Já aqui me referi à aversão que alguns tenho a alguns pêlos que crescem em locais onde a sua existência é pouco menos que questionável, não percebo a necessidade que há em termos pêlos nos sovacos, de nos começarem a crescer cabelos nas orelhas a partir de determinada idade ou de os cílios nasais se desenvolveram a um ritmo tal que se emaranhem numa teia impenetrável e exageradanente saliente ao ponto de muitos galgarem os limites das narinas invadindo terrenos que não deveríam pisar. Interrogo-me sobre os pubianos e não encontro uma razão fisiológica para a sua utilidade a não ser uma proteção de foro térmica para que as miudezas não sofram com as mudanças de temperatura sofridas ao baixar as calças.
Os homens, ou este homem, sofre igualmente com a barba. Não sou homem de barba rija que precise duma rebarbadora para raspar o rosto mas confesso que barbear-me é das coisas mais nefastas que posso fazer. A falta de vista que tenho no olho esquerdo leva a que as minhas patilhas nunca fiquem simétricas invalidando à partida a confeção das minhas favoritas patilhas “à Figo”, só em raros dias consigo ter a calma olímpica obrigatória para compor os cabelos em feixes mais ou menos parecidos com os do craque português mas normalmente mando a barba á fava e deixo essa obra para o barbeiro. Também procuro criar novos planos de barba porque não gosto de me ver muito tempo com o mesmo visual, irrita-me a monotonia das caras iguais e tento, assim, não ficar cansado de mim. Moscas à D’Artagnan, riscos tipo Abrunhosa, pêras como Lenin são tentadas de vez em quando em nome da inovação.
O meu tio diz que não dispensa uma loção transparente no barbear que espalha na cara, diz que são só quatro gotas e o caso fica resolvido, é só passar a lâmina. Eu não concebo a ideia de fazer a barba às claras, sem espuma a montes para me proteger de alguma faca mais gulosa. Há quem defenda que se deve fazer a barba antes do duche para lavar o rosto de eventuais cortes, outros preferem fazê-la depois do banho porque os poros estão abertos e os pêlos ficam mais suaves. É mas é tudo uma grande seca! A barba devia ter um interruptor ON e OFF juntamente com um regulador de intensidade como no ar condicionado dos carros. Se um dia nos apetecesse seria só ajustar o reóstato e andávamos de barba à Mickey Rourke ou imberbe como o Michael J. Fox, de bigode grave estalinista ou tísico como Pessoa, com suíças coladas ao queixo ou cheio de pêlo como o poeta Alegre. Tudo isso com um simples girar de botão.
Sim, nós homens vangloriamo-nos perante as mulheres das vantagens que temos em poder fazer xixi de pé – qualquer parede é um WC – mas as fêmeas não sabem o que ganham em não ter de rapar a cara dia sim dia não.
E quando elas dizem “ai, arranha…”?
5 comentários:
Não podia tar mais de acordo, fazer a barba é a coisa mais chata que existe!
PS. A explicação fisiológica dos pêlos em sítios inauditos prende-se com o facto de absorverem a humidade e evitarem as "assaduras" uma vez que estão presentes sobretudo em zonas de fricção. Especialmente sovacos e virilhas. Mas concordo, fora com eles!
Também me queixo bastante da barba com a agravante de mesmo estando barbeado notar-se a mesma.
Mais tarde ou mais cedo lá terei de deixar crescer o bigode e a pêra, comeco a ficar farto de fazer a barba e parecer que não a fiz! E pensar que tudo começou com uns ridículos pelinhos escuros que pareciam a boca suja...
Imagino que deve ser pesado e desagradavel expor-se cada dia ao tal perigo, mas ainda acho que nos, femeas, temos mais razoes para fazer queixinhas a Mae Natureza. E a inabilidade de fazer xixi de pe e uma das principais. So imagina: estas a viajar de carro no meio da floresta no meio da noite e tens uma necessidade urgente. Para ti, nenhum problema. Paras, aproximas-te de qualquer arvore e ja esta.
Mas para mim, fica mais complicada esta operacao. Primeiro, tenho de adentrar-me na oscuridade, entre os arbustos pavorosos, para em breve descobrir que fico no meio do formigueiro! E isto parece so um pequeno inconveniente entre outros maiores, que voces, machos, nem sequer podam imaginar.
Entao, gracas, Mae Natureza, que entre tantas coisas que tenho de fazer com o meu corpo ou sofrir por ele, como uma femea, pelo menos nao tenho de ferir a minha cara! Gracas por uma pequena dose de justica!
Alem disso, devo confessar que estou muito agradecida a Mae Natureza pelas vossas barbas, nao por alegrar-me do vosso sofrimento, mas simplesmente sou uma destas mulheres que uma frase "ai, arranha..." murmura de prazer...
P.S. Kurczę, tenho saudades do portugues!Muitos erros, senhor professor? :)
P.S.2 Barbear-se - talvez actividade ingrata, mas o tema perfeito para superar o bloqueio!Parabens!
ola,
jestem pod wrażeniem com a tua dissertação e por ter sido em português, essa de "adentrar a escuridão entre arbustos pavorosos" é deliciosa! tu e o teu professor estão de parabéns! q:D
Obrigada! Nada saborea tao bem como pochwała nauczyciela :)
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