Há dias fui com dois colegas a uma oficina de bicicletas tentar reparar a bicla dum deles. Apesar do adiantado da hora, 22:30, fomos recebidos cordialmente por um jovem polaco todo spidado e besuntado de graxa. Vim a saber que durante o Verão os rapazes trabalham 24/7 pois imensa gente escolhe a bicicleta como meio preferido de transporte em Varsóvia. A cidade é plana e convida a deixar o carro em casa, por isso eles passam as noites a martelar entre selins e pedaleiras. Após algumas explicações e dúvidas traduzidas pela Dorota, o mecânico decide que o melhor será comunicar o problema ao chefe da oficina que se encontrava não muito longe do local, ao alcance duma chamada telefónica.
Sentámo-nos na rua à espera do tal Jan, passou-se o tempo e fez-se 23:00. Eu e o Mário a fumar um cigarro, a nossa colega pedala para cá e para lá na sua pasteleira e mostra as hortaliças que foi apanhar no campo, tomates e pepinos. O Jan apareceu com a namorada e dispara desculpas pelo atraso em polaco, a Dorota aceita-as e eu encolho os ombros por ter sido um discurso desmasiado rápido para eu perceber. O técnico olha para a bina avariada, decide preocupado que tem de levá-la para dentro da oficina e desaparece com a bicicleta mais a Dorota. Sobro eu, o Mário e a namorada do outro gajo.
"Tenho fome...
- Também eu, já mordia qualquer coisa."
E diz a polaca num sotaque brasileiro:
"Vocês são portugueses? Bem que reconheci a vossa linguagem!"
Abrimos a boca de espanto e caímos a rir. Quase meia-noite à porta duma oficina de bicicletas, uma polaca que traz verduras no cesto da bicla, um diálogo de surdos, desaparece uma polaca e a bicicleta, sobra outra que desata a falar português. Foi caso para perguntar...
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