quarta-feira, 30 de setembro de 2009

@Faro – 6

Os carros são cada vez menos, já não os vejo a fazerem fila para entrar na praia nem a discutir os parcos lugares de estacionamento. As pessoas já não se sentam nas esplanadas até às 20:00 à espera que o trânsito avague porque logo às 18:30 começa o vento a soprar e as mangas curtas não suportam o ar frio do mar. O sol é mais curto, forte durante o almoço mas minguando com o passar das horas até se esconder, medroso, atrás da praia da Falésia. O Vitinha já correu as janelas de plástico para proteger os clientes da brisa mais severa, a malta só se esconde entre paredes porque está mais abrigado. Entretanto a Serra do Caldeirão cobriu-se de nuvens escuras que punem Loulé e São Brás de Alportel com chuvas de princípio de época, o Cerro do Guelhim ergue-se e vai protegendo Faro com o seu anfiteátrico muro de geografia continuando a dar razões para os farenses se rirem do infeliz clima do “penico do Algarve”.

O termómetro pouco passa dos 25º, às vezes lembra-se que estamos no sul a Europa e dá um pulinho até aos 28º mas nem ousa chegar-se perto dos 30º para não faltar ao respeito ao Outono. Não seria a primeira vez que eu tomaria banho de mar em meados de Outubro e até no dia de Todos-os-Santos mas isso era no tempo em que ainda havia xoxas-de-velha e cavalos marinhos na Ria. Agora o jogging é feito cada vez mais ao lusco-fusco porque o sol acaba cedo e o pulmão dura mais, o banho já não é atlântico e os alongamentos são feitos em casa porque o H1N1 anda aí e não se pode facilitar.

Divido um paio com o meu tio enquanto vemos o FC Porto limpar o Atlético e combinamos as reformas a fazer na casa dos pinheiros que as minhas visitas ocuparam este verão, mudar os aparelhos de ar condicionado e dar uma limpeza de alto a baixo nas carpetes, cortinas e o diabo a quatro. Peço-lhe conselhos que os seus quase 90 anos nunca negaram e subo ao quarto para escrever e dormir. Tenho no cadeirão uma pilha de calções e t-shirts que não irei mais vestir este ano e ganho mais consciência disso cada vez que os olho, talvez seja melhor guardá-los duma vez por todas para não me aborrecer.

Talvez seja melhor guardar também os chinelos e a toalha, os sapatos de lona e as bermudas. Talvez seja melhor ir fazendo as malas porque o avião é daqui a uma semana. Talvez seja melhor arrumar as memórias do fantástico verão que vejo sair da praia pelo oceano fora e ir-me preparando para o que Varsóvia reservou para mim no que resta deste ano.

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