sábado, 5 de setembro de 2009

Cuba

Passando Beja pela estrada que vai para Évora como quem vem do Algarve, o caminho à esquerda indica a viragem necessária. Uma reta de 5km pela planície com pequenas colinas a quebrar a maçada do trajeto desemboca num conjunto de casa brancas que espreitam lá por trás. O casario aproxima-se, vêem-se os altos silos de cereais a denunciar o mister local, a placa aparece, estamos em Cuba.

O Vítor e o Pedro já me tinham convidado um saco de vezes para assistir às festas da vila mas por uma ou outra razão a coisa não se tinha concretizado. Este ano não facilitei e montei-me com o Cartaxo mais o Sampaio a caminho do Alentejo, terra de gente amiga, boa pinga e comida farta. O comitê de boas-vindas brindou-nos com uma carninha de porco frita à moda da região bem regada com grades de minis que não pareciam ter fim e acompanhada pelo tal pão alentejano que não tem igual, o Ti Zé faz questão de receber os seus convidados com todas as mordomias e o único trabalho que nos permite ter é... mastigar.
A feira de Cuba está ao rubro e a visita necessária teve de ser encurtada em virtude do adiantado da hora e das horas que passámos a cervejar em casa. O passeio noturno serviu mais para desmoer o imperial jantar, apresentar a vila e alguns indígenas porque o grosso das atividades será entre a noite de sábado e o dia de domingo, ainda assim a noite só acabou às 6:30 da matina depois de se fazer e comer uma açorda caseira que serviu para acalmar o estômago inquieto pelo banho de cerveja que tinha recebido. 7 manos à volta da mesa, o rir, a camaradagem, amizade. Fomos dormir, porta da rua aberta pois ninguém entra dentro de casa nem tal se põe em questão. Aqui as pessoas ainda se conhecem e respeitam os valores da moral, ninguém ousa entrar ali porque todos sabem que é a casa do Ti Zé Mósca. Há respeito, é bom.

4 horas depois tocam chocalhos pela casa, alvorada forçada determinada pelos selvagens que não respeitam as ressacas alheias, Cuba assa sob um sol desumano e só meia dúzia de almas destemidas enfrentam o calor para ir às compras na praça. O plano matinal consiste em visitar uma taberna e atacar o dia com "copos de 3" a sangue-frio, penaltis de vinho branco para acalmar o bicho e não deixar o corpo cair na moleza. Marmelos frescos para acompanhar, mesas com pires de cachola de cebolada e compadres sentados em bancos de pau que afinam modas da terra. Naquele momento olhei em meu redor e não reconheci esta realidade, pensei que estivesse noutro mundo onde as pessoas ainda são genuínas e puras. O abraço sincero e o copo sempre cheio são gratuitos, o sorriso franco e a faca para cortar a carne ou a fruta não são cobrados, tudo é calmo e autêntico sem ninguém fingir ou fazer fretes.

O vinho sobe rápido à cabeça, o sol não dá descanso, o chassi cede e boceja, ainda são 11 da manhã e já parece meia-noite. Preparam-se as sardinhas e as cavalas assadas com saladinha fresca, almoça-se tranquilamente, mais cervejas e mais gargalhadas. Moços colegas de Liceu há mais de 20 anos gozam o prazer dum convívio raro e, portanto, saboroso, recordando outros colegas, estórias e namoradas.

Hora da folga, o tanque já está cheio de água e as cadeiras montadas em seu redor para umas horas de sobra fresca, auxílio importante no combate ao calor. Antes uma passagem pela biblioteca municipal para saber as últimas daquele mundo lá fora, o mundo absolutamente diferente (para pior) deste onde estou e do qual poucas saudades tenho. Está-se muito bem aqui e não tenho pressa de voltar à vida, às vezes precisamos sair de nós para nos reencaminharmos.

Viva a Cuba, cona da mana!
 
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6 comentários:

Paulo Soska Oliveira disse...

Ai porra... Alentejo minha pátria :)

Ricardo disse...

Gostei mesmo de ler, traz-me recordações de infância, sobretudo das passagens pelo Alentejo quando íamos a caminho do Algarve. Os tempos da estrada nacional que passava por Alcácer do Sal e horas depois (bastantes) finalmente o "Algarfe" como dizia então o pequeno Ricardo no banco de trás daquele algo estreito Fiat 128.

Sei que não tem grande comparação mas já estive em aldeias nesta Polónia que são autênticos Alentejos em "wersja Polska"...

PM Misha disse...

no domingo, largada de toiros nas ruas da vila. eu ainda me achego a uns 200m do bicho e corro atrás quando ele dobra uma esquina. quando eu viro a rua a multidão foge para trás gritando por uma ambulância, eu espreito por entre as pessoas e avisto um corpo esventrado, um gajo que foi colhido e ficou de tripas à mostra. não sei o desfecho da cena porque ele foi levado e, ao que apurei, operado. perdi logo a pica de andar atrás do bicho apesar da largada ter recomeçado.

mas para rir, uma taberna às 4:00. ao fim dum bocado a gnr apareceu por causa do barulho e das cantorias e perguntou pelo horário da casa. o dono responde: "olhe, isto tem dias em que não abre e noites em que não fecha". partiu o mar todo, os geninhos bateram em retirada imediatamente!

Nuno disse...

Não viste por acaso ninguem da familia Castro?He,he.

Combateracrise disse...

Tens toda a razao ganda sovi!
Agora com as fotos da festa é so pores no blog!
AQUELE ABRAÇO DO TAMANHO DO MUNDO!

PM Misha disse...

nuno,
não, mas os tais cabrões que invadiram a casa desrespeitando a ressaca alheia eram de castro (verde).

pedro,
já está. não consigo é verbalizar o efeito do toucinho com alho e da açorda com 17 ovos, hehehe! q:D