O dia começou antes de acabar, sol alto nos céus da Polónia e corpos cansados numa carruagem de metropolitano a caminho dum apartamento qualquer. Com uma de cada lado já vou meio aviado, segundo as palavras do Pacman. O Red Bull tenta expulsar a dormência causada pelos incontáveis shots azuis e amarelos que a Kasia e a Paulina puseram-me em cima do balcão, elas que repousam em mim transpirando-me a camisa e humedecendo-me a testa. Vejo o meu reflexo na janela da carruagem e rio da minha figura indigente, despenteado, malcheiroso, suado, descomposto mas contente.
Paramos em Wierzbno, mais duas paragens de eléctrico e um primeiro andar na rua Puławska. Vodka-Coca Cola Light de pequeno-almoço, fatias de queijo brie para evitar o enjôo e batatas fritas com sabor a pimento para repô-lo. São 8 da manhã e começa a trovejar, os risos são mais altos, a vodka corre, o queijo acaba, há uvas para entreter e Amy Winehouse para descontrair. Dói-me o chassi de tanto pular ao som da noite varsoviana e atiro-me para cima da primeira cama que encontro, roupa no varal para arejar e não trazer o cheiro a tabacum para o quarto. Imediatamente as almofadas aninham-me e sinto-me adormecer em velocidade de cruzeiro entre algumas gargalhadas femininas na sala. Faz-se silêncio, entro no sono, fecha-se uma porta e ouço ao longe uma voz meiga que diz "Cześć Nuno..."
Acordo com um trovão vizinho, o relógio acusa 14:30. Olho em meu redor e vejo uma confusão de roupa, parece a Zara em saldos. Segredo-lhe um doce "pa pa"entre os cabelos negros adormecidos, despejo o lixo e ponho-me a caminho do outro lado da cidade. O eléctrico traz pessoas desconfiadas do meu aspecto, não gostam de mim mas eu também não tenho obrigação de gostar delas, só quero chegar a casa e dormir.
22:45 e a tempestade não abranda. Tenho um rio à porta e ninguém me telefona ou manda mensagens. Melhor assim, vou pedir uma pizza e ver filmes. As noites de Varsóvia são muito exigentes e amanhã ainda é fim-de-semana.
3 comentários:
Hoje às 4:30 da manhã, parecia que estavam a chover relâmpagos em Lodz, eram uns 4 ou 5 por segundo.
Rui, ontem pelas 22:00 a trovoada era tal que por 25 segundos não se fez escuridão. Relâmpagos non-
stop, parecia uma sessão fotográfica.
E palpita-me o mesmo menu para hoje.
Devias escrever um livro...
A tua maneira de escrever fascina-me. ;)
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