-lhe gelado!) das manhãs, vinho quente com canela e as pernas esbeltas encaixadas em botas de tacão alto. Muito sinceramente, as pernas sim. O resto dispenso, principalmente o vinho com canela do qual não consegui tornar-me fã. Dispenso o frio da manhã, a chuva, a folha caduca, dispenso isso tudo. Varsóvia tem mil outros motivos de interesse e atrai-me por tantos outros fatores mas nenhum é mencionado nesta bonita descrição.
Estou pré-deprimido e pronto, pouco há que me possam fazer para que mude este estado de espírito. O mar explode em ondas alegres que me chamam para nadar, o sol não está tão radioso como no verão mas vai mantendo o céu varrido de nuvens densas e ainda não consegui vestir um par de calças sequer. Daqui a alguns dias esta paisagem será apenas lembrança e outra bem mais exigente surgirá diante de mim.
E será apenas isto razão para me deprimir? Talvez não, mas lembrei-me que a Dona Amália faleceu há 10 anos, aquele que era certamente o maior vulto vivo dum Portugal universal, a réstia do Império, a voz da Nação, a cara da Pátria. Amália era portuguesa em toda a sua plenitude, na maneira como cantava o nosso país, nos cabelos e olhos morenos, nas formas pequenas tão lusitanas, na profundidade com que tocava burgueses e povo. Não há grandes diferenças entre a Esfera Armilar da nossa bandeira e o rosto de Amália, todos nós têmo-la na voz e ela era um pouco de todos nós. Às vezes imagino Camões a fazer letras para ela cantar porque um pouco de Portugal morreu com Amália e renasce sempre que ela canta o fado.
A Dona Amália faleceu há 10 anos… então, é isso que me deprime? Bom, se considerarmos que Portugal é Fado, Futebol e Fátima, se considerarmos que Fátima fica de parte devido ao meu ateísmo e que o Fado está orfão, sobra o Futebol.
Perante a real e concreta perspectiva de ter 2010 como o pior ano futebolístico da minha vida, perante uma mudança de 20º centígrados nos próximos dias, perante isto tudo que ainda por cima é feito de livre vontade… ainda acham que é choradeira?
Os carros são cada vez menos, já não os vejo a fazerem fila para entrar na praia nem a discutir os parcos lugares de estacionamento. As pessoas já não se sentam nas esplanadas até às 20:00 à espera que o trânsito avague porque logo às 18:30 começa o vento a soprar e as mangas curtas não suportam o ar frio do mar. O sol é mais curto, forte durante o almoço mas minguando com o passar das horas até se esconder, medroso, atrás da praia da Falésia. O Vitinha já correu as janelas de plástico para proteger os clientes da brisa mais severa, a malta só se esconde entre paredes porque está mais abrigado. Entretanto a Serra do Caldeirão cobriu-se de nuvens escuras que punem Loulé e São Brás de Alportel com chuvas de princípio de época, o Cerro do Guelhim ergue-se e vai protegendo Faro com o seu anfiteátrico muro de geografia continuando a dar razões para os farenses se rirem do infeliz clima do “penico do Algarve”.
O termómetro pouco passa dos 25º, às vezes lembra-se que estamos no sul a Europa e dá um pulinho até aos 28º mas nem ousa chegar-se perto dos 30º para não faltar ao respeito ao Outono. Não seria a primeira vez que eu tomaria banho de mar em meados de Outubro e até no dia de Todos-os-Santos mas isso era no tempo em que ainda havia xoxas-de-velha e cavalos marinhos na Ria. Agora o jogging é feito cada vez mais ao lusco-fusco porque o sol acaba cedo e o pulmão dura mais, o banho já não é atlântico e os alongamentos são feitos em casa porque o H1N1 anda aí e não se pode facilitar.
Divido um paio com o meu tio enquanto vemos o FC Porto limpar o Atlético e combinamos as reformas a fazer na casa dos pinheiros que as minhas visitas ocuparam este verão, mudar os aparelhos de ar condicionado e dar uma limpeza de alto a baixo nas carpetes, cortinas e o diabo a quatro. Peço-lhe conselhos que os seus quase 90 anos nunca negaram e subo ao quarto para escrever e dormir. Tenho no cadeirão uma pilha de calções e t-shirts que não irei mais vestir este ano e ganho mais consciência disso cada vez que os olho, talvez seja melhor guardá-los duma vez por todas para não me aborrecer.
