quarta-feira, 10 de outubro de 2007

A jogar em casa emprestada

Ao fim de 3800 km a odisseia chegou ao fim, cheguei a Polónia! Para trás ficaram 4 dias e 3 noites de estradas e caminhos que trouxeram-me até este país tão longínquo como curioso. Para trás também ficou uma dívida de alguns anos que foi paga em Dusseldorf (Izmailov, alé!) e uma experiência de estrada inesquecível.

Arranquei de Madrid depois do almoço rumo a Burgos e S. Sebastián. Surgiram as primeiras aparições de montanha a norte de Madrid mas sempre tranquilas e serenas, um sobe e desce macio até entrar em Euskadi. Mas digo-vos: Conduzir no Pais Basco de noite, obviamente debaixo de chuva, não lembra a ninguem. Além do trajecto das auto-estradas ser por natureza sinuoso, as mesmas são estreitas e percorridas por muitos camionistas que atrasam ainda mais o percurso. Devido a falta de rádio no carro entretive-me a localizar as nacionalidades dos camionistas através das suas matrículas para matar o tempo. Passei por espanhóis, franceses, alemaes, suecos, belgas, checos, polacos, búllgaros e também bastantes patrícios que trepavam por aquelas montanhas, quais Agostinhos de 10 e 12 rodas, a menos de 50km/h e sob uma chuva impiedosa que teimava em não dar tréguas.

Para acrescentar ao cenario medonho, as fábricas. Muitas e fumegantes, inclinadas sobre os carros como se quisessem atirá-los fora da estrada, as chaminés davam um toque infernal a paisagem e conferiam um aspecto ainda mais tétrico a um troço já suficientemente desagradável. Não gostei e se tiver de repetir a viagem irei por Girona-Perpignan mesmo que a portagem seja pornograficamente cara. Já contando com o preço da gasosa em França que é um roubo comparado com o preço espanhol (e até com o nosso!).

Do outro lado da fronteira foi bem melhor. Vastas planícies que permitem pisar mais um pouco na tábua num piso suave e recto. A chuva cessou ao fim de poucos minutos e dali a Bordéus foi um tirinho para um hamburger no McCaca enganar a tripa e fazer mais alguns metros na expectativa de encostar-me num qualquer motel de beira de estrada. Acabei por parar 270 km depois porque sentia-me fresquinho e sem necessidade de parar. Estava a 300 da Cidade-Luz que seria a proxima etapa e que acabou por transformar-se num pesadelo pelo monstruoso engarrafamento que o Périphérique provou ser.

O Périphérique é uma cintura rodoviara periférica à cidade de Paris, uma espécie de CREL francesa, que distribui o transito pelos seus acessos conforme os locais da cidade a que queremos aceder. O trânsito é habitualmente intenso mas naquela tarde resolveu caprichar e convocou todos os seus componentes para o momento. Toques de 10 em 10 mestros, scooters suicidas a fazerem-me tangentes, taxistas espremendo os seus carros para ganharem alguns centímetros de vantagem, filas para as estações de serviço... Foi um menu completo que obrigou-me a passar 3 horas num percurso que deveria ter sido feito em 45 min. e que atrasou-me bastante no caminho para a Alemanha. Mas lá safei-me ainda a horas de ver o Sporting em Dusseldorf.

Na Alemanha basicamente foi prego a fundo. Autoestradas de elevado quilate, limites de velocidade pontuais e fluidez permitiu-me atingir a fronteira de Gorlitz numa tarde. Muitas florestas, muitos rios e uma grande curiosidade em ficar mais tempo para visitar tantos castelos e monumentos identificativos duma cultura que deve valer a pena estudar. Aqui bateu-me o sentido da realidade duma forma brutal quando vejo placas sinalizadoras que apontam para... Praha. Outras dizem-me que estou a 150 km de Breslau (Wrocław) e outras ainda mostram-me que Bratislava não fica tão longe quanto isso. Constato que estou realmente noutras latitudes e dá-me uma vontade enorme de perder mais uma noite, apontar para a Rep. Checa e passar uma noite de copos eslavos por algures. Mas não havia tempo para isso, daí ter entrado na fronteira remoendo esta idéia e a fazer contas no GPS às distâncias a partir de Katowice porque isto não fica assim.

As impressões sobre a Polónia ficam para o próximo post para não aborrecer (muito). Por isso, saúde e sorte é o que vos desejo. Até amanhã.

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