quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Este huomem é um senhuore, carago!

Rodoviariamente falando, eu estou naquela fase em que já memorizei o caminho de casa
para o trabalho e começo a procurar variantes ao percurso. Uma rua adiante, um cruzamento antes, na rua de trás o estacionamento é grátis e ali a polícia não chateia... Estáo a perceber?

É óbvio que o companheiro GPS tem estado sempre activo nem que seja para indicar-me o próximo estacionamento livre no caso da primeira opção estar ocupada. Até agora tem sido ajuda fundamental no que respeita aos trajectos que tenho feito na Polónia. Hoje borrifei-me para as modernices e avancei destemido para o trabalho sem ajudas, autêntico trapezista sem rede. O nevoeiro não me incomoda, a chuvinha miúda também não me faz mossa, já conheço os caminhos e alguns atalhos, siga a marinha!

O Jorge Palma pedia-me nos fones que eu encostásse-me a ele. Embalei-me nos seus acordes, imitei-o no paivante, cheguei tranquilamente a Katowice e estacionei na minha primeira opção. A chuva deu-me tréguas para poder chegar ao emprego sequinho e iniciei mais um dia de trabalho. Acabei a tarde derreado pois hoje resolveram perguntar tudo e mais alguma coisa indo buscar problemas e dúvidas que não lembrariam nem à vaca do presépio. Só faltou questionarem-me se as pessoas em Portugal conseguem lamber os próprios cotovelos! Com esta conversa de chacha acabei por sair do trabalho uma hora depois do habitual.

Já vinha danado por ter perdido tempo e decido ligar à Iza. Ela estará esta semana em Cracóvia em trabalho e preciso que ela telefone aos pais contando o sucedido, pedindo desculpa às pessoas pois elas estão à minha espera para jantar. Vejo que não tenho saldo. Resmungando em bom vernáculo lusitano procuro um bankomat (multibanco) próximo mas o que vejo está fora de serviço. Tenho de dobrar três esquinas até encontrar um que funcione e permita-me carregar o telelé. Já o dicionário de palavrões tinha chegado ao Z e havia uma nuvem de fumo por cima causada pela respiração e pela zanga que tinha. Carreguei o telebicho e fui a caminho do carro pensando que o que me faltaria seria terem rebocado ou bloqueado o camano do carro! Cheguei ao lugar... e lá estava ele. "Menos mal, vou ligar à moça e trex para casa".

Ao sair de Katowice constato que a saída para Tychy está bloqueada para obras. Uma seta amarela dizendo "Objazd" ordena-me que siga em frente. Pergunto-me onde estará o tal "desvio" mas na Polónia as indicações de trânsito são muito vagas e não deram-me mais ajudas. E eu com o GPS em casa. "Lindo dia que escolheste para armares-te em macho, palhaço!!". Passava das 10 da noite, não havia vivalma na rua e mesmo se houvésse eu não saberia entender eventuais indicações orais em polaco. O espectro duma noite passada numa área de serviço pairou sobre mim.

Recorro ao sentido de orientação inato que cada um tem dentro de si, o instinto-bússula que impede que peçamos ajuda mesmo que estejamos mais perdidos que a barca do arroz. Rondei uma rotunda, passei pelo túnel, cortei aqui e ali, evitei aquele cruzamento por onde passa o tram (eléctrico) porque nunca consigo perceber os semáforos daquela bodega... e quando dei por mim vi uma placa dizendo "Tychy 15 km" logo seguida de outra informando que estavam 7ºC naquela altura.

Triunfal, saco do cigarro da descontracção após a vitória e vou cantarolando impante "Sou camionista, sou o maior..." até chegar a casa onde a simpática família polaca recebe-me para ouvir a minha aventura contada nas 20 palavras que conheço. Vou gostando cada vez mais deste país, apesar de ter-me feito escrever a posta de hoje depois das 3 da matina!

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