Talvez seja melhor guardar também os chinelos e a toalha, os sapatos de lona e as bermudas. Talvez seja melhor ir fazendo as malas porque o avião é daqui a uma semana. Talvez seja melhor arrumar as memórias do fantástico verão que vejo sair da praia pelo oceano fora e ir-me preparando para o que Varsóvia reservou para mim no que resta deste ano.
Sócrates será de novo primeiro-ministro, não porque o povo confie nele mas porque do outro lado da barricada não há ninguém com credibilidade para mostrar que é melhor. O PSD teve uma oportunidade de ouro de ganhar as eleições e não o fez porque a sua líder não tem carisma, não teve mensagem nem conseguiu cativar um eleitorado desiludido com o totalitarismo do PS nos últimos 4 anos. Foi como falhar um penalti político, imperdoável e com consequências terríveis que decerto serão amplificadas nas autárquicas. O CDS conseguiu subir a votação precisamente pelos votos desviados de muitos laranjas, outros desiludidos. A CDU mantém a sua irredutibilidade gaulesa e orienta-se com os seus apaniguados que não se cansam de ouvir a mesma cassete, louve-se-lhes a coerência (teimosia?) de continuarem a acreditar num modelo que deu sobejas provas de inviabilidade ao longo da história. Resta o Bloco, partido em que eu até seria capaz de votar. Não porque quisésse ver Louçã como primeiro-ministro (um trotskista no Governo seria o fim da picada) mas para lhe dar legitimidade para continuar a embaraçar os políticos portugueses expondo as trafulhas deles e pondo o dedo na ferida quando estes não prometem o que cumprem, além de que a Ana Drago é um petisco e contraria radicalmente a máxima que uma mulher bonita não pode ser inteligente.
O Sporting perdeu no Dragão por culpa própria. Por muito que tivesse sido condicionado pela arbitragem - foi só um bocadinho prejudicado mas o suficiente para se perceber o ressabiamento de Duarte Gomes em relação ao processo que lhe foi movido pelos Leões – não se concebe manter na equipa um jogador que já foi responsável por 4 golos sofridos esta época, principalmente quando o mesmo jogador (Polga) já revelou não se sentir nas melhores condições físicas e ter inclusivamente pedido a Paulo Bento para não jogar. Isso não há árbitro que justifique, tal como não se justifica que Paulo Bento tenha de andar a mandar recados para dentro do clube gritando que “o Sporting devia ganhar o Nobel da Paz”. Duvido que o grito de Bento fure a nuvem de fumo dos charutos que os autistas administradores da SAD e dos membros do Conselho Leonino produzem enquanto assistem a mais uma derrota do Sporting entre balões de conhaque e promessas de golfe.
A Lux promove fotografias de Manuela Boca Guedes em topless e de Jorge Gabriel na praia depois da sua lipoaspiração. Por favor, não me dêem mais razões para regressar a Varsóvia!É somente uma das melhores composições que alguma vez escutei!
Por me identificar tanto com esta feliz música/letra dos Xutos & Pontapés, deixo-vos o poema que me deixa de cabelos em pé.
Aqui estou eu
Sou uma folha de papel vazia
Pequenas coisas
Pequenos pontos, vão-me mostrando o caminho
(Refrão:)
Ás vezes aqui faz frio,
Ás vezes eu fico imóvel,
Pairando no vazio
Ás vezes aqui faz frio
Sei que me esperas
Não sei se vou lá chegar
Tenho coisas pra fazer
Tenho vidas para acompanhar
(Refrão:)
Às vezes lá faz mais frio,
Às vezes eu fico imóvel,
Pairando no vazio
Feito vazio
Às vezes faz lá mais frio
Bem-vindos à minha casa
Ao meu lar mais profundo
Onde eu saio por vezes
A conquistar o mundo
Às vezes tu tens mais frio
Às vezes eu fico imóvel
Pairando no vazio
No perfeito vazio
Às vezes lá faz mais frio
O teu peito vazio...
Na praia, roda de amigos a fumar uma ganza.
