terça-feira, 5 de outubro de 2010

República Portuguesa – 100 anos

O Artur telefona-me e diz: “Morreu o Afonso!”. Lamento muitíssimo o sucedido porque o Afonso, apesar de não ser das minhas relações mais próximas, era um cota porreiro, muito porreiro até. Comunista até ao osso, era crente e verdadeiro praticante sendo não raras as vezes que rebentava com a reforma em sacos de camarão que levava para o restaurante do Rogério para que este o cozesse e desse a possibilidade do Afonso reunir os seus companheiros em torno dum pires de conversa mais uns pedacinhos de queijo e presunto com minis e risos. O Afonso era pintor, morreu pobre mas deu muito aos seus amigos. Recordo que ele zangava-se comigo por não aceitar a imperial que ele me queria pagar mesmo explicando-lhe que tinha treino e que não devia beber. “Então bebe um sumo, uma cola, uma merda qualquer que eu pago”. Grande Afonso, não levava um tostão para casa porque partilhava tudo com a sua malta. Tínhamos de o obrigar a aceitar quando lhe queríamos pagar a bifana, ofendia-se e dizia que “onde peço pago!” Imediatamente a exclamação do Artur: “Coitadinho, já morreu”. Aqui eu discordei dele.

Mas porque é que temos sempre esta parva tendência para sentirmos pena dos que morreram mesmo que tenham sido grandes sacanas (o que não é o caso)? Eu não acho o Afonso coitadinho só porque tenha morrido, pelo contrário, considero que nós é que somos coitadinhos porque ficamos cá a penar e a sofrer dia após dia, cada vez com mais privações e manifestações incríveis de injustiça a que assistimos impotentes. Coitadinho do Afonso? Então nós que cá andamos temos que levar com palhaços que ganham mais de 700 contos por mês dizerem que precisam de uma cantina aberta à noite para que não passem fome, somos o quê? Ouvirmos este pulha que aufere 7,5 ordenados mínimos a reclamar que ganha pouco e que tem de ir à Sopa dos Pobres dos Deputados faz de nós o quê? Nós, que gramamos com um Governo de Pinóquios que se contradiz diariamente, que engana o povo, que carrega nos impostos, que é forte com os fracos e fraco com os fortes, somos o quê? O povo que teoricamente escolheu os seus representantes no Parlamento, direito consagrado faz hoje exatamente 100 anos, e que vê os seus deputados, aqueles que prometeram zelar pelas suas necessidades, mandarem promessas eleitorais às malvas assim que sentam o cu na Assembleia da República é o quê?

O Afonso não é um coitado. Aliás, eu sei perfeitamente que ele foi para um sítio onde come o seu camaranito descansado, os dedos descascados dos vapores das tintas e verniz, ri-se de nós e já não tem de aturar esta cáfila que nos “governa”.

O que é que isto tem a ver com a Polónia? Apesar de nem sempre ser por ideias que eu defendo, o caso da cruz é um exemplo ilustrativo, os polacos quando se sentem prejudicados manifestam-se, saem à rua, abraçam a causa com a alma e demonstram a sua insatisfação de forma inequívoca aos seus políticos. Respeito-os muito por isso e gostava que os portugueses tivessem menos brandos costumes, que enfiassem dois ou três penaltis de vodca e que fossem gritar umas verdades aos nossos parlamentares para que eles percebessem que se a monarquia caíu há 100 anos não foi para ser substituída por uma coisa ainda pior. Para isto era preferível o D. Duarte Pio, sempre é uma figura carismática e tem uma voz divertida.

1 comentário:

Ryan disse...

Monarquia ou Republica qualquer um deles nos iria aos bolsos mas isso ja e normal desde a idade media. O que nao e normal e que eles vao-nos aos bolsos em demasia desde que o Pinoquio foi eleito. O Povo tem de sair a rua e reclamar com esta gente que elege. Andar por ai dizer que o mal e geral o tanas. Isso ja sabemos. Agora o que nao e normal e nao se tocar nos salarios grandes mas andarem a roubar a quem nao tem. Estou longe mas sinto a dor do nosso povo e a injustica que lhe e feita