quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Retalhos da vida dum Algarvio - Parte 9

Cumprida a etapa matinal do trabalho, regresso à temporária base de operações onde conto os dias que faltam para iniciar a mudança para o meu novo covil. Sento-me no elétrico, espreguiço as pernas e passo os olhos pela paisagem urbana. Varsóvia amanheceu triste, cai a chuva miudinha para relembrar as diferenças entre o Verão polaco e o português, esta morrinha aborrece-me e mastigo em seco enquanto vou observando a paisagem fria.

Passo por edifícios de escritórios onde o enxame de trabalhadores cumpre o obediente entra-e-sai diário, dou graças por não ter de trabalhar enfiado num gabinete todo o dia. Algumas vendedoras ambulantes estendem os seus produtos na esperança de ganhar algum para as batatas, tentam vender roupas que parecem usadas, livros antigos e mais do que seja. Outras instalam as suas bancas de fruta, quase sempre amoras e framboesas que até têm bom aspecto mas que não me inspiram muita fé. Homens aparam a relva, apanham papéis com as mãos, varrem as folhas caídas. O elétrico sacode-se ao cruzar avenidas nas quais há estátuas sérias a registrarem os meus passos. Uma senhora está pendurada à janela, não sei se está a tentar limpá-la ou se quer suicidar-se.

Faltam ainda sete paragens para chegar a casa, o tédio mina-me por dentro e começo a pensar em praias quentes, mares dóceis e petiscos familiares. O mp3 muda a música e dá lugar ao inconfundível assobio de Bobby McFerrin, faz-me sorrir e estalar os dedos ao som do compasso. Passa um vestido branco apertadinho ao escultural corpo louro dentro dele, nasce-me um sorriso de prazer ao ver aquela gota de beleza passeando entre a pobreza de cores desta manhã. Recebo um sms encorajador, um convite para mais tarde. Num ápice a banda sonora muda o humor e transforma o cenário, do trágico ao Éden em três minutos.

Repito a música para que me embale até casa e restabeleça o meu contentamento. Assim é Varsóvia, cidade de contrastes onde num momento está fria e triste e que à passagem de um vestido branco qualquer se transforma na Terra Prometida.

3 comentários:

Anónimo disse...

Realmente a Polónia tem algumas maravilhas. O tempo por certo não faz parte desse grupo. Que nos valha uma desses esbeltos corpos para regalarem os olhos.
Apesar de ausente é com interesse que continuo a ler as tuas crónicas. Também recentemente mudei de estado civil. Já agora parabéns para ti.
Um abraço bem Português desde a Silésia

PM Misha disse...

obrigado zé. espero que a tua mudança de estado civil esteja a ser pacífica e quando vieres a varsóvia dá um toque , eu não devo ir tão cedo à Silésia como deves imaginar.

abraço

Anónimo disse...

Beta:
Olá Sov. ainda ontem me lembrei de ti...estava na praia de "Fare" em frente ao teu poiso! Espero que estejas bem! Vou acompanhando sempre o teu blog.
Beijos grandes e tudo de bom Miga