- Epa, vocês sabem que cada vez que se fuma um pato morrem milhares ou milhões de neurónios? Significa que cada vez que fumamos ficamos menos capazes intelectualmente. - Moss, caga-te nisso! O que não falta aí é gente que nunca fumou ganzas e é burro que nem uma bota da tropa.Se tivémos um surto de Cátias Vanessas e Jessicas Soraias há uma dezena de anos tal se deve às imprescindíveis telenovelas sul-americanas que semearam a imaginação das ocas cabeças de quem escolheu tal designação. Agora assiste-se ao desfilar de barbaridades como o cúmulo dum Martim Martins ou de uma rapariga ter como primeiro nome Flor. Os pais não vêm o ridículo em que colocam os seus filhos, sabemos que as crianças são muito cruéis e não irão perdoar a quem se chamar Iuri Nelson, nem numa visão mais abrangente antevendo as futuras carreiras profissionais. Que credibilidade terá a causídica Tatiana Sofia ou o eminente cirurgião Jasmim Tiago? Já imaginaram estas duas tristes almas na chamada para o exame à ordem, a risota de que não serão alvo?
Já não se faz um Paulo Jorge, um Carlos Alberto, um José António. Já não se vê uma Maria Inês, uma Manuela nem uma Luísa. Anda tudo com a mania dos nomes nobres sem cuidar do mais elementar: a formação cívica. Qualquer dia temos população prisional composta por Bernardos e Diogos.Hoje foi noite de joguinho no sintético do Montenegro e o viciozinho estava mais que muito, o plantel juntou-se carregado de moral devido às vitórias do Sporting e dos outros e prometia futebol de primeira água. Mas não, foi um desastre.
Esta noite senti-me como se estivesse numa cadeira de rodas com as bolas a passarem a 10 cm e eu sem conseguir reagir, a minha marcação a fugir-me nas barbas e eu sem poder ir atrás deles, a chicha redondinha pulando à minha frente e pedindo um cacau no ângulo e eu a acertar nas orelhas da bola. Uma miséria própria de quem nunca deu um chute de jeito e se arrasta aos 35 anos. Perto do fim, uma nesga de esperança com alguém a ir à linha de fundo do lado esquerdo e a arrancar um centro a régua e esquadro para o segundo poste. Eu, bem colocado, faço o compasso de espera necessário para atacar a menina no ar, preparo a martelada aérea e assim que ela entra no meu radar disparo a marrada fulminante… na cabeça do Vítor que chegou 1/1000 de segundo antes para pentear a bola dali para fora.
Caímos desamaparados, ele que grita e eu que não me mexo, ele que não sente os braços e eu que sinto um pêssego a nascer-me no crâneo, ele que pede ajuda e eu que peço silêncio, ele que se vai levantando e eu que não quero. O Vítor não jogou mais, eu reentrei ao fim de 5 minutos mais preocupado em correr desalmadamente do que tratar do hipergalo que me tinha nascido. Vem a segunda oportunidade, uma chance de me redimir dos sucessivos falhanços. É uma bola que sobra na cabeça da área, alço o pé direito na simulação e puxo para dentro, o defesa – patinho, veio á queima - salta à minha frente como um coelho assustado e eu fico só com o keeper à frente. Pé esquerdo preparado para o tiro, remate… e sai um pontapé cheio de tabaco, fraco, frouxo, quase lançamento lateral.
Olhei para os meus companheiros e li o desânimo na cara deles, apeteceu-me dizer “só falha quem está lá” ou mencionar a crónica picada na virilha que já me minava os remates mas em vez disso deu-me vontade de abandonar o futebol de vez. Não acertei uma porra dum remate em quase 2 horas de bola e a única coisa em que acertei foi na moleirinha do Vítor. Mais valia ter ficado em casa a jogar FM…edit: na semana seguinte, o regresso às boas exibições. Bisei, pé esquerdo oportuno e ladino a empurrar no segundo poste e um pontapé de moínho que tinha visto há 23 anos atrás. Fiz as pazes comigo próprio q:D
Já aqui me referi à aversão que alguns tenho a alguns pêlos que crescem em locais onde a sua existência é pouco menos que questionável, não percebo a necessidade que há em termos pêlos nos sovacos, de nos começarem a crescer cabelos nas orelhas a partir de determinada idade ou de os cílios nasais se desenvolveram a um ritmo tal que se emaranhem numa teia impenetrável e exageradanente saliente ao ponto de muitos galgarem os limites das narinas invadindo terrenos que não deveríam pisar. Interrogo-me sobre os pubianos e não encontro uma razão fisiológica para a sua utilidade a não ser uma proteção de foro térmica para que as miudezas não sofram com as mudanças de temperatura sofridas ao baixar as calças.
