Ela quem? Já lá vamos.
Faz hoje 25 anos que morreu Adriano Correia de Oliveira. Este nome diz-vos alguma coisa? Provavelmente não, a mim até hoje nada me disse. Mas vi hoje no Telejornal as imagens que acompanharam a notícia do seu falecimento e as respectivas alusões ao Fado de Coimbra do qual ele era, pelos vistos, eminente intérprete.
É curioso que por vezes só notamos o quão rica é a nossa cultura quando ela nos falta ou quando estamos longe da nossa terra. A distância faz-nos sentir coisas tão absurdas como vontade de ouvir música pimba, comer um pastel de nata ou discutirmos com um arrumador de carros nos estacionamentos (coisa que por cá ainda não vi). Sentimos falta até das coisas mais irritantes como a buzina da carrinha do Family Frost, por exemplo, ou da vizinha da porta ao lado sempre a resmungar por causa do barulho que fazemos na nossa casa.
Somos um país tão interessante, um povo tão admirado por essa Europa afora que julgo nem sabermos o que somos. Todas as reacções que tenho obtidas ao dizer que sou português são de espanto, naturalmente, porém também de gabo à nossa História e - pasmem! - preponderância nas ocorrências do mundo.
Existe a estória de dois tugas que fizeram um engate na Polónia sem falarem nada de polaco e elas sem falarem nada sem ser polaco. Combinaram um almoço e no momento em que encontraram-se uma das meninas saca de um dicionário polaco/inglês e a outra diz: "Vocês são portugueses e Portugal é o primeiro produtor e exportador mundial de cortiça!" Não sei se os nossos compatriotas sabiam deste facto mas a realidade é esta. Portugal tem uma reputação muito considerada nestas paragens sendo visto como um país de oportunidades e de gente empreendedora.
Em vez de desencantar estes simpáticos polacos, em vez de contar-lhes que o meu país sobrevive de expedientes e chico-espertices, em vez de contar que andámos quase 50 anos a matar a fome com "Fado, Futebol e Fátima", em vez de contar que há pedófilos no Parlamento e a Maçonaria manda mais que a Justiça, em vez de contar que entre árbitros compadres e marfim contrabandeado há por onde escolher, em vez de contar que organizámos uma Expo 98 cujas derrapagens darão para alimentar famílias até à 5ª geração... em vez de contar-lhes isto tudo vou dizendo que somos um povo pequeno mas bom por natureza, que somos tão sortudos que até temos sol o ano inteiro, que a nossa gastronomia dá 10-0 a qualquer outra (3-2 à italiana, pronto...), que sempre que sofremos invasões de castelhanos e franceses eles eram 100 vezes mais que nós e foram consecutivamente corridos à pazada (Dona Brites, alé!), que o nosso espírito aventureiro deu novos mundos ao mundo e fez trabalhadores bem sucedidos em paragens tão remotas sem saber uma única palavra do idioma local, que mesmo com as mais disparatadas estratégias políticas conseguimos entrar na primeira carruagem do comboio europeu e que Portugal é tão simpático ou tão pouco que ninguém se mete conosco.
O Portugal em que eu me reconheço é um país de garra e coragem. Um país de competências respeitáveis e em evolução permanente. Um exemplo de persistência e tenacidade, a Nação Valente e Imortal que Henrique Lopes de Mendonça versou e de que a estranja ouviu falar.
O Portugal de que sinto falta é o da sua força e vida. Do pulsar latino das suas gentes, do seu ânimo e resistência. Da sua voz que conta triste as suas mágoas ou apregoa eufórico as suas façanhas e de que a estranja já ouviu falar.
O meu Portugal é feito de chouriço assado ou arroz de marisco. De vinho tinto ou minis na praia. De Vilar de Mouros ou Alvalade ao rubro. De tunas ou fado. Fado do Bairro Alto ou de Coimbra que a estranja já ouviu falar.
Faz hoje 25 anos que morreu Adriano Correia de Oliveira. Ouvi-o cantando Fado de Coimbra e ela surgiu!
Ela quem?
A saudade.
5 comentários:
Oh mano kido com k, o nó na garganta está cá e a saudade não se fica por aí. As nossas visitas ao sul jamais serão as mesmas, e só nos demos conta disso esta semana! Bj pra mana polaka com k
:(
Rita
sovi, não resisti a derramar uma lagrima no ultimo paragrafo, estás a ficar um poeta,e sim, todos nós temos saudades tuas também.
Renato
obrigado, maltinha. tamos aí!
mano muitas saudades!!fazes me rir mesmo kd n estas ao pe de mim es unico gande comandante!!!tudo bom a maior sorte do mundo decio
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