domingo, 13 de setembro de 2009

(re)Barba

Quando a Natureza criou o Homem fê-lo sob o pressuposto de ter criado o ser perfeito devido à faculdade de raciocinar, coisa que o resto do mundo animal não consegue. No entanto a Mãe Natureza havia de nos inventar mamíferos, o que traz excelentes prós como dotar a espécie feminina de protuberantes seios para alegria da nossa imaginação libidinosa mas também nos fez recheados de inconveniências próprias de quem tem mamas, nomeadamente os pêlos.

aqui me referi à aversão que alguns tenho a alguns pêlos que crescem em locais onde a sua existência é pouco menos que questionável, não percebo a necessidade que há em termos pêlos nos sovacos, de nos começarem a crescer cabelos nas orelhas a partir de determinada idade ou de os cílios nasais se desenvolveram a um ritmo tal que se emaranhem numa teia impenetrável e exageradanente saliente ao ponto de muitos galgarem os limites das narinas invadindo terrenos que não deveríam pisar. Interrogo-me sobre os pubianos e não encontro uma razão fisiológica para a sua utilidade a não ser uma proteção de foro térmica para que as miudezas não sofram com as mudanças de temperatura sofridas ao baixar as calças.

barba 2 Os homens, ou este homem, sofre igualmente com a barba. Não sou homem de barba rija que precise duma rebarbadora para raspar o rosto mas confesso que barbear-me é das coisas mais nefastas que posso fazer. A falta de vista que tenho no olho esquerdo leva a que as minhas patilhas nunca fiquem simétricas invalidando à partida a confeção das minhas favoritas patilhas “à Figo”, só em raros dias consigo ter a calma olímpica obrigatória para compor os cabelos em feixes mais ou menos parecidos com os do craque português mas normalmente mando a barba á fava e deixo essa obra para o barbeiro. Também procuro criar novos planos de barba porque não gosto de me ver muito tempo com o mesmo visual, irrita-me a monotonia das caras iguais e tento, assim, não ficar cansado de mim. Moscas à D’Artagnan, riscos tipo Abrunhosa, pêras como Lenin são tentadas de vez em quando em nome da inovação.

O meu tio diz que não dispensa uma loção transparente no barbear que espalha na cara, diz que são só quatro gotas e o caso fica resolvido, é só passar a lâmina. Eu não concebo a ideia de fazer a barba às claras, sem espuma a montes para me proteger de alguma faca mais gulosa. Há quem defenda que se deve fazer a barba antes do duche para lavar o rosto de eventuais cortes, outros preferem fazê-la depois do banhobarba porque os poros estão abertos e os pêlos ficam mais suaves. É mas é tudo uma grande seca! A barba devia ter um interruptor ON e OFF juntamente com um regulador de intensidade como no ar condicionado dos carros. Se um dia nos apetecesse seria só ajustar o reóstato e andávamos de barba à Mickey Rourke ou imberbe como o Michael J. Fox, de bigode grave estalinista ou tísico como Pessoa, com suíças coladas ao queixo ou cheio de pêlo como o poeta Alegre. Tudo isso com um simples girar de botão.

Sim, nós homens vangloriamo-nos perante as mulheres das vantagens que temos em poder fazer xixi de pé – qualquer parede é um WC – mas as fêmeas não sabem o que ganham em não ter de rapar a cara dia sim dia não.

E quando elas dizem “ai, arranha…”?

5 comentários:

rmacorreia@gmail.com disse...

Não podia tar mais de acordo, fazer a barba é a coisa mais chata que existe!

PS. A explicação fisiológica dos pêlos em sítios inauditos prende-se com o facto de absorverem a humidade e evitarem as "assaduras" uma vez que estão presentes sobretudo em zonas de fricção. Especialmente sovacos e virilhas. Mas concordo, fora com eles!

Ricardo disse...

Também me queixo bastante da barba com a agravante de mesmo estando barbeado notar-se a mesma.

Mais tarde ou mais cedo lá terei de deixar crescer o bigode e a pêra, comeco a ficar farto de fazer a barba e parecer que não a fiz! E pensar que tudo começou com uns ridículos pelinhos escuros que pareciam a boca suja...

Ola disse...

Imagino que deve ser pesado e desagradavel expor-se cada dia ao tal perigo, mas ainda acho que nos, femeas, temos mais razoes para fazer queixinhas a Mae Natureza. E a inabilidade de fazer xixi de pe e uma das principais. So imagina: estas a viajar de carro no meio da floresta no meio da noite e tens uma necessidade urgente. Para ti, nenhum problema. Paras, aproximas-te de qualquer arvore e ja esta.
Mas para mim, fica mais complicada esta operacao. Primeiro, tenho de adentrar-me na oscuridade, entre os arbustos pavorosos, para em breve descobrir que fico no meio do formigueiro! E isto parece so um pequeno inconveniente entre outros maiores, que voces, machos, nem sequer podam imaginar.
Entao, gracas, Mae Natureza, que entre tantas coisas que tenho de fazer com o meu corpo ou sofrir por ele, como uma femea, pelo menos nao tenho de ferir a minha cara! Gracas por uma pequena dose de justica!
Alem disso, devo confessar que estou muito agradecida a Mae Natureza pelas vossas barbas, nao por alegrar-me do vosso sofrimento, mas simplesmente sou uma destas mulheres que uma frase "ai, arranha..." murmura de prazer...
P.S. Kurczę, tenho saudades do portugues!Muitos erros, senhor professor? :)
P.S.2 Barbear-se - talvez actividade ingrata, mas o tema perfeito para superar o bloqueio!Parabens!

PM Misha disse...

ola,
jestem pod wrażeniem com a tua dissertação e por ter sido em português, essa de "adentrar a escuridão entre arbustos pavorosos" é deliciosa! tu e o teu professor estão de parabéns! q:D

Ola disse...

Obrigada! Nada saborea tao bem como pochwała nauczyciela :)