Os homens, ou este homem, sofre igualmente com a barba. Não sou homem de barba rija que precise duma rebarbadora para raspar o rosto mas confesso que barbear-me é das coisas mais nefastas que posso fazer. A falta de vista que tenho no olho esquerdo leva a que as minhas patilhas nunca fiquem simétricas invalidando à partida a confeção das minhas favoritas patilhas “à Figo”, só em raros dias consigo ter a calma olímpica obrigatória para compor os cabelos em feixes mais ou menos parecidos com os do craque português mas normalmente mando a barba á fava e deixo essa obra para o barbeiro. Também procuro criar novos planos de barba porque não gosto de me ver muito tempo com o mesmo visual, irrita-me a monotonia das caras iguais e tento, assim, não ficar cansado de mim. Moscas à D’Artagnan, riscos tipo Abrunhosa, pêras como Lenin são tentadas de vez em quando em nome da inovação.
O meu tio diz que não dispensa uma loção transparente no barbear que espalha na cara, diz que são só quatro gotas e o caso fica resolvido, é só passar a lâmina. Eu não concebo a ideia de fazer a barba às claras, sem espuma a montes para me proteger de alguma faca mais gulosa. Há quem defenda que se deve fazer a barba antes do duche para lavar o rosto de eventuais cortes, outros preferem fazê-la depois do banho porque os poros estão abertos e os pêlos ficam mais suaves. É mas é tudo uma grande seca! A barba devia ter um interruptor ON e OFF juntamente com um regulador de intensidade como no ar condicionado dos carros. Se um dia nos apetecesse seria só ajustar o reóstato e andávamos de barba à Mickey Rourke ou imberbe como o Michael J. Fox, de bigode grave estalinista ou tísico como Pessoa, com suíças coladas ao queixo ou cheio de pêlo como o poeta Alegre. Tudo isso com um simples girar de botão.
Sim, nós homens vangloriamo-nos perante as mulheres das vantagens que temos em poder fazer xixi de pé – qualquer parede é um WC – mas as fêmeas não sabem o que ganham em não ter de rapar a cara dia sim dia não.
E quando elas dizem “ai, arranha…”?Daí que tenho andado afastado da pena, com muito dó mas também com falta de temas que me suscitem o desejo de comunicá-los. Imagino Varsóvia enquanto fito o Atlântico, às vezes olho para o relógio e penso que “amanhã tenho de marcar os bilhetes de regresso” mas fica sempre para amanhã. Desde que cá cheguei contam-se pelos dedos duma mão as vezes que fui a Faro, não tenho vontade nenhuma de ir à cidade pois numa cidade passo eu 80% dos meus dias e o mar não se cheira da minha casa eslava.
Porém, amigos leitores, creio que me compreenderão quando eu vos digo que nada tenho digno de ser escrito. Há lá palavras que descrevam esta imagem que tenho diariamente em frente à porta de casa?
Sandes mista em pão caseiro, uma pata de veado e um Toddy (já não via esta marca desde que entrei para a escola primária!). Um pequeno-almoço bem português, impossível de se encontrar na Polónia e que fica aqui retratado. Sim, amigo leitor. Apetece mesmo gritar o título deste post, não é? q;)
Faz hoje 70 anos que a Polónia foi invadida pelas tropas nazis despoletando um conflito que se iria celebrizar como 2ª Guerra Mundial.
A somar às celebrações, declarações e outras reflexões que ocorreram um pouco por toda o país, destaco a intervenção de Lech Wałęsa. Há muito que o antigo eletricista do Solidarność não é peça basilar no panorama político da Polónia mas os polacos devem-lhe a liberdade obtida em 1989, o ano em que a 2ª Guerra Mundial terminou de facto na Polónia, e a sua voz é sempre escutada com atenção neste período. Wałęsa fez uma curta mas emocionante intervenção em Gdańsk arrancando aplausos a um povo que zela pela sua memória e património histórico como poucos. A Polónia que nasceu entalada entre continentes e que sempre viveu fustigada por invasões, a Polónia que perdeu o cérebro em Katyń e o coração em Auschwitz, a Polónia que durante dois séculos não existiu e que foi apagada do mapa por um tratado vil que decidiu sumariamente a sua cessação, a Polónia não esquece e não permite que se esqueçam as marcas que o Holocausto e posterior ocupação soviética deixaram na sua pele. A Polónia recordou a Guerra e as suas consequências ao Mundo que por vezes parece assobiar para o lado neste tema.